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sexta-feira, 6 de março de 2020

Segundo flagra de moto (quase) ultrapassando pela direita

Acidente de moto na rodovia João Cereser onde o motociclista quase conseguiu ultrapassar pela direita (assista ao vídeo na página do uol):
Vídeo e reportagem: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/06/acidente-carro-moto-jundiai.htm

Ele deixou para desviar no último momento para ultrapassar pela direita, e fez isso no momento exato em que o motorista decidiu mudar de faixa.

Excesso de velocidade, não manter distância de segurança, (tentar) ultrapassar pela direita, encontrar um motorista que não espera que você esteja acima da velocidade máxima permitida.

Assim que acionou o freio, o piloto perdeu o controle da moto e teve a sorte de não ser atropelado nem matar ninguém.

Ao pilotar no limite, você coloca não apenas sua vida e sua moto em risco, mas também a vida e o veículo de outras pessoas que não têm nada a ver com a tua aventura.

O resultado é o que você vê no vídeo, outras consequências virão mais tarde.

Aprenda com o erro dos outros, dói menos e sai mais barato.

Mudando de assunto:

Curioso, parece ser uma moto laranja. 

Seria o proprietário de uma moto recém adquirida em péssima campanha promocional* tentando descobrir a velocidade máxima na estrada?
Imagem do vídeo: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/06/acidente-carro-moto-jundiai.htm

Não, seria coincidência demais.

Um abraço,

Jeff
* Está aparecendo anúncio deles até aqui no blog, não tenho controle sobre os anúncios postados pelo google, senão podava.

Flagra de moto (quase) ultrapassando pela direita

Reportagem em Joinville flagrou acidente com uma moto cometendo o mesmo erro que as bicicletas apresentado na postagem do último dia 4.

Veja o vídeo do acidente no site do g1 (a partir dos 2:50):
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/03/05/camera-flagra-acidente-entre-motociclista-e-caminhonete-em-joinville-video.ghtml

Não importa se o motorista deu seta ou não, isso não vai consertar o tanque da sua moto nem o amassado da sua perna, não adianta reclamar.

É aquele caso das bicicletas, nenhum motorista espera uma ultrapassagem por uma magrela naquele lugar.

Principalmeeeeeente, não vai amenizar a dor do orgulho ferido e da coluna lombar. E da almofada bumbar.

Não vai servir de desculpa para não pagar a pintura da lateral do carro, se riscar.

Ultrapassagens pela direita são proibidas, não tem o que mimimizar.

Se a moto estivesse ultrapassando pela esquerda, o motociclista não teria dado azar. Óbvio, né? Nem precisava explicar.

E se no próximo cruzamento a picape fosse virar à esquerda, teria menor chance de pegar a moto porque ela estaria visível no espelho e o motorista teria ouvido ela roncar.

Um abraço, e bom fim de semana pra passear, se a chuva passar,

Jeff
PS: Semana que vem poucas postagens irei publicar.

terça-feira, 3 de março de 2020

As aparências podem enganar

Notícia publicada no G1 semana passada:
O vídeo mostra o caminhão totalmente na contramão:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

O vídeo finaliza com a frase "As causas do acidente ainda serão investigadas". 

Ao ver a cena você não se conforma e junto com todo mundo grita "caminhão na contramão, o motorista é culpado, lincha, lincha!" — e o perigo nessa hora é o pessoal se empolgar e cometer uma tremenda injustiça.

Será mesmo que o acidente aconteceu por causa do motorista do caminhão?

O que você nota ao ver a moto envolvida no acidente?
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

Frente totalmente destruída e roda traseira quebrada, certo?

Ora, a frente foi destruída no impacto com o caminhão, mas e a roda traseira?

A roda traseira não bateu contra o caminhão, nada ao redor dela bateu — o escapamento está inteiro, a rabeta está inteira.

Todo o lado posterior da moto está bem preservado, então me parece pouco provável que essa roda tenha se quebrado durante a batida. Pode até ser, mas...
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

A roda se quebrou no aro e também no raio, que mostra uma fratura do tipo frágil (instantânea e não por fadiga) em um local determinado — a roda não foi prensada entre a rabeta e o asfalto, senão ela estaria ovalizada.

Esse é um forte indício de uma pancada muito intensa e localizada — como o impacto contra a quina de um buraco profundo.

Buracos profundos costumam aparecer nas estradas em época de chuvas — estamos passando por uma temporada chuvosa sem precedentes e chovia no momento do acidente.

Buracos ficam cobertos de água suja e não permitem avaliar sua profundidade: o que parece uma poça inofensiva pode ser uma tremenda armadilha para motos.

Um cenário possível seria este (mas somente uma investigação do local e testemunhas poderão confirmar se esta suposição está correta):

Com a roda quebrada, o motociclista teria perdido o controle e a motocicleta começou a dançar na pista.

A moto teria desviado primeiro para a pista oposta, o motorista tentou desviar jogando o caminhão para a contramão, mas a moto sem controle inverteu a trajetória e aconteceu a colisão.

Invadir a contramão e retornar cruzando a pista, fazendo um S, é um comportamento típico de veículos desgovernados, como pode ser visto pelas marcas dos pneus de um carro que vinha na mão correta, perdeu o controle e capotou no acostamento:
Imagem e reportagem: https://planetafolha.com.br/11/01/2020/livramento-em-rolim-de-moura-familia-em-moto-escapa-da-morte-apos-carro-desgovernado-capotar-a-poucos-metros-de-distancia-na-ro-479/

Não se pode descartar que algo parecido tenha acontecido com a moto, por isso que as causas precisam ser investigadas.

Pessoalmente, sempre achei esse tipo de roda extremamente frágil para encarar nossas estradas esburacadas — até fiz uma postagem sobre isso em 2014.

É uma roda projetada para uso urbano, onde via de regra o asfalto é melhor conservado — pelo menos no Japão, onde a moto foi concebida — e as velocidades costumam ser mais baixas.

Naquela última viagem para Floripa em que o buraco na BR-116 quebrou o para-lama traseiro da Jezebel, a primeira coisa que fiz foi inspecionar as rodas — felizmente, a quina pegou na direção do raio e a roda aguentou o tranco.

Se tivesse batido na área entre os raios, o flange teria sido amassado, isso já aconteceu antes, mas uma vantagem da Kansas é usar câmara de ar, então o pneu não esvazia de repente.

Além disso, sua roda traseira é aro 16 polegadas (406 mm), então o espaçamento entre os centros dos raios é menor (255 mm).

Já o aro da suzuki Yes é de 18 polegadas (457 mm), por isso o espaçamento entre os centros dos raios é maior (287 mm).

Principalmente, a área da união entre raio e aro é menor na Yes, o que aumenta proporcionalmente o espaço vazio entre os raios — e quanto maior essa distância sem reforço, maior a fragilidade do aro:
Imagem: Roda traseira de Kansas (esquerda) e Yes (direita)

Na Yes, os raios são mais finos e vazados, e sua posição não ajuda a aceitar impactos — o raio da Kansas está na direção da compressão da pancada, enquanto o raio da Yes está na direção de dobramento, o que facilita sua quebra.

Pode ser um projeto bom para estradas do Japão e primeiro mundo, mas não é um projeto para as estradas do Brasil.

Em minha opinião, a roda traseira se quebrou ao passar por um buraco e causou a tragédia, mas sempre posso estar enganado. Todos nós sempre podemos estar enganados sobre tudo.

Então, tome consciência de que a primeira impressão de um acidente pode ser totalmente enganosa e não se precipite em acusar "culpados".

É para isso que servem as investigações.

Um abraço,

Jeff

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Para que servem aquelas faixas brancas no cruzamento?

Flagrante de acidente ocorrido em cruzamento sinalizado, desta vez foi a moto que não parou para cruzar a preferencial.

Mas como saber que você não está na preferencial?

Bom, além das placas de sinalização, em alguns cruzamentos existem faixas brancas indicando que a preferencial não é sua.

Elas servem para indicar que a outra rua é preferencial, quem encontra essa faixa deve parar ou reduzir significativamente a velocidade antes de cruzar a faixa.

Você vê as mesmas faixas brancas no acidente comentado na postagem do dia 26, onde o carro não parou: 
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2020/02/22/motociclista-e-arremessada-apos-ser-atingida-por-carro-dirigido-por-adolescente-em-maringa-video.ghtml

Nesta foto, o triângulo pintado no chão indica que o carro deveria ter reduzido a velocidade e parado antes da faixa branca para permitir a passagem da moto na preferencial — se tivesse visto a moto.

E na imagem da postagem de hoje não há triângulo, mas a faixa indica que o motociclista deveria ter respeitado a preferencial.


Veja o cruzamento deste acidente em uma imagem do google Maps antes de pintarem as faixas com a preferencial claramente sinalizada por placas de PARE:
Imagem: Google Maps

Pelas imagens da reportagem, não dá para saber se as placas de PARE foram eliminadas depois da pintura das faixas.


Se foram, é um erro, porque quase ninguém sabe interpretar faixas brancas pintadas nos cruzamentos como indicação de preferencial à frente, ninguém presta atenção nelas.

As faixas brancas que separam faixas também têm um significado importante — nas proximidades de semáforos, as sinalizações brancas tracejadas de separação de faixas sempre se tornam contínuas:
Imagem: Google Maps
Faixas brancas tracejadas indicam permissão para mudar de faixa, enquanto faixas brancas contínuas indicam proibição de mudança de faixa.

E claro, faixas amarelas indicam separação de faixas de sentido contrário — se forem tracejadas, as ultrapassagens são permitidas; e se forem contínuas, nem pense em ultrapassar.

Mas pra quê servem as sinalizações brancas contínuas de separação de faixas apenas nas proximidades dos semáforos?

O motivo mais importante para nós, motociclistas, é evitar que os carros mudem de faixa de repente sem olhar os espelhos e acabem derrubando o pessoal das duas rodas.

Bah, não funciona. Ninguém está nem aí para as faixas no solo, por isso que muitas delas recebem tachões que só servem para derrubar as motos.

Se o pessoal se ligasse na sinalização pintada no asfalto, as faixas evitariam muitos acidentes.

Mas como pouquíssima gente se liga, a solução é você ficar antenado de que não irão ver ou respeitar a moto — pilote sempre preparado para reagir na hora do sufoco.

Agora que você está ligado no significado das faixas, não as desrespeite — e tenha a certeza de que outros motoristas e motociclistas não irão respeitá-las. 

Acredite: 

De moto, você passará sufoco no trânsito todos os dias, várias vezes ao dia.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Já sabe a causa, né?

Acidente ocorrido em Franca com moto na preferencial e carro entrando na frente — o que aconteceu?
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/02/24/motociclista-e-arremessado-por-cima-do-carro-apos-colisao-em-franca-veja-video.ghtml

Primeira coisa, a moto está se aproximando rapidamente pelo lado esquerdo do carro — uma possiblidade é que o motorista tenha entrado na frente porque a moto ficou oculta pela coluna dianteira direita, como vimos na postagem de ontem.

Mas vamos conferir o local do acidente no google Maps pela visão do motociclista. 

Felizmente temos um carro fazendo a mesma manobra do vídeo, o que ajuda a explicar:
Imagem: Google Maps

Notou outra coisa?

Há um poste na ilha central — nesse ângulo, com o motorista um pouco mais atrás, um poste consegue encobrir totalmente uma moto se aproximando.

Então o que acredito que aconteceu foi o seguinte:

No primeiro momento com a moto ainda longe, o poste ficou alinhado com a moto e impediu a visão da motocicleta.

Saca só a visão do motorista:

Imagem: Google Maps

Quando a moto estava mais próxima, o motorista já tinha visto que não vinha ninguém e estava mais preocupado em olhar para a frente.

Nesse momento, o carro já estava posicionado com a coluna dianteira direita encobrindo a motocicleta e o motorista não teve condição de perceber a moto pelo canto do olho.

O motorista se preocupou apenas em fazer a conversão e entrou na frente da moto.

A reconstituição seria perfeita se ambos os carros estivessem posicionados exatamente como os veículos do acidente, e se o carro de filmagem do google se movesse na mesma velocidade que a moto... mas ele sempre se move abaixo da velocidade máxima permitida.

Como o motociclista poderia ter evitado esse acidente?

Prevendo que isso poderia acontecer porque os motoristas têm dificuldade para ver objetos pequenos se aproximando em alta velocidade como as motos.

Além de desaparecer contra a paisagem de fundo, a moto pode ficar oculta por causa de postes, árvores e da coluna dianteira do carro.

O piloto da moto poderia ter se preparado para a situação reduzindo a velocidade e traçando uma estratégia para evitar a colisão — desviando do carro ou se preparando para entrar na rua lateral, se necessário.

O motociclista acidentado não sabia disso, mas você que acompanha o blog sabe e não cairá nessa armadilha.

Não precisa agradecer, apenas repasso o que aprendi:

Compartilhar conhecimento é o que nos torna humanos, ajudar uns aos outros é o que nos torna motociclistas.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A preferencial nunca é da moto

Mais um bom exemplo para ilustrar porque você nunca deve pensar que sua moto terá a preferencial respeitada:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2020/02/22/motociclista-e-arremessada-apos-ser-atingida-por-carro-dirigido-por-adolescente-em-maringa-video.ghtml

Não são só os adolescentes sem habilitação que desrespeitam a preferencial.

A maioria dos motoristas (e motociclistas) não se liga nesse detalhe em ruas tranquilas de bairro, vejo isso todos os dias nos cruzamentos aqui perto de casa.

Além de não estarem atentos a motocicletas, qualquer motorista pode deixar de ver uma moto nos cruzamentos porque ela pode ficar oculta atrás da coluna dianteira do carro.

Esse tipo de acidente é mais comum exatamente em situações como esta — com o carro do lado esquerdo da motocicleta.

Nessa direção, a coluna dianteira direita encobre uma área maior da visão do motorista.

Já a coluna do lado esquerdo encobre uma área menor e o motorista pode perceber melhor o som da motocicleta se aproximando, mas ainda assim existe o risco de você passar batido. Literalmente.
O motorista, quando muito, dá uma olhada rápida para ver se não vem outro carro, então ele só olha na sua direção por um breve instante.

Se coincidir de ele dar essa olhada no momento em que você e sua moto estão encobertos pela coluna, já era. Pior que geralmente é o que acontece.

No instante em que a moto aparece na frente do carro, o motorista não tem tempo de parar, não dá tempo nem de pisar no freio — e o motociclista nem imagina que uma coisa tão inesperada possa ocorrer.

Essa ocultação está relacionada à distância entre os veículos em cada faixa de rolamento, ao ângulo de visualização, e à posição e distância entre o motorista e cada coluna dianteira.  

Então, a melhor coisa a fazer é sempre encarar os cruzamentos já contando que você e sua moto não serão vistos e que nunca irão respeitar sua preferencial.

Mesmo na preferencial, sempre diminua a velocidade e olhe duas vezes para cada lado antes de iniciar a travessia — um primeiro olhar pode não perceber um carro ou outra moto se aproximando em alta velocidade.

Se você atravessa na inocência achando que ninguém vai desrespeitar sua preferencial, na hora em que você percebe que o carro (ou a outra moto) não vai parar, já não dá tempo de fazer mais nada — só limpar o capô e beijar o asfalto.

Mas se você chegar ao cruzamento preparado para essa possibilidade, já com os dedos no freio dianteiro e o pé pronto para atuar o freio traseiro, você não será pego de surpresa e conseguirá evitar a colisão — esse cuidado simples já me livrou de incontáveis acidentes.

Só tome cuidado para não reduzir a velocidade bruscamente se houver um carro ou outra moto muito perto atrás de você — eles não estarão esperando que você reduza ou pare de repente e não terão tempo de reagir.

Além disso, a moto tem a capacidade de reduzir bastante a velocidade só com o freio-motor, e o freio-motor não aciona a luz de freio.

De repente você evita a batida no cruzamento, mas é derrubado por quem vem atrás... Não bom.

Nessa situação, se você precisar parar totalmente, mantenha-se em uma posição que permita a passagem livre do fominha que vem atrás de você.

Evite ser atropelado no cruzamento, deixe o fominha passar te xingando e assista de camarote a batida dele com o sujeito que não respeita a preferencial.

E, se ninguém se feriu a ponto de precisar de socorro, se mande de lá antes que os dois comecem a discutir quem irá pagar o prejuízo...  

Nessas discussões, sempre pode sobrar uma bala perdida para quem não tem nada a ver com a encrenca.

Um abraço,

Jeff

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Cruzamentos em ladeiras

Outro acidente com reportagem 'muito informativa' do G1: "As causas do acidente não foram divulgadas."
Imagem e reportagem: G1

Como não sou o G1, eu arrisco dizer a causa do acidente fazendo uma análise simples do local e das imagens.

Este é o cruzamento da avenida Getúlio Vargas com a rua Antenor Navarro na cidade de Campina Grande, Paraíba:
Imagem: Google Maps

O motociclista estava na Antenor Navarro, a rua onde a imagem foi feita, e colidiu contra a lateral do ônibus que descia a Getúlio Vargas. 

É um cruzamento com semáforos, portanto alguém atravessou o vermelho — e sendo o local um cruzamento em uma ladeira onde a avenida é preferencial, posso afirmar com 95% de certeza que o ônibus atravessou o farol no vermelho.

Então o motorista do ônibus é 100% culpado, ponto final?

Não, e explico o porquê.

A Getúlio Vargas é uma ladeira e quem vem pela Antenor Navarro não tem visão de quem está descendo a ladeira (lado esquerdo da foto).

Ônibus (e caminhões) são veículos pesados e não conseguem parar rapidamente — ainda mais descendo uma ladeira.

Frear bruscamente um ônibus pode derrubar os passageiros, uma situação que o motorista inconscientemente irá evitar.

Então, ao ver o semáforo fechando para ele, com o ônibus em uma ladeira, os motoristas (todos os motoristas) fazem um cálculo de probabilidades e escolhem a opção mais razoável para eles, que geralmente é seguir em frente:

Passar no amarelo ou logo depois de o sinal ficar vermelho não irá causar um acidente porque os carros estão parados e irão demorar alguns segundos para começar a atravessar o cruzamento, e ninguém em baixa velocidade vai entrar na frente ou na lateral de um ônibus...

Só que esse cálculo não considera motos

Motos são ágeis.

Motos aceleram rápido, conseguem arrancar rapidamente muitas vezes ainda antes de o sinal ficar verde, cortam entre os carros parados com rapidez, e os motociclistas também fazem o seu próprio cálculo de probabilidades:

Ninguém vai passar no vermelho, todos os carros irão começar a parar assim que o sinal ficar amarelo.

Só que esse cálculo não considera ônibus. 

Ônibus (e caminhões) são pesados e difíceis de parar.

Muitas vezes estão rodando com freios desgastados ou com carga acima da máxima recomendada, o que piora ainda mais a situação.

E o resultado são acidentes como este.

Para não cair nesse tipo de armadilha, sempre verifique se realmente todo mundo parou, ou vai conseguir parar, antes de atravessar o cruzamento — ainda mais se a outra via for uma ladeira.

Não caia na armadilha do "não vou reduzir para não perder o embalo". 

Como disse, tenho 95% de certeza de ter acontecido isto, desrespeito à sinalização, porque é assim que a maioria dos acidentes em cruzamentos acontecem — independente de serem em ladeiras ou locais planos.

Os outros 5% são causados por falhas na própria sinalização.

Mas no caso dos ônibus e caminhões em ladeiras, há uma tendência para esse tipo de ocorrência por conta da dinâmica da condução desse tipo de veículo, ele induz os motoristas a esse comportamento potencialmente fatal para nós, motociclistas.

Então a solução é nunca confiar que a preferência seja sua, mesmo que o semáforo esteja verde para você e sua moto.

E tem também as colisões de moto contra moto.

Mas esse é um assunto para outra postagem.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O acidente da T-9

No dia em que o blog voltou a ser publicado, ocorreu um acidente trágico em Goiânia que eu creio que valerá a pena entender como aconteceu para que ajude a evitar que ocorra com outros motociclistas:


Reportagem: https://g1.globo.com/go/goias/transito/noticia/2020/02/11/motociclista-morre-apos-acidente-de-transito-no-setor-bueno-em-goiania.ghtml

Segundo a reportagem do G1, a moto bateu contra a traseira de um carro que parou para um pedestre passar, apesar de o semáforo estar aberto para carros e motos.

E numa atitude rara, as autoridades de trânsito admitiram que o acidente pode ter sido causado pela sinalização confusa no local, com duas faixas de pedestres em um intervalo de 10 metros.

Na verdade, a situação é ainda pior, são três faixas de pedestres em menos de 50 metros:


Imagem: Google Maps

A primeira faixa fica antes do cruzamento da avenida T-9 com a rua T-30, e o semáforo fica posicionado lá na frente, depois do cruzamento e da segunda faixa.

Essas duas faixas têm semáforos para pedestres sincronizados com o semáforo principal do cruzamento.

A terceira faixa, aquela que não deveria existir, está 10 metros à frente, não possui semáforo para pedestres, e foi onde ocorreu o acidente.

Por que ela está lá? 

Para atender ao fluxo relativamente grande de pessoas que se dirige à emissora de TV e se recusa a caminhar 10 metros a mais para atravessar a avenida na faixa do cruzamento porque... pedestres são e continuarão sendo pedestres.

Foi nessa faixa redundante que a motorista parou para a passagem de alguém.

Culpada a motorista?

Não. 

O pedestre pode ter atravessado distraído, podia estar falando ao celular (muito comum), pode ter ameaçado atravessar correndo para bater cartão, pegar o ônibus... há mil motivos para a motorista decidir parar o carro naquela faixa de segurança.

O principal motivo: 

Motoristas (e motociclistas) são obrigados a respeitar a faixa de pedestres.

Quem atropela alguém na faixa acaba arcando com a indenização por danos físicos e morais com agravante de não prestar a devida atenção à sinalização local — e também acaba arcando com o pagamento dos honorários do advogado da vítima.

Seria diferente se o pedestre estivesse fora da faixa — nessa situação, mesmo que a moto estivesse andando no corredor com o trânsito parado, o pedestre seria responsabilizado por contrariar o artigo 69 do Código de Trânsito Brasileiro: culpa exclusiva da vítima. Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=ATROPELAMENTO+DE+PEDESTRE+NA+TRAVESSIA+DE+FAIXA

Mas note que a vítima somente seria responsabilizada se a moto estivesse em velocidade compatível com as condições no momento — passar que nem doido pelo corredor cai naquela área cinzenta e aí a sentença dependerá da interpretação do juiz, muito possivelmente o motociclista será responsabilizado.

Como o acidente da T-9 poderia ter sido evitado?

Três fatores, o primeiro e o principal deles:

1) Foco na pilotagem. Foco exclusivamente na pilotagem.

Testemunhas afirmam que o motociclista cumprimentou outro motoboy no cruzamento.

Essa distração por uma fração de segundo ao buzinar para um amigo fez toda a diferença.

O que poderia ter ficado somente em uma freada brusca, uma desviada de emergência, eventualmente até uma colisão leve, acabou resultando em um acidente fatal — totalmente evitável se o foco do piloto estivesse voltado exclusivamente para o trânsito.

Já postei este vídeo em uma postagem antiga, mas ele ilustra tão bem um acidente deste tipo que vou repeti-lo aqui, olhada lateral e acidente aos 1:13:

Esse acidente do vídeo só não foi fatal porque a motinha não estava na mesma velocidade que aquela outra que fez a ultrapassagem logo antes do acidente.

Então aí entra o segundo fator que poderia ter salvado uma vida:

2) Manter-se dentro de limites de velocidade razoáveis. 

Para quem trabalha com a moto, não há caixinha extra que compense um único acidente, não se mate para fazer mais uma ou duas entregas por dia, o risco não compensa. 

E não tenho a informação, mas um terceiro fator pode (ou não) ter influenciado o desfecho do acidente da T-9:

3) Capacete firmemente afivelado.

Motoboys costumam rodar com o capacete desafivelado ou frouxo para facilitar o trabalho — desafivelar e prender novamente o capacete rouba alguns segundos a cada entrega...

Mas o capacete é a última barreira entre seu cérebro e o asfalto ou a traseira de um carro — na hora do acidente, o capacete mal afivelado é a primeira coisa que voa e não dá tempo de fazer mais nada. 

Capacete voou, você já era.

Então sempre considere esses 3 pontos quando for sair com sua moto, seja a trabalho, seja a passeio. 

Um abraço aos leitores, e meus sentimentos à família do motociclista de Goiânia,

Jeff

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Meu pior tombo e a importância de usar equipamentos de proteção

Bom, agora a parte que todo mundo estava esperando, o tombão.

Felizmente uma câmera no local flagrou o momento em que fui ao chão:

Na hora em que a roda desgarrou, não deu tempo de pensar em mais nada, e enquanto eu via as pedrinhas rolando na viseira do capacete, meus pensamentos foram apenas dois.

Felizmente, um gravador no local registrou meus pensamentos:

NÃO!!!! NÃO!!!!.... que legal, o capacete está funcionando!

O local do acidente foi este aqui, na Serra do Ribeira:
Essa estrada corta o parque até a cidade de Apiaí, onde começa o Rastro da Serpente.

O estrago na Jezebel foi este:

Para-lama quebrado (agora o dianteiro, o traseiro já tinha sido remendado com arame na mesma viagem), os dois espelhos, os dois piscas do lado direito ficaram pendurados e acabaram caindo pelo caminho, os alforjes rasgaram na emenda, o cabo do velocímetro se soltou na pancada com a placa... 

E falando na placa, ela foi a grande heroína do dia:
Não dá para ver direito na foto, mas depois dela tem um abismo.

Se não fosse a placa, Jezebel teria deslizado para o abismo, um tombo de uns 100 metros, pelo menos.

Com a escapada da roda, ela desviou para a direita e bateu contra a placa, enquanto eu deslizei junto, mas do lado da estrada — o maior risco que corri foi ser atropelado por uma onça, porque na estrada não passava ninguém.

Não passava ninguém e eu preso embaixo da moto, sem conseguir sair.

Quase quebrei as costelas, a primeira coisa que fiz foi avaliar se tinha quebrado ou não — a segunda foi desligar o corta-corrente com o pé livre, o outro preso embaixo da moto.

Cabeça fria nessa hora: 

Se eu me levantasse afobado, uma costela quebrada poderia se deslocar e perfurar o pulmão, e aí eu estaria no mato sem cachorro. Só onças.

Depois de apalpar e ter certeza de que as costelas não estavam quebradas, mas poderiam estar trincadas (porque a dor era muito forte), começou a luta para sair de debaixo da moto vazando combustível... tudo era urgente e eu não conseguia fazer nada com rapidez.

E por que eu não conseguia me levantar?

Porque o pé livre não conseguia fazer força... eu estava usando botinas desse tipo aí embaixo (não eram da mesma marca, mas o modelo é parecido):
Bonitinhas e baratinhas, mas com um sério problema se você for viajar em uma estrada com onças:

No tombo, a bota deslizou no pé e ficou no meio do caminho, não entrava nem saía do pé.

Deitado eu não conseguia calçar de novo porque ela entra muito justa, nem tinha como tirar de vez porque não tinha ponto de apoio e a dor nas costelas impedia de me sentar ou fazer força.

Felizmente os outros equipamentos funcionaram bem.

O capacete robocop aguentou a pancada e protegeu muito bem o meu rosto. 

Eu sempre achei que a queixeira seria arrancada no caso de um tombo — e também sempre achei que nunca iria cair — mas de moto, nunca pense em nunca acontecer um acidente, use sempre os equipamentos de proteção.
E a queixeira realmente quase foi arrancada durante a queda. 

Ela quebrou na articulação — se eu estivesse uns 10 km/h mais rápido, a outra articulação sozinha não teria aguentado, a queixeira seria arrancada e eu certamente teria me machucado.

Moral da história: 

Capacete robocop nunca mais, o conforto não compensa o risco.

Quem também se portou muito bem foi a jaqueta de couro, fez o trabalho dela com perfeição e ganhamos estes registros de batalha que nos enchem de orgulho:
E o que causou tudo isso?

Acredite se puder, aquelas pedrinhas ridículas que resolveram se soltar na nossa frente — e o uso de medicação contra dores que prejudica nossa capacidade de julgamento e reação.

Desviando de um buraco, ficamos muito perto da lateral suja da estrada, e não deu tempo de fazer mais nada, só ir pro chão colecionar mais uma história.

Aquelas pedrinhas ridículas no canto direito da foto — Jezebel está na contramão, virada em direção da subida para não cair do cavalete, a serra é íngreme e em descida nesse trecho.
Depois que consegui sair e me levantar, e com dificuldade e muita dor calçar novamente a bota, aí do nada apareceram dois carros e em seguida mais um.

O pessoal dos dois carros me ajudou a colocar a moto em pé e o pessoal do mais um se mandou.

Foram os primeiros que bateram estas fotos, menos a do tombo e a vista da serra, e me ajudaram a prender os alforjes caídos em cima da moto com os elásticos que eu sempre carrego.

Eles que perceberam que eu e a Jezebel quase tínhamos caído no abismo.

Duas semanas antes, um motociclista e sua moto caíram em outra barroca da mesma estrada e só foi resgatado porque ficou horas chacoalhando uma árvorezinha comprida e um motorista desconfiou que aquilo não era coisa de macaco.

Depois de ter certeza de que eu conseguiria subir de novo na moto e ligar o motor, e eu dizer que estava tudo bem, eles foram embora, gente boa — até endireitaram a placa para que ela continuasse avisando o pessoal sobre a curva logo à frente. E quem sabe segurar alguma outra moto...

Depois de alguns dias me enviaram as fotos porque eu havia passado meu email atual ainda não hackeado e já estava pensando na postagem que iria estrear de novo o blog...

Eu disse que estava tudo bem, mas não estava não.

A dor era muita, agora na coluna e também nas costelas. Costelas dóem pacas.

Subi na moto e percebi que não havia removido o cabo do velocímetro que estava arrastando no chão.

Descer e subir de novo com a dor que eu estava? Nã nã nã. 

Pisei no cabo e acelerei a moto, ele ficou por lá mesmo, consciência pesada de poluir a natureza, mas era questão de sobrevivência.

Agora eu iria mesmo chegar a Apiaiaiai com a noite caindo, não tinha como ir ligeiro, cada buraquinho e pedregulhozinho da estrada eram motivo de dor intensa... eu não podia escorregar nas poças de lama, eu tinha de chegar rápido até o hospital e bater uma radiografia naquelas costelas.

Mas nessas horas tudo ajuda, e do nada no meio de lugar nenhum surgiu uma onça um filho de cadela que começou a me seguir e avançar contra o pé que eu não podia dar uma bicuda por causa da dor. Espaço reservado para protestos de defensores de animais que não pilotam motocicleta.

O totó não desistia e eu não tinha como fugir dele, até que tive a ideia de acionar a embreagem e acelerar ao máximo. Jezebel não é veloz, mas sabe como fazer um barulhinho bom.

Cheguei no hospital e uma enfermeira percebeu que eu não estava visitando um parente, então me ajudou a descer da moto. 

Atendimento preferencial para idosos estropiados, radiografias tiradas, costelas inteiras, pensei que ia receber um colete de gesso ou pelo menos um enfaixamento para diminuir as dores.

Costela não pode enfaixar. Pelo menos, não no meu caso. Ia ter de conviver com a dor. Um mês inteiro de dor, acordando a toda hora por causa da dor.

E aí, medicado contra dores de novo, vem a questão: o quequeu faço?

Eu TINHA de ir até Floripa para receber meu pagamento, ou não teria como voltar para casa.

A noite de quinta-feira eu passei no hotel emendando as duas metades dos alforjes com laça-gatos, felizmente eu tinha levado uma dúzia deles. Furava o couro corvim com a chave de fenda e suturava com os laça-gatos.

O conserto ficou tão bom que eles estão lá até hoje. Emendados e remendados pela segunda vez. 

Chegou a madrugada, hora de dormir, hora dos caminhões que levam madeira para as padarias e pizzarias começarem a subir a ladeira em frente ao hotel. Noite inteira sem dormir, e com dor.

Sexta-feira pela manhã, éramos os primeiros na loja/oficina de motos de Apiaiaiai.

Peripécias para conseguir que minha filha fizesse o pagamento do conserto sem poder falar diretamente com ela, tipo email sem fio via balconista da loja.

No final da história, consertos realizados, Jezebel ganhou um para-lama amarelo que odeio até hoje e tive de comprar o único capacete que entrou muito apertado na minha cabeçona gorda.

Fomos os primeiros a entrar na oficina e só saímos quando perdi a paciência às três da tarde e fui buscar a moto lá dentro da oficina, eu precisava chegar até Floripa ainda naquela noite porque tinha o compromisso de me encontrar com minha amiga e fonte pagadora no dia seguinte.

Estavam esquentando o motor para lavar a moto. Pois é, não pergunte. Não tem explicação.

Chegamos em Curitiba já estava anoitecendo e ainda tínhamos 300 km pela frente, com dores, cansado e com problemas para digerir aquela maldita coxinha de beira de estrada.

O cansaço era tanto que diminuí o ritmo para poder ficar atrás de um caminhão cheio de luzes sem ter de decidir o que fazer, apenas não perder as luzinhas de vista.

Depois de uns 50 km o motorista desconfiou da moto que o seguia e parou no acostamento, acabei parando junto, foi uma luta conseguir sair dali.

Chegando em Palhoça, rodei a cidade inteira várias vezes procurando o hotel que eu conhecia o caminho de cor.

Mas de noite e tão cansado, eu não sabia mais para que lado estava a serra e para que lado estava o mar, e de madrugada não tinha para quem perguntar.

E ainda por cima, sob os efeitos desesperadores da coxinha de Curitiba.

Acabamos morrendo em um motel na BR-116 ops, BR-101 lá pelas 6 da manhã onde pude tomar um banho. E lavar as roupas — coxinha em Curitiba, nunca mais. 

Jezebel ficou na garagem (não passava pela porta da suíte) e o motel tinha um degrau daqueles que você não vê e fui para o chão, onde fiquei me perguntando why, God, why?

Mas no final final deu tudo certo, até recuperei o blog um ano depois, e estamos aqui para contar a história.

É como diz a camiseta que eu usei na viagem:
Continue rodando, nunca desista

"Ué, falou tanto, mas cadê a jaqueta?"

Motivos religiosos.

Minha religião não permite usar jaqueta em trajetos inferiores a 5 km. Se eu cair de casa até a padoca, eu fiz por merecer.

Aproveito para mandar um forte abraço aos meus amigos Daniel e Meri que bateram as fotos e me deram sustança enquanto estive por lá, e agradeço aos leitores pela paciência de ouvir até aqui,

Jeff & Jezebel