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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Os erros absurdos da literatura técnica da Chopper Road (e também alguns pontos positivos sobre a moto)

Prosseguindo com a série de postagens sobre a nova haojue Chopper Road 150, vou falar das coisas francamente erradas publicadas pela haojue em seu manual do proprietário e também no catálogo de peças.

Alguns desses tropeços são graves e podem colocar os ocupantes da moto em risco como a recomendação de colocar 800 ml de óleo em um motor com capacidade para 1.200 ml abordada na postagem anterior, e outros que serão apontados nas próximas postagens.

Se a haojue pretende ganhar mercado em relação à dafra Horizon 150, sua única concorrente 'custom' no mercado, não pode cometer a mesma pegadinha de indicar menos óleo do que o mínimo necessário.

Um ponto positivo é que tanto o manual do proprietário quanto o catálogo de peças estão facilmente acessíveis em links no site da haojue, uma atitude elogiável da empresa.
Imagem: Site da haojue Chopper Road 150 no link site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/ 

Geralmente o pessoal dificulta encontrar o link para o manual e disponibiliza os catálogos de peças somente para os concessionários.

Vou começar com os tropeços do catálogo de peças, que são novidade, para depois comentar o manual do proprietário...

Se prepare que aí vêm coisas muito, muito bizarras...

Antes de tudo, um ponto positivo: a disponibilização do catálogo de peças...

Para quem não conhece, o catálogo de peças é a informação passada pelas fabricantes aos concessionários para facilitar a identificação dos componentes da moto na hora de vender peças de reposição.
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Esse catálogo é muito útil para o vendedor localizar para você as peças necessárias para um reparo.

Ele também permite saber coisas interessantes, por exemplo:

Apesar de o conjunto carburador ser mostrado com diversos componentes, nenhum deles pode ser comprado avulso.

Não existe o chamado kit de reparo do carburador. Irão lançar no futuro?

Não há nenhum giclê, nenhum anel de vedação, mola, agulha, boia, válvula, junta, nada para venda avulsa — apenas componentes universais ou que nunca se gastam.

Ao longo dos anos o carburador terá algum desgaste normal de componentes como giclês, válvulas ou boia, e você terá de trocar o conjunto inteiro — a menos que encontre peças compatíveis no mercado. 

Isso pode até ser preferível dependendo da capacitação técnica de quem estiver mexendo na sua moto, mas se você quiser economizar comprando as peças avulsas, terá de procurar fora da concessionária — ou então pagar a fatura do carburador completo. 

Por outro lado, um carburador trocado a cada 5 anos também não é o fim do mundo. Jezebel já está no seu segundo carburador, e também no segundo cilindro mestre do freio dianteiro. Em breve estará com o terceiro cilindro mestre, mas isso é assunto para outra postagem.

Tropeço nº 1: a tradução do catálogo de peças...

O catálogo de peças é um documento da mais alta responsabilidade, mas infelizmente não recebeu o respeito merecido.

O desconhecimento abismal de quem "traduziu" a literatura técnica dessa moto é assustador...

Não é um problema apenas de tradução. 

Se fosse, seria até compreensível, dada a dificuldade de traduzir os nomes das peças do Chinês para o Português usando o tradutor do google.

Quem fez o material não tem a menor ideia de como funciona um motor de moto, nem conhece o nome e a função de cada componente.

E o material não foi revisado por alguém com conhecimento técnico, o que deixa esse catálogo bem abaixo dos padrões mínimos da indústria.

Compare a vista dos componentes "pescador de óleo, mola da bomba de óleo e tampa da bomba de óleo" da figura 3 (no destaque vermelho) com a vista do conjunto da "pomba de óleo" (sic) da figura 14: (fiz uma montagem destacando os dois para facilitar.)
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Essas peças atribuídas à pomba bomba de óleo não têm relação alguma com ela... 

Os itens 14 a 17 constituem o filtro de tela do óleo do motor, aquele que você mesmo abre e limpa a cada troca de óleo.

O "pescador de óleo" é a tela — basicamente, o próprio filtro. 

A "mola da bomba" é a mola do filtro. A "tampa da bomba" é a tampa do filtro de tela do óleo.

Não tem bomba nessa parada...

Imagens: Vista lateral externa esquerda e vista lateral interna direita de motores com componentes similares. 
http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/02/o-dia-em-que-honda-deu-um-tiro-no-pe.html e http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/10/o-que-tem-dentro-do-motor-da-sua-moto.html

O filtro de tela do óleo instalado externamente na tampa esquerda do motor não faz parte do conjunto da "pomba de óleo" instalada na carcaça direita do motor, debaixo da tampa da embreagem... Aliás, um verdadeiro crime ecológico colocar a pobrezinha espremida ali dentro. Coitadinho do bichinho

O filtro de tela do óleo é um dos componentes mais básicos do motor — um item de inspeção frequente em todas as revisões.

Todo ajudante de aprendiz de faxineiro de oficina de motos, por mais fuleira e boca de porco que seja, conhece esse filtro... mas não os responsáveis pela literatura técnica da Chopper Road. Decepcionante. Fizeram uma economia que não valeu a pena.

Além disso, o catálogo de peças causará dificuldades na hora de comprar peças de reposição.
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

A arruela do filtro centrífugo 24 virou "arruela da bomba de óleo"...

Alguém é capaz de explicar a existência de um suposto "pino da bomba de óleo" dentro do filtro centrífugo?

Bomba e filtro centrífugo são subconjuntos 'fechados' separados, e a única ligação mecânica entre eles não é feita por um pino dentro do filtro — mas por engrenagens externas aos componentes, como informado em azul na foto à direita acima.

E a bomba de óleo nem sequer tem um pino... isso está totalmente fora de lugar, erro de tradução puro e simples, mas que pode causar muita confusão.

Com um catálogo tão problemático, os vendedores terão muita dificuldade para localizar componentes na hora da venda... 

Os responsáveis por cometer essa tradução do catálogo de peças não conhecem as peças nem o funcionamento do motor, e não têm noções básicas de desenho técnico.

A Chopper Road é a única moto do mundo que não tem uma embreagem de partida... 

Pelo menos não com esse nome, porque ela é o subconjunto nº 9 identificado como "engrenagem de partida" na figura 5:
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

A embreagem de partida não é uma embreagem de atrito, como aquela que você usa para controlar o motor, mas basicamente um tipo de catraca.

Ela gira em uma única direção e serve para isolar o giro mais rápido do virabrequim em relação ao pinhão de partida quando o motor começa a funcionar.

O subconjunto da embreagem de partida possui 8 tipos de peças totalizando 11 componentes mostrados na figura, mas é identificado como apenas mais uma das muitas "engrenagens de partida" desse catálogo... 

No motor há somente três engrenagens de partida — motriz, movida e intermediária — que aparecem mais abaixo na figura 6.

Essa embreagem/catraca é um conjunto totalmente diferente de uma engrenagem de partida, compare:
Imagem: https://motos.mercadolivre.com.br/acessorios-pecas/engrenagem-da-partida-xr-200 - Esta embreagem de partida tem construção um pouco diferente, mas no geral todas têm esse conjunto de 3 ou 4 roletes com molas — coisa que uma engrenagem decididamente não tem.

Não dá para confundir uma com a outra.

A única vez em que a expressão "embreagem de partida" é mencionada em todo o catálogo é na seção "Encrenagem de partida" (sic).
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Outra peça que será difícil de encontrar é o "rotor da engranagem" (sic) que na verdade é a carcaça do filtro centrífugo de óleo, o filtro de óleo principal do motor. 

A peça mostrada é a carcaça, não sua engrenagem de acionamento (que foi apontada como engrenagem de partida, item 8).

E essa engrenagem, apesar de aparecer ao lado da outra no desenho, não se engrena com a tal "engrenagem de partida" que na verdade é a embreagem de partida. Bizarro. Caótico.

Outra coisa:

Aquele conjunto de peças alinhadas desde o item 8 até o item 23 na figura lá de cima compõem o filtro centrífugo de óleo, não a bomba de óleo.

E ele é montado e instalado conforme a linha destacada em azul, do outro lado do motor em relação ao filtro de tela de óleo — aquele que foi chamado incorretamente de tampa, mola e pescador de óleo...

Um catálogo de peças com uma salada de erros tão graves dará muita confusão na hora de vender peças no balcão... Se eles não corrigirem isso, prepare-se para passar raiva na hora em que precisar de peças.

Aliás, deveriam ter corrigido antes de publicar, ninguém merece ler aquilo.

Tropeço nº 2: o descuido com a qualidade do manual do proprietário...

Tem coisas nesse manual que fazem parecer que quem fez a tradução só vê motocicleta quando o motoboy chega com as pizza e as coca. Eu sei. É piada de paulista. Posso brincar com erros de concordância aqui no blog, mas nunca em um documento que é a comunicação direta da empresa com os clientes.

O manual do proprietário da haojue Chopper Road é um verdadeiro festival de atentados ao nosso idioma mesmo nas concordâncias mais básicas...

Um descuido tão grande quanto à apresentação visual, um desrespeito aos clientes e até mesmo uma afronta à lógica...
Imagem: Manual de proprietário da haojue Chopper Road 150 com link encontrado no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

"Quando o interruptor do indicador de direção é pressionado para a esquerda, vire à esquerda."??? 

O certo não seria "Mova o botão do indicador de direção para a esquerda a fim de sinalizar uma conversão à esquerda."

"lâmpada quebrada"... Lâmpada boa é assim: quebra, mas não queima!

"Indicador reset"... 


Por que "indicador"? 

Por acaso a moto tem uma luzinha que acende na hora em que você gira o botão de reajuste do hodômetro parcial para zerar a contagem? 

Não, não tem — se tivesse, ela poderia ser chamada de indicador.

Por que "reset"?

Por acaso o hodômetro parcial é eletrônico? E se fosse o caso de ser eletrônico, não existe a tradução "reiniciar"? 

"Indicador reset" é simplesmente "botão de reajuste".

"Apertar a vela com as mãos?"

Eu queria ver alguém usar as duas mãos para apertar a vela de ignição naquele espaço onde mal cabem dois dedos.

Decifrando o texto:

"tampa da vela" = "conector da vela de ignição"

"É aconselhável substituir os anéis de vedação quando o óleo do filtro de motor é alterado."...

Como assim, "óleo do filtro de motor alterado"???

Essa "instrução" é uma das coisas mais toscas que já li... 

A Road Chopper não tem filtro substituível, e não fica óleo retido no filtro de tela.

Onde é que entra o "óleo do filtro de motor" nessa estória?

Tentaram dizer para substituir o anel e a arruela de vedação do filtro de tela do óleo e do bujão de drenagem do motor em todas as trocas de óleo?

Por que não disseram isso de maneira inteligível? 

Usaram google translator? Bem feito!

E esse carburador de "evaporação estável" deve ser alguma tecnologia nova que substituiu a 'pulverização' estável do combustível... o correto seria aspersão, já que tecnicamente o combustível não vira pó, mas isso é algo que já desisti de convencer os engenheiros... é uma luta inglória.

O que a haojue chama de "evaporador de combustível" no catálogo de peças é um componente do sistema de controle de emissões poluentes, não tem nada a ver com o funcionamento do carburador em si.

Incrível que essa literatura "técnica" grotesca tenha sido aprovada por engenheiros experientes no mercado como os da jtz – jta – j. toledo... ou não passou pela mão dos engenheiros?

Espero que revisem esses volumes da literatura técnica o mais cedo possível, e não, não estou interessado em pegar o trabalho.

Eu ficaria tentado a me divertir com o assunto...
Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, eu pensava que já tinha visto de tudo nesse mercado...

Mas esse pessoal continua se superando a cada ano.

Sempre aparecem coisas novas que não deveriam.

Depois de descer a lenha, vou citar alguns pontos positivos:

Minhas críticas não são em relação à moto, que considero um dos pacotes mais interessantes já lançados, mas à atitude descuidada da empresa e ao uso de macetes condenáveis para abreviar a vida útil do motor e de componentes de desgaste caros — trazendo riscos aos ocupantes — coisas que sempre combato aqui no blog.

Nada contra a moto em si e sua mecânica, nenhum preconceito contra motos chinesas (tive duas e sempre me atenderam muito bem).

Vi a moto segunda-feira de manhã na concessionária e essa última versão com freios hidráulicos combinados está oferecendo um item que prezo muito: 

Segurança na frenagem. 

Freios eficientes salvam vidas, e mais eficiente do que freios a disco dianteiro e traseiro combinados, somente o caríssimo (e para mim, sempre passível de falhar na hora H) freio ABS.

O pacote da Road Chopper é mais bem equipado e tem acabamento superior à Kansas, e somente é comparável na categoria dela à Horizon 150 — que não tem freio traseiro a disco.

Considero o motor uma boa solução técnica pelos motivos que já comentei aqui:

O projeto une a boa característica do filtro de tela de óleo externo de fácil manutenção — cujas vantagens comentei em uma postagem anterior — somada à eficiência do filtro centrífugo interno mais o bom rendimento do comando no cabeçote.

São soluções técnicas que podem assegurar uma longa vida útil — desde que o motor não seja tratado com penúria de óleo lubrificante graças a estratagemas 'espertos' do manual do proprietário...

Os freios e o motor de manutenção fácil de ser feita pelo dono são dois fatores que a colocam em um patamar acima da agora clássica Intruder 125.

Além disso, a Chopper Road 150 está sendo vendida pelo preço de 6.290 realetas sem frete.

Esse é praticamente o mesmo valor cobrado no lançamento da dafra Kansas em 2008 — 6.500 reais — com o valor do dólar sendo quase a metade do que é hoje.

Naquela época eu dizia que nossas motos poderiam ser vendidas pela metade do preço que ainda dariam lucro para as empresas, e parece que essa moto confirma isso.

Se essa tendência de preços em queda continuar, finalmente teremos motos a preço justo neste país — desde que os empresários não fiquem tentados a recuperar a margem de lucro apressando a venda das peças de reposição.

A postagem ficou longa, vou parar por aqui e amanhã eu continuo descendo a lenha.

Vou falar das informações do manual do proprietário que podem colocar você, sua garupa, seu patrimônio e o motor de sua moto em sérios riscos.

Um abraço, menos aos responsáveis pelas pataquadas,

Jefferson

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Como funciona a válvula de segurança do filtro de óleo cartucho?

Acordei de madrugada com um sonho terrível:

Eu fazia parte da tripulação da Enterprise nova geração — aquela abominação — e eu estava de rolo com a B'Elanna — até aí, tudo bem. Eu sei, Voyager não é TNG, mas sonho é sonho e estava bom demais.

Ao sermos teleportados para um planeta classe M — aqueles que convenientemente dispensam trajes de proteção e reduzem o custo das filmagens — fomos atacados por um grupo hostil:

Didi, Dedé, Mussum, Zacarias e Costinha.

Pois é, o Costinha ali não fazia sentido... e ainda assim ele conseguia ser o melhor do grupo.

Sonhos geralmente não fazem sentido, a menos que sejam um alerta de nosso subconsciente — e entendi que o alerta era de que alguma coisa errada estava passando despercebida.

E a primeira coisa que me veio à cabeça às 4:30 da matina foi a postagem de ontem e seu complemento programado para hoje, que vou manter conforme escrita originalmente, mas farei acréscimos intuídos depois desse pesadelo.

A válvula do filtro cartucho mostrada no vídeo de ontem faz parte de um dispositivo de segurança que se desloca conforme a contrapressão causada pelo acúmulo de sujeira em filtros de óleo do tipo cartucho.
Imagem: https://santacruz761.wordpress.com/2010/04/15/filtros-do-automovel-parte-2-filtro-de-oleo/ — lá também há vídeos interessantes explicando o papel do óleo dentro do motor.

A válvula de segurança atua assim:

Se as partículas resultantes do desgaste do motor se acumulassem a ponto de bloquear totalmente a passagem do óleo através dos poros do elemento filtrante de papel, o cabeçote e componentes vitais trabalhariam a seco e o motor se fundiria.

Para evitar isso, a válvula de segurança atua movida pela contrapressão para bloquear a entrada do filtro e permitir que o óleo ainda não filtrado seja liberado para as partes vitais do motor via passagem direta por fora do filtro.

Melhor óleo sujo do que nada — mas esse é um recurso para uso por pouco tempo em uma emergência, tipo uma longa viagem na estrada.

Na postagem de ontem eu disse que "se os fabricantes recomendam quilometragens para troca longas o suficiente para a válvula de segurança precisar ser acionada, o que deveria fazer somente "em condições de uso extremo", é sintoma de que algo está profundamente errado com esse critério de quilometragem adotado pelos engenheiros."

Em relação a este último parágrafo, preciso fazer uma retratação.

Depois do pesadelo, percebi o seguinte:

A explicação dada pelo mecânico e por mim não se encaixava no quadro geral. Que nem o Costinha no quarteto alienígena.

O mecanismo de ativação da válvula é uma mola.

Molas não reagem à sujeira acumulada, mas à contrapressão formada quando a bomba de óleo é acionada.

Ora, de acordo com o que o mecânico falou, a válvula do vídeo parecia estar acionada sem pressão alguma vinda da bomba... o filtro estava até solto em seu alojamento.

Então a conclusão a que cheguei depois de uma noite bem dormida sem dor de dente graças a Deus e ao anti-inflamatório foi de que aqueles filtros são fabricados daquela maneira.

Aquela válvula de segurança não está acionada — os filtros são construídos assim mesmo.

As superfícies mostradas são a parte fixa da válvula que dá suporte à mola, e não a parte móvel da válvula.


Confirmei isso dando um pulo na loja de motopeças e na concessionária honda para conferir com meus próprios olhos a construção desse filtro.

O que verifiquei é o seguinte:

Essas superfícies internas mostradas no fundo dos filtros são fixas e servem de apoio para a molinha interna do cartucho.

A superfície móvel da válvula é a que vai no lado de contato com o motor — eu mesmo acionei com uma caneta pelo lado oposto e constatei.

Se houver uma contrapressão causada por sujeira que restrinja a passagem de óleo, ela se somará à ação da mola e impedirá a abertura da superfície móvel.

O óleo nem chegará a entrar no filtro, sendo desviado diretamente para a parte alta do motor.

O filtro paralelo vendido na motopeças (22 temeridades) tinha a maior profundidade dessa base da mola, e a concessionária tinha outros dois modelos de filtro, o original importado (55 temeridades) e o nacional Hump (31 temeridades).

O Hump é realmente segunda linha da honda (vem em embalagem lacrada com a marca honda) e tem mais espaço livre na saída que o original honda — mas pouca coisa, cerca de uns 3 ou 4 mm a mais.

Cada fabricante tem uma distância diferente de montagem para essa base da mola.

Como essa superfície é fixa, não existe o risco de que aquela passagem venha a se restringir ainda mais.

E mesmo o filtro com menor área de passagem, o original honda, me pareceu suficiente para dar conta de sua missão sem comprometer a lubrificação.

Então me parece que a preocupação do Furlani é exagerada, talvez resultante do cansaço com que gravou a postagem.

O que me decepcionou um pouco, porque fui obrigado a jogar fora toda uma bela teoria da conspiração elaborada com base no que ele disse no vídeo...


My bad...
Minha premissa de que a válvula estaria acionada estava errada e, neste caso específico do filtro, não dá para acusar a honda de nenhuma prática condenável...

A não ser a quilometragem exagerada recomendada para a troca e o uso de um óleo de viscosidade reduzida para as temperaturas de nosso país, que continuam sendo fatos incontestáveis.

Infelizmente, o vídeo não serve como comprovação...

Voltando à postagem original:

Nem todas as motos usam filtro cartucho com válvula de segurança.

Nas motos que usam filtro do tipo centrífugo, como as CG e dafra de pequena cilindrada, essa válvula não existe porque o próprio movimento giratório do óleo faz esse trabalho.

O filtro centrífugo é uma solução barata e que precisa ser desmontado e limpo periodicamente, algo que os proprietários ignoram e que também abrevia a vida útil dos motores.

Somente a troca frequente do óleo evita que isso se torne um problema, mas as fabricantes se empenham em dilatar esses prazos cada vez mais...

Mas de onde vem essa sujeira que entope o filtro?

Uma parte vem do desgaste normal do motor, e outra parte vem do ar necessário para o seu funcionamento.

O motor aspira continuamente uma enorme quantidade de ar através do filtro de ar.

Nenhum filtro é 100% eficiente, ele sempre deixa passar as partículas que são menores que os poros do elemento filtrante.

Essas micropartículas de poeira são abrasivas — é a matéria prima de que são feitas as lixas.

Elas vão para a câmara de combustão e uma boa parte é expelida junto com os gases de escapamento, e outra parte acaba presa na parede oleada do cilindro e pistão. 

Como o óleo é bombeado para lavar essas superfícies, essas partículas de poeira se acumulam no cárter e são retidas no filtro de óleo junto com as partículas de aço, alumínio, bronze e carvão provenientes do desgaste normal das peças do motor.

Além disso, a umidade está sempre presente no ar, não há filtro viável para uso em motores que consiga retê-la.

Parte dela sempre acabará chegando na forma de vapor ou seus componentes até o óleo.

E os componentes do vapor de água H2O são o hidrogênio H e o oxigênio O.

Todo óleo derivado de petróleo contém enxofre S, e a reação entre H, S e O gera ácido sulfúrico H2SO4, que adora corroer alumínio e tudo que estiver pela frente.

Daí vem a necessidade de trocar com frequência adequada o óleo e também os filtros de óleo e de ar, porque dependendo das condições de uso (excesso de poeira ou umidade), o óleo e os filtros são contaminados com mais intensidade e mais rápido.

Basicamente é por isso que é necessário fazer as trocas do óleo e dos filtros de ar e óleo sempre em intervalos adequados e não excessivamente longos.

E basicamente é por isso que as campanhas das montadoras para uso prolongado do óleo com quilometragens irreais só têm um objetivo — fazer seu motor acabar mais rápido.

Mas existe uma "escola de engenharia moderna" que tem a cara de pau de dizer que o óleo nem precisaria ser trocado, apenas reposto...

Como dizia um infame mau caráter, "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade".

E é por isso que vemos na internet tanta gente papagaiando informações erradas que eles pensam que sabem.

Alguns o fazem sem malícia por pura credulidade, falta de conhecimento técnico e falta de capacidade de julgamento, enquanto outros são remunerados para essa "nobre" tarefa.

Outra coisa muito importante:

Quando você mesmo troca o óleo e os filtros, você tem certeza absoluta de que os filtros foram trocados.

Qual o cliente de oficina ou concessionária que vai abrir a tampa e conferir se trocaram mesmo o filtro?

Trocar o óleo e apenas embolsar o dinheiro do filtro na certeza de que o cliente voltará em breve para retificar o motor é o tipo de crime quase perfeito que raramente é descoberto. 

As montadoras têm o dever de fiscalizar a qualidade de serviço de suas concessionárias — elas fiscalizam?

E quem fiscaliza o trabalho dos mecânicos autônomos?

Como em todas as profissões, há gente de todos os tipos por aí.

Confiar desconfiando ainda é a melhor coisa a se fazer.

Por isso têm o meu respeito mecânicos honestos que vêm a público denunciar as mazelas que encontram e conscientizar os proprietários, como o Furlani dos vídeos da postagem de ontem e o Madeira que mencionei na postagem da falta de óleo das ktm.

Um abraço,


Jeff

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mais CB 300 ferrando o cabeçote... por que será, hein, dona honda?

Vídeo de outro mecânico competente mostrando o que acontece com uma moto bem cuidada, mas que o dono não é leitor deste blog — e portanto desconhece os macetes praticados pelos fabricantes:



Meu agradecimento ao leitor Pedra Veloz que enviou estes dois vídeos, e parabéns ao Furlani por ajudar a esclarecer o povo sobre os absurdos praticados nesse mercado — absurdos que este blog vem denunciando há anos!

Como disse o mecânico, o dono cuidava bem da moto... ele só não sabia de algumas coisas:

1) A quantidade correta de óleo a cada troca da CB 300, CBX 250 Twister e a nova CB Twister é de 1,8 litro e não 1,5 litro como está dito no manual;

2) A quantidade recomendada no manual de todas as motos sempre é insuficiente para atingir o nível recomendado no próprio manual, necessitando de um adicional que os fabricantes nunca dizem qual é;

3) O óleo recomendado pela honda, assim como o óleo recomendado por vários outros fabricantes (suzuki, kawasaki, dafra) são vendidos como maravilhas tecnológicas — mas curiosamente eles costumam desaparecer do cárter mais rápido que outras marcas "não recomendadas" e sem que o dono perceba a moto fumando... esses óleos são bons para quem?;

4) A quilometragem recomendada pela honda (e demais fabricantes) para inspeção e troca é longa demais para ser chamada de decente — mesmo quem recomenda um bom óleo abusa da inocência dos clientes (estou olhando pra você, yamaha!)

Um vídeo como este permite comprovar essa indecência:



A válvula que ele mostra no vídeo é um dispositivo de segurança que se desloca conforme a contrapressão causada pelo entupimento do filtro. 

Se os fabricantes recomendam quilometragens para troca tão longas a ponto de essa válvula de segurança precisar ser acionada em condições normais de uso, é sintoma de que algo está profundamente errado com esse critério de quilometragem adotado pelos engenheiros


Leia a retratação sobre este parágrafo na postagem posterior a esta.

5) A imensa maioria das concessionárias da honda (e demais fabricantes) se limitam a abastecer a quantidade insuficiente recomendada de óleo, fazendo o motor se sacrificar desde o início — elas não fazem a complementação que o próprio manual do proprietário manda fazer;

6) A honda (e demais fabricantes) não impedem as concessionárias de continuarem com essa prática lesiva aos proprietários e que pode colocar nossas vidas em risco no trânsito;

7) A honda (e demais fabricantes) não têm interesse em informar a quantidade correta de óleo a cada troca porque assim vendem muito mais peças de reposição e motos novas em prazo muito mais curto do que seria o normal.

Algumas fabricantes chegam a mentir na maior cara dura para seus clientes, não é dona suzuki? Não é mesmo, dona dafra?;

8) O povo é feito de trouxa por essas práticas abusivas e não há interesse da imprensa em denunciar os fabricantes porque são grandes anunciantes e money makes the world go round;

9) Os governantes não têm interesse em coibir essa prática porque os fabricantes movimentam a economia e geram mais impostos — para variar, às nossas custas.

Além dos itens acima, há uma série de outras pegadinhas que os fabricantes usam para evitar que você trate corretamente da vida do motor de sua moto.

Pesquise nas postagens específicas agrupadas sob as abas Denúncia e Óleo na lateral desta página (visível somente em tela de PC).

Então, meu caro leitor, não seja otário de acreditar que os fabricantes são santos. Eles só estão lá pela grana — a sua grana.

O único cara que tem interesse de verdade no melhor para sua moto é você mesmo, todos os outros querem arrancar dinheiro do seu bolso — e quanto mais cedo, melhor.

Cuide pessoalmente do nível de óleo correto da sua moto e complete até a marca de nível máximo sempre que necessário — porque o importante é garantir o nível correto.

A menos que você queira ver sua moto em algum vídeo como esses aí de cima.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Descarbonização do motor, filtro centrífugo e aditivos

Respondendo ao leitor Bruno Vieira:

Jeff, o que vc acha a respeito de produtos que dizem limpar o motor e o cárter, por exemplo o Motul engine clean, (...) mas tenho visto que pode ser prejudicial, é verdade? Em quais casos?

Bruno, 

O engraçado é que o filme da Motul (assisti em russo, é autoexplicativo) dá os argumentos para eu não usar.

Vi muitas vezes meu pai fazendo um procedimento de descarbonização que era comum até uns muitos anos atrás, e que hoje caiu em desuso: era chamado de purga do motor.

Ele colocava um óleo bem fino, misturado com querosene, fazia o motor funcionar na máxima rotação durante alguns minutos, depois escoava e colocava uma carga de óleo novo da viscosidade correta.

Eu era pequeno e adorava ver aquela barulheira e a fumaceira... era igual a ter um show de rock no quintal de casa. E olha que show de rock ainda nem tinha sido inventado...

As piores decisões empresariais de todos os tempos, 
como recusar os Beatles porque não eram suficientemente originais. Ri muito. Em inglês, mas para isso tem o google tradutor.

Por que não considero esse procedimento bom?

Óleo fino e querosene atuam como solventes, assim como esses produtos de limpeza para motores, e vão dissolver toda a borra e sujeira acumuladas em todas as partes do motor.

Olha só o estado de carbonização de um pistão queimando óleo por desgaste de anéis:



Imagem: Dr. Daniel, Neurocirurgião Cerebral de Motocicletas


Quem garante que todas essas crostas serão expelidas do cilindro em vez de ficarem presas nos anéis raspando o cilindro a cada rotação? 

Quem garante que as borras e lama do cárter serão todas removidas junto com o óleo quando você escoar o laxante?

Isso danificaria as partes móveis do câmbio, bomba de óleo, ressalto do comando, braços oscilantes, cilindro/pistão, além de entupir galerias causando perda de lubrificação em alguns pontos extremamente sensíveis, como o virabrequim, bronzinas e mancais, e aumentando a pressão da bomba, podendo danificá-la.

Uma parte delas, os ciscos metálicos mais pesados, ficará solta lá dentro do motor, percorrendo a bomba de óleo e os dutos. E uma parte desse solvente contaminará o óleo novo, prejudicando sua viscosidade e capacidade lubrificante; então a emenda pode ficar pior do que o soneto.

Nas motos, ainda tem dois agravantes:

Primeiro, a maioria das monocilíndricas usa filtro de óleo centrífugo; poucas são aquelas que usam filtro de cartucho descartável, como os carros.


Imagem: Parte do tutorial de limpeza do filtro em 3 videos do MotoMecânicaOnline. O link para o tutorial é este aqui. Esta imagem já é do vídeo 2.

O filtro centrífugo é aquele funil invertido que gira em alta rotação, acionado diretamente pelo virabrequim bem no centro do motor acima.

A sujeira é jogada para a borda pela força centrífuga, e fica presa ali. O óleo limpo retorna pelo centro do funil e continua circulando dentro do motor. É muito eficiente, os motores Scania usam esse sistema e são famosos pela durabilidade. 

O filtro centrífugo precisa ser limpo periodicamente, senão uma hora ele ficará lotado de detritos e perderá a capacidade de reter sujeira.

Essa é uma foto do filtro centrífugo da Jezebel quando o Daniel trocou o câmbio dela, estava com uns 60 mil km, se não me engano:

Imagem: Dr. Daniel, Cirurgião Cardíaco e Ginecologista de Motos

Essa gosma cinzenta nas bordas do filtro centrífugo da Jezebel é pó de alumínio e aço misturado com carvão, acumulados em uns 30 mil km desde a última limpeza, em um motor bem lubrificado. (O relapso do dono esqueceu de limpar a cada 12 mil km...)

Nos motores que trabalham com pouco óleo ou óleo de viscosidade inadequada, a coisa é ainda mais feia.

Já imaginou o que vai acontecer com toda essa sujeira na hora em que você facilitar sua saída do filtro?

Os produtos de limpeza para motores funcionam de maneira mais suave, são um detergente para ir limpando o cárter progressivamente.

Segundo: 

Como isso irá afetar a embreagem? Será que ela não vai começar a patinar por causa desse aditivo?

Esses produtos trabalhariam com eficácia relativa se você comprasse seu motor (de carro; de moto, eu não sei) zero km e sempre usasse o produto para evitar que uma quantidade significativa de borra e sujeira se acumule no motor. 

Mesmo assim, os efeitos nocivos da contaminação do óleo com um produto solvente e talvez de menor capacidade lubrificante persistiriam, somados ao alto custo de bancar essa aditivação constante.

Considero uma temeridade fazer isso em um motor automotivo rodado e carbonizado. E ainda mais no motor de uma moto por causa da embreagem em banho de óleo. Seria quase como jogar areia fina pelo gargalo de abastecimento.


Já pensou aplicar um produto de limpeza se o seu motor estiver nessas condições aqui? 

Toda a sujeira começaria a circular com o óleo, arriscando entupir as galerias e fundir o motor...
Para descarbonizar o motor de motos e carros usados e bem rodados, o ideal é desmontar e lavar tudo com querosene / tíner / diesel / gasolina ou produtos para esse fim (banho químico), e enxaguar tudo muito bem com água (para remover bem o solvente) e montar tudo (substituindo o que estiver gasto). 

Para descarbonizar o cilindro / pistão existe um método de aspiração de água, mas que não retira 100% (máximo entre 80-90%), mas é necessário um bom conhecimento (que eu não tenho, foi o Dan que disse), pois pode causar um belo calço hidráulico.

E se isso acontecer, pode trocar pistão, biela e outros componentes, se não der perda total da carcaça. 

Um abraço,

Jeff (com a inestimável ajuda do Dr. Daniel)