Reportagem em Joinville flagrou acidente com uma moto cometendo o mesmo erro que as bicicletas apresentado na postagem do último dia 4.
Veja o vídeo do acidente no site do g1 (a partir dos 2:50):
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/03/05/camera-flagra-acidente-entre-motociclista-e-caminhonete-em-joinville-video.ghtml
Não importa se o motorista deu seta ou não, isso não vai consertar o tanque da sua moto nem o amassado da sua perna, não adianta reclamar.
É aquele caso das bicicletas, nenhum motorista espera uma ultrapassagem por uma magrela naquele lugar.
Principalmeeeeeente, não vai amenizar a dor do orgulho ferido e da coluna lombar. E da almofada bumbar.
Não vai servir de desculpa para não pagar a pintura da lateral do carro, se riscar.
Ultrapassagens pela direita são proibidas, não tem o que mimimizar.
Se a moto estivesse ultrapassando pela esquerda, o motociclista não teria dado azar. Óbvio, né? Nem precisava explicar.
E se no próximo cruzamento a picape fosse virar à esquerda, teria menor chance de pegar a moto porque ela estaria visível no espelho e o motorista teria ouvido ela roncar.
Um abraço, e bom fim de semana pra passear, se a chuva passar,
Jeff
PS: Semana que vem poucas postagens irei publicar.
Mostrando postagens com marcador Armadilhas do trânsito. Mostrar todas as postagens
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sexta-feira, 6 de março de 2020
quinta-feira, 5 de março de 2020
Discussões no trânsito
Reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/03/04/motociclista-e-baleado-na-cabeca-apos-briga-de-transito-em-ms.ghtml
Discussão no trânsito é uma situação que todo mundo corre o risco de enfrentar.
Um bate-boca pode começar mesmo sem o motociclista ou o motorista terem feito nada de errado, basta um deles achar que o outro fez.
E muitas vezes, pode começar porque um dos condutores está alcoolizado.
Imagem e reportagem: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/online/motorista-de-picape-colide-em-moto-apos-perseguicao-em-briga-de-transito-1.2190814
Discutir com bêbado é enxugar gelo... o resultado pode ser muito ruim para o motociclista.
Para começar uma briga, não precisa nem ter havido uma colisão — ela pode começar só porque um dos lados achou que o outro chegou perto demais do seu carro ou da sua moto.
O motorista não precisa estar armado com um revólver — só o carro já é suficiente para causar ferimentos graves:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2019/12/09/motociclista-vai-a-policia-e-diz-que-foi-atropelado-de-proposito-apos-briga-de-transito-em-ribeirao-preto.ghtml
Ou mesmo matar:
Vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/jornal-da-eptv-2edicao/videos/t/edicoes/v/apos-discussao-motorista-joga-kombi-contra-motociclista-que-morreu-atropelado/8069608/
Então, bote uma coisa na cabeça:
Por mais que você tenha razão (ou pense ter razão), não entre em brigas de trânsito — o motociclista só tem a perder.
Tentar convencer um idiota de que ele é um idiota não te leva a lugar nenhum; isso pode te colocar na mira de um idiota armado com um taurus 38 ou pior, um fiat 147 — o cara não tem nada a perder, você tem a sua vida.
Já vi um ogro sacar uma arma porque fez uma conversão na contramão, quase bater o carro e achar que tinha razão — e ele não tinha bebido, era só burro mesmo.
Então não faça manobras arriscadas que possam ser interpretadas como motivo para briga.
O atropelamento do vídeo de Ribeirão Preto aconteceu porque o motorista não gostou de ser ultrapassado pela direita e supostamente/possivelmente foi fechado pelo motociclista em um cruzamento.
Ultrapassagens em cruzamentos são proibidas por qualquer lado, porque criam situações de risco.
Certamente o motivo da discussão do atropelamento pela kombi foi algo nessa linha, um dos dois se sentiu ameaçado por uma fechada e foi tomar satisfação.
Infelizmente, nunca saberemos o que realmente ocorreu — a versão do motociclista morreu com ele.
Em uma discussão, o maior risco para nós, motociclistas, é o de sermos perseguidos e atropelados por um "justiceiro" irracional que pensa que uma fechada no trânsito ou um xingamento impensado — muitas vezes merecido — justifica uma sentença de morte.
Está cheio de ogros por aí, armados com carros e pistolas, então tente não se envolver em situações que despertem sua ira.
Não dê chance ao azar.
Um abraço,
Jeff
Discussão no trânsito é uma situação que todo mundo corre o risco de enfrentar.
Um bate-boca pode começar mesmo sem o motociclista ou o motorista terem feito nada de errado, basta um deles achar que o outro fez.
E muitas vezes, pode começar porque um dos condutores está alcoolizado.
Imagem e reportagem: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/online/motorista-de-picape-colide-em-moto-apos-perseguicao-em-briga-de-transito-1.2190814
Para começar uma briga, não precisa nem ter havido uma colisão — ela pode começar só porque um dos lados achou que o outro chegou perto demais do seu carro ou da sua moto.
O motorista não precisa estar armado com um revólver — só o carro já é suficiente para causar ferimentos graves:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2019/12/09/motociclista-vai-a-policia-e-diz-que-foi-atropelado-de-proposito-apos-briga-de-transito-em-ribeirao-preto.ghtml
Ou mesmo matar:
Vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/jornal-da-eptv-2edicao/videos/t/edicoes/v/apos-discussao-motorista-joga-kombi-contra-motociclista-que-morreu-atropelado/8069608/
Então, bote uma coisa na cabeça:
Por mais que você tenha razão (ou pense ter razão), não entre em brigas de trânsito — o motociclista só tem a perder.
Tentar convencer um idiota de que ele é um idiota não te leva a lugar nenhum; isso pode te colocar na mira de um idiota armado com um taurus 38 ou pior, um fiat 147 — o cara não tem nada a perder, você tem a sua vida.
Já vi um ogro sacar uma arma porque fez uma conversão na contramão, quase bater o carro e achar que tinha razão — e ele não tinha bebido, era só burro mesmo.
Então não faça manobras arriscadas que possam ser interpretadas como motivo para briga.
O atropelamento do vídeo de Ribeirão Preto aconteceu porque o motorista não gostou de ser ultrapassado pela direita e supostamente/possivelmente foi fechado pelo motociclista em um cruzamento.
Ultrapassagens em cruzamentos são proibidas por qualquer lado, porque criam situações de risco.
Certamente o motivo da discussão do atropelamento pela kombi foi algo nessa linha, um dos dois se sentiu ameaçado por uma fechada e foi tomar satisfação.
Infelizmente, nunca saberemos o que realmente ocorreu — a versão do motociclista morreu com ele.
Em uma discussão, o maior risco para nós, motociclistas, é o de sermos perseguidos e atropelados por um "justiceiro" irracional que pensa que uma fechada no trânsito ou um xingamento impensado — muitas vezes merecido — justifica uma sentença de morte.
Está cheio de ogros por aí, armados com carros e pistolas, então tente não se envolver em situações que despertem sua ira.
Não dê chance ao azar.
Um abraço,
Jeff
quarta-feira, 4 de março de 2020
O porquê das bicicletas mortais
Acidente trágico registrado em Nova Andradina no Mato Grosso do Sul:
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/27/menino-irlandes-de-6-anos-morre-atropelado-por-carreta-enquanto-andava-de-bicicleta-em-ms.ghtml
Conforme a reportagem, a carreta vinha pela avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade (trecho urbano da BR-376) e passou por cima da bicicleta ao fazer uma conversão para entrar na rua Espírito Santo.
Por uma daquelas coincidências que a gente chega a pensar que não pode ser apenas coincidência, a imagem desse cruzamento no google Maps mostra exatamente uma carreta, no caso um bitrem, fazendo essa conversão:
E essa imagem mostra exatamente porque bicicletas não devem circular por avenidas e rodovias.
Calma, ciclistas, eu explico:
Motos conseguem acelerar e ultrapassar caminhões, e conforme as leis de trânsito, essas ultrapassagens são feitas sempre pelo lado esquerdo dos veículos.
Ultrapassagens pela direita são proibidas porque são armadilhas mortais.
Mas as bicicletas estão condenadas a circular no lado direito das ruas, sempre sendo ultrapassadas — é o pior lado, o lado com a sarjeta, o lado sujo e mais esburacado.
No lado direito, o ciclista sempre corre o risco de se desequilibrar e cair embaixo do rodeiro de um ônibus ou caminhão — veículos grandes dificilmente conseguem fazer ultrapassagens respeitando a distância mínima de 1,5 metro das bicicletas.
Como eles são muito largos, isso os faria ocupar duas faixas, uma situação difícil de administrar do alto da cabine.
E o pior de tudo:
Raros são os ciclistas com alguma noção da realidade do trânsito (e de suas leis).
A imensa maioria deles não faz a menor ideia da dificuldade que os motoristas têm para enxergar outros veículos pelo espelho do lado direito, ainda mais uma bicicleta magrela.
Não sabem que do alto da cabine de um caminhão não dá para ver uma bicicleta do lado direito, a bicicleta fica totalmente oculta pela lateral da porta.
Mesmo que o motorista olhe pelo espelho, ele não verá a bicicleta — o ponto cego do espelho de um caminhão é grande o suficiente para impedir a visão de ciclistas, motos e até carros inteiros.
Manobrar um caminhão, ônibus ou carreta em uma esquina é uma operação complicada que exige toda a atenção do motorista.
Note na foto como o caminhão é obrigado a ir para a faixa do meio da avenida e entrar na contramão da rua lateral para que a traseira e o(s) reboque(s) consiga(m) passar rente à calçada do lado direito — sem que as rodas subam na guia.
Quanto maior o veículo, mais difícil sua condução, mais pontos a observar, mais estressado seu condutor.
Toda a atenção do motorista está focada em calcular a manobra para não colidir com outros veículos nem derrubar postes e árvores nas esquinas — nem atropelar pedestres, que se movem muito mais devagar que uma bicicleta.
Para fazer essa conversão mostrada na foto, o motorista é obrigado a quase parar a carreta.
E é aí que a bicicleta cai na armadilha mortal:
O ciclista avança pelo lado direito livre, sem ser visto pelo motorista, e se coloca no caminho das rodas do ônibus, caminhão ou reboque.
Mesmo que pare antes da esquina, o ciclista não imagina que o reboque se moverá para cima dele sem que o motorista o veja.
Durante a conversão, o espelho do caminhão está apontando em direção à traseira do cavalo-mecânico e não para os reboques — o motorista só conseguirá ver a traseira da carreta (não o meio) se dobrando sobre o assento do passageiro. Antigamente um ajudante ocupava esse assento para servir de olhos para o motorista, mas sabe como é, né? Salário de ajudante diminui o lucro da transportadora.
Nesse momento, o motorista não espera que apareça uma bicicleta (ou uma moto) se enfiando pelo lado direito e fazendo uma ultrapassagem proibida durante a manobra do caminhão ou ônibus.
No instante em que o ciclista percebe o grande veículo virando na sua frente, ele já está caindo na frente de alguma das rodas.
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/01/04/caminhao-de-lixo-passa-por-cima-de-ciclista-ao-acessar-posto-de-combustivel-em-batatais-video.ghtml
Mesmo que o motorista pare imediatamente, um atropelamento fatal só precisa de meia volta do pneu, e isso é uma fração de segundo, mesmo em baixa velocidade.
Então, o(a) ciclista é sempre culpado(a) pelo acidente?
Não dá para falar em culpa.
Ciclistas muitas vezes são crianças ou adolescentes sem qualquer vivência no trânsito.
Ou idosos.
Reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/06/idoso-em-bicicleta-morre-apos-ser-atingido-por-caminhao-em-mato-grosso-do-sul.ghtml
Mesmo motociclistas habilitados cometem o erro de tentar ultrapassar um veículo grande pela direita... foi vendo um acidente desse tipo lá em Floripa que decidi criar o blog.
Então ciclistas, não encarem essa crítica com revolta e mimimi de perseguição, mas com análise dos fatos — hoje motociclista, eu também já fui ciclista e motorista, vi muita coisa que não queria nesta vida.
Assim como não quero ver acidentes de moto, não quero ver acidentes com ciclistas. Ou pedestres. Ou carros.
Mas o fato é que bicicletas e trânsito pesado não combinam.
Os perigos já são grandes demais para nós, que rodamos com nossas motocicletas mais estáveis e equipadas com motores e freios mais eficientes, e respeitamos as leis de trânsito. Bom, quase todos...
Mas pedalando pela direita os ciclistas estão numa desvantagem enorme que, sinceramente, não vejo como poderão reverter.
Não dá para ensinar leis de trânsito para crianças, não dá para confiar na capacidade de julgamento de quem não conhece os perigos do trânsito.
Ou as bicicletas saem de vez das avenidas e rodovias, ou continuaremos a ver cenas tristes como esta.
Um abraço,
Jeff
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/27/menino-irlandes-de-6-anos-morre-atropelado-por-carreta-enquanto-andava-de-bicicleta-em-ms.ghtml
Conforme a reportagem, a carreta vinha pela avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade (trecho urbano da BR-376) e passou por cima da bicicleta ao fazer uma conversão para entrar na rua Espírito Santo.
Por uma daquelas coincidências que a gente chega a pensar que não pode ser apenas coincidência, a imagem desse cruzamento no google Maps mostra exatamente uma carreta, no caso um bitrem, fazendo essa conversão:
E essa imagem mostra exatamente porque bicicletas não devem circular por avenidas e rodovias.
Calma, ciclistas, eu explico:
Motos conseguem acelerar e ultrapassar caminhões, e conforme as leis de trânsito, essas ultrapassagens são feitas sempre pelo lado esquerdo dos veículos.
Ultrapassagens pela direita são proibidas porque são armadilhas mortais.
Mas as bicicletas estão condenadas a circular no lado direito das ruas, sempre sendo ultrapassadas — é o pior lado, o lado com a sarjeta, o lado sujo e mais esburacado.
No lado direito, o ciclista sempre corre o risco de se desequilibrar e cair embaixo do rodeiro de um ônibus ou caminhão — veículos grandes dificilmente conseguem fazer ultrapassagens respeitando a distância mínima de 1,5 metro das bicicletas.
Como eles são muito largos, isso os faria ocupar duas faixas, uma situação difícil de administrar do alto da cabine.
E o pior de tudo:
Raros são os ciclistas com alguma noção da realidade do trânsito (e de suas leis).
A imensa maioria deles não faz a menor ideia da dificuldade que os motoristas têm para enxergar outros veículos pelo espelho do lado direito, ainda mais uma bicicleta magrela.
Não sabem que do alto da cabine de um caminhão não dá para ver uma bicicleta do lado direito, a bicicleta fica totalmente oculta pela lateral da porta.
Mesmo que o motorista olhe pelo espelho, ele não verá a bicicleta — o ponto cego do espelho de um caminhão é grande o suficiente para impedir a visão de ciclistas, motos e até carros inteiros.
Manobrar um caminhão, ônibus ou carreta em uma esquina é uma operação complicada que exige toda a atenção do motorista.
Note na foto como o caminhão é obrigado a ir para a faixa do meio da avenida e entrar na contramão da rua lateral para que a traseira e o(s) reboque(s) consiga(m) passar rente à calçada do lado direito — sem que as rodas subam na guia.
Quanto maior o veículo, mais difícil sua condução, mais pontos a observar, mais estressado seu condutor.
Toda a atenção do motorista está focada em calcular a manobra para não colidir com outros veículos nem derrubar postes e árvores nas esquinas — nem atropelar pedestres, que se movem muito mais devagar que uma bicicleta.
Para fazer essa conversão mostrada na foto, o motorista é obrigado a quase parar a carreta.
E é aí que a bicicleta cai na armadilha mortal:
O ciclista avança pelo lado direito livre, sem ser visto pelo motorista, e se coloca no caminho das rodas do ônibus, caminhão ou reboque.
Mesmo que pare antes da esquina, o ciclista não imagina que o reboque se moverá para cima dele sem que o motorista o veja.
Durante a conversão, o espelho do caminhão está apontando em direção à traseira do cavalo-mecânico e não para os reboques — o motorista só conseguirá ver a traseira da carreta (não o meio) se dobrando sobre o assento do passageiro. Antigamente um ajudante ocupava esse assento para servir de olhos para o motorista, mas sabe como é, né? Salário de ajudante diminui o lucro da transportadora.
Nesse momento, o motorista não espera que apareça uma bicicleta (ou uma moto) se enfiando pelo lado direito e fazendo uma ultrapassagem proibida durante a manobra do caminhão ou ônibus.
No instante em que o ciclista percebe o grande veículo virando na sua frente, ele já está caindo na frente de alguma das rodas.
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/01/04/caminhao-de-lixo-passa-por-cima-de-ciclista-ao-acessar-posto-de-combustivel-em-batatais-video.ghtml
Mesmo que o motorista pare imediatamente, um atropelamento fatal só precisa de meia volta do pneu, e isso é uma fração de segundo, mesmo em baixa velocidade.
Então, o(a) ciclista é sempre culpado(a) pelo acidente?
Não dá para falar em culpa.
Ciclistas muitas vezes são crianças ou adolescentes sem qualquer vivência no trânsito.
Ou idosos.
Reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/06/idoso-em-bicicleta-morre-apos-ser-atingido-por-caminhao-em-mato-grosso-do-sul.ghtml
Mesmo motociclistas habilitados cometem o erro de tentar ultrapassar um veículo grande pela direita... foi vendo um acidente desse tipo lá em Floripa que decidi criar o blog.
Então ciclistas, não encarem essa crítica com revolta e mimimi de perseguição, mas com análise dos fatos — hoje motociclista, eu também já fui ciclista e motorista, vi muita coisa que não queria nesta vida.
Assim como não quero ver acidentes de moto, não quero ver acidentes com ciclistas. Ou pedestres. Ou carros.
Mas o fato é que bicicletas e trânsito pesado não combinam.
Os perigos já são grandes demais para nós, que rodamos com nossas motocicletas mais estáveis e equipadas com motores e freios mais eficientes, e respeitamos as leis de trânsito. Bom, quase todos...
Mas pedalando pela direita os ciclistas estão numa desvantagem enorme que, sinceramente, não vejo como poderão reverter.
Não dá para ensinar leis de trânsito para crianças, não dá para confiar na capacidade de julgamento de quem não conhece os perigos do trânsito.
Ou as bicicletas saem de vez das avenidas e rodovias, ou continuaremos a ver cenas tristes como esta.
Um abraço,
Jeff
terça-feira, 3 de março de 2020
As aparências podem enganar
Notícia publicada no G1 semana passada:
O vídeo mostra o caminhão totalmente na contramão:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
O vídeo finaliza com a frase "As causas do acidente ainda serão investigadas".
Ao ver a cena você não se conforma e junto com todo mundo grita "caminhão na contramão, o motorista é culpado, lincha, lincha!" — e o perigo nessa hora é o pessoal se empolgar e cometer uma tremenda injustiça.
Será mesmo que o acidente aconteceu por causa do motorista do caminhão?
O que você nota ao ver a moto envolvida no acidente?
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
Frente totalmente destruída e roda traseira quebrada, certo?
Ora, a frente foi destruída no impacto com o caminhão, mas e a roda traseira?
A roda traseira não bateu contra o caminhão, nada ao redor dela bateu — o escapamento está inteiro, a rabeta está inteira.
Todo o lado posterior da moto está bem preservado, então me parece pouco provável que essa roda tenha se quebrado durante a batida. Pode até ser, mas...
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
A roda se quebrou no aro e também no raio, que mostra uma fratura do tipo frágil (instantânea e não por fadiga) em um local determinado — a roda não foi prensada entre a rabeta e o asfalto, senão ela estaria ovalizada.
Esse é um forte indício de uma pancada muito intensa e localizada — como o impacto contra a quina de um buraco profundo.
Buracos profundos costumam aparecer nas estradas em época de chuvas — estamos passando por uma temporada chuvosa sem precedentes e chovia no momento do acidente.
Buracos ficam cobertos de água suja e não permitem avaliar sua profundidade: o que parece uma poça inofensiva pode ser uma tremenda armadilha para motos.
Um cenário possível seria este (mas somente uma investigação do local e testemunhas poderão confirmar se esta suposição está correta):
Com a roda quebrada, o motociclista teria perdido o controle e a motocicleta começou a dançar na pista.
A moto teria desviado primeiro para a pista oposta, o motorista tentou desviar jogando o caminhão para a contramão, mas a moto sem controle inverteu a trajetória e aconteceu a colisão.
Invadir a contramão e retornar cruzando a pista, fazendo um S, é um comportamento típico de veículos desgovernados, como pode ser visto pelas marcas dos pneus de um carro que vinha na mão correta, perdeu o controle e capotou no acostamento:
Imagem e reportagem: https://planetafolha.com.br/11/01/2020/livramento-em-rolim-de-moura-familia-em-moto-escapa-da-morte-apos-carro-desgovernado-capotar-a-poucos-metros-de-distancia-na-ro-479/
Não se pode descartar que algo parecido tenha acontecido com a moto, por isso que as causas precisam ser investigadas.
Pessoalmente, sempre achei esse tipo de roda extremamente frágil para encarar nossas estradas esburacadas — até fiz uma postagem sobre isso em 2014.
É uma roda projetada para uso urbano, onde via de regra o asfalto é melhor conservado — pelo menos no Japão, onde a moto foi concebida — e as velocidades costumam ser mais baixas.
Naquela última viagem para Floripa em que o buraco na BR-116 quebrou o para-lama traseiro da Jezebel, a primeira coisa que fiz foi inspecionar as rodas — felizmente, a quina pegou na direção do raio e a roda aguentou o tranco.
Se tivesse batido na área entre os raios, o flange teria sido amassado, isso já aconteceu antes, mas uma vantagem da Kansas é usar câmara de ar, então o pneu não esvazia de repente.
Além disso, sua roda traseira é aro 16 polegadas (406 mm), então o espaçamento entre os centros dos raios é menor (255 mm).
Já o aro da suzuki Yes é de 18 polegadas (457 mm), por isso o espaçamento entre os centros dos raios é maior (287 mm).
Principalmente, a área da união entre raio e aro é menor na Yes, o que aumenta proporcionalmente o espaço vazio entre os raios — e quanto maior essa distância sem reforço, maior a fragilidade do aro:
Imagem: Roda traseira de Kansas (esquerda) e Yes (direita)
Na Yes, os raios são mais finos e vazados, e sua posição não ajuda a aceitar impactos — o raio da Kansas está na direção da compressão da pancada, enquanto o raio da Yes está na direção de dobramento, o que facilita sua quebra.
Pode ser um projeto bom para estradas do Japão e primeiro mundo, mas não é um projeto para as estradas do Brasil.
Em minha opinião, a roda traseira se quebrou ao passar por um buraco e causou a tragédia, mas sempre posso estar enganado. Todos nós sempre podemos estar enganados sobre tudo.
Então, tome consciência de que a primeira impressão de um acidente pode ser totalmente enganosa e não se precipite em acusar "culpados".
É para isso que servem as investigações.
Um abraço,
Jeff
O vídeo mostra o caminhão totalmente na contramão:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
O vídeo finaliza com a frase "As causas do acidente ainda serão investigadas".
Ao ver a cena você não se conforma e junto com todo mundo grita "caminhão na contramão, o motorista é culpado, lincha, lincha!" — e o perigo nessa hora é o pessoal se empolgar e cometer uma tremenda injustiça.
Será mesmo que o acidente aconteceu por causa do motorista do caminhão?
O que você nota ao ver a moto envolvida no acidente?
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
Frente totalmente destruída e roda traseira quebrada, certo?
Ora, a frente foi destruída no impacto com o caminhão, mas e a roda traseira?
A roda traseira não bateu contra o caminhão, nada ao redor dela bateu — o escapamento está inteiro, a rabeta está inteira.
Todo o lado posterior da moto está bem preservado, então me parece pouco provável que essa roda tenha se quebrado durante a batida. Pode até ser, mas...
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml
A roda se quebrou no aro e também no raio, que mostra uma fratura do tipo frágil (instantânea e não por fadiga) em um local determinado — a roda não foi prensada entre a rabeta e o asfalto, senão ela estaria ovalizada.
Esse é um forte indício de uma pancada muito intensa e localizada — como o impacto contra a quina de um buraco profundo.
Buracos profundos costumam aparecer nas estradas em época de chuvas — estamos passando por uma temporada chuvosa sem precedentes e chovia no momento do acidente.
Buracos ficam cobertos de água suja e não permitem avaliar sua profundidade: o que parece uma poça inofensiva pode ser uma tremenda armadilha para motos.
Um cenário possível seria este (mas somente uma investigação do local e testemunhas poderão confirmar se esta suposição está correta):
Com a roda quebrada, o motociclista teria perdido o controle e a motocicleta começou a dançar na pista.
A moto teria desviado primeiro para a pista oposta, o motorista tentou desviar jogando o caminhão para a contramão, mas a moto sem controle inverteu a trajetória e aconteceu a colisão.
Invadir a contramão e retornar cruzando a pista, fazendo um S, é um comportamento típico de veículos desgovernados, como pode ser visto pelas marcas dos pneus de um carro que vinha na mão correta, perdeu o controle e capotou no acostamento:
Imagem e reportagem: https://planetafolha.com.br/11/01/2020/livramento-em-rolim-de-moura-familia-em-moto-escapa-da-morte-apos-carro-desgovernado-capotar-a-poucos-metros-de-distancia-na-ro-479/
Não se pode descartar que algo parecido tenha acontecido com a moto, por isso que as causas precisam ser investigadas.
Pessoalmente, sempre achei esse tipo de roda extremamente frágil para encarar nossas estradas esburacadas — até fiz uma postagem sobre isso em 2014.
É uma roda projetada para uso urbano, onde via de regra o asfalto é melhor conservado — pelo menos no Japão, onde a moto foi concebida — e as velocidades costumam ser mais baixas.
Naquela última viagem para Floripa em que o buraco na BR-116 quebrou o para-lama traseiro da Jezebel, a primeira coisa que fiz foi inspecionar as rodas — felizmente, a quina pegou na direção do raio e a roda aguentou o tranco.
Se tivesse batido na área entre os raios, o flange teria sido amassado, isso já aconteceu antes, mas uma vantagem da Kansas é usar câmara de ar, então o pneu não esvazia de repente.
Além disso, sua roda traseira é aro 16 polegadas (406 mm), então o espaçamento entre os centros dos raios é menor (255 mm).
Já o aro da suzuki Yes é de 18 polegadas (457 mm), por isso o espaçamento entre os centros dos raios é maior (287 mm).
Principalmente, a área da união entre raio e aro é menor na Yes, o que aumenta proporcionalmente o espaço vazio entre os raios — e quanto maior essa distância sem reforço, maior a fragilidade do aro:
Imagem: Roda traseira de Kansas (esquerda) e Yes (direita)
Na Yes, os raios são mais finos e vazados, e sua posição não ajuda a aceitar impactos — o raio da Kansas está na direção da compressão da pancada, enquanto o raio da Yes está na direção de dobramento, o que facilita sua quebra.
Pode ser um projeto bom para estradas do Japão e primeiro mundo, mas não é um projeto para as estradas do Brasil.
Em minha opinião, a roda traseira se quebrou ao passar por um buraco e causou a tragédia, mas sempre posso estar enganado. Todos nós sempre podemos estar enganados sobre tudo.
Então, tome consciência de que a primeira impressão de um acidente pode ser totalmente enganosa e não se precipite em acusar "culpados".
É para isso que servem as investigações.
Um abraço,
Jeff
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020
Já sabe a causa, né?
Acidente ocorrido em Franca com moto na preferencial e carro entrando na frente — o que aconteceu?
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/02/24/motociclista-e-arremessado-por-cima-do-carro-apos-colisao-em-franca-veja-video.ghtml
Primeira coisa, a moto está se aproximando rapidamente pelo lado esquerdo do carro — uma possiblidade é que o motorista tenha entrado na frente porque a moto ficou oculta pela coluna dianteira direita, como vimos na postagem de ontem.
Mas vamos conferir o local do acidente no google Maps pela visão do motociclista.
Felizmente temos um carro fazendo a mesma manobra do vídeo, o que ajuda a explicar:
Notou outra coisa?
Há um poste na ilha central — nesse ângulo, com o motorista um pouco mais atrás, um poste consegue encobrir totalmente uma moto se aproximando.
Então o que acredito que aconteceu foi o seguinte:
No primeiro momento com a moto ainda longe, o poste ficou alinhado com a moto e impediu a visão da motocicleta.
Saca só a visão do motorista:
Imagem: Google Maps
Quando a moto estava mais próxima, o motorista já tinha visto que não vinha ninguém e estava mais preocupado em olhar para a frente.
Nesse momento, o carro já estava posicionado com a coluna dianteira direita encobrindo a motocicleta e o motorista não teve condição de perceber a moto pelo canto do olho.
O motorista se preocupou apenas em fazer a conversão e entrou na frente da moto.
A reconstituição seria perfeita se ambos os carros estivessem posicionados exatamente como os veículos do acidente, e se o carro de filmagem do google se movesse na mesma velocidade que a moto... mas ele sempre se move abaixo da velocidade máxima permitida.
Como o motociclista poderia ter evitado esse acidente?
Prevendo que isso poderia acontecer porque os motoristas têm dificuldade para ver objetos pequenos se aproximando em alta velocidade como as motos.
Além de desaparecer contra a paisagem de fundo, a moto pode ficar oculta por causa de postes, árvores e da coluna dianteira do carro.
O piloto da moto poderia ter se preparado para a situação reduzindo a velocidade e traçando uma estratégia para evitar a colisão — desviando do carro ou se preparando para entrar na rua lateral, se necessário.
O motociclista acidentado não sabia disso, mas você que acompanha o blog sabe e não cairá nessa armadilha.
Não precisa agradecer, apenas repasso o que aprendi:
Compartilhar conhecimento é o que nos torna humanos, ajudar uns aos outros é o que nos torna motociclistas.
Um abraço,
Jeff
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/02/24/motociclista-e-arremessado-por-cima-do-carro-apos-colisao-em-franca-veja-video.ghtml
Primeira coisa, a moto está se aproximando rapidamente pelo lado esquerdo do carro — uma possiblidade é que o motorista tenha entrado na frente porque a moto ficou oculta pela coluna dianteira direita, como vimos na postagem de ontem.
Mas vamos conferir o local do acidente no google Maps pela visão do motociclista.
Felizmente temos um carro fazendo a mesma manobra do vídeo, o que ajuda a explicar:
Notou outra coisa?
Há um poste na ilha central — nesse ângulo, com o motorista um pouco mais atrás, um poste consegue encobrir totalmente uma moto se aproximando.
Então o que acredito que aconteceu foi o seguinte:
No primeiro momento com a moto ainda longe, o poste ficou alinhado com a moto e impediu a visão da motocicleta.
Saca só a visão do motorista:
Imagem: Google Maps
Nesse momento, o carro já estava posicionado com a coluna dianteira direita encobrindo a motocicleta e o motorista não teve condição de perceber a moto pelo canto do olho.
O motorista se preocupou apenas em fazer a conversão e entrou na frente da moto.
A reconstituição seria perfeita se ambos os carros estivessem posicionados exatamente como os veículos do acidente, e se o carro de filmagem do google se movesse na mesma velocidade que a moto... mas ele sempre se move abaixo da velocidade máxima permitida.
Como o motociclista poderia ter evitado esse acidente?
Prevendo que isso poderia acontecer porque os motoristas têm dificuldade para ver objetos pequenos se aproximando em alta velocidade como as motos.
Além de desaparecer contra a paisagem de fundo, a moto pode ficar oculta por causa de postes, árvores e da coluna dianteira do carro.
O piloto da moto poderia ter se preparado para a situação reduzindo a velocidade e traçando uma estratégia para evitar a colisão — desviando do carro ou se preparando para entrar na rua lateral, se necessário.
O motociclista acidentado não sabia disso, mas você que acompanha o blog sabe e não cairá nessa armadilha.
Não precisa agradecer, apenas repasso o que aprendi:
Compartilhar conhecimento é o que nos torna humanos, ajudar uns aos outros é o que nos torna motociclistas.
Um abraço,
Jeff
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
A preferencial nunca é da moto
Mais um bom exemplo para ilustrar porque você nunca deve pensar que sua moto terá a preferencial respeitada:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2020/02/22/motociclista-e-arremessada-apos-ser-atingida-por-carro-dirigido-por-adolescente-em-maringa-video.ghtml
Não são só os adolescentes sem habilitação que desrespeitam a preferencial.
A maioria dos motoristas (e motociclistas) não se liga nesse detalhe em ruas tranquilas de bairro, vejo isso todos os dias nos cruzamentos aqui perto de casa.
Além de não estarem atentos a motocicletas, qualquer motorista pode deixar de ver uma moto nos cruzamentos porque ela pode ficar oculta atrás da coluna dianteira do carro.
Esse tipo de acidente é mais comum exatamente em situações como esta — com o carro do lado esquerdo da motocicleta.
Nessa direção, a coluna dianteira direita encobre uma área maior da visão do motorista.
Já a coluna do lado esquerdo encobre uma área menor e o motorista pode perceber melhor o som da motocicleta se aproximando, mas ainda assim existe o risco de você passar batido. Literalmente.
O motorista, quando muito, dá uma olhada rápida para ver se não vem outro carro, então ele só olha na sua direção por um breve instante.
Se coincidir de ele dar essa olhada no momento em que você e sua moto estão encobertos pela coluna, já era. Pior que geralmente é o que acontece.
No instante em que a moto aparece na frente do carro, o motorista não tem tempo de parar, não dá tempo nem de pisar no freio — e o motociclista nem imagina que uma coisa tão inesperada possa ocorrer.
Essa ocultação está relacionada à distância entre os veículos em cada faixa de rolamento, ao ângulo de visualização, e à posição e distância entre o motorista e cada coluna dianteira.
Então, a melhor coisa a fazer é sempre encarar os cruzamentos já contando que você e sua moto não serão vistos e que nunca irão respeitar sua preferencial.
Mesmo na preferencial, sempre diminua a velocidade e olhe duas vezes para cada lado antes de iniciar a travessia — um primeiro olhar pode não perceber um carro ou outra moto se aproximando em alta velocidade.
Se você atravessa na inocência achando que ninguém vai desrespeitar sua preferencial, na hora em que você percebe que o carro (ou a outra moto) não vai parar, já não dá tempo de fazer mais nada — só limpar o capô e beijar o asfalto.
Mas se você chegar ao cruzamento preparado para essa possibilidade, já com os dedos no freio dianteiro e o pé pronto para atuar o freio traseiro, você não será pego de surpresa e conseguirá evitar a colisão — esse cuidado simples já me livrou de incontáveis acidentes.
Só tome cuidado para não reduzir a velocidade bruscamente se houver um carro ou outra moto muito perto atrás de você — eles não estarão esperando que você reduza ou pare de repente e não terão tempo de reagir.
Além disso, a moto tem a capacidade de reduzir bastante a velocidade só com o freio-motor, e o freio-motor não aciona a luz de freio.
De repente você evita a batida no cruzamento, mas é derrubado por quem vem atrás... Não bom.
Nessa situação, se você precisar parar totalmente, mantenha-se em uma posição que permita a passagem livre do fominha que vem atrás de você.
Evite ser atropelado no cruzamento, deixe o fominha passar te xingando e assista de camarote a batida dele com o sujeito que não respeita a preferencial.
E, se ninguém se feriu a ponto de precisar de socorro, se mande de lá antes que os dois comecem a discutir quem irá pagar o prejuízo...
Nessas discussões, sempre pode sobrar uma bala perdida para quem não tem nada a ver com a encrenca.
Um abraço,
Jeff
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2020/02/22/motociclista-e-arremessada-apos-ser-atingida-por-carro-dirigido-por-adolescente-em-maringa-video.ghtml
Não são só os adolescentes sem habilitação que desrespeitam a preferencial.
A maioria dos motoristas (e motociclistas) não se liga nesse detalhe em ruas tranquilas de bairro, vejo isso todos os dias nos cruzamentos aqui perto de casa.
Além de não estarem atentos a motocicletas, qualquer motorista pode deixar de ver uma moto nos cruzamentos porque ela pode ficar oculta atrás da coluna dianteira do carro.
Esse tipo de acidente é mais comum exatamente em situações como esta — com o carro do lado esquerdo da motocicleta.
Nessa direção, a coluna dianteira direita encobre uma área maior da visão do motorista.
Já a coluna do lado esquerdo encobre uma área menor e o motorista pode perceber melhor o som da motocicleta se aproximando, mas ainda assim existe o risco de você passar batido. Literalmente.
Se coincidir de ele dar essa olhada no momento em que você e sua moto estão encobertos pela coluna, já era. Pior que geralmente é o que acontece.
No instante em que a moto aparece na frente do carro, o motorista não tem tempo de parar, não dá tempo nem de pisar no freio — e o motociclista nem imagina que uma coisa tão inesperada possa ocorrer.
Essa ocultação está relacionada à distância entre os veículos em cada faixa de rolamento, ao ângulo de visualização, e à posição e distância entre o motorista e cada coluna dianteira.
Então, a melhor coisa a fazer é sempre encarar os cruzamentos já contando que você e sua moto não serão vistos e que nunca irão respeitar sua preferencial.
Mesmo na preferencial, sempre diminua a velocidade e olhe duas vezes para cada lado antes de iniciar a travessia — um primeiro olhar pode não perceber um carro ou outra moto se aproximando em alta velocidade.
Se você atravessa na inocência achando que ninguém vai desrespeitar sua preferencial, na hora em que você percebe que o carro (ou a outra moto) não vai parar, já não dá tempo de fazer mais nada — só limpar o capô e beijar o asfalto.
Mas se você chegar ao cruzamento preparado para essa possibilidade, já com os dedos no freio dianteiro e o pé pronto para atuar o freio traseiro, você não será pego de surpresa e conseguirá evitar a colisão — esse cuidado simples já me livrou de incontáveis acidentes.
Só tome cuidado para não reduzir a velocidade bruscamente se houver um carro ou outra moto muito perto atrás de você — eles não estarão esperando que você reduza ou pare de repente e não terão tempo de reagir.
Além disso, a moto tem a capacidade de reduzir bastante a velocidade só com o freio-motor, e o freio-motor não aciona a luz de freio.
De repente você evita a batida no cruzamento, mas é derrubado por quem vem atrás... Não bom.
Nessa situação, se você precisar parar totalmente, mantenha-se em uma posição que permita a passagem livre do fominha que vem atrás de você.
Evite ser atropelado no cruzamento, deixe o fominha passar te xingando e assista de camarote a batida dele com o sujeito que não respeita a preferencial.
E, se ninguém se feriu a ponto de precisar de socorro, se mande de lá antes que os dois comecem a discutir quem irá pagar o prejuízo...
Nessas discussões, sempre pode sobrar uma bala perdida para quem não tem nada a ver com a encrenca.
Um abraço,
Jeff
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Cruzamentos em ladeiras
Outro acidente com reportagem 'muito informativa' do G1: "As causas do acidente não foram divulgadas."
Imagem e reportagem: G1
Como não sou o G1, eu arrisco dizer a causa do acidente fazendo uma análise simples do local e das imagens.
Este é o cruzamento da avenida Getúlio Vargas com a rua Antenor Navarro na cidade de Campina Grande, Paraíba:
Imagem: Google Maps
O motociclista estava na Antenor Navarro, a rua onde a imagem foi feita, e colidiu contra a lateral do ônibus que descia a Getúlio Vargas.
É um cruzamento com semáforos, portanto alguém atravessou o vermelho — e sendo o local um cruzamento em uma ladeira onde a avenida é preferencial, posso afirmar com 95% de certeza que o ônibus atravessou o farol no vermelho.
Então o motorista do ônibus é 100% culpado, ponto final?
Não, e explico o porquê.
A Getúlio Vargas é uma ladeira e quem vem pela Antenor Navarro não tem visão de quem está descendo a ladeira (lado esquerdo da foto).
Ônibus (e caminhões) são veículos pesados e não conseguem parar rapidamente — ainda mais descendo uma ladeira.
Frear bruscamente um ônibus pode derrubar os passageiros, uma situação que o motorista inconscientemente irá evitar.
Então, ao ver o semáforo fechando para ele, com o ônibus em uma ladeira, os motoristas (todos os motoristas) fazem um cálculo de probabilidades e escolhem a opção mais razoável para eles, que geralmente é seguir em frente:
Passar no amarelo ou logo depois de o sinal ficar vermelho não irá causar um acidente porque os carros estão parados e irão demorar alguns segundos para começar a atravessar o cruzamento, e ninguém em baixa velocidade vai entrar na frente ou na lateral de um ônibus...
Só que esse cálculo não considera motos.
Motos são ágeis.
Motos aceleram rápido, conseguem arrancar rapidamente muitas vezes ainda antes de o sinal ficar verde, cortam entre os carros parados com rapidez, e os motociclistas também fazem o seu próprio cálculo de probabilidades:
Ninguém vai passar no vermelho, todos os carros irão começar a parar assim que o sinal ficar amarelo.
Só que esse cálculo não considera ônibus.
Ônibus (e caminhões) são pesados e difíceis de parar.
Muitas vezes estão rodando com freios desgastados ou com carga acima da máxima recomendada, o que piora ainda mais a situação.
E o resultado são acidentes como este.
Para não cair nesse tipo de armadilha, sempre verifique se realmente todo mundo parou, ou vai conseguir parar, antes de atravessar o cruzamento — ainda mais se a outra via for uma ladeira.
Não caia na armadilha do "não vou reduzir para não perder o embalo".
Como disse, tenho 95% de certeza de ter acontecido isto, desrespeito à sinalização, porque é assim que a maioria dos acidentes em cruzamentos acontecem — independente de serem em ladeiras ou locais planos.
Os outros 5% são causados por falhas na própria sinalização.
Mas no caso dos ônibus e caminhões em ladeiras, há uma tendência para esse tipo de ocorrência por conta da dinâmica da condução desse tipo de veículo, ele induz os motoristas a esse comportamento potencialmente fatal para nós, motociclistas.
Então a solução é nunca confiar que a preferência seja sua, mesmo que o semáforo esteja verde para você e sua moto.
E tem também as colisões de moto contra moto.
Mas esse é um assunto para outra postagem.
Um abraço,
Jeff
Imagem e reportagem: G1
Como não sou o G1, eu arrisco dizer a causa do acidente fazendo uma análise simples do local e das imagens.
Este é o cruzamento da avenida Getúlio Vargas com a rua Antenor Navarro na cidade de Campina Grande, Paraíba:
Imagem: Google Maps
O motociclista estava na Antenor Navarro, a rua onde a imagem foi feita, e colidiu contra a lateral do ônibus que descia a Getúlio Vargas.
É um cruzamento com semáforos, portanto alguém atravessou o vermelho — e sendo o local um cruzamento em uma ladeira onde a avenida é preferencial, posso afirmar com 95% de certeza que o ônibus atravessou o farol no vermelho.
Então o motorista do ônibus é 100% culpado, ponto final?
Não, e explico o porquê.
A Getúlio Vargas é uma ladeira e quem vem pela Antenor Navarro não tem visão de quem está descendo a ladeira (lado esquerdo da foto).
Ônibus (e caminhões) são veículos pesados e não conseguem parar rapidamente — ainda mais descendo uma ladeira.
Frear bruscamente um ônibus pode derrubar os passageiros, uma situação que o motorista inconscientemente irá evitar.
Então, ao ver o semáforo fechando para ele, com o ônibus em uma ladeira, os motoristas (todos os motoristas) fazem um cálculo de probabilidades e escolhem a opção mais razoável para eles, que geralmente é seguir em frente:
Passar no amarelo ou logo depois de o sinal ficar vermelho não irá causar um acidente porque os carros estão parados e irão demorar alguns segundos para começar a atravessar o cruzamento, e ninguém em baixa velocidade vai entrar na frente ou na lateral de um ônibus...
Só que esse cálculo não considera motos.
Motos são ágeis.
Motos aceleram rápido, conseguem arrancar rapidamente muitas vezes ainda antes de o sinal ficar verde, cortam entre os carros parados com rapidez, e os motociclistas também fazem o seu próprio cálculo de probabilidades:
Ninguém vai passar no vermelho, todos os carros irão começar a parar assim que o sinal ficar amarelo.
Só que esse cálculo não considera ônibus.
Ônibus (e caminhões) são pesados e difíceis de parar.
Muitas vezes estão rodando com freios desgastados ou com carga acima da máxima recomendada, o que piora ainda mais a situação.
E o resultado são acidentes como este.
Para não cair nesse tipo de armadilha, sempre verifique se realmente todo mundo parou, ou vai conseguir parar, antes de atravessar o cruzamento — ainda mais se a outra via for uma ladeira.
Não caia na armadilha do "não vou reduzir para não perder o embalo".
Como disse, tenho 95% de certeza de ter acontecido isto, desrespeito à sinalização, porque é assim que a maioria dos acidentes em cruzamentos acontecem — independente de serem em ladeiras ou locais planos.
Os outros 5% são causados por falhas na própria sinalização.
Mas no caso dos ônibus e caminhões em ladeiras, há uma tendência para esse tipo de ocorrência por conta da dinâmica da condução desse tipo de veículo, ele induz os motoristas a esse comportamento potencialmente fatal para nós, motociclistas.
Então a solução é nunca confiar que a preferência seja sua, mesmo que o semáforo esteja verde para você e sua moto.
E tem também as colisões de moto contra moto.
Mas esse é um assunto para outra postagem.
Um abraço,
Jeff
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
O acidente da T-9
No dia em que o blog voltou a ser publicado, ocorreu um acidente trágico em Goiânia que eu creio que valerá a pena entender como aconteceu para que ajude a evitar que ocorra com outros motociclistas:
Reportagem: https://g1.globo.com/go/goias/transito/noticia/2020/02/11/motociclista-morre-apos-acidente-de-transito-no-setor-bueno-em-goiania.ghtml
Segundo a reportagem do G1, a moto bateu contra a traseira de um carro que parou para um pedestre passar, apesar de o semáforo estar aberto para carros e motos.
E numa atitude rara, as autoridades de trânsito admitiram que o acidente pode ter sido causado pela sinalização confusa no local, com duas faixas de pedestres em um intervalo de 10 metros.
Na verdade, a situação é ainda pior, são três faixas de pedestres em menos de 50 metros:
Imagem: Google Maps
A primeira faixa fica antes do cruzamento da avenida T-9 com a rua T-30, e o semáforo fica posicionado lá na frente, depois do cruzamento e da segunda faixa.
Essas duas faixas têm semáforos para pedestres sincronizados com o semáforo principal do cruzamento.
A terceira faixa, aquela que não deveria existir, está 10 metros à frente, não possui semáforo para pedestres, e foi onde ocorreu o acidente.
Por que ela está lá?
Para atender ao fluxo relativamente grande de pessoas que se dirige à emissora de TV e se recusa a caminhar 10 metros a mais para atravessar a avenida na faixa do cruzamento porque... pedestres são e continuarão sendo pedestres.
Foi nessa faixa redundante que a motorista parou para a passagem de alguém.
Culpada a motorista?
Não.
O pedestre pode ter atravessado distraído, podia estar falando ao celular (muito comum), pode ter ameaçado atravessar correndo para bater cartão, pegar o ônibus... há mil motivos para a motorista decidir parar o carro naquela faixa de segurança.
O principal motivo:
Motoristas (e motociclistas) são obrigados a respeitar a faixa de pedestres.
Quem atropela alguém na faixa acaba arcando com a indenização por danos físicos e morais com agravante de não prestar a devida atenção à sinalização local — e também acaba arcando com o pagamento dos honorários do advogado da vítima.
Seria diferente se o pedestre estivesse fora da faixa — nessa situação, mesmo que a moto estivesse andando no corredor com o trânsito parado, o pedestre seria responsabilizado por contrariar o artigo 69 do Código de Trânsito Brasileiro: culpa exclusiva da vítima. Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=ATROPELAMENTO+DE+PEDESTRE+NA+TRAVESSIA+DE+FAIXA
Mas note que a vítima somente seria responsabilizada se a moto estivesse em velocidade compatível com as condições no momento — passar que nem doido pelo corredor cai naquela área cinzenta e aí a sentença dependerá da interpretação do juiz, muito possivelmente o motociclista será responsabilizado.
Como o acidente da T-9 poderia ter sido evitado?
Três fatores, o primeiro e o principal deles:
1) Foco na pilotagem. Foco exclusivamente na pilotagem.
Testemunhas afirmam que o motociclista cumprimentou outro motoboy no cruzamento.
Essa distração por uma fração de segundo ao buzinar para um amigo fez toda a diferença.
O que poderia ter ficado somente em uma freada brusca, uma desviada de emergência, eventualmente até uma colisão leve, acabou resultando em um acidente fatal — totalmente evitável se o foco do piloto estivesse voltado exclusivamente para o trânsito.
Já postei este vídeo em uma postagem antiga, mas ele ilustra tão bem um acidente deste tipo que vou repeti-lo aqui, olhada lateral e acidente aos 1:13:
Esse acidente do vídeo só não foi fatal porque a motinha não estava na mesma velocidade que aquela outra que fez a ultrapassagem logo antes do acidente.
Então aí entra o segundo fator que poderia ter salvado uma vida:
2) Manter-se dentro de limites de velocidade razoáveis.
Para quem trabalha com a moto, não há caixinha extra que compense um único acidente, não se mate para fazer mais uma ou duas entregas por dia, o risco não compensa.
E não tenho a informação, mas um terceiro fator pode (ou não) ter influenciado o desfecho do acidente da T-9:
3) Capacete firmemente afivelado.
Motoboys costumam rodar com o capacete desafivelado ou frouxo para facilitar o trabalho — desafivelar e prender novamente o capacete rouba alguns segundos a cada entrega...
Mas o capacete é a última barreira entre seu cérebro e o asfalto ou a traseira de um carro — na hora do acidente, o capacete mal afivelado é a primeira coisa que voa e não dá tempo de fazer mais nada.
Capacete voou, você já era.
Então sempre considere esses 3 pontos quando for sair com sua moto, seja a trabalho, seja a passeio.
Um abraço aos leitores, e meus sentimentos à família do motociclista de Goiânia,
Jeff
Reportagem: https://g1.globo.com/go/goias/transito/noticia/2020/02/11/motociclista-morre-apos-acidente-de-transito-no-setor-bueno-em-goiania.ghtml
Segundo a reportagem do G1, a moto bateu contra a traseira de um carro que parou para um pedestre passar, apesar de o semáforo estar aberto para carros e motos.
E numa atitude rara, as autoridades de trânsito admitiram que o acidente pode ter sido causado pela sinalização confusa no local, com duas faixas de pedestres em um intervalo de 10 metros.
Na verdade, a situação é ainda pior, são três faixas de pedestres em menos de 50 metros:
Imagem: Google Maps
A primeira faixa fica antes do cruzamento da avenida T-9 com a rua T-30, e o semáforo fica posicionado lá na frente, depois do cruzamento e da segunda faixa.
Essas duas faixas têm semáforos para pedestres sincronizados com o semáforo principal do cruzamento.
A terceira faixa, aquela que não deveria existir, está 10 metros à frente, não possui semáforo para pedestres, e foi onde ocorreu o acidente.
Por que ela está lá?
Para atender ao fluxo relativamente grande de pessoas que se dirige à emissora de TV e se recusa a caminhar 10 metros a mais para atravessar a avenida na faixa do cruzamento porque... pedestres são e continuarão sendo pedestres.
Foi nessa faixa redundante que a motorista parou para a passagem de alguém.
Culpada a motorista?
Não.
O pedestre pode ter atravessado distraído, podia estar falando ao celular (muito comum), pode ter ameaçado atravessar correndo para bater cartão, pegar o ônibus... há mil motivos para a motorista decidir parar o carro naquela faixa de segurança.
O principal motivo:
Motoristas (e motociclistas) são obrigados a respeitar a faixa de pedestres.
Quem atropela alguém na faixa acaba arcando com a indenização por danos físicos e morais com agravante de não prestar a devida atenção à sinalização local — e também acaba arcando com o pagamento dos honorários do advogado da vítima.
Seria diferente se o pedestre estivesse fora da faixa — nessa situação, mesmo que a moto estivesse andando no corredor com o trânsito parado, o pedestre seria responsabilizado por contrariar o artigo 69 do Código de Trânsito Brasileiro: culpa exclusiva da vítima. Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=ATROPELAMENTO+DE+PEDESTRE+NA+TRAVESSIA+DE+FAIXA
Mas note que a vítima somente seria responsabilizada se a moto estivesse em velocidade compatível com as condições no momento — passar que nem doido pelo corredor cai naquela área cinzenta e aí a sentença dependerá da interpretação do juiz, muito possivelmente o motociclista será responsabilizado.
Como o acidente da T-9 poderia ter sido evitado?
Três fatores, o primeiro e o principal deles:
1) Foco na pilotagem. Foco exclusivamente na pilotagem.
Testemunhas afirmam que o motociclista cumprimentou outro motoboy no cruzamento.
Essa distração por uma fração de segundo ao buzinar para um amigo fez toda a diferença.
O que poderia ter ficado somente em uma freada brusca, uma desviada de emergência, eventualmente até uma colisão leve, acabou resultando em um acidente fatal — totalmente evitável se o foco do piloto estivesse voltado exclusivamente para o trânsito.
Já postei este vídeo em uma postagem antiga, mas ele ilustra tão bem um acidente deste tipo que vou repeti-lo aqui, olhada lateral e acidente aos 1:13:
Esse acidente do vídeo só não foi fatal porque a motinha não estava na mesma velocidade que aquela outra que fez a ultrapassagem logo antes do acidente.
Então aí entra o segundo fator que poderia ter salvado uma vida:
2) Manter-se dentro de limites de velocidade razoáveis.
Para quem trabalha com a moto, não há caixinha extra que compense um único acidente, não se mate para fazer mais uma ou duas entregas por dia, o risco não compensa.
E não tenho a informação, mas um terceiro fator pode (ou não) ter influenciado o desfecho do acidente da T-9:
3) Capacete firmemente afivelado.
Motoboys costumam rodar com o capacete desafivelado ou frouxo para facilitar o trabalho — desafivelar e prender novamente o capacete rouba alguns segundos a cada entrega...
Mas o capacete é a última barreira entre seu cérebro e o asfalto ou a traseira de um carro — na hora do acidente, o capacete mal afivelado é a primeira coisa que voa e não dá tempo de fazer mais nada.
Capacete voou, você já era.
Então sempre considere esses 3 pontos quando for sair com sua moto, seja a trabalho, seja a passeio.
Um abraço aos leitores, e meus sentimentos à família do motociclista de Goiânia,
Jeff
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
Uma aventura cheia de buracos com direito a precipício
Ontem eu não expliquei como recuperei o acesso ao blog... foi macumbaria tecnológica do meu amigo Vinícius que eu demorei a conseguir colocar em prática. É bom ter amigos que mexem com computador. ("Mexer com computador" é a frase que mais irrita um profissional de TI. Mas se não sacanearmos os amigos, qual a graça? Muito obrigado mais uma vez, Vinícius!)
Bom, a história de hoje começou na BR-116.
Bom, a história de hoje começou na BR-116.
Sabe aquela via onde até motos pagam pedágio para a concessionária garantir a qualidade do asfalto? Tá bom.
Não fazia muito tempo que tínhamos saído do Graal Japonês e, antes de chegarmos a Santa Rita do Ribeira, passamos por um buraco no asfalto pedagiado que era tão grande, mas tão grande... que o pneu traseiro bateu contra o para-lama.
O para-lama deplástico de alta qualidade prástico vagaba da Jezebel quebrou e a placa ficou pendurada pelo lacre, batendo na roda — e a capa do escape rompeu a braçadeira e ficou arrastando no chão.
O para-lama de
Se foi ruim pra ela, imagine para a pobre coluna vertebral do esqueleto bem fornido que vos tecla.
Improvisei um reparo com elástico fru-fru e laça-gato (nunca saia de casa sem eles), e no primeiro posto fiz um bom reparo com arame. Na moto, não na coluna.
Almocei em Juquiá e desviamos para a SP-165.
Ao chegarmos a Sete Barras, onde por um trecho ela se chama SP-139, caí na besteira de pedir informação no posto ipipiranga. É, aquele mesmo.
Imagem: google maps errados.
A seta laranja é a Jezebel e o ponto preto é o meu capacete.
E eu sou aquela forma aerodinâmica azul entre o capacete e a Jezebel.
E eu sou aquela forma aerodinâmica azul entre o capacete e a Jezebel.
No posto disseram que iríamos encontrar a estrada para Eldorado no ashjsoubiu nhanfaru a ponte.
“Onde????”
“Ashjsoubiu nhanfaru a ponte.”
É, eu devia ter tirado o capacete para ouvir melhor.
Agradeci e segui em frente, pelos gestos eu entendi que precisava virar à direita em algum lugar perto da ponte.
Agradeci e segui em frente, pelos gestos eu entendi que precisava virar à direita em algum lugar perto da ponte.
Se ele mencionou a ponte, então devia ser depois da ponte... não faria sentido falar em algo antes da ponte.
Mas um pouco antes da ponte, apareceu uma placa apontando Eldorado por uma estrada de terra feinha que só ela... não podia ser isso.
Então passei pela ponte, avancei um bom trecho, mas nada de estrada lateral, então devia ser mesmo aquela estradica com a placa logo antes da ponte.
Como não uso celular, fiz um esforço mental e relembrei o mapa do google, eu havia estudado o percurso por vários dias, a estrada asfaltada era mesmo antes da ponte.
O trecho inicial foi ficando cada vez menos inicial e cada vez mais feioso, chegou um ponto em que achei que não valia mais a pena voltar, o fim do suplício devia estar próximo. Não estava, ainda tinha uns 20 km até a primeira cidade.
Até hoje o mapa do google mostra asfalto (estrada preferencial amarela) onde é terra, e terra (estrada secundária branca) onde na verdade é asfalto — confira no google street view. Eternally grateful, google...
Até hoje o mapa do google mostra asfalto (estrada preferencial amarela) onde é terra, e terra (estrada secundária branca) onde na verdade é asfalto — confira no google street view. Eternally grateful, google...
Foram 35 km da pior estrada de terra que você imaginar, com vários trechos de subidas e descidas aterradas com pedriscos em que a moto ia para onde bem entendia — Jezebel queria mesmo era fugir dali.
Sem contar que quase perdi a vida nos vários mata-burros...
Imagem: Mata-burro pra quem não conhece. Mata-burros matam burros e motociclistas.
As costelas de vaca (não de boi) eram tão ruins que comecei a ter medo das conexões elétricas se soltarem, os parafusos afrouxarem, as porcas voarem, a moto começar a se desmanchar no meio da estrada, e nós rodeados por bananas.
Bananas longas frutas amarelas, porque não havia uma alma por perto, nem ao menos um posto ipipiranga. Bananas.
Ao chegarmos a Eldorado, minha coluna estava abrindo o bico de papagaio — tive de recorrer a um analgésico forte para seguir viagem.
Pior burrada, como se verá.
Pior burrada, como se verá.
Pilotar uma moto sob efeito de medicação para dor pode ser fatal, algo que eu já sabia, mas não tinha escolha — além de rever os amigos, o outro objetivo da viagem era receber um pagamento que não pôde ser feito por depósito bancário... ou eu chegava a Floripa, ou não teria como voltar para casa.
Bom, até poderia voltar, mas nos dias seguintes não teria o que comer, o que seria um problemão.
Na farmácia o assunto foi a precariedade da estrada, mas o pessoal estava animado, isso ia mudar.
O deputado nascido por lá e que nunca fez nada pelas estradas da região agora tinha sido eleito para um cargo importante lá em Brasília — acho que presidente, sei lá, faz tempo que eu desisti de acompanhar a política.
O homem passou o fim de semana na terra natal e prometeu fundos e mundos.
Disse que ele faria a coisa mudar — e os coitados que acreditaram na promessa estão esperando alguma ação do governo federal até hoje.
O homem passou o fim de semana na terra natal e prometeu fundos e mundos.
Disse que ele faria a coisa mudar — e os coitados que acreditaram na promessa estão esperando alguma ação do governo federal até hoje.
Só no final do ano passado disseram que ia sair uma merreca do governo paulista, menos de 200 milhões para toda a enorme região do Vale do Ribeira.
Só vai dar para pagar as placas anunciando as obras, que por lá são grandes. As placas. As obras são só tapa-buraco. Buracos mal tapados, ainda por cima.
No caminho para o Parque do Ribeira fui contemplado com outro buraco, um buraco camuflado no meio de outros buracos que me fez sentir saudades do primeiro buraco lá da BR — até parei para ver se o buraco tinha danificado a roda, foi difícil sentar na moto de novo. Hummm... ficou esquisito.
Cheguei à pequena Iporanga, 4.333 habitantes, e a moto não deu partida depois da parada obrigatória da tubaína da tarde.
A conexão de carga da bateria realmente tinha se soltado com a vibração e a bateria tinha morrido, felizmente foi um problema fácil de achar e resolver, só apertar de novo o conector e fazer a moto pegar no tranco.
Precisei apertar bem apertado para não arriscar ficar sem farol nem partida no meio da serra, não seria uma boa tentar dar partida no tranco num lugar cheio de onças no caminho para Apiaí. Se bem que a motivação seria forte.
A conexão de carga da bateria realmente tinha se soltado com a vibração e a bateria tinha morrido, felizmente foi um problema fácil de achar e resolver, só apertar de novo o conector e fazer a moto pegar no tranco.
Precisei apertar bem apertado para não arriscar ficar sem farol nem partida no meio da serra, não seria uma boa tentar dar partida no tranco num lugar cheio de onças no caminho para Apiaí. Se bem que a motivação seria forte.
Reportagem: http://www.registrodiario.com/noticia/6546/video-onca-pintada-e-flagrada-em-rodovia-no-vale-do-ribeira.html
Fiz o conserto morrendo de cansaço e dores, então tomei mais comprimidos e ganhei o conselho do frentista do posto (a parada obrigatória da gasolina da tarde):
“Vai atravessar o parque? A estrada é muito ruim, se eu fosse você eu não passava lá de moto. Nem de carro.”
“Pior do que a estrada até aqui?”
“Muito pior. Põe pior nisso. Nem ambulância passa por lá.”
Devia ter aceitado o conselho, ele não estava exagerando.
Com a buraqueira, minha coluna só piorava e o que eu mais queria era chegar até Apiaí para pernoitar e torcer para as dores sumirem durante a noite.
Pilotar uma moto sob efeito de remédios e com o foco fora da pilotagem — eu só pensava nas dores e na urgência em cair na cama — é um dos maiores erros que podemos cometer.
Um erro que pode ser fatal, aprenda comigo.
Pilotar uma moto sob efeito de remédios e com o foco fora da pilotagem — eu só pensava nas dores e na urgência em cair na cama — é um dos maiores erros que podemos cometer.
Um erro que pode ser fatal, aprenda comigo.
O percurso através da mata cerrada do Parque Estadual foi ainda mais demorado e sofrido, até que chegamos a um trecho em que a estrada melhorou um tiquinhozinho de nada.
A serra quase escurecendo, eu querendo chegar em Apiaí antes do fim da luz, pensamentos chegando lá antes da moto, por puro desespero comecei a aumentar a velocidade um pouco mais na medida em que a terra melhorava.
Minha percepção prejudicada pelos remédios dizia que eu não estava correndo, talvez uns 40 km/hora (mas talvez fosse um pouco mais) — foi o suficiente.
Minha percepção prejudicada pelos remédios dizia que eu não estava correndo, talvez uns 40 km/hora (mas talvez fosse um pouco mais) — foi o suficiente.
No meio da estrada tinha umas pedrinhas...
Pedrinhas bestas, nada comparável nem de longe ao que já tínhamos passado para chegar até ali — antes de tomar a medicação.
A estrada não tinha acostamento, muito menos guard-rail, e as pedrinhas ficavam do lado de um precipício na serra...
De repente, não mais que de repente, a roda dianteira desgarrou e fomos pro chão como duas jacas pachorrentas.
E na próxima postagem eu conto o desenrolar do drama. E o rolar das jacas.
Spoiler: Sobrevivemos quase inteiros e temos fotos pra mostrar.
Um abraço,
Jeff
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