terça-feira, 30 de setembro de 2014

Minha moto não dá partida de primeira

Minha moto não dá partida de primeira...

Isso pode ser interpretado de duas maneiras:


Ou sua moto não começa a funcionar logo na primeira tentativa, ou então ela se recusa a dar partida com a primeira marcha engatada.


Como a primeira possibilidade já foi discutida aqui, vou abordar o caso de a sua moto não dar partida em primeira marcha, ou com qualquer outra marcha engatada.


Em algumas motos existe um recurso de segurança que não permite o acionamento do motor de partida, ou o início do funcionamento do motor, a menos que a moto esteja no neutro ou a embreagem esteja acionada

http://www.dadsvintageads.com 
Para quem gosta de memorabilia de motos antigas

Em algumas delas, a partida só é permitida em neutro ou com a primeira marcha engatada e a embreagem acionada; qualquer outra marcha proíbe o funcionamento do motor.


Tudo isso para evitar que você caia no meio do trânsito ao tentar dar partida sem os devidos cuidados.


Conforme a moto envelhece, ocorrem alguns maus contatos, e poderá ocorrer de essas salvaguardas deixarem de funcionar.

Já cansei de dar partida na minha moto com a primeira marcha engatada, apesar de não estar acionando a embreagem e a luz do neutro estar acesa.


O interruptor que passa as informações da marcha para o painel está localizado junto ao eixo do pedal do câmbio, e sua troca é bastante complicada pela posição atrás do pinhão. 

É o tipo de serviço que não dá coragem de fazer, mesmo porque é possível viver perfeitamente sem as informações das marchas (depois que você pega prática e as manhas de sua moto).

Negar informações das marchas e dar partida com marcha engrenada é o tipo de sacaneada que as motos adoram fazer com seus donos.


Hoje sempre aciono a partida com a embreagem acionada, por via das dúvidas.


E é só eu esquecer, que ela dá aquele tranco pra frente, mesmo estando em segunda ou terceira, coisa que não poderia fazer.


Mas só quando tem plateia.


É moto.


Um abraço,

Jeff

PS: Depoimento do leitor Victor Garcia da Silva:

Já derrubei minha moto no posto dando partida com neutro aceso, mas com ela engatada. Eu não estava montado na moto.

Mais uma coisa para tomar cuidado, a partida com o interruptor não funcionando também pode causar danos e prejuízo.

Valeu, Victor!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Reforço do quadro da Kansas

Perguntas do leitor Francisco Thiago Almeida:

E como faz para reforçar o quadro da moto? É só chegar no funileiro e ele sabe o que fazer?

Provavelmente não, Thiago. Procure alguém com experiência em soldar quadros de moto.

Mas antes de tomar essa decisão drástica, considere o seguinte:

A dafra declarou perante o Ministério Público Federal que se dispõe a trocar o quadro de quem for até a concessionária com o quadro trincado. Se este for o seu caso, analise se não será melhor transportá-la e aguardar que os pais da criança resolvam o problema.

Reforços feitos pelos proprietários cancelarão automaticamente qualquer chance de negociação com o fabricante. Além de anular garantia, etc., etc.

Mas se não tiver jeito, e você tiver que fazer o reparo por si, aí vão algumas sugestões.

Motos de trilha e motos de entregadores de gás costumam trincar o quadro, talvez você encontre um profissional que já tenha prestado esse serviço.

Muita gente pensa que basta soldar o local onde o quadro rachou, mas isso não é exatamente um reforço; é capaz de quebrar de novo do lado da solda, porque o esforço continuará sendo maior que a capacidade do quadro.

Eu relutei muito tempo em postar um tutorial para reforçar o quadro, na esperança que o fabricante chamasse a responsabilidade para si. Tinha esperança que o MPF os obrigasse a isso, mas não tive sucesso.

O principal motivo para não querer postar esse tutorial é que há diversos fatores que podem influenciar o resultado final da soldagem, a grande incógnita sendo a qualidade metalúrgica do aço utilizado para a fabricação.

Se a qualidade do aço for um fator contribuinte, uma solda poderá ter como consequência facilitar o surgimento de novas trincas na zona afetada termicamente pela solda.

O segundo motivo é que eu gostaria de primeiro realizar o procedimento e testar em minha própria moto para poder exemplificar com fotos, mas até agora meu quadro continua íntegro, ao contrário da minha conta no banco.

Então, esteja ciente de que tudo que for dito aqui, independente do grau de conhecimento de soldagem e da qualidade dos materiais utilizados, não tem garantia de sucesso: 

O próprio procedimento de soldagem pode induzir novos defeitos metalúrgicos e dar origem a novas trincas no quadro, e não aceitarei ser responsabilizado por procedimentos que venham a dar errado ou que sejam realizados inadequadamente, causando problemas para os demais componentes da moto, como o sistema elétrico ou o próprio alinhamento do quadro (distorção).

Você avaliará a situação de sua moto e decidirá se deve ou não realizar o procedimento exclusivamente por sua conta e risco.

A maneira que bolei para reforçar o chassi da Kansas, e que eu farei na minha moto, representa o mínimo de intrusão e não fica muito evidente.


Depois de me certificar de que não ficarão atritando com o tanque de gasolina — um vazamento sobre o motor pode causar um incêndio e explosão com perda de controle da moto e desencadear o apocalipse — eu faria a soldagem da trinca e, como reforço ao quadro propriamente dito, soldaria dois ferros chatos de 1,5 polegada (± 40 mm) e espessura razoável (mínimo 5 mm) do tamanho aproximado acima, um de cada lado do tubo diagonal.

O ferro chato não vai acompanhar a curvatura do tubo: será necessário vincá-lo ao longo do comprimento para aproximar os pontos a serem soldados do perímetro do tubo. 

Uma alternativa seria fazer cada reforço com a união de dois ferros chatos de 3/4 de polegada (19 mm) em ângulo aberto. No total, quatro pedaços formando dois reforços.

Se o quadro já estiver trincado, não bastará soldar o ponto da ruptura: você deverá realinhar o quadro, soldar a ruptura e fazer o reforço com os ferros chatos para garantir que ele não venha a se quebrar novamente.

Precauções: 

É necessário desconectar a bateria, o CDI e a bobina (idealmente, removê-los do quadro) e aterrar a moto corretamente, além de tomar todas as precauções para evitar que a moto pegue fogo, inclusive remover e manter bem afastado o tanque de gasolina, senão CABUMMM.

Também é necessário proteger o motor e o quadro contra respingos de solda usando materiais que não peguem fogo, tipo retalhos de couro ou raspa de couro.

A boa união é aquela que garante a resistência mecânica suficiente usando o mínimo de solda. Quanto menos calor introduzido no processo, melhor. 

Solicite que um soldador profissional faça o serviço.

Soldador profissional não é o derretedor de eletrodo ali da esquina: é alguém com curso técnico em soldagem pelo SENAI ou alguma escola técnica equivalente.

O tubo e os ferros chatos precisam ser bem lixados antes de realizar as soldas; a tinta é um contaminante e isolante que prejudica a qualidade metalúrgica do cordão de solda.

Não são necessários mais do que 8 cordões de solda com uns 35 mm de comprimento para fixar cada ferro chato ao tubo. 

Não é recomendável fazer uma solda contínua de fora a fora, isso entortaria o quadro.

O ideal é intercalar os cordões de solda de ambos os lados para que os esforços se dividam por igual por toda a extensão do reforço.

Evite excessos de solda; quanto mais calor você introduzir, maior a chance de empenar o quadro. Mas o cordão também não pode ser extremamente fino, senão não terá resistência.

E o conjunto precisará ser pintado depois da soldagem para proteção contra a corrosão.

Depois disso, verifique periodicamente se o tubo e as novas soldas não apresentarão trincas. 

Com o material adicionado, seu quadro ficará mais resistente aos esforços de flexão e não deverá rachar mais.

Isso é o que eu pretendo fazer na minha moto; mas como disse, não posso garantir o resultado. 

Não é nenhum projeto de engenharia, mas é uma solução melhor do que esperar o quadro se partir e levar os restos para a concessionária a fim de pedir a troca.

Procure um soldador ou funileiro experiente, explique o problema e se baseie nestas instruções. Se ele propuser alguma outra solução, analise se ele não está subestimando o problema e se o reparo será viável dessa outra maneira.

Vale lembrar os sintomas de um quadro quebrado:

Ao frear usando o freio dianteiro, a mesa da suspensão se afasta do tanque de gasolina.

As bengalas não podem recuar durante uma frenagem; elas só podem ser comprimidas, mantendo a geometria da moto.

Boa sorte,

Jeff

domingo, 28 de setembro de 2014

Carros e motos rebaixados

Até outro dia, carro rebaixado era fora da lei; dava multa e apreensão.

Modificações eram proibidas porque alterações da suspensão de um veículo (seja carro ou moto) alteram sua estabilidade e comprometem sua dirigibilidade, tornando o veículo perigoso.

Mas o atual governo acabou com isso porque a indústria de acessórios gera grana com impostos, cria empregos e ajuda a movimentar a economia.


Então agora os carros rebaixados e com rodas e pneus não originais podem circular livremente.


Vai daí que o pessoal que entende lhufas de engenharia reprojeta o carro conforme seu gosto, conforme dá na telha, conforme cabe no bolso.

O resultado é este:


Imagem e reportagem: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2014/09/jogador-de-futsal-morre-em-acidente-de-carro-na-serra-catarinense.html

A suspensão dura das molas cortadas / rebaixadas e os pneus de perfil baixo não conseguiram absorver as irregularidades da estrada, o carro começou a quicar em uma curva, a pista molhada facilitou a derrapagem e o carro rodou na frente de um caminhão bitrem. 

O motorista de 25 anos ia visitar a esposa grávida, e morreu na hora. Nunca irá conhecer o filho que nascerá agora no ano novo.


Fique esperto e não se meta nesse tipo de fria.

A suspensão de carros e motos é projetada para lidar com as piores situações possíveis. 




Alterações radicais como essa somente diminuem ou eliminam totalmente a capacidade de a suspensão fazer seu trabalho, que é manter o carro ou moto estável diante das imperfeições do pavimento.


Sem amortecimento, qualquer obstáculo pode causar uma perda de controle e te levar para a contramão. 

Os pilotos de competição fazem mudanças na suspensão para correr em autódromos, onde todo mundo vai na mesma direção, e o asfalto é liso e sem ondulações; o mundo real é aquele lá de cima, com ondulações, bitrens, órfãos e viúvas.


Enquanto isso, os índices econômicos vão maravilhosamente bem nas pesquisas encomendadas pelo governo.

Um abraço,

Jeff

sábado, 27 de setembro de 2014

Por que é tão difícil entender?

Recebi esta mensagem referente ao alerta aos proprietários de suzuki intruder:

Não coloco óleo acima do recomendado pela Suzuki, sem filtro é 850ml com filtro 950ml...se vc por mais que isso, os retentores e juntas vão sofrer com a pressão e logo vem os vazamentos, uso há anos esses motores Suzuki Intruder 125cc e 250cc.


É isso que o pessoal não entende em relação à denúncia A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo quanto à quantidade de óleo do motor.


Obrigado pela oportunidade, vou tentar explicar com mais clareza:


A quantidade especificada pelo fabricante não é suficiente para atingir o nível de óleo recomendado pelo fabricante quando você faz o procedimento de medição determinado pelo fabricante.


A contradição surge discretamente quando o fabricante fala: "Após colocar a quantidade recomendada, meça o nível de acordo com o procedimento recomendado e complete se necessário".

Percebeu onde está a pegadinha?

Todo mundo mede errado, pensando que não precisa ligar o motor com a moto fria e nivelada. E se medir logo após a troca ainda com o motor quente, o óleo estará dilatado, dando um resultado falso.


O fato é que depois de colocar a quantidade recomendada você precisa medir o nível ligando e desligando o motor, e é aí que você descobre que sempre é necessário completar com mais um pouco de óleo... 


Mas ninguém mede o nível corretamente, apenas confia cegamente na quantidade indicada e não faz o que o fabricante manda fazer.


A própria concessionária faz o procedimento errado, pode conferir com os mecânicos — o pessoal de vendas pode até falar o procedimento correto, mas na hora em que você confere o trabalho do mecânico, descobre que ele coloca apenas a quantidade indicada, sem completar até o nível máximo, apesar de isso ser determinado nos manuais de treinamento.


Eu falei com proprietários de Intruder 125 e um proprietário de Intruder 250. Este último sempre estranhou que fazendo a medição exatamente de acordo com o procedimento recomendado dava um nível baixo na vareta, mas sempre teve medo de completar o nível.

Depois de meses, voltei a encontrá-lo e ele confirmou que agora com o óleo no nível correto a moto está funcionando e passando marcha melhor do que antes.


Veja:


Em nenhum momento eu falo para fazer qualquer coisa em desacordo com o que é especificado pelos fabricantes. 


O engraçado é que as pessoas não leem o manual do proprietário, e dizem que eu estou recomendando algo errado e prejudicial ao motor. Não estou.


Apenas estou alertando sobre aquilo que os fabricantes determinaram como sendo o correto e as pessoas desconhecem. Porque não leem o manual do proprietário.


Faça um favor a você mesmo, se dê ao trabalho de ler o manual do proprietário da sua moto e comprove o que eu digo com seus próprios olhos, senão você estará simplesmente praticando achismo.


Você acha que com a quantidade certa de óleo seu motor acumulará pressão. Você acha que seus retentores e juntas sofrerão com a pressão. Você acha que seu motor vazará óleo — coisas que realmente aconteceriam se houvesse de fato excesso de óleo no motor. 


Mas não é o caso, porque se trata simplesmente de manter o nível correto determinado pelo fabricante por meio da fórmula "coloque X litros e complete conforme necessário." 


Quem não completa, dança.


Olha só:


Você nem sequer verificou se a sua própria moto está com o nível baixo quando medido pelo procedimento correto do manual do proprietário.


Atualização:

Veja este vídeo do leitor Osmar Takashi que constatou o fato em sua kawasaki voltando da revisão.


O Takashi já fez vídeos sobre essa questão do óleo na moto anterior, uma suzuki GSR 150i, e agora nessa sua nova moto.

Você pode ver os outros vídeos no canal dele no youtube neste link.

Voltando à postagem original...

Na boa:

Você pode usar esses motores há anos, e até pode estar satisfeito com eles.

Mas não entendeu que seus motores precisaram (ou precisarão) de retífica com metade da quilometragem que poderiam atingir.

Eles poderiam durar o dobro da quilometragem sem passar por retífica, caso fossem mantidos com o nível de óleo correto determinado pelo procedimento esperto do fabricante, que mascara os fatos.

O pessoal pensa que é normal um motor de moto durar apenas 60 ou 80 mil quilômetros para a primeira retífica porque é o que todos duram: simplesmente, o pessoal não conhece coisa melhor, não imaginam que estão tomando prejuízo e se conformam com isso.


Mas veja:


Ninguém é obrigado a fazer o que eu digo. Seja feliz com os teus motores, coloque a quantidade de óleo que quiser, a bomba não vai estourar na minha mão mesmo.


O último cara com quem eu tive esse tipo de conversa perdeu o motor com uns 40 mil km e achou normal.


Minha moto do mesmo modelo está com 75 mil km e ainda tem muita estrada pela frente.


Fazer o quê, né?


Cada um é cada um.


Boa sorte,


Jeff

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Como medir corretamente a folga da corrente da moto

ATENÇÃO: Informações atualizadas em 22/10/14 graças à minha nova experiência com a Edith.

Preciso trocar minha corrente a cada 10 ou 15 mil km, isso é normal?

Por que a corrente de transmissão dura tão pouco?

A corrente de transmissão da sua moto dura tão pouco por causa da esperteza dos fabricantes:

A informação publicada no manual do proprietário é incompleta, te induz a erro, e você mesmo acaba reduzindo a vida útil da corrente da sua moto.

Não é bem assim. 

Levei Edith para ver a folga da corrente, que eu estava achando muito pequena, e fui informado pelo pessoal da oficina do seguinte:

Dependendo da geometria do quadro, algumas motos realmente diminuem a folga da corrente com o peso do(s) ocupante(s), enquanto outras aumentam.

A Kansas é um desses casos em que a folga aumenta quando não tem ninguém em cima, e diminui quando o piloto ou piloto e garupa se sentam; motos com suspensão tipo pro-link fazem o contrário. Em Titans (e Fenix) ela praticamente não se altera, então as informações do manual podem ser aplicadas sem compensação.  

Considere essa nova informação quando ler o restante da postagem.


 Olha só que beleza de tradução: in. é abreviatura de inch, polegada em inglês...


Olha só a foto enganosa com os dois cavaletes abaixados...

Não é necessariamente enganosa para o modelo em questão, uma CG/Fan/Titan. Já uma ilustração feita em condições idênticas no manual de outras motos pode ser, como é o caso da Kansas.

O procedimento aparentemente bem detalhado simplesmente omite a informação essencial de que essa medida de 15 a 25 mm, 20 a 30 mm ou 25 a 35 mm é condição de uso: a medição precisa ser feita com o piloto (ou o piloto mais garupa) sentado(s) sobre a moto, ou seja, com a suspensão na posição normal de rodagem.


Esquecidos, né?

Você não consegue fazer o procedimento sentado sobre a moto, e raramente poderá contar com alguém para simular o seu peso durante o ajuste, mesmo que seja sua garupa (porque a regulagem com garupa envolve o peso de duas pessoas...)

O resultado é que você ajusta a corrente pelo valor recomendado e acaba pode acabar sempre mantendo a corrente muito esticada demais (isso foi intencional em todos os sentidos), o que acaba com a vida útil dela.

O manual do proprietário de motos de trilha (curso de suspensão maior e balança longa) pede uma folga maior, mas também omite a informação de que é necessário considerar o peso do piloto.

Agora que descobri que essa informação incorreta causava o desgaste acelerado da corrente, nas últimas semanas a corrente da minha moto não tem afrouxado, simplesmente porque não sofre estirões (não é extremamente esforçada) ao passar por lombadas ou buracos.

Então, mys friendes, aprendam mais essa. 

Se o manual simplesmente dissesse que a folga correta é entre 30 e 45 mm medidos sem o peso do piloto (ou piloto e garupa) sobre a moto, a corrente não se desgastaria tão rápido. 


Considere que essa folga varia em função do peso transportado, então a folga máxima deve ser usada somente para transportar garupa ou se o seu peso for próximo do meu da capacidade máxima da moto, que nas pequenas é de 150 kg.

Passou da folga ideal proporcional ao peso, a corrente poderá pular para fora, o que pode ser fatal.


O ideal é mesmo fazer o ajuste em uma oficina com você (ou você mais sua garupa) sentado(s) sobre a moto. Na oficina que eu levo a Jezebel, esse serviço nem é cobrado.

O andar de baixo tem um lugar quentinho reservado para aqueles que usam de artimanhas para vender peças de reposição mais rápido.


E também para os inocentes engenheiros que esquecem de publicar frases essenciais em seus procedimentos de manutenção.


Eu fui lerdo e penei para descobrir isso, o que me causou diversas situações perigosas. 


Você não imagina o que é ficar sem tração no anel viário de Curitiba e ter de reencaixar a corrente com as carretas e bitrens passando a 120 km/h a um metro e meio de você.


Se isso tivesse acontecido no rodoanel de São Paulo no trecho entre a Castelo e a Régis, esta postagem seria psicografada.


Ué, mas a corrente não desencaixou porque estava frouxa demais?


Aí é que está o macete: o que fazia ela afrouxar muito rápido era a folga insuficiente que eu pensava ser a correta porque estava conforme o manual. E o pneuzão fora da medida original acelerou o processo.

Dúvida do Bruno Vieira (modifiquei um pouco):

E quando a pessoa anda frequentemente sozinha, e às vezes carrega garupa, como fica? Toda vez tem que ficar regulando? 

O ideal seria regular todas as vezes para cada situação específica, mas isso não é prático.

A melhor solução é usar uma regulagem intermediária em função da frequência com que carrega garupa.

Veja que o valor máximo mencionado ainda não será suficiente para provocar o risco de pulo da corrente transportando apenas o piloto.

Isso só vai acontecer quando a folga da corrente for superior a 4,5 cm com você sentado sobre a moto, o que dá uns 6 a 7 centímetros sem o peso de ninguém.

Opte sempre pela segurança, nunca pela economia.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Olha só o que a tecnologia fará... mas não por você

Sabe o que é esse mostrador no painel?

Reportagem: http://globotv.globo.com/rede-globo/autoesporte/v/conheca-a-vareta-de-oleo-digital/3569703/

É uma "vareta de óleo digital".

Nos carros de luxo europeus, medidor de nível de óleo que precisa limpar com um pano é coisa do passado.


Agora uma luzinha no painel se acende para mostrar que existe um problema, você dá uns toquinhos e aparece o mostrador indicando onde o nível de óleo está e a quantidade que falta.


Você viu onde o nível de óleo está?


Está abaixo do nível mínimo recomendado pelo fabricante. 


Você viu quanto óleo o mostrador está pedindo?


1 litro inteirinho.


Será que removeram (ou deixaram de colocar) 1 litro apenas para facilitar a filmagem? Ou o alarme só dispara quando falta 1 litro?


Fica a dúvida: 


Com quantos km está calibrado o alarme de falta de óleo? 


O alerta de óleo se acende somente 
quando o nível de óleo atinge o mínimo da vareta digital?

O motorista terá acesso à indicação da vareta sem que o alarme seja disparado para o caso de ele preferir completar o nível de meio em meio litro? 

E tem mais: 

O computador avalia se o motor foi submetido a condições de uso severo para abreviar o intervalo de troca. 

Ou prolongá-lo...

Motor de alto desempenho feito para rodar com gasolina de alta octanagem, usando óleo sintético para alta quilometragem, e que ainda cogita prolongar a utilização em função das condições de uso... xiiiii.... danou-se.

O computador analisa condições de uso que ele consegue medir com os sensores existentes: temperatura do óleo, regime de rpm do motor, temperatura externa, tempo de utilização em cada jornada.

Dentro do motor não existe um sensor de viscosidade do óleo, não existe um sensor de degradação do óleo, não existe um sensor de contaminação por gasolina adulterada com álcool, vulgo gasohol. Essas coisas não existem.

Se o óleo estiver em condição inadequada, você não terá como saber.

E o proprietário não terá sequer como tirar a vareta para dar uma olhada na condição do óleo: não existe mais a vareta física, agora ela será digital.

Sabe aquele negócio de dar uma conferida, olhar para aquele café mal coado na ponta da vareta e falar, credo, esse óleo morreu e esqueceram de drenar?


Aquela situação em que um pequeno vazamento na junta do cabeçote faz o líquido de arrefecimento se misturar com o óleo, e ele ficar leitoso, e você identificava o problema antes que o motor sofresse uma perda total? Aí era só trocar uma junta, e não todas as peças do motor?

Pois é, então... isso mixou, acabou, é passado.

Você comprará uma caixa-preta que só a concessionária porá a mão, e será obrigado a confiar que não ocorrerão imprevistos. 

Se o óleo estiver se deteriorando lá dentro, mein Freund, sabe como você ficará sabendo?

Quando seu motor começar a fazer aquele barulho "bonito" de motor detonado.

A culpa será de quem não cuidou direito do motor, mas o abacaxi está em seu nome. Se quiser ser ressarcido, você terá de provar na justiça que não foi você quem se descuidou do reabastecimento de óleo.

Isso já aconteceu com o primeiro lote de veículos europeus importados que vieram para o Brasil com a abertura de importações no governo do ex-presidente impichado que agora é aliado dos impichadores.

O mané tupiniquim endinheirado pagava preço de carro de milionário por carro de classe média europeia, aí colocava aquela gororoba gasolina batizada que nem Podium era, o motor começava a bater pino, o nó cego achava que era normal, o menos nó cego reclamava na concessionária e a concessionária dizia que era normal, e até o menos nó cego acreditava, aí no final sobrou pra todo mundo.

Estou vendo o cenário se repetir... 

E o pior é que logo logo essa maravilha tecnológica vai chegar às motos, fazendo a alegria dos fabricantes, pode apostar.

Em vez de "vareta digital", deveriam chamar essas luzinhas de "vareta virtual".

Algumas definições da wikipedia para virtual:
  • O que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual
  • Que não existe como realidade, mas sim como potência ou faculdade
  • Que equivale a outra coisa, podendo fazer as vezes desta, em virtude ou atividade
  • O que está predeterminado, e contém as condições para que seja realizado
Que adianta sua moto transbordar tecnologia se nem a vela de ignição você consegue trocar sem recorrer à concessionária, e para ficar tranquilo prefere despachar a moto em vez de usá-la...

O grande barato da motocicleta sempre foi encarar a estrada e saber que você mesmo conseguiria resolver 90% dos problemas mecânicos que aparecessem. 

Ajustes e reparos de carburadores, velas, platinados (o cdi que usávamos nas cavernas) podiam ser feitos com duas ou três ferramentas, no acostamento da rodovia.    

Infelizmente, cada vez mais ficamos reféns de tecnologias desnecessárias que limitam em vez de libertar.

Um abraço, 

Jeff

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Aula de como NÃO pilotar uma moto

Assista este vídeo, é uma verdadeira aula de como NÃO se pilota uma moto.


Reportagem e vídeo: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/09/motociclista-flagra-casal-sendo-jogado-para-fora-de-veiculo-em-grave-acidente.html


O cara que filmou:

- vai em excesso de velocidade 
- faz ultrapassagens sem margem de segurança, se colocando e colocando outros motociclistas em risco
- passa pela lombada redutora de velocidade como se fosse rampinha de salto 
- passa por cruzamentos sem se precaver contra outros veículos 
- e ainda consegue ser ultrapassado por outra moto correndo mais do que ele. 

Isso que ele filmou não foi um acidente, foi um abuso implorando por um acidente. 


O pessoal que anda de moto pode não concordar, mas todo mundo está errado nesse vídeo, e não só o motorista que aparentemente desrespeitou a preferencial (mas não consegui ver a sinalização confirmando isso).

Se quiser saber como é se envolver em um acidente de moto, faça exatamente o que é mostrado no vídeo que uma hora ele acontecerá contigo.

Eu já perdi a conta de quantas situações como essa de se acidentar por alguém desrespeitar a preferencial eu já evitei, apenas respeitando os limites de velocidade e ficando de olho nos cruzamentos em quem possa vir a cortar minha frente.

Imprudência mata, quebra e vende cadeiras de rodas. Não caia nessa.

Um abraço,

Jeff

Minha moto dá partida, mas depois começa a pipocar e morre

Minha moto começa a funcionar, mas depois começa a pipocar e morre...

Podem ser várias coisas. 


Atualização:
Descobri um macete novo, verifique antes de tudo se o seu miolo da chave da tampa do tanque de combustível não está obstruído! Explicações na postagem Minha moto anda 1 km e para de funcionar sem motivo, ou não dá partida pela manhã.

Se não resolver, volte para esta postagem.

Se isso estiver acontecendo com tempo bom, descartamos que seja por umidade no cachimbo (conector) da vela de ignição.

Então a primeira coisa que eu faria seria verificar se o cabo de vela está bem conectado ao cachimbo, e se o cachimbo está bem encaixado na vela de ignição.

O próximo suspeito na lista é sua vela de ignição. Há quanto tempo ela não é limpa? Com que folga estão os eletrodos? 

Os eletrodos da vela se desgastam, e quando a folga fica muito grande, a faísca tende a falhar, gera esse sintoma. 

Se isso acontecer após uma chuva, e não for umidade no cachimbo da vela, é bem possível que tenha entrado água no tanque de combustível. 

Se ocorrer após um abastecimento, pode ter sido com gasolina adulterada, e o álcool (ou solvente) tenha se separado da gasolina de verdade e ido para o fundo do tanque.

Como água e solvente não se incendeiam com a centelha, geram esse sintoma de falhar até morrer.

Aí a solução seria eliminar uma boa parte do combustível do tanque abrindo o parafuso do ladrão do carburador. A água e o álcool são mais pesados que a gasolina e vão para o fundo do tanque. Nas motos injetadas eu não sei como escoar a gasolina do tanque.

Se o que estiver saindo do tanque for transparente e tiver mais cheiro de álcool do que gasolina, ou não tiver cheiro de quase nada, entrou água no seu tanque — remova 1 ou 2 litros e, quando começar a sair gasolina de verdade, feche o ladrão e tente dar partida novamente. Abastecer gasolina nova também ajuda muito.

Se melhorar o combustível não resolveu o problema, poderá ser sua vela, bobina de ignição ou CDI que foi para o espaço. 

O eletrodo pode trincar dentro da vela, interrompendo intermitentemente a passagem da corrente elétrica, e será impossível identificar o problema externamente.

O CDI é responsável por gerar no momento certo o pulso elétrico que fará a bobina enviar a alta tensão elétrica que gerará a faísca na vela de ignição. 

Se os fios da bobina ou as trilhas do cdi entrarem em curto, ou se o eletrodo da vela trincar, só é possível resolver com a troca da peça.

Comece pela mais barata e fácil de trocar, a vela, e depois a bobina e por último o CDI.

Boa sorte,

Jeff

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Não consigo perceber a hora de trocar a marcha

"(...) eu sou novato no mundo do trânsito, aprendi tudo na autoescola e uma coisa que eu percebo e me deixa muito agoniado é que eu não consigo trocar as marchas por ouvido (sentir o carro/moto), eu fico muito preso a conta-giros / velocidade em que estou, uma vez você publicou sobre motos gostarem de giros mais altos, portanto diferente de carro.. esse meu apego aos conta-giros é um defeito? Pode ser mudado? Como?"

Olá, Bruno


Fica tranquilo que isso é supernormal.


Todo mundo no começo faz isso, e com o tempo desenvolve o ouvido, passa a sentir o comportamento da moto e a troca de marchas passa a ser natural.


Experimente um truque simples: 


Conte até 3 antes de trocar de marcha. Ou até 4. Ou até 5, dependendo do seu ritmo e da marcha, e encontre o seu tempo preferido sem ficar refém do conta-giros.

Sempre que penso em como explicar a hora certa de trocar a marcha, me lembro de uma canção gravada por Mercedes Sosa, que diz que as coisas devem ser feitas com tesón y voluntad.


E esse é um bom critério para saber se o motor de sua moto está na marcha correta.


Se ao mudar de marcha seu motor responder sem gana, sem vontade, é porque a marcha está inadequada para a velocidade ou condição da pista.


Quando você acelera, a rotação do motor aumenta e continuará a aumentar até um ponto em que o motor perderá o ímpeto, o ronco ficará forçado, o motor estará implorando uma marcha mais alta para voltar a funcionar com suavidade. 


Nas motos com conta-giros, isso corresponde à faixa vermelha, que indica esforço excessivo do motor e não deve ser usada.


Dica prática: 


Use o acelerador sempre a 3/4 do curso, você nunca atingirá a faixa vermelha do motor, e perceberá facilmente esse momento em que o motor começa a ficar desgostoso sem risco de comprometer sua integridade.


E quando a moto perde velocidade e vem a dúvida se é hora de reduzir?

Dica prática:


Reduza sempre que você notar que a moto perdeu o embalo. 

  
Caso você erre e reduza antes da hora, a rotação começará a subir muito rapidamente e você perceberá a tempo de acionar a embreagem e impedir um dano ao motor — será mais um passo do aprendizado.

Na prática, é muito difícil ultrapassar o limite de rotações do motor de motos pequenas, porque praticamente toda a força do motor é absorvida para mover a moto.


Esse limite somente será ultrapassado se você errar de marcha, tipo jogar a terceira na hora em que ia jogar a quinta. Mesmo assim, dá tempo de acionar rapidamente a embreagem e corrigir o erro — o que não pode é congelar e não fazer nada.


O que acontece se eu demorar demais para reduzir?


Se você reduzir depois do que seria ideal, a moto perderá muito do embalo e o motor não conseguirá fazer força suficiente para empurrar a moto e ainda ganhar giros: a resposta do motor será sem graça, sem vida, sem ânimo. A moto tenderá a perder velocidade cada vez mais. Hora de reduzir mais uma marcha. 


Dica prática:


Quando estiver andando de boa, tranquilo, tipo 70 km/h em quinta marcha, experimente reduzir a marcha para a quarta e acelerar. 


Sinta a resposta da moto, veja como é diferente de estar em quinta e simplesmente acelerar.


E quando se sobe uma serra e a inclinação da ladeira muda, como saber se a moto está na marcha correta? 


Quando a inclinação aumenta, a moto começa a perder velocidade, é hora de reduzir a marcha. 


Se a ladeira for muito íngreme e você trocar de marcha e a resposta for tímida, o motor não conseguir subir de giro, e a moto continuar perdendo velocidade, será necessário reduzir mais uma marcha antes de perder mais embalo. 


Com uma 125/150, você consegue rodar em estradas normais reduzindo somente para a quarta. É raro aparecer um morrão que peça uma terceira. 

Mas se você perder muito embalo por causa de um caminhão, dependendo da velocidade você terá de voltar para a segunda, e talvez até a primeira se ele estiver a menos de 20 km/h.

Precisando ganhar velocidade em uma serra (tipo para sair de trás do caminhão lento), saia na menor marcha compatível com aquela velocidade e acelere tudo que a moto pode dar, troque as marchas com a rotação bem alta, sem medo de acelerar, porque você perderá embalo muito rápido e não pode desperdiçar nenhum ganho de velocidade.


Ao continuar a subir, se você trocar a marcha e a resposta do motor for sem entusiasmo, você girar o acelerador e o motor não aumentar de rotação, é porque a marcha anterior era a mais adequada. 


Retorne para ela e se conforme com a velocidade, é o máximo que sua moto aguenta naquela ladeira.

Com motos de pequena cilindrada, você tem de se conformar que não conseguirá manter 90 km/h subindo uma serra. O motor é fraco, não tem torque (= capacidade de fazer força) para tanto esforço. 


Com motos pequenas, subir serras a 60-65 km/h reais é normal. Já com uma moto potente você nem perceberia que está numa serra porque o motor tem reserva de torque, é possível acelerar na mesma marcha que a moto não perde o embalo...

Nem tudo é só uma questão de tesón y voluntad. 


Atualização:
Tem novidade sobre este assunto nesta nova postagem.

Um abraço, e não se preocupe, porque o aprendizado vem com o tempo, 

Jeff