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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sabe por que Kombi pega fogo?

Esta postagem foi removida da série sobre recalls porque estava ficando muito longa...

Eu estava falando sobre recalls da vw, e este é um caso clássico de não recall.

Mas não posso deixar de contar esta história das antigas...

Você já viu esta cena?

Faz ideia do motivo de tantas vw Kombi pegarem fogo?

A história que só fica sabendo quem é leitor de blog de blogueiro bem informado é assim:

O tanque de gasolina da Kombi fica instalado no chassi, enquanto o bocal de abastecimento é posicionado na carroceria.

O bocal do tanque de gasolina fica na lateral acima e bem perto do motor — nesse local aqui:
Imagem: http://www.regiaoemdestake.com.br/news/exclusivo-kombi-da-prefeitura-pega-fogo-no-centro-de-sao-carlos/ — Não adianta clicar no link, erro 404, a página foi movida ou nunca existiu.

Com o tempo, de tanto a carroceria chacoalhar em relação ao chassi, o tubo metálico do gargalo de abastecimento entre o bocal e o tanque acaba rachando por fadiga.

Esse tubo que racha fica praticamente inacessível e oculto atrás do motor.

O motorista preocupado com o cheiro de gasolina pensa que é no carburador, na bomba de gasolina... no próprio tanque...

E realmente pode ser: 

O Daniel me lembrou das peças que costumam se soltar no motor de Fuscas, Brasílias, Variants, TLs, SP2s, Pumas e outros veículos com motor vw a ar — a válvula solenoide e os tubos de combustível se soltando do carburador. (Valeu, Dan!)

O motorista nunca imagina que pode haver um vazamento nesse lugar invisível (seta vermelha) — bem sobre a caixa de relés (seta laranja). Motor removido para maior clareza.

Note que o tubo fica exatamente sobre a caixa de relés... 

Com o tanque cheio, a gasolina no gargalo vaza pela rachadura, escorre pelo lado de fora do tubo e goteja sobre o motor ou diretamente sobre a caixa de relés, evaporando.

Relé de partida, relé de seta, relé de luzes que entrando em funcionamento soltam faíscas capazes de incendiar o vapor de gasolina.


É só dar a partida, ou usar a seta... havendo vapor suficiente, o relé fecha os contatos, solta uma faísca e puf-kabum.

Agora vem a parte interessante:

O que ninguém sai por aí dizendo é que o projeto original da veneranda Kombi alemã — assim me contaram — tinha uma união de borracha no meio do tubo justamente para evitar que isso acontecesse.

Com o tempo o pessoal achou que isso era uma bobagem que só encarecia e dificultava a produção... Não era não.

Eliminaram a união de borracha, economizaram umas merrecas e esquentaram a cabeça e não só a cabeça dos proprietários.

Mas ficou por isso mesmo, e a fabricante nunca foi e nem será responsabilizada por isso.
A polícia investiga até hoje...
A vw Kombi é ou não é um caso de polícia?

Se você ler o que o pessoal pensa, verá que é senso comum que a culpa dos incêndios está "no projeto ultrapassado e donos desleixados"...

Ora, de quem é o projeto ultrapassado?

Quem é a mãe da criança?

Os incêndios de Kombis acontecem até hoje...

Se fosse nos EUA e Europa, as coisas não seriam tão fáceis para a vokswagen.

Responsabilidade do fabricante é coisa séria e não dá para enrolar por muito tempo não.

Aliás, eu adoro como na internet um assunto puxa outro...

Não deixe de ler aquela primeira reportagem citada lá em cima sobre a Kombi.

Nela há um depoimento do jornalista e proprietário de uma das primeiras motos bmw G 650 GS montadas no Brasil — e que pegou fogo.

Não foi essa daqui não, esta era uma bmw R 1200 GS — muitas bmw pegaram fogo no ano do lançamento no Brasil.

A fábrica nunca convocou recall porque culpa sempre foi dos proprietáriosLógico.

Olha que interessante, as bmw pegavam fogo absolutamente novas e sem ter dono desleixado...

Se fosse nos EUA e Europa, as coisas não seriam tão fáceis para a bmw...

Mas aqui é Brasil, né?

bmw e vw podem dar as mãos e tomar um chopps. Sou paulista, é um chopps e dois pastel. 

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O festival de recalls automotivos que assola o Brasil

Você pode até ficar surpreso (OHHH!!!), mas não precisamos buscar exemplos nos EUA ou no resto do mundo para falar de recall. 

Praticamente toda semana sai uma notícia nova na mídia tupiniquim.

Estes dois recalls aí embaixo são bem atuais.

São os mais recentes por falha de projeto. Até o momento desta publicação.


Já o recall por risco de incêndio dos hyundai HB 20 é do penúltimo dia do ano passado, então vou contar como sendo deste ano. 
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/12/hyundai-hb20-e-chamado-para-recall-por-risco-de-incendio.html

É bem capaz de ter passado batido no meio das festas e férias de ano novo. 

Por que será que lembrei do recall dos gm Fiero na véspera das festas natalinas? 

Ou do recall das Indian no finalzinho do ano passado?

Pois é, que coincidência, né? 

Defeitos graves parece que preferem ser comunicados ao público em épocas de festa...

E enquanto revisava a postagem tive que atualizar com mais este recall aqui:

Veja que não é um daqueles recalls semanais por airbag assassino que você vê todo santo dia! 

O caso da mercedes-benz é uma falha de programação do módulo eletrônico.

A central eletrônica não se entende com um sensor e o airbag pode deixar de funcionar na hora da pancada... Será que lançaram o carro sem testar o suficiente essa bagaça?

E falando em airbag, não posso deixar de comentar os recalls semanais por "airbag mortal" que atingem todas as montadoras...

Afinal, é apenasmente o maior recall da história mundial e quiçá da galáxia depois daquele caso do duto de ventilação da primeira estrela da morte.
A segunda e a terceira não tiveram recall porque uma foi o Palpatine que não fez o amaciamento e a outra foi vacilo da capitã Phasma.

Afinal, são cinquenta e três milhões de veículos entre carros e motos (Gold Wing, para variar) no mundo todo...

Lendo os jornais você pensa que a culpa é da takata, que fabricou os airbags, e as montadoras não tiveram participação nisso, né?

Errou:
Reportagem: 

Olha a gm aí de novo, geeente!

Esse caso da takata merece uma postagem exclusiva... está a caminho, mas não agora.

A atitude que resultou no escândalo da takata é um caso muito parecido com o que ocorreu com a firestone e os pneus do ford Explorer que eu comentei em outra postagem.


Outra montadora que cometeu os mesmos erros que uma montadora de motos foi a volkswagen.

Ela teve o "mérito" de adotar o famoso óleo sintético de viscosidade inferior à recomendada para a temperatura do Brasil antes da honda. 

Mas já falei sobre isso na postagem Olha só quem se ferrou com óleo sintético menos viscoso!, então não vou entrar no assunto de novo. Só para ilustrar:

E a vw não poderia estar de fora da lista de recalls nacionais de veículos recém lançados...

Não é de hoje que a vw — e as outras montadoras — dão um tiro no pé — dos consumidores — e saem de cena de fininho, assobiando com as mãos nos bolsos.

É que estou falando de recall aqui no Brasil, mas procure por recall vw fire (fogo, incêndio) no google que você encontra casos nos EUA em 2008, em 2010em 2011, um recall voluntário em 2014, em 2015 e dois recalls obrigatórios em 2016, sendo um em abril e outro em outubro.

Não resisti... esse modelo veio para o Brasil também.

O vw Passat americano não tem uma fama muito boa lá nos States — aliás, a vw coleciona recalls por lá — assim como ford, gm....

A fiat não podia ficar de fora tanto lá como aqui. 

Aliás, o que tem de recall da fiat principalmente por causa dos carrões fabricados nos EUA pela antiga chrysler não é brincadeira... são muitos e muitos. 

Vou comentar somente este, a tampa estética do motor (aquela cobertura colocada embaixo do capô para não permitir que o proprietário identifique pequenos problemas de vazamento de fluidos ou mau contato elétrico e seja obrigado a recorrer à concessionária) se solta e encosta no catalisador, derrete e pega fogo... custava ter feito a coisa bem feita? Sim, custaria uns 20 reais a mais...

Nem vou falar do problema do câmbio automatizado da fiat que afetou quase toda a linha... quanto mais detalhes tecnológicos, maiores as chances de falha.

Para que um sistema automático funcione, TODOS os componentes precisam estar funcionando perfeitamente — basta que uma grampola pife para criar uma situação potencialmente muito grave a 100 km/h. Essa é minha bronca com a automação de coisas que não precisariam ser automatizadas.

O mesmo problema de fragilidade de material que vimos no recall do eixo traseiro lá de cima acontece também com os Grand Siena e Fiorino da fiat...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/07/fiat-convoca-recall-para-62-mil-unidades-de-grand-siena-e-fiorino.html

Por filosofia de projeto prevendo economia de material e fator de segurança inadequado no projeto, a base da coluna de direção pode trincar e se soltar — e você fica com o volante na mão que nem um bobão. Por pouco tempo, dependendo da velocidade o sofrimento e o arrependimento acabam rápido.

renault, ainda não falei da renault, renault também pode perder a direção...
Imagem e divulgação: http://www.car.blog.br/2016/01/recall-renault-sandero-e-logan-podem.html

Outra fragilidade de componente que pode se romper e te deixar com o volante na mão.

Já imaginou que legal, você no meio da rodovia, vem a curva, você gira o volante e o carro segue reto?

Para não ficar atrás, os peugeot podem perder o servofreio...
Reportagem: http://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2016/09/peugeot-convoca-recall-dos-modelos-308-e-408-por-falha-no-sistema-de-freios.html

Aí você calcula a força no freio para parar antes do problema, descobre que o pedal ficou duro e o carro não está parando como devia e enche a lata do carro na frente.

Tem que pagar o prejuízo do outro cara e ainda brigar para ser indenizado porque não há prova de que você não foi imprudente...

Carro perdendo o volante, carro perdendo freio... 

Depois falam que motocicleta é perigosa... ops, esqueci das motos que também perdem o freio.

Ainda falta falar das montadoras de carros japonesas... mas o que eu encontrei é tão interessante que pede postagem especial.

Mas eu cansei de escrever por enquanto e você cansou de ler.

É interessante notar como a percepção de que a qualidade vem caindo em níveis assustadores a cada ano já existia em 2014.

Naquele ano o blogueiro Thiago Padilha já se assustava com a quantidade crescente de recalls e chegava às mesmas conclusões...
Blog Carro para usar: http://carroparausar.blogspot.com.br/2014/01/recall-o-que-era-excecao-esta-virando.html

E dava uma lista de exemplos.

Compare os casos de 2014 com as listas mais recentes para ver como a coisa piorou muito:

Aqui estão os links para as reportagens do g1 com a lista de todos os recalls de automóveis nacionais de 2015 e a lista de todos os recalls de carros nacionais de 2016 — verifique o show de horrores você mesmo.


E uma pesquisa em 2017 prova que o volume de recalls aumenta de um ano para outro...


Cada vez mais as empresas erram, se precipitam e lançam máquinas e equipamentos sem um projeto adequado, sem testar devidamente, sem tomar os devidos cuidados na produção, sem monitorar devidamente a qualidade.

Tudo isso para economizar míseras merrecas em cada unidade — e/ou induzir o proprietário a trocar rápido de modelo.

Mas hoje va
mos parar por aqui.

Na postagem de amanhã vou voltar a falar de coisas que a gente trata normalmente aqui no blog — recalls mundiais de motocicletas de todas as marcas.

Tem cada recall por motivo esdrúxulo e mortal que você não acredita...

Até lá,

Jeff

domingo, 23 de outubro de 2016

Olha só quem se ferrou com óleo sintético menos viscoso!

Motor com problema por causa da adoção do mágico óleo sintético de menor viscosidade não é exclusividade nem novidade da honda.

Você já ouviu falar do "recall branco" feito pela volkswagen na década passada?
Reportagem: http://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL1358345-9658,00-VOLKSWAGEN+ANUNCIA+CAMPANHA+PARA+REVISAO+DE+MOTOR.html

O também chamado "recall velado" foi um problema sério que deu manchetes por muito tempo:


Logo o abacaxi dos motores barulhentos e fundindo veio à tona e a montadora alegou que o problema estava apenas no "óleo do primeiro abastecimento".

Só que o problema não acabou após a primeira revisão com a troca do óleo do primeiro abastecimento e os proprietários continuaram reclamando do "barulho de máquina de costura" que o motor fazia.

Esse barulho era o motor dizendo "não aguento mais, esse óleo acabou comigo", mas as concessionárias diziam que era totalmente normal.

E ficou por isso mesmo até a hora em que os motores abriram o bico de vez ainda antes da segunda revisão e troca de óleo na concessionária aos 30 mil km — e a vw ainda queria cobrar pela retífica e recondicionamento do motor.

Como a conta estourou no colo dos proprietários, muitos deles entraram na Justiça, o processo se arrastou por anos e finalmente ganharam a ação em 2013.
Imagem e reportagem: http://carplace.uol.com.br/justica-determina-recall-de-400-mil-carros-da-volkswagen-gol-voyage-e-fox-estao-envolvidos/

Ganharam é modo de dizer, porque a vw reverteu a decisão e não encontrei mais informações na imprensa a respeito do assunto — diz-se que nesse meio tempo muitos proprietários iam fazer a primeira revisão na concessionária e saíam de lá com outro motor zero km instalado.

Quem ficou sabendo disso, correu atrás. 

Quem não correu, e foi a maioria, assumiu o micão caro pra chuchu e achou que deu azar, foi olho gordo, inveja do vizinho, praga de parente, macumbaria, vudu.

Poucos ficaram sabendo que a engenharia da vw admitiu publicamente que o problema estava na adoção do novo óleo sintético 5W-40:
Reportagem: https://pitstopbrasil.wordpress.com/2009/10/27/volkswagen-assume-erro-e-esclarece-problemas-do-motor-1-0-vht/

"O novo óleo está dando perda de lubrificação o que danifica as peças, por isso os clientes reclamam do barulho."
Reportagem: http://www.gazetadopovo.com.br/automoveis/vw-faz-recall-velado-do-motor-10-vht-byv6ay5tcvpipm4yoj473vpse

"O problema não é do fabricante do óleo." [Tradução: Alguém pisamos na bola.] 

"A especificação do lubrificante foi trocada para melhorar o desempenho do carro, mas o motor apresentou dificuldades na lubrificação." [Tradução: O novo óleo menos viscoso não é o mais adequado para garantir uma vida do motor longa o suficiente para que os clientes não reclamem.] 

"Para resolver o problema a volkswagen mudará novamente a especificação do óleo." [Tradução: A solução técnica da engenharia para solucionar o problema é voltar a usar o óleo de viscosidade adequada.] 

Nem sempre as soluções técnicas são cumpridas porque necessariamente a decisão passa por considerações mercadológicas. [O que fazer (ou não fazer) para minimizar o prejuízo?]

Aquela desculpa da vw de o problema acontecer somente por causa do óleo do primeiro abastecimento "contaminado pelo álcool do combustível" satisfez o pessoal que não entende patavina do assunto.

Proprietários mais tarimbados mudaram de óleo e eliminaram o problema na raiz.

Até esse escândalo a vw se gabava toda orgulhosa do slogan "volkswagen — qualidade e tecnologia do líder" (no caso, líder de vendas, mas que em alemão, führende Technologie, resulta em um trocadilho extremamente infeliz com o criador da empresa.)
Imagem e história do Fusca: http://conexaoautomotiva.blogspot.com.br/2015/03/curiosidades-dois-judeus-um-nazista-e.html

Não se fazem mais carros e motos populares como antigamente...

Até esse apagão do óleo sintético 5W-40, 10W-40 e 15W-40 os motores vw sempre haviam sido reconhecidos e apreciados pela sua resistência, confiabilidade e durabilidade.
Imagem: http://www.forumcarros.com.br/index.php?/topic/3891-troca-de-óleo-gol-g3-2005/ — Placa preta é aquela reservada para veículos históricos de colecionadores.

A consequência do escândalo foi que a vw perdeu o tradicional primeiro lugar indiscutível em vendas no Brasil para a fiat e a chevrolet.

Você vê nisso alguma semelhança com os problemas das motos populares que a honda não conseguiu resolver até hoje?

No lugar do óleo mineral 20W-50 a honda adotou o óleo semissintético bem menos viscoso 10W-30 no apagar das luzes de 2010...
Fonte: http://www.jacaremoto.com.br/?pg=noticia&id=624

E a partir daí os proprietários começaram a reclamar do motor barulhento e dos problemas mecânicos extremamente graves das suas motos.

Eles sabem que a coisa está errada, mas não entendem o porquê.

Igual aos proprietários dos novos vw quando os motores saíram das concessionárias fazendo aquele barulho horrível de motor mal lubrificado.

Mas os vendedores das concessionárias insistem em dizer que o barulho horrível do motor é normal...


Se mudarem as legendas desse vídeo de "honda" para "vw" — e de "XRE e CB 300" para "Fox e Gol" — o vídeo continua válido.

A vw gerou toda aquela situação, a honda também gerou, e pelo mesmo motivo.

E continua ignorando o problema até hoje.

Será que lá dentro da honda eles fazem ideia do quanto o pessoal aqui fora está irritado com essa situação?

Esse assunto virar motivo de deboche público é culpa dos proprietários, ou mérito dos engenheiros da montadora?

A honda que dê a resposta.

Enquanto essa resposta não vem, as motos continuam perdendo valor de mercado, irritando ainda mais os proprietários que sempre confiaram na empresa.

As próprias concessionárias estão se recusando ou oferecendo uma ninharia para aceitar motos problemáticas de clientes ainda dispostos a trocar uma honda por outra honda.

Isso está deixando o pessoal muito emputecido da vida...


A bucha acaba sobrando para o pessoal das concessionárias que acabam encarando a linha de frente da batalha com os clientes.

Nunca pensei que um dia eu veria a honda causando o mesmo nível de insatisfação que só vi entre os primeiros proprietários de dafra.

Sinal dos tempos.

Será que o pessoal da honda deu uma lida nos comentários desse vídeo para conhecer a opinião geral do pessoal?
Comentários: https://www.youtube.com/watch?v=2Q_CN9ASFG8

O lamentável é que esta situação seria facilmente evitada se a honda admitisse que o maior problema desses motores é a falta de óleo com viscosidade adequada.

Problema causado por ela mesma com o óleo 10W-30 e seus manuais que continuam a informar uma quantidade insuficiente e a induzir uma interpretação errada — e em muitas de suas concessionárias, que abastecem com menos óleo que o ideal e orientam erradamente os proprietários sobre a quantidade de óleo do motor e seu procedimento de medição.

A honda não dá o braço a torcer, não recua e continua empurrando o ananás goela acima dos clientes.

A perspectiva é que esse assunto sério só tende a piorar conforme as motos envelhecem.

Prevejo que essa insatisfação dos proprietários com as decisões equivocadas da honda ainda será assunto por muito tempo.

Um abraço,

Jeff
PS: Há outra postagem sobre este assunto envolvendo vw e honda com o título Troca de óleo a cada 12 mil km?

domingo, 27 de setembro de 2015

O escândalo da VW e o mundo das motos

O que o escândalo da VW tem a ver com o mundo das motos?

Mais do que você imagina.

O que aconteceu na vw é o exemplo perfeito daquilo que denuncio há anos aqui no blog — a submissão da engenharia ao marquetingue*, sem atinar para as consequências.
*marquetingue = marketing rasteiro

Mas primeiro, entenda o escândalo da vw.


Em anos recentes a vw vendeu 11 milhões de carros movidos a diesel em todo o mundo* promovendo como o grande diferencial de seus veículos uma tecnologia inovadora chamada TDI Clean Diesel, "diesel limpo".

Imagem: http://jalopnik.com/why-did-volkswagen-delete-all-of-its-diesel-ads-from-yo-1731691453
* Menos no Brasil, onde automóveis de passeio a diesel são proibidos. Somente a picape Amarok utiliza esse motor por aqui.

Supostamente esses motores seriam bastante econômicos e muito menos poluentes graças a essa nova tecnologia de gerenciamento eletrônico.

Mas isso era uma grande mentira, porque eles não se destacavam da concorrência quanto à poluição, apenas driblavam os testes de emissões feitos pelos órgãos governamentais — e a vw foi flagrada atolada até o pescoço nessa trapaça, não teve como negar.


O software de gerenciamento eletrônico do motor diesel usado em vários modelos estava programado para colocar o motor em modo de baixo nível de emissões quando detectava que o carro estava passando por um teste de poluentes e não em uso normal.

As bancadas de testes de emissões feitos nos EUA e Europa simulam o funcionamento do carro em alta velocidade com as rodas colocadas sobre roletes. 

A malícia do programa estava em detectar que o volante de direção estava fixo, indicando que o carro estava sendo acelerado sobre uma bancada de testes e não em uma via pública.

O controle de emissões era ativado apenas durante o teste em bancada, e então o motor trabalhava em uma condição de poluição mínima, mas também de entrega de potência reduzida — algo que um motorista perceberia e ficaria incomodado, mas totalmente ignorado pela bancada de testes.

Com o volante mudando a direção do carro — algo impossível de fazer sobre roletes — o software entendia que o veículo estava em uso normal e liberava o pleno desempenho do motor; as emissões subiam para níveis muitíssimo superiores aos permitidos pela legislação americana e, agora descobriu-se, também a europeia.

Emissões de diesel são muito mais tóxicas do que as de motores a gasolina. As autoridades americanas e europeias entenderam que a atitude era criminosa e não serão boazinhas com o grupo vw, que também inclui outros possíveis envolvidos na audi, porsche, seat, e skoda; bentley, bugatti e lamborghini não fabricam carros a diesel, muito menos as motos Ducati. E resta saber se os fabricantes de caminhões do grupo vw, a Scania e a MAN — esta última conhecida no Brasil como vw caminhões — estão livres do problema.

Quem forneceu para a volks essa central eletrônica com o programa "defeituoso" foi a BOSCH, que tirou o dela da reta já em 2007 com um documento informando a vw que aquela central eletrônica era um "dispositivo de teste" e que seu uso em veículos comercializados seria ilegal. Dito isso, venderam alegremente 11 milhões de "dispositivos de teste" para uso ilegal, e continuariam vendendo, se não fossem pegos com a boca na botija... 

Essa descoberta caiu como uma bomba na imagem de toda a indústria alemã, e todos os fabricantes de motores a diesel no mundo todo estão sendo investigados para ver se alguém mais embarcou nessa canoa furada. Multas bilionárias e muita gente boa passando temporadas na cadeia estão a caminho.
Imagem e reportagem: http://www.dailymail.co.uk/news/article-3248718/Volkswagen-set-Porsche-boss-new-chief-prepares-major-cull-executives-emissions-cheating-scandal.html

Beleza, mas por que a vw deu esse tremendo tiro no pé? 

Analisando o processo, a vw caiu nessa armadilha basicamente porque foram impostas metas irreais de emissão de poluentes, desempenho, consumo de combustível, redução de custos e aumento de vendas — e os engenheiros conhecedores dos limites possíveis não firmaram posição contra exigências inatingíveis por receio de perder seus empregos.


As leis da Química e da Física não permitem que um motor diesel atinja as metas contraditórias de alto desempenho, baixo consumo, baixas emissões e baixo custo de fabricação impostas pela diretoria com base nas leis e nas pesquisas de marketing.

Então a única maneira que a equipe de gêneos da nova geração de engenheiros encontrou foi trapacear pensando que o macete era tão espertamente esperto que nunca descobririam.

Trapacearam e deixaram todo mundo muito pouto da vida, porque jogaram as consequências para cima da saúde da população. Enfisema, asma, bronquite, insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca, câncer, etc. — automóveis a diesel são muito populares na Europa.

Tá bom, e o que isso tem a ver com as motos?

Metas de alto desempenho, baixo consumo, baixas emissões e baixo custo de fabricação impostas pela diretoria (com base nas determinações do departamento de marketing) são repassadas a todos os engenheiros de todas as indústrias automotivas, inclusive a de motocicletas.

http://aminearlythereyet.com/fake-motorbike-brands-in-china/

Veja um exemplo hipotético de como uma situação parecida com a da vw ocorreria para um fabricante qualquer de motos.

Nessa empresa hipotética, como na imensa maioria das empresas no mercado automotivo, todos trabalham com honestidade. Marqueteiros pesquisam e estabelecem as metas de produtos para que a empresa venda mais, engenheiros tentam cumprir as metas de especificações dos produtos que atenderão as preferências dos clientes e as normas governamentais, diretores tentam cumprir as metas de desempenho e lucratividade, acionistas esperam lucrar honestamente com a venda dos produtos da empresa — ninguém trabalha com o objetivo de trapacear deliberadamente os clientes, da mesma maneira que na vw também não.

Onde aparece o problema?

O problema estaria na forma como as empresas são estruturadas estabelecendo metas impossíveis para cada departamento — o resultado é que todos se empenham em cumprir ordens para preservar seus empregos, impossibilitados de fazer análises críticas, incapazes de perceber o resultado global e suas consequências. 


Na prática:

Para atender as metas de baixo consumo e as exigências das novas leis antipoluição, a única maneira encontrada pelos engenheiros desse fabricante de motos seria adotar novas tecnologias.

Por exemplo, o uso de injeção eletrônica de combustível e óleo lubrificante sintético de baixa viscosidade. 

Óleo mais fino ajuda a melhorar o desempenho e o consumo de combustível do motor porque ele gira mais desimpedido, faz menos força para vencer o atrito viscoso do óleo. 


Em compensação, tem um pequeno inconveniente:


Quanto maior a temperatura, ainda mais fino ele se torna, e passa com mais facilidade entre os anéis do pistão e a camisa do cilindro — o óleo é queimado e acaba desaparecendo muito rapidamente do cárteróleo de baixa viscosidade precisa ser reposto com mais frequência.

A engenharia do hipotético fabricante saberia disso, talvez até alertasse os outros departamentos, mas essa informação nunca chegaria aos clientes, porque comercialmente isso pegaria muito mal.

Alertar os clientes de que a moto iria consumir mais óleo desestimularia as vendas já não muito boas, ainda mais quando os consumidores estão engolindo a contragosto a novidade pelo fato de o óleo sintético ser bem mais caro.

De qualquer forma, mesmo que um ou outro problema surgisse antes do fim da garantia, legalmente a empresa estaria coberta — a documentação entregue ao cliente, o manual do proprietário, sempre mandou verificar o nível de óleo todos os dias. Se o dono da moto não faz isso, ou faz o procedimento errado, o problema é dele.

Então, para compensar essa desvantagem comercial do alto custo e maior necessidade de reposição de óleo, os departamentos de marketing e vendas fariam o seu trabalho de enfocar apenas os pontos positivos — eles precisam cumprir suas metas de aumentar as vendas. 

Veja que isso não caracteriza desonestidade da parte de ninguém, é apenas uma consequência da segmentação e departamentalização de todas as grandes empresas, onde cada departamento busca suas metas e todos perdem a visão global.
Parece que funciona, só que não...
Para vender melhor o peixe, os benefícios da alta qualidade e resistência à degradação do óleo sintético que resultariam em maior intervalo entre as trocas seriam enaltecidos — o cliente acabaria economizando e prolongando a vida do motor, diriam as propagandas.

E ninguém falaria nada sobre a necessidade de repor o óleo com mais frequência, um fator que não ajudaria a alavancar as vendas — ninguém divulgaria informações que poderiam afugentar clientes para a concorrência e isso não seria por malícia, mas pela dinâmica dos negócios.

Em algum momento do processo, a informação sobre eventuais problemas decorrentes dessa mudança do óleo desapareceria, se perderia no mar de informações gerenciadas. 

Mas o diabo mora na terra de ninguém, aquela zona cinzenta onde nenhum dos departamentos tem autoridade claramente estabelecida... 

E isso faria acontecer algo que nenhum dos departamentos seria capaz de prever devido à sua visão segmentada do produto...

Infelizmente, a ênfase na durabilidade e maior intervalo de troca do óleo sintético foi interpretada pelos clientes como "usando um óleo tão bom, não preciso me preocupar entre uma troca e outra"... e eles deixaram de verificar se aquele óleo tão bom estaria sendo consumido.

Além disso, os engenheiros não consideraram, ou sua argumentação não foi levada em conta pelo pessoal de marketing e vendas, que a solução aceitável para o país de clima temperado onde ficava a sede da empresa, o Kilongequistão, não era adequada para países tropicais como o Brasil.

Para funcionar no limite da viabilidade técnica com a mesma viscosidade do país original, os motores com o novo óleo fino dependeriam de uma manutenção rigorosa por parte dos clientes... e essa manutenção já não era rigorosa nem mesmo por parte da própria rede de concessionárias da marca muito antes da adoção do óleo fino.


Muitas de suas concessionárias não supervisionadas adequadamente continuariam usando uma prática temerária: 

Após as revisões, permaneceriam entregando as motos aos clientes apenas com a quantidade mínima de óleo, como sempre fizeram e poucos problemas tiveram em dezenas de anos. Aliás, por causa disso venderam muitas peças de reposição — o que sempre ajudou a cumprir as metas de vendas do fabricante e dos donos de concessionárias.

Os clientes confiantes na marca e na rede de concessionárias nunca imaginaram que a marca e a rede seriam capazes de uma prática moralmente condenável como essa.

Os proprietários nunca perceberam que suas motos novinhas já saíam da loja pedindo mais óleo a cada revisão porque com o óleo antigo os motores só davam problema muito tempo depois, e eles achavam esse prazo mais ou menos tolerável.

Acostumados a repor o óleo apenas em motos bem rodadas, os clientes não imaginariam que nessas motos com nova tecnologia o óleo mais fino iria desaparecer do cárter em uma velocidade absurdamente mais alta.

O resultado é que as motocicletas desse fabricante hipotético começariam a fundir o motor ainda em garantia e em quantidades nunca antes vistas na história deste país...

Isso seria um desastre para a imagem da empresa.

Em pouco tempo ela seria obrigada a apelar para expedientes como conceder trocas de óleo gratuitas na esperança de prolongar a vida dos motores.

Esse expediente fracassaria porque os clientes não ficariam satisfeitos com o alto custo das revisões em concessionária.


Com a quantidade de motos com o motor detonado e as críticas ao fabricante aumentando dia a dia, clientes migrando para a concorrência jurando que nunca mais comprariam motos da marca — desse jeito a empresa logo seria obrigada a reformar totalmente seus modelos recém lançados.

Aprimorar o projeto seria necessário para evitar que o óleo desaparecesse tão rapidamente do cárter, e assim conseguisse aumentar a sobrevida dos motores pelo menos até depois do fim da garantia.


Mas será que a empresa teria a coragem de tomar a iniciativa de adotar a solução que eliminaria de vez o problema?


- Assumir que as informações do manual do proprietário induzem a erro e corrigi-las,

- Dizer claramente para seus clientes que a quantidade de óleo em cada troca é maior do que aquela especificada no manual do proprietário, 


- Publicar amplamente na imprensa nacional, de maneira esclarecedora — e não da maneira que induz a erros de interpretação, como feito no manual do proprietário — o procedimento de medição correto do nível de óleo e sua complementação, de maneira que os clientes nunca mais sejam enganados quanto a isso, e todos fiquem sabendo, mesmo que não levem mais as motos a concessionárias,

- Informar claramente aos clientes de que agora eles precisam ser ainda mais cuidadosos com a verificação do nível de óleo, 


- Fiscalizar e obrigar suas concessionárias a cumprir rigorosamente os procedimentos de troca de óleo estabelecidos pelo fabricante, sem omitir a complementação necessária... 


Será que ela faria isso?

Afinal, as coisas do jeito que sempre foram sempre permitiram atingir as metas de vendas de peças de reposição e novas motos.

Abrindo mão da condição atual, como ficariam as metas de lucros e vendas futuras com as motos durando bem mais e consumindo menos peças de reposição?

Assim como no caso da vw, não há um único vilão nessa história da empresa hipotética.

O estabelecimento de metas cada vez mais elevadas, chegando à impossibilidade de serem atingidas, e sem encontrar resistência por parte daqueles que teriam a obrigação de socar a mesa e dizer não, dá origem a distorções que podem naufragar um transatlântico, uma empresa ou um país.


Pessoas sem nenhum pé na realidade e sem visão de longo prazo estabelecem uma meta e, quando a meta é atingida, dobram a meta — isso não pode dar certo.


O castelo de cartas vai crescendo cada vez mais alto até que chega um momento em que... 

Claro, este é apenas um exemplo hipotético.

Nenhum fabricante de veículos inteligente deixaria a situação chegar a tal ponto.


Ninguém daria um tiro tão estupidamente grande no próprio pé a ponto de destruir a reputação de qualidade e a confiança da clientela duramente conquistadas.

Ops, a vw deu... 


Será que alguém mais?

Um abraço,


Jeff