quinta-feira, 29 de junho de 2017

Jezebel na sala de espera do consultório médico

Certa noite, uns três dias depois de resolver o problema de carga da bateria explicado na postagem anterior, Jezebel perdeu totalmente a tração.

Motor acelerando normalmente, marchas mudando normalmente, mas nada de a moto rodar.

Pensei que a corrente tinha pulado fora ou arrebentado, mas ela estava lá.

Apenas sua posição não me pareceu normal — ela estava totalmente apoiada na balança:
E ficou assim até agora, porque tive muito trabalho, nenhum tempo e nem como comprar as ferramentas que preciso para desmontar. As minhas foram roubadas quando fiquei no hospital ano passado.

E também eu queria documentar o processo para gerar algumas postagens, mas a câmera sem memória interna que comprei adiou o projeto. 

Ao ver a corrente naquele estado, a primeira coisa que pensei foi que o pinhão tivesse se soltado e caído lá dentro.

Também imaginei que o eixo de saída do câmbio, esse mesmo do pinhão, tivesse se quebrado do lado de fora da carcaça.

Se fosse isso, seria obrigado a desmontar o motor, complicaria bastante a situação. 

Mas por que o pinhão se soltaria ou o eixo se quebraria?

Bem... sentimento de culpa...

Lembra dos trancos para fazer o motor funcionar?

Não é a condição normal de trabalho, e todo improviso usado além da conta cobra seu preço...

Agora que estou com uma câmera funcional e ferramentas, abri a tampa do pinhão para conferir.

Parece coisa complicada, mas é só soltar os dois parafusos que prendem a tampa com uma chave canhão, aquelas compridas.
O pinhão está normal, mas a corrente está raspando na balança por falta da guia de borracha.

Esse descuido poderia danificar componentes bem caros...

- Lembrete: comprar guia da corrente.

Graças a minha lógica obtusa, nem me passou pela cabeça que o problema poderia não estar no pinhão... Que burro, dá zero pra mim.

Tirei o cadeado da roda e encontrei o problema:


A coroa está girando independente da roda... pois é, não deveria.

Mas por que a coroa ficou louca no eixo?

Lembra das partidas no tranco?

Resultado: 

Os prisioneiros do flange da coroa foram trincando com o uso normal e não aguentaram levar tranco.

E foram para o espaço quando rodávamos normalmente uns três dias depois de eu ter consertado a partida elétrica...

Prisioneiros e buchas da coroa já são itens bastante solicitados em condições normais... levando tranco então...

As buchas de nylon duram mais do que as de borracha originais:
Imagem: http://www.foxmotoshop.com.br/kit-prisioneiro-parafuso-com-porca-e-bucha-nylon-da-coroa-dafra-speed-150-p1529

Nas Kansas as buchas e os prisioneiros costumam quebrar com certa frequência, se não me engano já os troquei duas vezes... esta será a terceira.

Ou seja, eles duram uma média de 2 anos, porque este último ano ela rodou muito pouco.

Um bom item para entrar em uma lista de manutenção preventiva:

Trocar os prisioneiros a cada 2 anos para não sair com uma moto e voltar com uma draisiana gorducha.

Agora é desmontar essa roda e ver o que precisará ser trocado.

Os prisioneiros quebrados precisarão ser extraídos, é uma operação meio chata que envolve fazer fendas nos cotocos e soltá-los com uma chave de fenda.

Sabe a dificuldade de tirar um parafuso bem preso com uma fenda ruim na cabeça?

Pois é, prisioneiro nem cabeça tem...

Vai ficar para outro capítulo.

E acho que vou delegar para alguém porque tenho mais o que fazer do que ficar xingando parafuso...

Eu não tenho a mesma paciência que o amigo Vinícius...

Um abraço,

Jeff

domingo, 25 de junho de 2017

O que aconteceu com a Jezebel?

Jezebel está acamada já faz uns 3 meses.

Ela teve uma pane elétrica, a bateria parecia não estar retendo carga.

Perdi a partida elétrica, e o jeito era fazer ela funcionar no tranco — o pedal de partida da Kansas dá medo de usar. 

Se aquela coisa quebrasse lá dentro, seria necessário abrir o motor para o reparo... matei o pedal faz tempo, preferi optar pela partida no tranco.

Ou seja, dando uma corridinha com a 4ª ou 5ª marcha engatada, segurando a embreagem acionada.

Com velocidade suficiente, é só soltar e acionar novamente o manete para o motor não morrer em baixa velocidade (e a moto não se animar a ir embora sem você...)

Não é uma prática recomendável.

Dei nova carga na bateria e o problema voltou a ocorrer.

Já estava me dispondo a comprar uma bateria nova (a atual foi comprada lá em Santa Catarina acho que em 2013...)
Não achei uma data de fabricação na carcaça, uma pena. 

Não lavei nada na moto porque dá muito trabalho e dor nas costas queria mostrar a situação real em que ela se encontra.

Naquele dia do problema, enquanto a bateria recebia carga, conferimos o relé de partida para ver se ele estava funcionando normalmente.

Não era o relé de partida.

O problema estava no conector do chicote principal, este grandão aqui com uma capa preta bem ao lado da caixa vermelha do fusível:
Por causa de um mau contato entre os pinos, causado por oxidação, o conector começou a esquentar demais e a se deformar.

Uma boa parte da energia virava calor suficiente para derreter a carcaça do conector antes de chegar à bateria.

Quando o derretimento chegou ao ponto de não garantir mais o contato dos pinos, a bateria deixou de receber carga. 

Foi só melhorar o contato que o problema sumiu, tive partida normal por alguns dias.

E o reparo que poderia ter custado o preço de uma bateria nova foi este aqui:
Sim, fita isolante e laça-gato.

Aplicar spray, endireitar os pinos, fechar com fita isolante e instalar uma cinta Hellerman — não saia de casa sem ela.

Não custou nem 2 reais, e nem isso teria custado se eu tivesse feito uma revisão preventiva periódica desoxidando os contatos.

Além disso, revisões preventivas permitem eliminar problemas sérios que ocorrerão no futuro:
Aqueles três fios prensados pelo peso do piloto banco da moto iriam se romper logo, logo. 

Mudando pouquinha coisa a posição e isolando um a um com fita isolante, não haverá chance de uma pane na divisa do Paraná e alguém passar falando HA-HA. Nem filmar.

Esse problema de fios prensados não aconteceria se os relés fossem originais — eles se encaixariam melhor. 

Mas com os preços cobrados em concessionária, a montagem é um frankensteinzinho que acarreta esses riscos — é necessário ter alguns cuidados nessas adaptações.

Esse conector principal do chicote existe em todas as motos.

É um problema muito comum, depois da postagem pronta achei este vídeo na internet mostrando o mesmo problema em uma suzuki:



Mau contato é um problema sério, mas de solução muito simples.

Maus contatos também podem complicar a vida da gente dentro de casa.

Outro dia levei o PC na oficina.

Fonte pifada, deduzi ao ver a ventoinha gemendo e o micro não ligando.

Mas perdi a viagem, na oficina ele funcionou normalmente.


O problema estava neste vilão aqui:


Uma tomada/benjamim/extensão dentro de casa em ambiente abrigado pode se oxidar e piorar o contato a ponto de derreter...


Agora imagine em uma moto exposta à umidade, chuva, lava-jato (com água, não aquela outra) e a maresia lá de Floripa...

Serve de lição para você nunca partir direto para a solução mais cara.

Muitas vezes o vilão é a peça mais barata do sistema, justamente aquela em que a gente não presta atenção.

Os mecânicos de motos desonestos (apenas eles) fazem a festa trocando baterias e alternadores — ou dizendo que trocaram.

Ganham muito dinheiro trocando ou remendando componentes baratos escondidos embaixo do banco que os proprietários não têm a curiosidade de conferir.

— Ué, mas se a Jezebel voltou a funcionar com esse reparo, porque ela ainda não está rodando?

Ahhhh... pensa que a encrenca acabou ali?

Esse foi só o começo...

A coisa piorou muito...

Aguarde o próximo capítulo da novela.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A vida é uma caixa de bombons... e maumaus

Há pessoas e pessoas, há motociclistas e motociclistas...

Segunda-feira passei por uma das experiências mais bizarras da minha vida. Sério, estou revisando na quarta e ainda tenho flashes da cena na memória...

Saí para comprar os componentes que faltavam para fazer a primeira de uma série de experiências sobre viscosidade do óleo aqui para o blog.

Estava feliz da vida, finalmente vou poder fazer postagens com fotos e filmagens próprias! 

Foi quando avistei uma Mirage 150 estacionada em cima da calçada em frente a uma loja.

Os alforjes indicavam que ela pertencia a alguém viajante.
Imagem meramente ilustrativa de Mirage 150 com alforjes obtida na internet. Não era essa moto. Apesar de também estar sobre uma calçada, enorme coincidência, mas essa está em frente a uma praça e não a uma loja.

Ora, a Mirage 150 usa o mesmo motor que a Kansas.

Viajar sem conhecer o macete do óleo é um risco de vida — faltam 400 ml de óleo na recomendação do manual.

A chance de o motor estourar na frente de um caminhão é enorme.

Já passei por duas situações em que durante vários minutos não conseguia ultrapassar uma carreta sendo pressionado por outra colada atrás de nós...

Se meu motor não estivesse com a quantidade de óleo correta, certamente teria travado/estourado e hoje o blog não existiria. Simples assim. De tão quente o câmbio chegou a ficar preso em uma marcha, não mudava de jeito nenhum. Mais um pouco e todos nós íamos para o além. 

Me senti na obrigação de informar pra pessoa sobre o risco de rodar com óleo muito baixo no cárter. Questão de querer ter sempre a consciência limpa, ao contrário do que faz o pessoal da indústria de motocicletas.

Pra quê eu fui fazer essa besteira...
Imagem: Forrest Gump 

Sem nem querer ouvir o que eu ia dizer, a pessoa já disse que não estava interessada.

Alertei que ela poderia estar correndo risco de vida por causa do óleo.

Eu não devia ter feito isso... 

A pessoa ficou furiosa porque falei do macete do óleo.

Disse que já tinha ido e voltado para o Rio Grande do Sul, e a moto já estava com 30 mil km (!!!).

Jogou na minha cara que nunca tinha tido um único problema.

Pobre alma, pensa que 30 mil km é grande coisa...

Não faz ideia de que a moto acabou de chegar na quilometragem onde os motores sem óleo tipicamente estouram.

Não me deixou explicar, deu murro no balcão da loja e me expulsou de lá falando palavras que nem em russo dá para postar aqui.

Em toda minha vida não lembro de ter visto tanta grosseria ser dita por um motivo tão banal. 

Sei lá, a pessoa deve ter seus motivos.

Quando eu falei que sua atitude era injusta, a pessoa gritou e ameaçou chamar a polícia... poxa, qual foi o meu crime? 

Tentar ajudar?

Lamentei ter falado qualquer coisa que possa ter dado uma pista para que esse alguém um dia venha a descobrir e consiga evitar estourar o motor por falta de óleo.

Afinal, essa pessoa merece.

E de preferência, lá perto da divisa do Paraná.
Imagem: Google Street View BR-116

Sorrisinhos irônicos quando alerto alguém sobre o macete do óleo eu nem contabilizo, estou acostumado a receber.

Mas grosserias como as que eu vi e ouvi, ah... isso foi novidade.

Saí de lá admirado e fiz o que o bom senso manda fazer:

Parei na loja vizinha onde havia outro motociclista estacionado, e falei pra ele do macete do óleo.

Esse outro proprietário confirmou que o motor da Fan dele já travou sem ele nunca entender o motivo.

Agradeceu pela dica e ganhei mais um amigo.

Há motociclistas e motociclistas, há pessoas e pessoas... cada um escolhe o seu caminho.

Mas chega de inhaca e vamos falar de coisas boas:

Finalmente vou poder colocar a Jezebel para rodar de novo!

Pouco falei sobre isso porque eu queria documentar em imagens o problema que a Jezebel apresentou há uns 3 meses.

Esperei chegar a câmera fotográfica/filmadora que comprei, mas a danada era barata justamente porque não tinha memória interna. Ódio.

Então adiei o projeto até obter condições propícia$ e agora poderei documentar o problema e a solução.

E com esse material novo espero poder gerar algumas postagens interessantes.

Já estou fazendo alguns vídeos sobre o óleo... 

Também poderei voltar a viajar!

Não vejo a hora de passar novamente pela divisa do Paraná!

Se o pessoal lá de cima for bonzinho comigo, terei a chance de dizer em alto e bom som:

Filmando, claro.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 20 de junho de 2017

Mais cruzamentos e preferenciais traiçoeiras

O leitor Péricles contribuiu com dois bons exemplos de preferenciais traiçoeiras, assunto comentado na postagem anterior.

Segue seu relato em azul:

A rua é larga e tem visão, mas as valetas obrigam os veículos a quase pararem, e causam às vezes alguma confusão porque sempre tem um que quer aproveitar e cortar a frente do cidadão.
Imagem: Google Street View

Talvez pela imagem você não tenha boa noção, mas essas são bem fundas e "secas", sabe. 

Se quiser se aventurar pelo street view, no próximo quarteirão seguindo em frente tem mais.

E se vc contornar a delegacia você vai encontrar uma que eu particularmente xingo toda vez que tenho que fazer aquela curva por cima dela.
Imagem: Google Street View

Por que a reclamação do Péricles?

Porque passar com a moto inclinada sobre uma valeta funda resulta em uma mudança de atitude da moto suficiente para te desequilibrar.

Passar sobre obstáculos como valetas, lombadas e trilhos em diagonal sempre é um risco, a melhor maneira é cruzá-los em linha reta.

Mas nesta esquina isso fica praticamente impossível, daí a reclamação.

Sobre elas te derrubarem, isso é verdade. 

Tem uma outra aqui que quase já me derrubou, porque apesar de aparecer sinalizada no street view, hoje em dia é apenas um buraco fundo, sem sinalização e extremamente perigoso.

Como não andamos sempre por ali, pode acontecer de só vermos o buraco quando já estamos em cima dele.

Esse é o grande problema da sinalização pintada, ela requer manutenção, e isso só é feito — quando é feito — em véspera de eleição.

Atendendo ao convite do Péricles, botei meu chapéu de Indiana Jones virtual e me aventurei pelo quarteirão.

Acabei encontrando este exemplo interessante de outra armadilha viária:
Imagem: Google Street View

Note como a sinalização pintada no chão pode ficar apagada e encoberta (seta 1).

Nessa situação, um veículo parado pode encobrir a indicação para outro veículo passando pela direita dele.

O carro parado também encobrirá esse outro veículo desrespeitando a preferencial para a visão de uma moto seguindo reto na preferencial (visão da câmera), uma armadilha muito comum para nós motociclistas.

Essa imagem também mostra um bom recurso para identificar uma preferencial, apontado na seta 2, a placa de PARE:
Imagem: Google Street View

Agora você já sabe porque a placa PARE é a única que tem esse formato de octógono:

Para ser reconhecida pelas costas...

Ver uma placa dessas por trás pode ser sua melhor referência para saber que você está na preferencial em um cruzamento.

Mas nunca se esqueça de que não importa de quem é a preferencial, é sempre o motociclista quem se ferra, então não confie que irão respeitá-la.

Eu nem ia comentar sobre o motociclista pensando em entrar na contramão...

Mas essa atitude dele pode ser um fator de distração determinante para um acidente.

Preocupado com a atitude dele, você deixa de prestar atenção no tráfego da transversal.

Lembra da postagem anterior sobre o acidente entre carro e ônibus?

Você lembra que imediatamente antes do acidente fatal uma moto fez uma conversão brusca e quase causou um acidente? 
Imagem, vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/video-mostra-o-momento-do-acidente-que-vitimou-a-cantora-eliza-clivia-e-o-marido-em-aracaju.ghtml

Aí eu pergunto:

Será que o motorista do carro acidentado não se distraiu justamente por causa dessa atitude do motociclista?

Eu consigo imaginar o motorista olhando preocupado para ver se o motociclista tinha sido atropelado, avançando o carro sem perceber que estava cortando a frente do ônibus...

Uma distração que poderia explicar um acidente aparentemente incompreensível.

Depois da postagem pronta, o amigo Cássio comentou que o motorista acidentado da banda pode ter sido induzido a atravessar a preferencial ao ver o motociclista entrando despreocupado.

Como o Cássio disse:

Sobre o acidente, não é aquele caso de repetição? 

Ele viu o motociclista entrando e repetiu. 

Ou, como já aconteceu no meu bairro lá em Goiânia, resolveram mudar a preferencial de uma rua e todo dia tinha um acidente, até o pessoal do local se acostumar, entendo que houve sim imprudência, mas, causada por uma "imitação" ou costume, não sei.

São duas possibilidades que merecem ser lembradas como coadjuvantes para acidentes como aquele do vídeo.

Repetir o procedimento de quem vai à frente já fez muita gente avançar o sinal vermelho induzido pela malandragem de alguém.

Há espaço para o apressadinho, mas não para quem vem atrás — e o distraído acaba entrando na frente de um caminhão, ônibus, outro carro ou mesmo uma moto... 

A "esperteza" de um motociclista pode acabar resultando na morte de um amigo.

É por isso que devemos sempre manter uma atitude correta no trânsito — nossas atitudes não podem confundir os demais condutores.

Mesmo que não venhamos a sofrer as consequências, outros poderão se machucar por nossa causa. 

E precisamos sempre manter nosso radar farejador de encrencas ativado no máximo.

Acidentes nunca são resultado de uma única causa, mas da soma de vários fatores, tipo uma negligência de um condutor somado a uma distração de outro.

Ruas tranquilas de bairros — e do centro da maioria das cidades — sempre têm armadilhas como essas esperando para nos derrubar.

Nossa única defesa é pilotar com extrema atenção e dentro de limites de velocidade razoáveis.

Um abraço — e um agradecimento especial ao Péricles pela colaboração exemplificando essas arapucas viárias, e também ao amigo Cássio, que eu ia me esquecendo de agradecer aqui na postagem,

Jeff
PS: Depois da postagem pronta, apareceu o verdadeiro motivo para o acidente do carro que atravessou na frente do ônibus:

O motorista estava olhando para o GPS.
Fonte: http://maceio.7segundos.ne10.uol.com.br/noticias/2017/06/19/90573/motorista-nao-obedeceu-a-sinalizacao-diz-integrante-da-banda-de-eliza-clivia.html

sábado, 17 de junho de 2017

O que este acidente entre carro e ônibus nos ensina

Este vídeo do acidente que vitimou os integrantes da banda de forró lá no centro de Aracaju nos ensina coisas importantes sobre o respeito à preferencial:
Imagem, vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/video-mostra-o-momento-do-acidente-que-vitimou-a-cantora-eliza-clivia-e-o-marido-em-aracaju.ghtml

O acidente aconteceu na esquina das ruas Maruim e Arauá.

Pesquisei para ver quem estava na preferencial, e era o ônibus na rua Arauá.

Esta é a visão de quem estava no ônibus:
Imagem: Google Street View Cruzamento das ruas Aaruá e Maruim em Aracaju - SE

E esta é a visão de quem vem pela rua Maruim, por onde o carro da banda passou:
Imagem: Google Street View Cruzamento das ruas Maruim e Aaruá em Aracaju - SE

A placa de PARE é pequena, muito pouco visível, e está no poste do lado esquerdo da rua, o que não me parece ser o local ideal.

Mas a lombada bem sinalizada é uma clara referência para a diminuição da velocidade, que infelizmente o carro da banda não percebeu.

Nem ele nem o motociclista logo no início do vídeo:
Imagem, vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/video-mostra-o-momento-do-acidente-que-vitimou-a-cantora-eliza-clivia-e-o-marido-em-aracaju.ghtml

O motoqueiro foi obrigado a fazer uma manobra brusca para não entrar na frente do carro branco.

O motociclista teve sorte, os integrantes da banda não.

Respeitar os avisos de preferencial e diminuir a velocidade nas lombadas e valetas pode ser uma diferença de vida e morte.

Como identificar uma preferencial mal sinalizada?

As preferenciais costumam ter maior fluxo de veículos, mas nem sempre eles estão circulando no momento em que você chega ao cruzamento.

A existência de redutores de velocidade em uma via é a melhor referência de que a preferencial está logo à frente.

Nesse caso da rua do acidente, foi instalada uma placa e uma lombada.

Mas geralmente, a simples existência de uma valeta à sua frente é suficiente para caracterizar que a preferencial não é de quem precisa reduzir para passar por ela.

Em ruas de bairro isso pode ser uma armadilha:
Imagem: Google Street View Cruzamento de duas ruas aleatórias de bairro aleatório na cidade aleatória de um amigo aleatório que não sou eu

Assim como as lombadas, as valetas são redutores naturais de velocidade — os veículos são obrigados a reduzir a velocidade para passar na valeta.

Se não houver sinalização em contrário, a valeta impõe (aos ajuizados) a redução de velocidade e, portanto, indica que a preferencial é dos veículos da outra via.

Na imagem acima, o motociclista está claramente na preferencial.

Isso fica claro para quem circula por este lado da rua. 

Mas note que do outro lado do cruzamento não existe valeta.

Se o condutor vindo no sentido oposto não perceber a valeta do lado de cá do cruzamento, poderá causar um acidente. 

Tantos acidentes aconteceram que atualmente esse cruzamento foi sinalizado.

Mas os critérios adotados por quem instala a sinalização nem sempre são os mesmos que os de uma pessoa de bom senso. Como eu.

Atualmente esse cruzamento recebeu sinalização de PARE justamente na via que não é cortada pela valeta.

O resultado é que ninguém respeita a sinalização e quem vem pela rua e é obrigado a reduzir a velocidade para passar na valeta continua ficando em maus lençóis...

Parabéns só que não aos responsáveis pela sinalização viária.

De qualquer maneira, mesmo que a preferencial seja sua, nunca confie nisso.

Sempre tome cuidado com as vias laterais, porque a maioria dos acidentes acontecem porque alguém não respeitou alguma regra de trânsito.

Mesmo que a preferencial seja sua, não confie.

Observe atentamente para ver se alguém não se esqueceu disso em todos os cruzamentos.

Da mesma forma que o carro avançou a preferencial e foi colhido por um ônibus, ele poderia ter entrado na frente de uma motocicleta.

Da sua motocicleta.

Um abraço,

Jeff

domingo, 11 de junho de 2017

Parabéns pelos 200 anos, Vovó!

Neste dia 12 de junho, há exatos 200 anos, surgia a primeira máquina que iria mudar o ritmo da vida e alvoroçar os pacatos cidadãos...

Nada foi como antes depois que os jovens em seus cavalos de aço madeira de duas rodas começaram a barbarizar as ruas e a atropelar pedestres distraídos:
Imagem e história da draisiana na wikipedia em alemão: https://de.wikipedia.org/wiki/Draisine_(Laufmaschine)

Radical, hein? Nada mudou...

12 de junho de 1817 é a data de nascimento de uma máquina significativa para a história da motocicleta, a draisiana:
Imagem e história da draisiana na wikipedia em alemão: https://de.wikipedia.org/wiki/Draisine_(Laufmaschine) - Ilustração da patente

Pela primeira vez a humanidade usava para seu transporte e principalmente diversão um mecanismo complexo de propriedade individual. Barcos não contam. Nem canoas.

A primeira magrela foi também a primeira máquina pilotada que permitia atingir altas velocidades sem depender de um animal — a não ser o próprio proprietário. Patins e esquis não contam.

A invenção do barão alemão Karl von Drais batizada de Laughmachine Laufmaschine — "máquina de corridas" — causou sensação no seu lançamento.

Em um mundo devagar quase parando, corridas eram disputadas para ver quem chegava primeiro para um café: 
Imagem e história da draisiana na wikipedia em alemão: https://de.wikipedia.org/wiki/Draisine_(Laufmaschine) — A cena mostra aquele que foi o avô da MotoGP...

Foram as primeiras café racers.

Notou o registro do primeiro acidente em duas rodas lá no fundo? Pois é...

E como a moçada entusiasmada como sempre logo aderiu à novidade, a draisiana foi apelidada pelos ingleses de dandy horse — algo hoje como "cavalo de playboy".

Como as motos atuais, a revolucionária draisiana logo acabou sendo adotada também como veículo de trabalho.

Esta era usada na França pelo serviço de inspeção de estradas:
Imagem e história da draisiana na wikipedia em francêshttps://fr.wikipedia.org/wiki/Draisienne

Foi portanto a primeira estradeira custom.

Em pouco tempo a draisiana recebeu pedais diretamente acoplados à roda dianteira, e nasceu o velocípede. Se bem que o nome já fosse usado para a draisiana sem pedais... mas prefiro manter a distinção para evitar confusão.

Não demorou muito para que alguém tivesse a ideia de instalar um motor para poupar o trabalho de dar impulso com os pés:
Imagem e história da draisiana na wikipedia em alemão: https://de.wikipedia.org/wiki/Draisine_(Laufmaschine)

Já em 1818 alguém imaginou incorporar um motor a vapor no ainda não velocípede de Drais, imaginando a Vélocipèdraisiavaporianna.

Era só uma ideia impossível para a tecnologia da época... ficção científica.

Mas 50 anos depois, lá estava ele:
Imagem e história do velocípede a vapor em inglês: https://en.wikipedia.org/wiki/Michaux-Perreaux_steam_velocipede

O velocípede a vapor de Michaux-Perreaux. (Pronuncia-se michô perrô.)

Apesar de rodar com um motor, o velocípede a vapor foi uma ideia que não vingou, não consigo imaginar o motivo, e por isso não é considerado o ancestral da motocicleta.

Não que a ideia tenha sido totalmente abandonada...
Imagem e reportagem: http://revistamoto.com/wp_rm/la-perla-negra-una-motocicleta-a-vapor/

Então aquela que é considerada a primeira motocicleta com motor a gasolina é a invenção do também inventor do primeiro automóvel.

Não por coincidência, Gotlieb Daimler, um dos fundadores da Mercedes-Benz, junto com o fundador da Maybach, criou o Reitwagen — o "carro de cavalgar":
Imagem e história da primeira motocicleta na wikipedia em português: https://pt.wikipedia.org/wiki/Daimler_Reitwagen

Mas Daimler achou o invento muito perigoso, apesar das rodinhas auxiliares, e não o desenvolveu — a Mercedes nunca fabricou motocicletas.
Coisinha: Hoje na Segunda Guerra Mundial

Já Maybach partiu para a fabricação de automóveis e outras coisinhas com rodinhas.

Note que a primeira motocicleta não tinha pedais.

Então fica a questão, a motocicleta é filha da bicicleta ou da draisiana?

Por usar um chassi robusto para a instalação do motor, e não usar pedais, a draisiana é realmente a verdadeira mãe da motocicleta.

Ou avó, para quem considera o velocípede.
Imagem e história do velocípede na wikipedia em inglês: https://en.wikipedia.org/wiki/Velocipede

Hummm... definitivamente não, o velocípede não conta.

O legal é que mesmo depois de 200 anos, os dias da draisiana não estão acabados.

Ela continua muito popular entre a faixa mais jovem dos fãs de duas rodas...
Imagem: Busca no google por safety balance

É uma boa opção para quem não quer depender das concessionárias autorizadas e mecânicos em sua região...
Imagem: https://www.wired.com/2008/06/gallery-of-wood/

E 200 anos depois, a draisiana ensaia sua volta às ruas das grandes cidades em versão motorizada:
Imagem e reportagem: https://www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170607085734.htm

Os motores elétricos e baterias se tornaram tão pequenos que conseguem ser ocultados dentro do chassi de uma draisiana de madeira...

É muito possível que além das bicicletas elétricas, patinetes elétricos e skates flutuantes, você ainda acabe vendo uma vetusta draisiana agora elétrica, eletrônica e computadorizada rodando por aí.

Devemos ser gratos a esses ancestrais malucos audazes e suas máquinas formidáveis. Para a época...

Para aqueles pioneiros que tiveram essa ideia maluca, nós vivemos em um mundo de tecnologia alienígena.

Desfrute com moderação.

Um abraço,

Jeff