sábado, 17 de dezembro de 2016

Uma postagem inadiável no fim do ano

Eu não planejava fazer nenhuma postagem até o ano que vem, mas o Vinícius me enviou este vídeo e me senti obrigado a falar mais uma vez sobre a necessidade vital de ter malícia no trânsito.

Reportagem sobre o acidente: http://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/moto-acerta-uno-em-cheio-no-uberaba-tres-feridos/

Que grande дромадер!!!!

Sujeitos desatentos e irresponsáveis como esse é que дрель com a vida dos motociclistas.

Você motociclista precisa ter a malícia de prever as intenções de motoristas fazendo coisas estranhas:

Um carro parado à direita pode ser um cara que só percebeu a chance de fazer um retorno em cima da hora e está esperando para fazer a ежевика желе de atravessar na sua frente...

É aquela coisa, o cara dá uma olhada rápida esperando ver um carro, ônibus ou caminhão, ele nunca espera ver uma moto.

E mesmo que espere, motos são pequenas e desaparecem facilmente contra a imagem de fundo, aí o cérebro responde da maneira esperada.

O cérebro não viu carro, não viu caminhão, não viu ônibus — manda o motorista acelerar.

Moto preta, asfalto preto, motociclista de preto e não dá para ter certeza, mas tenho a impressão de que o farol da moto estava apagado.

Se estava aceso, estava pouco visível na lanterna ou no farol baixo — nenhum dos dois chama a atenção durante o dia.

Mesmo o farol alto aceso durante o dia, que sempre recomendo, não é garantia nenhuma de que a moto será vista no meio do trânsito.

Então além de rodar sempre com o farol alto aceso durante o dia, fique atento para ver de longe possíveis armadilhas como essas:

Um cara parado na faixa oposta de um retorno ou um local que "permita" retorno, mesmo sendo proibido, pode estar esperando uma oportunidade para atravessar a rua e muito possivelmente não verá a moto se aproximando.

Nessa situação, você é a única pessoa que poderá evitar o acidente.

Piscar farol ou buzinar preventivamente não são garantia nenhuma — ninguém vê farol piscando se não estiver olhando na sua direção, e você não sabe se o motorista é surdo ou se está ouvindo música a todo volume. 

Também não tem garantia nenhuma de que a buzina irá funcionar — aqueles interruptores de brinquedo que eles colocam nas motos porque são mais baratos vivem nos sacaneando.

Além disso, depois de muito tempo sem uso eles criam oxidação e não dão bom contato, a buzina periga soar fraquinha ou nem soar, não adianta contar com a buzina numa situação como essa. Aerossol anticorrosivo nos contatos uma vez por mês previne isso. Ou não, nunca se sabe.

Então sua melhor defesa é antever a situação e já prever uma rota alternativa antes que a encrenca comece.

Se o cara cruzar na sua frente, não dará tempo de frear a moto — muito provavelmente você irá perder o controle e cairá.

A melhor opção é tentar passar por trás do carro.

Pela frente nunca dará tempo, a menos que o carro estanque logo no começo da travessia.

Mas uma colisão de raspão na frente do carro poderá te jogar contra a ilha central, algum poste ou o trânsito na pista oposta com grande chance de ser atropelado. 

Passar por trás também tem seus riscos, o cara pode te ver e frear sem deixar espaço para passar por trás...

Em compensação, existe uma distância maior para a calçada, postes e muros.

Tentar passar pela frente do carro é o que a intuição manda fazer porque o caminho aparentemente está livre e automaticamente levamos a moto para onde estamos olhando, mas é uma cilada, Bino... 

Isso te levará exatamente para onde o carro está indo:
Imagem: Meu irmãozinho imaginário de 5 anos usando paint.

É contra-intuitivo, mas tentar passar por trás do carro aumenta sua chance de escapar da situação com menos riscos.

O ideal é ver a situação à distância, maneirar a velocidade e mudar a trajetória da moto em direção à condição mais segura para aquele momento. 

O deslocamento do farol para outra faixa da pista chama mais atenção do que um farol fixo se aproximando em linha reta.

Estar ciente de que a situação poderá acontecer é meio caminho andado para não passar por essa situação terrível do vídeo.

Eu não ia postar nada durante as férias de fim de ano, mas pensar na possibilidade de que algum leitor passe por uma situação parecida nesse meio tempo me deixou incomodado.

Tenha juízo e tenha cuidado porque tem muita gente com carta nova rodando no final do ano.

Pronto, disse o que precisava, agora só volto no ano que vem.

Feliz Natal, Ano Novo, Férias, um abração e muita atenção às armadilhas do trânsito, e a gente se vê no ano que vem,

Jeff

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A moto engasgando e nossa tendência ancestral a pensar primeiro no pior

Quando a moto pifa ou engasga, nós sempre pensamos primeiro na pior possibilidade.

A primeira coisa que vem na cabeça é o conserto mais caro possível, o que pode ser muito ruim se não analisarmos as alternativas menos assustadoras e de custo muito menor...

Isso aconteceu hoje, saí com Jezebel e ela tossiu, engasgou e desmaiou a 100 metros de casa.

Nesses engasgos, ela deu uns estouros feios, e o primeiro pensamento que me veio na cabeça foi a queima do módulo de ignição — faísca fora de hora provoca explosões da gasolina não queimada no escapamento.

O módulo é uma peça mais ou menos cara, mais o trabalho de investigar se era isso mesmo, ir comprar outra igual e trocar, calcante da extremidade inferior da perna no receptáculo flexível de tecido, plástico, papel ou pele animal... algo bastante desanimador.

Como ela se negou a funcionar e eu estava perto de casa, a levei no colo empurrei de volta porque lá estavam as ferramentas e deixei para começar a mexer depois de descansar um pouco.

Passados alguns minutos, antes de começar a testar e desmontar eu tentei a partida novamente, e ela pegou fácil.

E o motor ficou firme, não chegou a morrer nenhuma vez, deu só uma tossidinha.

Conclusão:

Não era módulo de ignição coisa nenhuma.

Na véspera nós tomamos chuva e um pouquinho de água certamente entrou no tanque de combustível.

Como a água é mais pesada que a gasolina, algumas gotas se acumularam no fundo do tanque e na primeira partida foram todas juntas direto para o carburador.

Água não pega fogo (dããã...), e ao encharcar a vela ela mata a faísca, a gasolina não queimada vai para o escapamento e explode por causa do calor, daí os pipocos.

Foi só aquelas poucas gotas de água sumirem da cuba do carburador e a vela secar, Jezebel voltou a ficar 100% como sempre.

Eu iria descobrir isso antes de começar a desmontar qualquer coisa, porque faria testes para ver se havia faísca na vela e confirmar que não era água no combustível.

Mas muita gente sem saber dessas particularidades já providenciaria uma visita ao mecânico preparado para gastar uma graninha... 

Absolutamente sem necessidade, porque é um problema resolvível com custo zero e no máximo uma chave de fenda como explico abaixo.

Jezebel e eu já tomamos muita chuva juntos e isso nunca aconteceu, porque hoje foi diferente?

Porque a junta de borracha da tampa do tanque de combustível com o tempo se deteriora, racha, endurece, envelhece, apodrece, encolhe... a vedação não é mais tão eficiente quanto era sete anos atrás.

Então fica a dica, o primeiro pensamento apavorante que nos vem à cabeça geralmente está errado.

E essa mania de sempre pensar o pior é uma herança dos nossos tatatatatatatatatatatatataravós que viviam nas savanas sonhando em se mudar para uma caverna. Eles se apavoravam por qualquer coisa...
Imagem: Os Croods, Dreamworks.  No meu outro blog, Histórias da Pré-História.

Ao escutar um barulho em uma moita, ao avistar um movimento nas proximidades, o primeiro pensamento era que fosse uma Panthera onca pronta para esfolar um Homo sapiens (ou Mulher sapiens, como disse nossa ex-governanta).


Imagem: Wikipedia
Esta onça aqui do lado.

Essa reação de pensar primeiro no pior era positiva:

Gerava uma descarga de adrenalina muito útil para sair correndo antes de ser esfolado pela onça faminta.

Num tempo em que só os mais espertos sobreviviam, essa descarga de adrenalina podia ser a diferença entre a vida ou a morte. Hummm... não mudou muita coisa.

Então, nos dias atuais, em uma situação como essa...
Imagem: Wikipedia

Esgote as possibilidades e a cuba do carburador para eliminar a água ali contida antes de ser esfolado por um mecânico amigo da onça, no caso esta aqui:

É só soltar aquele parafuso que fica na base da cuba do carburador junto da mangueirinha do ladrão:


Imagem: Carburador de Fan 125
A água acumulada na cuba vai embora, a gasolina boa vem do tanque para ocupar o lugar e aí é só fechar o parafuso, dar partida e ir embora.

Esse é um recurso que toda moto carburada tem, mas nenhum fabricante explica a função daquele parafuso de drenagem nos seus manuais de proprietário.

Ora, por que deixar o cliente resolver um problema tão comum após uma chuva, se ele poderá recorrer à rede de concessionárias para um "reparo" não programado?

Além disso, passar para os consumidores a ideia de que a moto pode estar sujeita à entrada de água no tanque de gasolina e parar de funcionar por essa causa — e por isso já conta com esse recurso para emergências — não é interessante de divulgar por aí porque pode atrapalhar as vendas.

Pois é... marketing tem dessas coisas.

A outra possibilidade de você resolver o problema sozinho sem usar a chave de fenda seria continuar insistindo na partida até a água ir embora e o motor funcionar.

Aí sua preguiça em usar uma ferramenta simples e superfácil de encontrar fará a bateria arriar completamente, o que não seria muito produtivo nem inteligente — você passaria a ter dois problemas e certamente teria de gastar uma grana.

E com esta postagem feliz pelo dindin economizado e cheia de esperança de não precisar comprar um módulo de ignição em curto prazo, aproveito para me despedir de 2016...

O fim do ano está aí, está todo mundo correndo atrás do bom velhinho, é hora de parar de pensar em motos e curtir ainda mais nossas famílias e aqueles momentos bons junto de quem gostamos.

As postagens prometidas não foram esquecidas não, elas estarão sendo pesquisadas e redigidas nesse meio tempo.

Só preciso obter mais algumas provas, mas se tudo correr como parece que está se encaminhando, abrirei o ano com uma matéria muito interessante...

E como resolução de Ano Novo, pretendo que no ano que vem eu me torne menos rabugento, menos depressivo, menos paranóico e menos chato do que fui este ano inteiro e os anteriores... Hummm.... será?

Um Natal maravilhoso a todos os leitores do blog!

Boas Festas, boas Férias, bom Carnaval! (porque a gente sabe que o ano só começa em março...)

Forte abraço natalino e anonovino a todos,

Jeff

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Cuidado para não ser confundido nas ruas

Recentemente ocorreram duas mortes de motociclistas que chamaram minha atenção.

Eles foram executados por bandidos e traficantes.

O primeiro caso ocorreu em São Paulo em 07/09:
Imagem e reportagem: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/09/ladrao-nao-atendeu-apelo-de-mulher-de-assessor-da-cptm-para-nao-atirar.html — Aquela pochete de perna foi confundida com um coldre de revólver.

E o segundo caso ocorreu no Rio de Janeiro em 8 de dezembro:
Imagem e reportagem: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/turista-italiano-e-morto-apos-entrar-por-engano-em-favela-no-rio.ghtml

Não vou falar sobre o quão absurdas e revoltantes são estas duas mortes.

A raiva, a vontade de começar a fazer Justiça com as próprias mãos nos leva somente a becos sem saída. 

Violência gera violência, e nunca irei me tornar defensor de matanças indiscriminadas, não quero que nosso país vire uma enorme Filipinas. Não mais do que já é.

Quando a lei não é respeitada, os limites morais são perdidos e a barbárie vence. 

É o tipo de desrespeito que acaba na entrega do poder aos hitlers e stalins de plantão. 

Sejam de direita ou de esquerda, não importa, quem perde é sempre o povo — quando as ovelhas entregam o poder aos lobos, o resultado é previsível.

Vou falar especificamente sobre o que está diretamente ao alcance de nós, motociclistas, sem depender de ninguém.

Você identificou o que estes dois casos profundamente lamentáveis têm em comum?

Os bandidos confundiram os motociclistas com policiais.

Aos olhos dos traficantes, os capacetes robocop, as jaquetas com refletivos e as motocicletas usadas pelos turistas italianos, tudo isso os deixou parecidos com policiais motorizados.

A semelhança fica ainda maior quando você vê a polícia de outros países:
Imagem: Polícia britânica no google

E a pochete de perna foi confundida com um coldre, um suporte para armas de fogo. 
Imagens: Pochete de perna à venda no mercadolivre e coldre de perna Qualycop

Eu sei, você sabe, nós sabemos, nenhum policial brasileiro usa nada muito parecido com aquelas jaquetas.

E uma pochete de motociclista é bem diferente de um coldre de perna. 

Mas não dá para explicar isso para um cara que atira primeiro e não pergunta depois.

Meu receio é que esse tipo de ataque a motociclistas se torne cada vez mais frequente.

Não vejo perspectiva de a coisa melhorar a curto prazo. Nem a médio ou longo prazo.

Iremos conviver cada vez mais com situações como essas acontecendo o tempo todo, o que aumenta as chances de que venham a acontecer com cada um de nós.

Então sugiro escolher bem sua jaqueta de segurança, a maneira como você leva seus documentos e os enfeites que coloca na moto levando em consideração também esses detalhes.

Os motoristas já não vão com a nossa cara, aí a polícia confunde a gente com bandidos, a população confunde a gente com bandidos, os bandidos confundem a gente com a polícia, a coisa não está boa para o nosso lado...

Não custa se prevenir. Sim, eu sei, sou paranóico. Mas cheguei vivo aos 55.

Depois de escrever a postagem, resolvi conferir se minha paranóia não estava ultrapassando os limites do razoável.

Infelizmente, descobri que não:
Reportagem: http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,pm-confunde-macaco-hidraulico-com-arma--atira-e-mata-2-no-rio,1788425


Imagem e reportagem: http://noticias.r7.com/sao-paulo/diretor-do-inss-e-morto-ao-ser-confundido-com-policial-em-guarulhos-30042015


Reportagem: http://www.tnh1.com.br/noticias/noticias-detalhe/geral/acusada-de-atropelar-e-matar-jovem-diz-que-confundiu-vitima-com-assaltante/?cHash=53637023d71bcd5c4f6b6a6f0c88e052


Reportagem: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2016/10/homem-e-morto-apos-ser-confundido-com-policial-durante-assalto-na-pb.html

Incidentes com motociclistas sendo vítimas de enganos de assassinos realmente estão se tornando mais frequentes...

Quatro dos seis casos acima foram registrados neste ano, sendo três deles nos últimos três meses.

Quem dera que fosse somente paranóia minha...

Um abraço,

Jeff

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Me desculpe, errei ao falar sobre o óleo.

Péraí, errei mesmo?

Quando se chega na idade dos cabelos restantes bran... ahn... grisalhos, as ideias e a visão vão ficando meio confusas...
Imagem: Walkure Romanze, episódio 2 - Cada capacete mais bonito que o outro, senpai... pai... pai...

Segunda-feira levei um tremendo puxão de orelha do Daniel por causa da postagem do esvaziamento do radiador de óleo...

O email demorou para chegar porque precisou ser retransmitido para o novo endereço no hotmail.

E o que ele falou é verdade, taí o radiador de óleo da Fazer 250 :/

Imagem: Radiador de Fazer 250 com mangueiras de entrada e saída à venda na internet.

As mangueiras entram e saem por baixo e aqueles olhinhos assustados são os pontos de fixação onde vão os parafusos.

Não tem como o óleo ficar preso dentro do radiador.

Mas todos nós vimos que havia sim óleo preso nos dutos do radiador depois que o óleo parou de gotejar, então o que está acontecendo?

Levei um tempo para digerir a informação e pensar e tentar entender como eu poderia ter errado tão feio assim... os compromissos urgentes de final de ano me atrasaram e só pude escrever a resposta agora.

Vou começar relembrando tudo que falei sobre o assunto em postagens e nas respostas de comentários, se você já leu pule o texto em itálico e vá direto para a conclusão após ***:

Na postagem Cárter seco, cárter úmido e um engano muito comum eu disse o seguinte:

Nos motores de cárter úmido durante um bom tempo após o desligamento do motor uma quantidade de óleo permanece retida nas galerias que percorrem a carcaça e vão até o cabeçote do motor.

Esse óleo tem o percurso de retorno ao cárter dificultado por uma válvula de retenção instalada junto à bomba de óleo e também pelas folgas reduzidas da própria bomba nos motores de motos maiores. 


Nos motores de motos menores, essa retenção é causada exclusivamente pelas folgas diminutas da bomba de óleo, já que não são equipados com válvula de retenção.


E em resposta a uma dúvida sobre instalação de radiador de óleo em uma moto não projetada para isso, feita na postagem O que acontece com um motor com excesso de óleo, eu respondi

Adaptar um radiador de óleo tem alguns riscos sim. (...) Para começar, uma quantidade adicional de óleo será necessária. 

Além disso, para o radiador ser eficiente, o óleo precisaria sair da bomba e circular pelo radiador antes de entrar no cabeçote — mas o projeto do motor não prevê esse caminho, então o óleo teria de ser colhido via tampa do cabeçote.


Como garantir a lubrificação do comando no cabeçote enquanto o radiador é preenchido de óleo durante a partida do motor?


Com o motor desligado, esse óleo contido no radiador descerá para o cárter, tornando a partida mais pesada. Talvez o motor de partida e/ou bateria abram o bico com frequência imprevista. 


Dependendo da quantidade de óleo acumulada no radiador que desça para o cárter, pode até causar um calço hidráulico danificando a biela.


[Depois de ver a foto do radiador de óleo da Fazer posso descartar esse risco, a quantidade ali é insuficiente para um calço hidráulico.]

Mesmo a adaptação de uma válvula de retenção não garantiria que o óleo não descesse para o cárter, além de gerar uma contrapressão na bomba não prevista em 
projeto.

E na postagem Você pensava que a yamaha era santa? eu respondi:

O objetivo do tempo que eles mandam esperar [após desligar o motor] é justamente permitir o máximo de óleo retornar para o cárter.

De onde virá esse óleo?

Ele escorrerá das paredes do cárter, do meio dos dentes das engrenagens porque durante o funcionamento do motor o óleo é espirrado pelas peças em movimento. 


Mas a principal quantidade, aquela que fica dentro da bomba, filtro e galeria de óleo, essa demora mais a retornar porque as folgas internas da bomba nas motos pequenas e essa folga somada a uma válvula de retenção nas motos maiores dificulta o retorno por mais de 15 minutos. (...)


***
Mas naquela Fazer do vídeo da postagem, o óleo aparentemente parou de gotejar e não havia nenhuma válvula de retenção atuando — o filtro estava removido.

E mesmo que estivesse instalado, o filtro de óleo da yamaha nem sequer tem essa válvula. Jezebel está com a bateria arriada, não pude ir na concessionária conferir, mas a ausência da válvula é visível na foto.
Imagem: Vídeo da postagem O problema gravíssimo das dicas dr dicas da internet. O vídeo você acessa diretamente neste link.

Então qual a causa de tanta demora para o óleo retornar para o cárter que todos nós vimos?

Apenas as folgas internas muito reduzidas da bomba de óleo.

Aquele gotejamento não iria parar antes de vários e vários minutos.

Então o Daniel está correto em afirmar que eu fui uma besta em não considerar isso na hora de fazer a postagem.

Mas assim como essa demora enganou a mim, e olha que eu já sabia disso, ela engana a todo mundo que vê o vídeo.

E engana todo mundo que tem uma moto com radiador de óleo e faz essa troca.

Você poderá contar nos dedos de uma mão a quantidade de donos de motos com radiador de óleo que terá a paciência e o tempo disponível para fazer uma troca e ficar esperando o óleo gotejar naquele ritmo até todo o óleo descer do radiador. Só conheço o Daniel.

A imensa maioria dos proprietários não escoará o óleo do radiador, manterá aquela quantidade residual lá dentro e abastecerá com óleo novo.

E talvez seja também por esse motivo que tão poucos proprietários de Fazer 250 reclamam de problemas...

Ao repor o óleo apenas com a quantidade recomendada e mantendo óleo preso no radiador, eles estão fazendo inconscientemente aquela complementação que o próprio fabricante recomenda.

E por que isso funciona para preservar o motor da Fazer 250 e não funciona para o motor da CB 300?

Por causa do óleo muito fino usado pela honda.

Na CB 300, o óleo 10W-30 desce do radiador muito mais rápido e todo o óleo do radiador é drenado, enquanto na yamaha o óleo Yamalube 20W-50 causa uma demora que o pessoal não tem paciência de esperar.

Minha conclusão é que manter esse óleo residual no radiador, apesar de sujo, acaba sendo mais benéfico do que prejudicial para a vida do motor.

Quer a prova?

Onde estão os donos reclamando de problemas no motor das antigas CBX 250 Twister e Tornado que também usam óleo 20W-50?

Não tem, né?

E pode ser que o motivo seja esse, as motos com radiador usando um óleo de viscosidade mais elevada contam com um "reservatório" que uma troca feita às pressas não drena.

Mesmo sem medir e completar, acabam ficando livres do problema da quantidade insuficiente recomendada pelos fabricantes, mas pelos motivos errados.

Também chego à conclusão de que toda essa história de "medir e completar se necessário" que todos os fabricantes adotam talvez tenha surgido apenas por motivo de padronização da literatura técnica.

Ao elaborar um procedimento universal que atenderia tanto motos sem radiador de óleo quanto motos com radiador de óleo, em qualquer condição de troca, os fabricantes economizaram uns trocados na hora de publicar seus manuais de proprietário.

Causaram uma dor de cabeça dos diabos para todo mundo que não tem radiador de óleo, mas tiveram um efeito colateral muito útil para eles...

O efeito de recomendar uma quantidade de óleo insuficiente para as motos que não passam por essa situação e que prejudica os motores de quem não faz corretamente o procedimento desnecessariamente confuso.

E isso inclui suas próprias concessionárias, olha só que coisa...

Então, chego à conclusão de que, se errei sobre o escoamento do óleo do radiador porque ele iria sair de qualquer maneira ao final de uma longa espera, não errei quanto a todo o restante.

E não retiro nada do que disse sobre o óleo do motor.

As empresas se beneficiam disso e os proprietários são prejudicados.

Se você quiser trocar o óleo e remover o óleo do radiador, não solte os dutos, é um procedimento que pode trazer mais problemas do que benefício.

Espere no mínimo meia hora depois que o filete de óleo começar a gotejar que o radiador estará drenado.

Em compensação, o motor demorará um tempinho angustiante trabalhando sem óleo até o radiador ser preenchido.

Vale a pena?

Na minha opinião, não.

Mas não tenho moto com radiador de óleo, então essa decisão terá de ser sua.

E nunca se esqueça de medir o nível de óleo fazendo o procedimento correto para completar o nível de óleo, é a única maneira de garantir a lubrificação adequada do motor em qualquer condição de troca.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O que é descarbonização e flush do motor?

De modo geral, descarbonização é a remoção do carvão que se acumula no motor, portanto o 'flush' também se enquadra nessa categoria, mas não são a mesma coisa conforme explicarei ao longo do texto.

A descarbonização pode ser feita apenas com produtos químicos solventes — sem abrir o motor.

E também por limpeza e lavagem com escova após a remoção e desmontagem do motor durante um reparo de grande monta, como a troca de peças do câmbio ou de serviços no cilindro/pistão

Qual a origem desse carvão?

Carvão é carbono, carvão é o resíduo sólido da queima de materiais orgânicos.

Cumé? Material orgânico dentro do motor?

Sim — como foi dito naquela aula chata de Química em que você estava no facebook com os amigos, toda substância que tem carbono em sua composição é material orgânico.

Gasolina de verdade (não a nossa) é composta exclusivamente por grandes moléculas formadas de carbono + hidrogênio, assim como o óleo lubrificante é feito de moléculas ainda maiores e longas mais aditivos diversos. E é por isso que os lubrificantes são mais densos e viscosos que a gasolina.
Imagem: Wikipedia - Moléculas de gasolina pura (sem álcool) (à esquerda e centro) e um aditivo não usado no Brasil à direita 
Etanol é basicamente C + H em moléculas médias com a inclusão de um átomo de oxigênio em cada uma. 
Imagem: Wikipedia - Molécula de etanol
E celulose idem, mas proporcionalmente com muito mais oxigênio e radicais OH.
Imagem: Wikipedia - Molécula de celulose
Celulose??? Tem madeira dentro do motor???

Yes, tem madeira. Especificamente, cortiça.

Cortiça é a casca de uma árvore, o sobreiro ou corticeira.
Imagens: Pesquisa no google

Os discos de embreagem de motos populares são feitos de cortiça prensada e só aguentam o tranco porque trabalham em banho de óleo.
Imagem: http://www.masada.com.br/disco-de-embreagem-kit-cg125-fan-ml-titan-125-kansas-150-nxr125-bros-scud-p3908/
— Imagem ilustrativa, não conheço nem produto nem fabricante.
Em compensação, patinam todas as vezes que a embreagem é acionada, o que causa calor por atrito.

Calor por tempo prolongado queima a cortiça — embreagens desreguladas queimam e desgastam a cortiça muito rapidamente. Daí a necessidade de manter o cabo da embreagem sempre bem regulado.

Todo material orgânico queimado vira principalmente carvão, gases (nitrogênio, CO e CO2 na forma gasosa e oxigênio e hidrogênio livres ou na forma de chama) e vapor de água.

Sobram outros resíduos de contaminantes como enxofre, fósforo, silício abrasivo, etc. em proporções bem menores.

De onde vem o carvão nos motores?

Há três tipos:

O carvão residual da queima do combustível, o carvão residual da queima do óleo e o carvão residual da queima por atrito dos discos de cortiça da embreagem.

O carvão que não é eliminado pelo escapamento na forma de fuligem acaba se acumulando e formando uma crosta seca sobre a superfície da cabeça do pistão e faces do cabeçote e válvulas da câmara de combustão.
Imagem: Dr. Daniel operando Jezebel

Já o carvão que se deposita sobre a superfície oleada do cilindro se mescla com o óleo e acaba se unindo aos outros dois tipos, todos contaminando o óleo do motor — é por isso que ele fica preto depois de algum tempo de uso.

Lá ele também se junta às partículas de aço, alumínio e bronze resultantes do desgaste normal do motor e essa sopa fica circulando dentro do motor até que as partículas maiores sejam retidas pelo filtro. Ou não. Daí a importância de usar um óleo de viscosidade adequada para minimizar o desgaste do motor.

Essa sopa encorpada de óleo sobre superfícies muito quentes como o interior do cabeçote acaba sendo queimada e forma uma crosta ressecada meio úmida de óleo chamada borra. Daí a importância de não rodar com pouco óleo, ele ajuda a esfriar o cabeçote.

O óleo não totalmente queimado forma uma gosma melequenta que tende a se acumular nos locais de alta temperatura e baixa velocidade de circulação do óleo.

Se a gosma for mais sólida do que melequenta, ela será chamada de laca — geralmente a laca aparece nos dutos de admissão de mistura por evaporação do combustível.
Imagem: Vídeo do Furlani

Quanto mais tempo o óleo permanecer dentro do motor, maior a tendência de ele se decompor e formar borra e gosma. Daí a importância de não obedecer os intervalos de troca absurdos recomendados pelos fabricantes.

Crostas, borras, gosmas e lacas são formas de carbonização do motor, se bem que o termo seja mais utilizado para falar da carbonização seca do interior da câmara de combustão. Falo mais sobre carbonização nesta outra postagem

No vídeo da última postagem você viu que o motor daquela CG 150 tratada em concessionária precisou fazer uma lavagem interna (flush).

Só para comparação, aí vai de novo a foto do motor da Jezebel aos 62 mil km sempre rodando com óleo mineral trocado na hora certa:
Imagem: Foto tirada pelo Daniel quando trocou o câmbio da minha Kansas 150, mais detalhes nesta postagem.

Qual a diferença entre essa lavagem interna e a descarbonização do motor?

Os dois irão retirar o carvão do motor, mas a descarbonização se refere ao carvão acumulado no pistão e câmara de combustão, enquanto a lavagem interna com solvente desengraxante remove o carvão (borra e goma) do cárter, superfície interna do cabeçote e galerias de óleo.

Esse óleo de limpeza com desengraxante precisa ser muito bem removido, então o ideal é não precisar recorrer a esse recurso extremo.

A lavagem interna sempre apresenta o risco de não remover todas as crostas e borras na primeira troca de óleo.

Essas coisas enfraquecidas pela primeira lavagem podem se soltar de repente e circular dentro do motor, vindo a entupir o filtro de óleo, o filtro de tela e principalmente a entrada da bomba de óleo, fazendo o motor se fundir. Daí ser preferível não deixar a borra se formar do que ser obrigado a usar produtos químicos para sua eliminação — mas no caso da moto do vídeo de ontem, não tem outro jeito.  

E o que fazer para que a lavagem interna e a descarbonização não sejam necessárias?

Usar um bom óleo de viscosidade adequada no nível correto (não somente a quantidade insuficiente recomendada) para evitar as borras de óleo.

E usar gasolina aditivada para evitar a carbonização de carburador ou válvula de aceleração e câmara de combustão.

Aí você diz:

Mas o manual diz que não pode usar gasolina aditivada, só normal!!

E eu te digo que isso é balela para você virar freguês de concessionária.

E te digo mais:

A obrigatoriedade de uso de gasolina aditivada em todo o país vem sendo adiada desde 2013 e parece que será a única disponível nas bombas a partir de julho de 2017... 

E aí, comofas, não vai usar mais a moto?

Então é isso.

Trate bem de sua moto, não deixe de fazer as revisões, use bons produtos, não se esqueça de limpar todos os filtros.


Filtro centrífugo da Jezebel fotografado pelo Dr. Daniel
CG e várias dafras usam filtro de óleo do tipo centrífugo que somente podem ser limpos com a abertura da tampa direita do motor... 

Serviço para fazer só em oficina ou tendo um conhecimento razoável de mecânica e ferramentas adequadas.

Tomando esses cuidados básicos e não sendo tapeado, sua moto te proporcionará muita satisfação por longo tempo.

Um abraço,

Jeff