Quando se chega na idade dos cabelos restantes bran... ahn... grisalhos, as ideias e a visão vão ficando meio confusas...
Imagem: Walkure Romanze, episódio 2 - Cada capacete mais bonito que o outro, senpai... pai... pai...
Segunda-feira levei um tremendo puxão de orelha do Daniel por causa da postagem do esvaziamento do radiador de óleo...
O email demorou para chegar porque precisou ser retransmitido para o novo endereço no hotmail.
E o que ele falou é verdade, taí o radiador de óleo da Fazer 250 :/
Imagem: Radiador de Fazer 250 com mangueiras de entrada e saída à venda na internet.
As mangueiras entram e saem por baixo e aqueles olhinhos assustados são os pontos de fixação onde vão os parafusos.
Não tem como o óleo ficar preso dentro do radiador.
Mas todos nós vimos que havia sim óleo preso nos dutos do radiador depois que o óleo parou de gotejar, então o que está acontecendo?
Levei um tempo para digerir a informação e pensar e tentar entender como eu poderia ter errado tão feio assim... os compromissos urgentes de final de ano me atrasaram e só pude escrever a resposta agora.
Vou começar relembrando tudo que falei sobre o assunto em postagens e nas respostas de comentários, se você já leu pule o texto em itálico e vá direto para a conclusão após ***:
Na postagem Cárter seco, cárter úmido e um engano muito comum eu disse o seguinte:
Nos motores de cárter úmido durante um bom tempo após o desligamento do motor uma quantidade de óleo permanece retida nas galerias que percorrem a carcaça e vão até o cabeçote do motor.
Esse óleo tem o percurso de retorno ao cárter dificultado por uma válvula de retenção instalada junto à bomba de óleo e também pelas folgas reduzidas da própria bomba nos motores de motos maiores.
Nos motores de motos menores, essa retenção é causada exclusivamente pelas folgas diminutas da bomba de óleo, já que não são equipados com válvula de retenção.
E em resposta a uma dúvida sobre instalação de radiador de óleo em uma moto não projetada para isso, feita na postagem O que acontece com um motor com excesso de óleo, eu respondi:
Adaptar um radiador de óleo tem alguns riscos sim. (...) Para começar, uma quantidade adicional de óleo será necessária.
Além disso, para o radiador ser eficiente, o óleo precisaria sair da bomba e circular pelo radiador antes de entrar no cabeçote — mas o projeto do motor não prevê esse caminho, então o óleo teria de ser colhido via tampa do cabeçote.
Como garantir a lubrificação do comando no cabeçote enquanto o radiador é preenchido de óleo durante a partida do motor?
Com o motor desligado, esse óleo contido no radiador descerá para o cárter, tornando a partida mais pesada. Talvez o motor de partida e/ou bateria abram o bico com frequência imprevista.
Dependendo da quantidade de óleo acumulada no radiador que desça para o cárter, pode até causar um calço hidráulico danificando a biela.
[Depois de ver a foto do radiador de óleo da Fazer posso descartar esse risco, a quantidade ali é insuficiente para um calço hidráulico.]
Mesmo a adaptação de uma válvula de retenção não garantiria que o óleo não descesse para o cárter, além de gerar uma contrapressão na bomba não prevista em projeto.
E na postagem Você pensava que a yamaha era santa? eu respondi:
O objetivo do tempo que eles mandam esperar [após desligar o motor] é justamente permitir o máximo de óleo retornar para o cárter.
De onde virá esse óleo?
Ele escorrerá das paredes do cárter, do meio dos dentes das engrenagens porque durante o funcionamento do motor o óleo é espirrado pelas peças em movimento.
Mas a principal quantidade, aquela que fica dentro da bomba, filtro e galeria de óleo, essa demora mais a retornar porque as folgas internas da bomba nas motos pequenas e essa folga somada a uma válvula de retenção nas motos maiores dificulta o retorno por mais de 15 minutos. (...)
***
Mas naquela Fazer do vídeo da postagem, o óleo aparentemente parou de gotejar e não havia nenhuma válvula de retenção atuando — o filtro estava removido.
E mesmo que estivesse instalado, o filtro de óleo da yamaha nem sequer tem essa válvula. Jezebel está com a bateria arriada, não pude ir na concessionária conferir, mas a ausência da válvula é visível na foto.
Imagem: Vídeo da postagem O problema gravíssimo das dicas dr dicas da internet. O vídeo você acessa diretamente neste link.
Então qual a causa de tanta demora para o óleo retornar para o cárter que todos nós vimos?
Apenas as folgas internas muito reduzidas da bomba de óleo.
Aquele gotejamento não iria parar antes de vários e vários minutos.
Então o Daniel está correto em afirmar que eu fui uma besta em não considerar isso na hora de fazer a postagem.
Mas assim como essa demora enganou a mim, e olha que eu já sabia disso, ela engana a todo mundo que vê o vídeo.
E engana todo mundo que tem uma moto com radiador de óleo e faz essa troca.
Você poderá contar nos dedos de uma mão a quantidade de donos de motos com radiador de óleo que terá a paciência e o tempo disponível para fazer uma troca e ficar esperando o óleo gotejar naquele ritmo até todo o óleo descer do radiador. Só conheço o Daniel.
A imensa maioria dos proprietários não escoará o óleo do radiador, manterá aquela quantidade residual lá dentro e abastecerá com óleo novo.
E talvez seja também por esse motivo que tão poucos proprietários de Fazer 250 reclamam de problemas...
Ao repor o óleo apenas com a quantidade recomendada e mantendo óleo preso no radiador, eles estão fazendo inconscientemente aquela complementação que o próprio fabricante recomenda.
E por que isso funciona para preservar o motor da Fazer 250 e não funciona para o motor da CB 300?
Por causa do óleo muito fino usado pela honda.
Na CB 300, o óleo 10W-30 desce do radiador muito mais rápido e todo o óleo do radiador é drenado, enquanto na yamaha o óleo Yamalube 20W-50 causa uma demora que o pessoal não tem paciência de esperar.
Minha conclusão é que manter esse óleo residual no radiador, apesar de sujo, acaba sendo mais benéfico do que prejudicial para a vida do motor.
Quer a prova?
Onde estão os donos reclamando de problemas no motor das antigas CBX 250 Twister e Tornado que também usam óleo 20W-50?
Não tem, né?
E pode ser que o motivo seja esse, as motos com radiador usando um óleo de viscosidade mais elevada contam com um "reservatório" que uma troca feita às pressas não drena.
Mesmo sem medir e completar, acabam ficando livres do problema da quantidade insuficiente recomendada pelos fabricantes, mas pelos motivos errados.
Também chego à conclusão de que toda essa história de "medir e completar se necessário" que todos os fabricantes adotam talvez tenha surgido apenas por motivo de padronização da literatura técnica.
Ao elaborar um procedimento universal que atenderia tanto motos sem radiador de óleo quanto motos com radiador de óleo, em qualquer condição de troca, os fabricantes economizaram uns trocados na hora de publicar seus manuais de proprietário.
Causaram uma dor de cabeça dos diabos para todo mundo que não tem radiador de óleo, mas tiveram um efeito colateral muito útil para eles...
O efeito de recomendar uma quantidade de óleo insuficiente para as motos que não passam por essa situação e que prejudica os motores de quem não faz corretamente o procedimento desnecessariamente confuso.
E isso inclui suas próprias concessionárias, olha só que coisa...
Então, chego à conclusão de que, se errei sobre o escoamento do óleo do radiador porque ele iria sair de qualquer maneira ao final de uma longa espera, não errei quanto a todo o restante.
E não retiro nada do que disse sobre o óleo do motor.
As empresas se beneficiam disso e os proprietários são prejudicados.
Se você quiser trocar o óleo e remover o óleo do radiador, não solte os dutos, é um procedimento que pode trazer mais problemas do que benefício.
Espere no mínimo meia hora depois que o filete de óleo começar a gotejar que o radiador estará drenado.
Em compensação, o motor demorará um tempinho angustiante trabalhando sem óleo até o radiador ser preenchido.
Vale a pena?
Na minha opinião, não.
Mas não tenho moto com radiador de óleo, então essa decisão terá de ser sua.
E nunca se esqueça de medir o nível de óleo fazendo o procedimento correto para completar o nível de óleo, é a única maneira de garantir a lubrificação adequada do motor em qualquer condição de troca.
Um abraço,
Jeff