quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Nunca confie no que os vendedores falam... a bmw é igual a todas as outras fabricantes

Nosso leitor e colaborador frequente aqui do blog Pedra Veloz — a quem agradeço imensamente mais uma vez — enviou este vídeo:


Você ouviu o vendedor falando sobre a bmw G310R, né?

"Troca de óleo de 10.000 em 10.000 km", "óleo projetado especialmente para esse motor".

Não me contive e fui conferir imediatamente essas informações lá mesmo na concessionária bmw.

E o que o vendedor desta outra concessionária falou foi o seguinte:

"O óleo é 15W-50, pode ser qualquer um, Motul, Castrol..."

E quanto à troca de óleo?

"Revisão a cada 10.000, troca de óleo a cada 5.000 km."

Como cada concessionária disse uma coisa diferente, fui conferir direto no documento emitido pela fabricante:
Óleo 15W-50, conferido.

Pode ser qualquer um, conferido.

"Óleo especial para esse motor"... ahh... isso não está escrito não.

Lá fora a bmw motorrad recomenda, mas não obriga a usar, o tal ADVANTEC ORIGINAL BMW ENGINE OIL — aqui no Brasil usa outro óleo.

Então aquele papo de "óleo projetado especialmente para esse motor", mais uma vez, é só argumento de vendas.

O tal Advantec é um semissintético — então o Motul 5100 ou o Castrol Power 1 4T dão conta do recado.

Troca de óleo a cada 10 mil km, conferido:

Pegadinha do manual para iludir proprietário otário, conferido:

A data programada é uma vez ao ano ou 10.000 km, o que ocorrer primeiro.

Na prática, "antes da próxima data programada" quer dizer antes da quilometragem programada.

Ou seja, espere para trocar o óleo somente a cada 10.000 km e detone o seu motor.

"Ah, mas o vendedor falou..."

Cara, na hora que dá pau, vale o que está escrito... a culpa é sempre do propriotário que não faz a manutenção como se deve... aprenda isso...

Pelo menos o vendedor com quem falei não recomendou esse absurdo de trocar o óleo apenas a cada 10 mil km.

Em compensação — nunca se pode elogiar — aí vem a questão fundamental...

Perguntei para o vendedor na concessionária:

— COMO É QUE EU MEÇO O NÍVEL DE ÓLEO DESSA MOTO? 


— É A QUENTE COMO AS OUTRAS bmw OU É A FRIO?


Ouvi da boca do vendedor:


"Essa moto é diferente das 800 e 1200, não é cárter seco, você não mede a quente."


"Você mede pela manhã sem ligar o motor, é só olhar o nível no visor."


Malandramente, perguntei:


— Ah, quer dizer então que é igual à honda CB 300?


"Mesma coisa."


Mas o que diz o manual do proprietário?
Óleo do motor
Verificação do nível de óleo do motor
Requisito
O motor está à temperatura de funcionamento.

Então também não é como o vendedor falou para mim... a medição é mesmo a quente — como todas as motos da bmw — e não a frio. A propósito, o manual da CB 300 também manda ligar por alguns minutos e desligar o motor antes de medir o nível... coisa que ninguém faz.

Medir a quente dará um resultado muito diferente do que olhar o visor pela manhã, quando todo o óleo terá escoado para o cárter.

Com o óleo todo no cárter, você pensará que o nível está bom, mas seu motor estará com muito menos óleo que o ideal — porque não foi assim que os engenheiros determinaram o procedimento de medição do nível.

Comprove isso na sua própria moto, é só medir nas duas condições.

Pelo menos uma coisa o vendedor acertou:

Será a mesma coisa que a CB 300 — todo mundo mede o nível do jeito errado ensinado pelos vendedores nas concessionárias, ninguém lê o manual, e as motos apresentam problemas por falta de óleo suficiente.

Você notou que o manual fala que a quantidade de óleo é de aprox. (aproximadamente, note bem, aproximadamente) 1,65 litro com troca do filtro de óleo.

Como a troca do filtro exige mais óleo, isso quer dizer que será colocado apenas 1,5 litro de óleo a cada troca de óleo sem troca do filtro (igual na CB 300, com a única vantagem de a bmw estar com a viscosidade correta).

O grande detalhe é que a quantidade necessária para atingir o nível correto na CB 300, quando você mede do jeito certo, com motor e radiador de óleo totalmente drenados, é de 1,8 litro, sabia?

O pessoal só coloca 1,5 litro (é o número que aparece no manual) e não completa até chegar no nível máximo medindo depois de ligar e desligar o motor.

E é por isso que CB 300 e XRE 300 racham cabeçote — aquecimento excessivo por óleo insuficiente.

(Parêntese:)

Notou que a bmw não precisa usar óleo 10W-30 para atingir as metas de emissões e consumo?


Por que será que a honda precisa usar óleo fino e a bmw, com um motor tão moderno quanto, de tão alto rendimento quanto, de tão alto desempenho quanto os da honda, por que a bmw pode continuar usando óleo 15W-50 e a honda não? 


Curioso, né?


(Fim do parêntese)


Vou ficar aqui esperando aparecerem as reclamações de motor barulhento, radiador fervendo e câmbio duro junto com as explicações dos vendedores "bmw é assim mesmo".

Depois de algum tempo aparecerá o primeiro vídeo de um proprietário mostrando a moto com o óleo no mínimo depois de voltar da revisão...

Nada de novo nesse mercado de motocicletas, venho denunciando todas essas empresas há anos.

E a bmw é reincidente... veja a postagem:

Como não perder seu motor zero km (e a vida) saindo da concessionária — seja bmw, honda ou qualquer outra


Um abraço,
Jeff

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Você acha que os causadores de acidentes graves no trânsito deveriam ser tratados com maior rigor?

Se você concorda com essa ideia, pode fazer algo a respeito!

Nosso fiel leitor Péricles encaminhou uma proposta de lei cidadã para o senado federal através do site e-cidadania a fim aumentar o rigor com que são tratados os causadores de acidentes graves.

Maior seriedade no trânsito de nosso país é uma das medidas urgentes que precisam ser tomadas, vemos todos os dias as notícias de pessoas envolvidas em acidentes com latas e garrafas de bebidas consumidas... isso não pode continuar do jeito que está.

Então essa iniciativa tem o meu apoio, assim como apoiarei todo e qualquer cidadão que tome uma atitude para melhorar nosso país — desde que respeitando os direitos fundamentais de todos nós.

Existe o preceito legal de que "ninguém é considerado culpado até ser julgado e condenado", mas o projeto do Péricles não condena ninguém.

Apenas exige que o envolvido no processo seja protegido de se envolver em novas situações que compliquem seu processo na justiça enquanto aguarda a condenação o julgamento por um juiz.

Nós, a sociedade dos cidadãos respeitadores da lei, só temos a ganhar.

Segue a íntegra do comunicado enviado pelo Péricles:

Jeff, você conhece o portal e-cidadania? 

É um espaço onde podemos propor ideias de leis e, caso nossas ideias atinjam um número mínimo de votos online, ela automaticamente é encaminhada ao Senado Federal para que eles discutam sobre o assunto e eventualmente nossas ideias podem se tornar leis, mesmo.
Imagem: Portal e-cidadania, proposta do Péricles

Estou dizendo isso porque sempre tive uma ideia de lei relacionada à segurança no trânsito e essa semana postei lá no portal, e se você achar conveniente, gostaria de pedir seu apoio e dos leitores do blog para divulgarmos a ideia e fazê-la alcançar os 20 mil apoios necessários pra ser discutida.

Resumidamente, a ideia é a seguinte:

Tendo em vista que a maior parte dos chamados "acidentes" é causada por imperícia, imprudência ou por desrespeito às leis de trânsito, e que muitas vezes os condutores que provocam acidentes não são punidos de nenhuma forma, propus que o condutor que causar acidentes de trânsito com vítimas graves deve, obrigatoriamente, passar por reciclagem em CFC, para comprovar que esteja apto a compreender as leis e a respeitá-las.

Em caso de reincidência em médio prazo (algo em torno de 3 anos), o condutor passa a sofrer sanções mais graves e com prazo maior, como por exemplo:

1) Suspensão temporária da CNH por alguns meses + reciclagem novamente

2) Revogação da CNH, obrigando o condutor a refazer todo o processo de habilitação após alguns meses

3) Cassação definitiva da CNH.

Esses pontos são apenas ideias para ilustrar a forma como as punições vão se agravando caso o condutor continue provocando acidentes no trânsito.

Meu ponto é que, se houver punição severa, que impeça o condutor a continuar dirigindo por algum período enquanto refaz algum processo, e pagando por isso, nosso trânsito se tornará mais consciente. 

Uma pessoa pode pensar duas vezes antes de dirigir utilizando o celular, porque hoje, se ela atropelar alguém enquanto usar o celular, amanhã ela pode dirigir normalmente, e continua usando o celular.

Um condutor bêbado pode matar uma dezena de pessoas no ponto de ônibus, pode até responder processo, mas enquanto isso caminha nada impede que ele fique bêbado de novo na próxima semana e mate mais alguém.

Bom, resumidamente, esta é a minha proposta que publiquei no site

Se você achar que pode ser uma boa ideia, gostaria de pedir seu apoio para divulgar e pedir pro pessoal compartilhar com os amigos e conhecidos, no Facebook e Whatsapp, para que a gente possa tentar tornar nosso trânsito um pouco mais seguro.

Já vi gente morrendo no trânsito sem culpa, e o condutor dirigindo no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. 

Não é isso que queremos para o nosso trânsito.

Grande abraço, e, caso veja alguma utilidade nessa proposta, já agradeço pelo espaço e pelo seu apoio!

Parabéns pela iniciativa, Péricles!

Os leitores que quiserem colaborar e ajudar a divulgar a ideia, o link para a proposta do Péricles é este aqui.

Um abraço,
Jeff

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Prenda muito bem seus cacarecos

Uma pequena bobagem pode se complicar tremendamente num piscar de olhos.

Um descuido bobo e você não imagina o que acontece...


O motociclista estava improvisando o transporte de um bagulho, ele se soltou e acabou causando por via indireta um acidente — que poderia ter sido muito mais grave.

A primeira motorista parou porque... ah, sei lá... 

Acho que ela pensou que tinha acontecido algo mais sério, alguém poderia estar precisando de ajuda quando viu o motociclista parar a moto e sair correndo.

Ou talvez ela atropelou a coisa caída e parou pelo susto. Vai ver que pensou que era um gato... Metade do mundo ama gatos. 

Já a motorista que veio atrás não percebeu a parada inesperada e encheu a lata bonitamente.

É até possível que ela já estivesse com o celular antes da batida, não tem como saber só pelo vídeo... 

Mas o que desencadeou essa sequência de eventos, sem dúvida, foi a queda do traste troço tolete tarugo de espuma. Que Бутылочная пробка de динозавр era aquela?

O fato é que a coisa complicou na hora em que a motorista do celular alegou para o motorista da picape que estava grávida...

O susto da explosão ensurdecedora do airbag pode ser traumático em uma gravidez.

E aí, meu caro, a situação fica muito mais dramática... 

Já imaginou se ela perde a criança direta ou indiretamente por conta de seu cacareco mal transportado?

Como ficaria sua consciência?

No final o motociclista acabou tomando uma multa de 316 dólares (± 1.000 temeridades) por conta de transportar carga sem fixação adequada — se quiser reverter, vai ter de apelar para o juiz. Lá a coisa é rápida, tudo se resolve em poucos dias.

Difícil um juiz reverter a multa com base no vídeo.

É capaz até de ele dar outra multa por causa da sacolinha no guidão, e mais uma por não estacionar a moto direito... e se reclamar, é capaz de decretar uma semana no xilindró.

Quando você se complica com a lei, a coisa só tende a piorar cada vez mais para o seu lado.

Então fica a lição:

Não improvise na hora de transportar coisas na moto.

Pequenos deslizes podem se tornar grandes dores de cabeça.

Quando não se tornam coisas bem mais sérias.

Nunca confie em apenas um único elástico para prender uma carga — se ele se romper, seu bagulho já era.

Não basta prender, é necessário prender com muita firmeza — a vibração da moto afrouxa os elásticos e a carga pode se deslocar e se soltar.

Se puder optar entre um bauleto e alforjes, eu sugiro os alforjes, apesar do inconveniente de não guardar o capacete.

O capacete você pode prender na moto com a corrente que você passa na roda.

Os alforjes têm a vantagem de manter o centro de gravidade da moto mais baixo.

Além disso, um bauleto mal instalado vai ficar batendo e pode até trincar a traseira do chassi.

E pior ainda, ele facilita o shimmy, que pode se tornar uma situação bem perigosa. 

E se optar por uma mochila, nunca transporte nada que possa causar ferimentos em caso de queda, porque a primeira coisa que vai para o chão é o barrigão, depois o cabeção capacete.

Por que eu falei barrigão se a mochila vai nas costas?

É que eu estava pensando em quem leva a mochila na frente, sobre o tanque, a fim de dar espaço para a garupa...

E sobre o comentário do leitor no facebook, cujo comentário sumiu enquanto eu escrevia:

Ele prendeu o capacete na trava da moto e ele se soltou com a moto em movimento.

Quando eu falei em prender o capacete na moto, estava pensando somente na condição de moto parada.
Não é recomendável andar com o capacete da garupa preso na moto porque ele é um volume grande que pode resvalar nos carros e causar um acidente.

Além de poder se soltar.

PS: Acrescento o ótimo depoimento do leitor Eduardo:

Bom dia Jeff.
Nesse post tenho que reconhecer minha culpa. Já fiz este tipo de M..., mais de uma vez. Mas, já faz bastante tempo. 

Já perdi compras de mercado pelo caminho, e era a sacola dos produtos mais caros (queijos e similares). 

Já perdi garrafas de óleo de moto (esse caso me deixou muito preocupado, com os outros, e me envergonha). 

Deixei cair uma mochila nova, com uma jaqueta (dessas com proteções), uma buzina nova, e três DVDs de locadora. Esse último episódio em uma rodovia. Sorte que era de dia e os motoristas perceberam que era uma mochila e ninguém se acidentou, mas tudo ficou destruído.

Meu diagnóstico: transportar objetos em motos não é trivial. Nunca amarrei nada com apenas um elástico. 

Existem objetos, tipo garrafas d'água (ou de óleo) que se deformam e acabam ficando frouxas. 

Vários objetos pequenos, fixados com vários elásticos, podem não ter atrito suficiente e escorregarem.

No caso da mochila, existia uma sacola plástica grande amarrada ao banco, embaixo dela, que escorregou e ficou sem sustentação. 

Como você mesmo disse, o ideal é usar dispositivos tipo alforges. Ou, pelo menos, ter um volume só pra amarrar. 

Tipo uma sacola grande e resistente, para jogar tudo dentro. E, além disso passar o elástico por dentro das alças da garupa, e não só naqueles pinos. 

E se for algo pesado que fique o mais perto possível do centro da moto.

Muito obrigado pelo depoimento, Eduardo!

Me fez lembrar que eu também já perdi um litro de óleo na estrada, estava sem alforjes... é o tipo de objeto impossível de prender sem uma rede ou sacola.

Um abraço,
Jeff

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ora, ora... novas motos da harley-davidson agora com novo chassi 65% mais rígido... por que será, né?

A harley lançou a nova linha 2018 da série Softail e olha só a grande novidade destacada:
Imagem e press-release: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/harley-davidson-faz-barca-de-lancamentos-2018-veja-fotos.ghtml

"Novo chassi 65% mais rígido que seu antecessor" é a maneira menos feia de dizer que o chassi anterior é 40% mais fraco.

Entenda "fraco" no sentido de "menos rígido" — o chassi anterior é 40% menos rígido.

Sabe aquele papo "em time que está ganhando não se mexe"?

Pois é, parece que alguém do time lá de Wisconsin não ia muito bem das pernas e foi substituído...

Todo mundo achando que o chassi antigo das Harleys já seria satisfatório em termos de rigidez... e estava todo mundo enganado.

O chassi poderia ter sido muito melhor, e há muito tempo.

A engenharia reprojetou o chassi para obter maior rigidez, e o marketing está enfatizando essa melhoria surpreendente — 65% é um ganho de rigidez e tanto. 

Surpreendente que puderam melhorar tanto assim um projeto que supostamente já deveria estar perto da perfeição.

Esse ganho de 65% é a prova clara de que o chassi não estava nem perto da perfeição.

As motos eram vendidas como sendo o suprassumo da tecnologia da harley, mas não eram... havia margem para melhorar 65%.

Isso me faz pensar (é raro, mas de vez em quando acontece):

Parece que minha teoria na postagem anterior passou bem perto da realidade...

Lá eu levantei a hipótese de que os quadros da harley não seriam suficientemente rígidos para aguentar o enorme peso do motor em pequenos tombos... 

... se deformando a cada queda do mesmo jeito que a minha primeira moto, minha não tão saudosa honda CG 1978...

... causando o desalinhamento das rodas alertado pelo Chuck da Classic Cycles...

... e segundo ele, essa seria a causa da mania das Harleys apresentarem o famoso "balanço da morte" (death wobble).

Se você não conhece a história, a postagem é esta aqui:
Postagem completa: https://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/08/harleys-e-sua-tendencia-mortal-de-sair.html

Juro que quando escrevi a postagem da semana passada eu não sabia que a harley estava para lançar novas motos nesta semana.

E também não fazia a menor ideia de que os engenheiros lá de Milaseu Milwaukee (Заднее столкновение corretor ortográfico!!!) estavam preocupados em reforçar o quadro dessas motos...

Parece que minha suposição inicial de que os quadros das Harley poderiam ter problemas de desalinhamento originais de fábrica não se confirmou, mas a realidade é muito pior.

A própria fábrica admite que os quadros não eram tão resistentes quanto os novos da linha 2018 — portanto, os quadros anteriores são muito mais vulneráveis a problemas de desalinhamento.

E de rigidez estrutural.

Agora tudo faz sentido.

São justamente as motos equipadas com os quadros 'ainda não 65% mais rígidos' que apresentam o death wobble. 

Falta de rigidez quer dizer tendência a se deformar e a desalinhar as rodas, causando instabilidade — como aquela moto testada e reprovada pela polícia rodoviária da Califórnia:


Reforçar o chassi para eliminar esse problema é uma coisa lógica.

Isso irá evitar que o quadro atue como uma mola, desalinhando as rodas temporariamente — e entre em ressonância fazendo a moto rebolar que nem uma doida.

Pelo menos, terá a tendência de entrar em ressonância apenas em velocidades maiores, é o mesmo princípio usado para afinar as cordas do violão.

Também evitará que o chassi se deforme por qualquer tombo besta e fique com as rodas desalinhadas.

Suspeito que um 'chassi ainda não 65% mais rígido' — ou 40% mais fraco em relação ao novo chassi — seja capaz de se deformar permanentemente até sem levar um tombo besta...

Deformação elástica é aquela que o objeto deformado retorna à forma original depois que o esforço aplicado é eliminado.

Deformação plástica é aquela que permanece depois que o esforço excessivo é eliminado.

Note que a capacidade de resistir ao esforço depende somente da rigidez e resistência mecânica desse objeto.

Um objeto que se deforma elasticamente está a um passo de se deformar permanentemente, basta ultrapassar seu limite de resistência física. 

Existe um limite para a deformação elástica — passou desse limite de esforço, ela vira uma deformação plástica, permanente.

Um pequeno esforço acima desse limite faz a diferença — é a gota que transborda o copo — e o resultado é a deformação plástica permanente do chassi da motocicleta.

Tipo aquela que você coloca duas réguas e descobre que suas rodas estão desalinhadas porque seu chassi se deformou, apesar de você nunca ter caído com sua moto.

Que segundo o Chuck da Classic Cycles, pode induzir o balanço da morte death wobble.

Então "é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho"?

A moto oscila porque o quadro se deforma, ou o quadro se deforma porque a moto oscila porque ele é fraco para aguentar?

Mas é claro que, se a má fama das Harleys foi causada pela fraqueza dos quadros anteriores, a fabricante nunca irá convocar um recall de seus "antecessores".

Já imaginou o prejuízo?

Quem caiu, caiu. Quem ainda cair, azar.

Azar dos ocupantes, não da fábrica.

Para eles, death wobble não é defeito, é "feature".

A culpa é sempre do piloto, nunca das fabricantes.

Qualquer semelhança entre esse reforço dos quadros das H-D modelos 2018 e o reforço dos quadros das dafra Kansas com o lançamento do modelo 2010 — SEM CONVOCAR RECALL DAS MOTOS ANTERIORES — é só uma coincidência, claro.

Não dá para comparar a qualidade de uma com a outra.

Só dá para comparar o método, que é comum a todas as fabricantes.

Novos modelos resolvem problemas dos anteriores, e os proprietários... 

Bem, os proprietários nunca descobrem o que está por trás dos press-releases de divulgação das empresas que enfatizam apenas o lado bom da coisa, e fica tudo por isso mesmo.

Os fatos estão aí, a moto é sua, tire a conclusão que quiser.

Você que se cuide, seja qual for a sua moto, porque você sempre estará sozinho em cima dela.

No máximo, com sua garupa — e a responsabilidade pela vida dela será somente sua.

Aprenda a ver o mundo com outros olhos, batalhe por sua segurança, porque para o marketing e o mercado você é apenas um 'consumer'.

No Brasil "consumer" é traduzido como "cliente", mas ao pé da letra, "consumer" é apenas "consumidor".

Boa sorte com sua moto de qualquer marca,

Jeff

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Quase atropelei uma criança — o perigo das vans escolares

Segunda-feira Jezebel e eu seguíamos atrás de uma van escolar quando ela parou pouco antes de um cruzamento movimentado aqui do bairro.

Era meio-dia, concluí que a van estava deixando uma criança em casa e teríamos tempo de passar por ela antes que alguma criança descesse e eventualmente atravessasse a rua na frente dela.

O ônibus em sentido contrário estava a uma boa distância, mas como acontece com todas as vans, era impossível ver o que poderia estar logo à frente na esquina.

Pesei bem a situação, e a primeira coisa que me veio na cabeça é que crianças costumam ser mais ligeiras do que a gente imagina e sempre atravessam a rua sem olhar. Ainda mais na hora do almoço...
Imagem: http://www.correiodeuberlandia.com.br/previsto-para-fevereiro-uso-de-cadeirinha-em-van-escolar-deve-ser-adiado/

Além disso, a pista estava molhada e a proximidade com a esquina não me dava segurança.

Alguém poderia fazer a conversão e nós iríamos dar de cara com algum ônibus, caminhão, carro, moto ou picape lotada de pamonhas de Piracicaba, pamonhas fresquinhas... Ia sobrar curau e puro creme do milho verde pra todo lado.

Optei por não passar a van — para irritação do motoristazinho afobadinho atrás de nós, que buzinou.

Eu não dei bola pra buzina dele, e essa foi a melhor decisão que tomei na vida!

Apesar do horário, a van não estava entregando crianças em casa — surpreendentemente, naquele horário ela estava buscando alunos para levar à escola!


E não deu outra:

Como um raio, a pequena futura campeã olímpica de 9 anos saiu correndo de trás do carro estacionado no outro lado da rua.

A baixinha estava totalmente escondida pelo carro, quando vi ela já estava no meio da rua.

Na pressa de não atrasar o motorista, a guria atravessou correndo sem olhar, direto pela frente da van parada — como toda criança faz.

Se eu tivesse errado na minha avaliação da situação, certamente teríamos atropelado aquela menininha.

Por menor que fosse a nossa velocidade, o impacto de uma criança com menos de 30 kg rapidíssima contra uma moto e piloto totalizando mais de 200 kg quase parados faria ela ricochetear e cair de cabeça no asfalto.

Isso ia causar uma concussão grave ou quebrar uma perna ou braço perninha ou bracinho.

Mesmo que nada tão grave acontecesse, no mínimo eu iria acabar com uma baita dor de cabeça.

Jezebel e eu iríamos passar a tarde na delegacia e depois responder a um processo desgastante.

E ainda por cima arcar com custos de advogado mais assistência médica, raio X, tomografia, tudo que os pais achassem necessário.

Bom, isso, se nós escapássemos do linchamento do pessoal mamado no boteco.

Já imaginou eu apanhando e sendo chamado de "motoqueiro doido", "assassino", "irresponsável", "filho de гуанако" e outras coisas inenarráveis? Poxa, logo eu?

Isso me fez lembrar a sabedoria da lei de trânsito quanto a veículos escolares em vigor lá nos Estados Unidos...

O trânsito nos dois sentidos da rua é obrigado a parar quando um ônibus escolar para e aciona a sinalização — justamente para evitar riscos como esse (veja o que acontece aos 0:30):


E ontem eu comprovei na prática que essa lei existe não só por causa de crianças saindo do ônibus e atravessando a rua desatentas...

É também por causa das crianças que atravessam a rua apressadas para embarcar no ônibus, uma situação que eu nunca tinha imaginado.

Todo o trânsito fica bloqueado justamente porque nunca se sabe do que uma criança é capaz, indo ou voltando da escola.

Mesmo assim, muita gente não respeita e o pessoal está investindo em câmeras para registrar e dar multas pesadas para os motoristas (e motociclistas) que desobedecem a parada obrigatória:


Aqui no Brasil isso ainda não existe, mas as crianças se comportam da mesma maneira, inocentes e desligadas dos perigos do trânsito.

Fica a dica, não ultrapasse vans escolares paradas para descarregar (ops!) desembarcar ou apanhar crianças.

Ou então faça isso com o máximo de cuidado, já que nossas leis permitem — mas a prudência não recomenda.

Não pense somente na possibilidade de alguém descer da van, pense também nas crianças que poderão atravessar a rua correndo no sentido oposto surgidas do nada.

Você não terá visão de crianças do outro lado da van ou atrás de carros estacionados, e nunca terá ideia de onde aparecerá uma criança correndo — porque elas são ótimas em fazer isso.

E você ficará admirado com a rapidez com que elas atravessam a rua sem olhar...

Criança é um bichinho tão ágil que pensa que é capaz de atravessar correndo antes de um carro passar, só pela brincadeira.

Já vi muita criança indo para o hospital porque achou que seria divertido assustar o motorista...

Um abraço,

Jeff

domingo, 20 de agosto de 2017

Harleys e sua tendência mortal de sair fora de controle

Vídeo incrível flagrou uma Harley saindo fora de controle com o famoso "balanço da morte" (death wobble):

Vídeo: De autoria da família Hoff reproduzido na reportagem http://www.dailymail.co.uk/news/article-4657406/Shocking-video-shows-motorcyclist-losing-control-bike.html

Do nada a moto começa a oscilar de um lado para outro e acaba sofrendo uma queda feia. O piloto quebrou a cara no asfalto, aquela mania de não usar capacete integral... ou nenhum. Capacete coquinho é a mesma coisa que nada.

A família que gravou o vídeo conta que ele já havia quase perdido o controle da moto umas 6 vezes quando atingia uma determinada velocidade.

A harley-davidson há anos alega que não é culpa do projeto dela

Como sempre, para as fabricantes, a culpa é sempre do piloto.

Você pode me dizer o que o piloto fez nesse vídeo para ser culpado pela queda?

Nem eu.

Não há acessórios instalados naquela moto para serem usados como desculpa.

A moto viajava em velocidade muito próxima à dos carros, certamente não estava muito acima dos 100 km/h.

Mas o fato é que as motos fabricadas pela harley são famosas por acidentes desse tipo.
Imagem e reportagem: http://www.wftv.com/news/local/fhp-investigates-if-death-wobble-caused-troopers-motorcycle-crash/199766013

A polícia rodoviária da Califórnia barrou a compra de motos da harley por causa disso (vídeo mais abaixo e postagem antiga).

Motos zero km, diga-se de passagem.


Já que segundo a harley-davidson não é um defeito do projeto, então o que causa essa mania das Harleys?

Encontrei este vídeo de um mecânico que tem todo o jeitão de entender muito, muito mesmo de Harleys:


Segundo ele, o desalinhamento das rodas é o motivo de as Harleys terem essa mania de sair rebolando sem motivo aparente.

Ora, um desalinhamento das rodas ou do quadro não é coisa original de fábrica, correto?

Não é bem assim.

Supostamente os gabaritos de montagem devem garantir o alinhamento perfeito entre as peças, mas erros acontecem. Que o digam as primeiras dafra montadas no Brasil, que tinham o chassi muito mal soldado em Manaus...

É famosa a história de um carro nacional que saiu de fábrica com o lado esquerdo maior que o direito por erro de fabricação dos estampos de cada lado. Pena que agora eu não me lembre qual foi, e também não encontrei o caso na internet. 

E lembrando, os testes feitos pela polícia rodoviária da Califórnia, que barrou a compra de uma frota de Harleys, foram feitos com motos zero km...
 

De qualquer forma, você pode descobrir se é um problema original de fábrica ou não por conta própria.

O teste de alinhamento feito pelo Chuck é muito simples, só depende de duas réguas bem retas.

(E neste caso "régua" é qualquer tubo, cano, cantoneira, perfilado, etc. suficientemente reto e rígido para servir de referência.)

É algo que você proprietário de Harley pode e deve fazer, basta alinhar as réguas com o pneu traseiro e ver se há diferença em relação ao pneu dianteiro.

(Obviamente, o teste só tem sentido depois de comprovar que a roda traseira está corretamente alinhada na balança, as marcas de referência de um lado coincidindo com as do outro — isso é básico.)

O mecânico experiente afirma que isso é erro de reparador desqualificado, e não um problema original de fábrica. Pode ser. 

O torque de aperto excessivo da porca da roda traseira pode causar um pequeno desalinhamento das rodas.

Em uma moto longa como uma Harley, um pequeno desalinhamento vira um grande desalinhamento.

Mas eu suspeito que outra causa possível para esse problema seja aquele que os proprietários têm vergonha de admitir e nem comentam com os amigos:

O tombo besta com a moto.


Harleys são muito pesadas. 

Ao passar por um tombo besta, até mais besta que esse aí de cima, o enorme motor faz uma força tremenda sobre o chassi.

Minha suspeita é que isso possa ser o responsável por um grande desalinhamento do quadro.

Acontece até com o peso ridículo do motor de uma CG antiga — experiência própria de um amigo meu (que não sou eu ;).

A rigidez do quadro é proporcional ao peso da moto — a rigidez do chassi de uma Harley tem de suportar o enorme peso do motor projetado pela harley.

Mas boa parte do esforço dos engenheiros vai para a maior redução possível do peso para tornar a moto econômica (não só em consumo, mas principalmente nos custos de produção).

Se for negligenciada a conferência do alinhamento depois de um tombo besta, o proprietário se arrisca a passar por essa situação do balanço da morte.

Se minha hipótese for correta, podemos dizer que não se trata de falha do projeto? 

Um chassi "fraco" que não aguenta um tombo besta sem se deformar?

Bom, nenhuma moto é feita para cair. 

Harleys até são resistentes, mas o motor é realmente algo muito pesado, e cada tombo é um tombo diferente.

Então atribuir a culpa do problema à harley vai muito da opinião pessoal de cada um. A minha os leitores do blog já conhecem, então sou suspeito para falar... hehehe.... o fato é que os tombos com minha antiga CG entortavam o quadro, e tombos tão graves quanto com minha Kansas nunca o entortaram. O quadro da Kansas peca pela resistência à fadiga, mas não pela resistência à torção. 

A grande questão é:

Será que passa pela cabeça do proprietário de uma Harley que sofreu um tombo besta — e aparentemente não teve danos — levar a moto à concessionária para verificar o alinhamento do chassi e das rodas?

Tenho certeza que não. 

E mesmo que leve a moto à concessionária, será para trocar algum componente riscado ou danificado.

Será que passa pela cabeça dos mecânicos da concessionária harley fazer a verificação do alinhamento das rodas de uma moto que chegou para trocar um componente riscado ou danificado?

Sem dispor de um dispositivo medidor a laser? Tudo fica melhor com lasers, já dizia o Cardoso.

O macete ensinado pelo Chuck é macete de quem conhece... 

Então tenho minhas dúvidas se em todas as concessionárias encontraremos gente com essa percepção e capacidade de solucionar o problema.

Assim, minha sugestão é que você mesmo faça a medição verificação conforme ensinada pelo Chuck, seja sua moto original zero km nunca caída ou não.

Quem sabe o que mais a gente descobre?

E se descobrir, não deixe de avisar a gente!

You're welcome,

Jeff