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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A diferença entre pilotar uma moto e ser um idiota

Isto é pilotar de verdade uma moto em pista seca com tempo bom:
Isto é pilotar de verdade uma moto debaixo de chuva com tempo ruim: (clique no x no canto superior direito da faixa cinzenta para apagar a propaganda)

E isto é pilotar verdadeiramente como um idiota em qualquer tempo:

O tempo que o pessoal passa fazendo macaquice em cima da moto só para se mostrar para a galera, levar um tombo e tomar aquele prejuízo lascado, por que não investe aprendendo a dominar de verdade a moto?

Empinar a moto e ficar fazendo gracinhas é uma coisa meio que totalmente inútil, a menos que você pretenda ganhar a vida com isso.


Nesse caso, pratique em segurança para não colocar em risco a vida de pedestres, outros motociclistas e a sua própria, além das portas, para-lamas e para-choques dos carros.


E tenha ciência de que as motos que você vê em shows não são motos comuns — os profissionais fazem adaptações especiais, e o custo de manutenção disso é alto, então eles são bancados por empresas que patrocinam os shows. Saiba mais clicando aqui e clicando aqui.

Já aprender a dominar a moto sem fazer malabarismos ajuda muito em situações muito comuns do trânsito como estas daqui.


Melhor praticar a pilotagem que pode te ajudar a salvar sua vida, né?

Em situações em que sua vida vai depender de seu domínio da moto para escapar do perigo, ficar em pé em cima dela ou pilotá-la em uma roda só não ajudarão em nada.

Será a intimidade com sua moto para fazer curvas e inclinar até o limite sem cair nem derrapar, e frear sem cair, que poderá te tirar de uma encrenca federal.


Afinal, simplesmente sair rodando de moto em linha reta por aí não exige muita habilidade...


Nota: O vídeo acima é uma propaganda viral da ducati Scrambler

Não gosto de propagandas virais por serem uma forma de iludir o público, mas gosto da ducati Scrambler — então fiz uma concessãozinha. 

E também postei essa propaganda aqui porque voltarei a falar de propagandas disfarçadas na postagem da próxima segunda-feira, então uni o útil ao utilitário.


Um abraço,


Jeff

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Coisas que você não sabe sobre o limite de giros do motor

Para que serve o corte de giro do motor?

Para que serve a faixa vermelha do painel da moto? 


Aquela faixinha vermelha que aparece no final da escala do tacômetro de alguns carros e motos (com conta-giros) ou do velocímetro (motos sem conta-giros) indica o limite de rotações do motor, mas não só isso.

Imagem: Wikipedia

A indicação colorida deste conta-giros significa que você deve evitar o uso acima de 5500 rpm e não deve usar o motor acima de 6000 rpm.

A faixa vermelha é um regime de rotações que o seu motor atinge, mas que você não deve usar, a menos que sua vida dependa disso e por pouquíssimo tempo em raras situações — ou então você seja um piloto profissional, porque aí quem paga o motor é a equipe. Se o motor estourar em uma competição, o autódromo tem áreas de escape e equipes de resgate.

Nas motos mais modernas, existe uma limitação eletrônica para não entrar naquela que seria a faixa vermelha do motor, que alguns jénios tratam de eliminar para a moto andar mais. 

O que acontece quando o motor é usado por longo tempo na faixa vermelha ou cortando giros?

Você destrói o motor da sua moto com grande chance de abreviar sua estada neste mundo: 

O vídeo é longo, mas vale a pena assistir inteiro com som para entender o que levou o motor a estourar e ver o quanto esse rapaz gostava da moto dele, a ironia da intuição que ele teve de que naquele dia ele ia filmar um acidente, e o quanto essa moto andava bem... Para ir direto ao acidente, avance a fita para 13:00 minutos.



Muita gente boa pensa que o único problema da faixa vermelha é o motor perder o sincronismo entre o giro do pistão ou pistões e a abertura/fechamento das válvulas.

O motor gira tão rápido que as molas das válvulas não conseguem acompanhar o ritmo do pistão, as válvulas saem de sincronismo ou então se quebram batendo no pistão que estoura e deixa de guiar a biela dentro do cilindro.

A pancada destrói o que estiver no caminho: biela, virabrequim, cilindro e mancais do virabrequim, trincando a carcaça — em alguns casos, a biela fura a parede do motor como se fosse um pinto (epa!) saindo do ovo.

Mas o que o pessoal nem imagina é que a faixa vermelha indica uma condição de trabalho inaceitável para o motor também por outro motivo:

O calor gerado por uma sequência tão rápida de explosões não consegue ser retirado do pistão na mesma taxa em que é produzido. 

O pistão é feito de uma liga de alumínio que derrete em temperaturas superiores aos 660 graus normais para o alumínio puro. 

Mas os gases de escape podem atingir bem mais do que 660 graus. Esse escape aí embaixo está a uns 950 graus Celsius. 




Normalmente você não vê o escape de uma moto brilhar no escuro porque em movimento o vento diminui sua temperatura.


O fato é que a temperatura do pistão não pode passar dos 300 graus centígrados, porque acima disso a liga de alumínio amolece, perde a resistência mecânica.


Se esses pistões aí em cima estivessem fazendo força para mover a moto, estourariam. Aliás, mais um pouco e eles estourariam de qualquer jeito...

Mas o fundamental é entender que aquilo que resfria o pistão de alumínio e impede que ele derreta é o óleo do motor borrifado esguichado por baixo dele.




Por isso é tão importante rodar sempre com a quantidade correta de óleo — além de lubrificar para evitar o atrito entre as peças, é o óleo que retira o calor concentrado na pequena área do pistão e o resfria na enorme área das paredes da carcaça do motor. 


Se o óleo for pouco, ele nem chegou a esfriar direito e já está sendo enviado de volta ainda muito quente para o pistão. 

Ou seja, ele perde eficiência para esfriar o alumínio na hora em que o pistão mais precisa.

Pouco óleo = incapacidade de retirar todo o calor do pistão + degradação química acelerada = aumento do atrito + desgaste acelerado das peças + maior risco de derretimento do pistão + maior risco de travamento do motor. 


Mesmo com a quantidade correta de óleo, se o motor permanecer trabalhando por alguns minutos na faixa vermelha, o aquecimento do pistão será tamanho que o óleo deixará de dar conta do resfriamento. 

O pistão se dilatará mais do que o aceitável e acabará se fundindo à camisa do cilindro, ou então amolecerá e furará, ou se romperá na região do pino do pistão (conexão com a biela). 


Se der tempo de o sistema ser sensibilizado, o indicador de temperatura da sua moto teoricamente irá alertá-lo antes que o motor seja danificado — se tudo correr bem.

O medidor de temperatura monitora apenas a temperatura do líquido de arrefecimento ou do óleo em condições normais de funcionamento.

Mas na faixa vermelha tudo acontece tão rápido para o pistão que não dá tempo de os sensores acusarem o problema.   


Imagine o pistão se avermelhando lá dentro... está a um passo de estourar ou derreter, e o ponteiro da temperatura ainda está começando a se mover.

Em ambas as situações, flutuação de válvula ou pistão estourando, o resultado é o mesmo — carcaça do motor rachando, quebrando, voando pedaços, tudo isso em um segundésimo de segundo.


Num momento você está curtindo sua moto na velocidade máxima com seu motor acima do limite de giros da faixa vermelha, ou cortando giro... 




E no instante seguinte você continua na velocidade máxima, mas com o motor e roda traseira travados em zero rpm e sua moto desesperadoramente saindo de controle — você só quer salvar sua vida.



Você tem de ser muito rápido para acionar a embreagem no instante em que suas rodas traseiras travam (as duas), mas isso não resolve. 

O rombo aberto na carcaça do motor está fazendo o óleo do motor jorrar, deixando um longo rastro de óleo por dezenas de metros bem no caminho do pneu traseiro.

Sua moto começa a deslizar de um lado para outro patinando sobre sabão e só te resta rezar para não cair. 

Quase certamente você cairá, e aí é rezar para não dar de cara com um carro, ônibus, caminhão, guia, poste ou guard-rail. Graças a Deus o motor não estourou durante a primeira tentativa junto dos caminhões...

O motor dessa 750 (a Sete Galo) já devia ter uma quilometragem elevada, provavelmente sempre foi tratado com o mínimo de óleo e devia estar com o mínimo de óleo porque quase ninguém lê o manual. E mesmo quem lê faz o procedimento errado...

Motores idosos não podem ser exigidos no limite, e muito menos acima do limite. 

As motos carburadas mais antigas não possuem corte de giro, o controle tem de ser feito exclusivamente pelo piloto — não invadindo a faixa vermelha.

Caso você precise entrar na faixa vermelha por uma ultrapassagem mal calculada, faça-o pelo mínimo tempo possível e deixe o motor esfriar rodando com a moto em uma velocidade tranquila por vários 20 minutos, senão poderá acontecer o que você viu.


Não pare para o motor esfriar, que aí as peças superaquecidas vão acabar se fundindo mesmo. 

O motor precisa receber vento para ir esfriando lentamente, continuando a funcionar, com a moto em movimento, mas sem fazer força.



Isso só acontece com motos velhas?

Negativo, motores novos correm o mesmo risco.


Forçar o motor ainda na fase de amaciamento é tão perigoso quanto, porque nesse período as peças estão fazendo mais força e se aquecendo mais do que a condição normal de projeto.


Além disso, modificações sem critério podem ser fatais.


O piloto lá de cima estava estreando uma nova relação mais alongada com o objetivo de ganhar velocidade final.

É um jogo de compensações: 

Para ganhar velocidade, o motor precisa fazer mais força do que aquela para a qual foi projetado... tudo jogou contra a veterana.

Esse é o pistão furado de uma motoneta envenenada para melhorar o desempenho. 

O motor estourou quando o piloto chegou a 105 km/h.

Não é problema apenas de motos de alta cilindrada.

Uma cinquentinha original de fábrica tem a mesma chance de travar o motor que uma Titan, Factor, Yes, Kansas ou uma superesportiva — até uma custom, que normalmente não tem conta-giros, possui uma faixa vermelha pintada no velocímetro. Menos a Kansas.

Desrespeitar a faixa vermelha não compromete apenas motores cansados de motos antigas.

Motos novas correm o mesmo risco porque o limite mecânico está relacionado à resistência dos materiais e das peças da fabricação do motor.


Curiosamente, os fabricantes economizam tinta vermelha nos painéis das motos de pequena cilindrada, como se elas não estivessem sujeitas ao risco de travamento do motor.

Ah, que nada, moto nova corta o giro e o motor não estraga!


Ah, tá. 


Vai nessa que você se dá bem. 

Bem mal.

Tudo é uma questão de quanto tempo você fica exigindo o máximo do motor, e em que condições seu motor está sendo lubrificado.

Se você já sai de casa com pouco óleo no motor, iludido com o procedimento confuso da verificação do nível que é feito no manual do proprietário que te induz a rodar sempre com o nível de óleo baixo, acontece isso aqui:


Este outro piloto teve a sorte de não cair. Viu o tecão da carcaça do motor que voou longe?

O motor vazou e deixou um longo rastro de óleo por dezenas de metros até ele conseguir parar a moto com o pneu encharcado de óleo. 

A ironia é que a moto tinha acabado de retornar de um recall do fabricante onde o motor foi aberto para substituir os parafusos das bielas que por defeito de fabricação poderiam se afrouxar e estourar o motor — justamente para evitar o que aconteceu.

A moto supostamente deveria estar em perfeitas condições, mas o motor estourou 40 km depois de sair da oficina... Me pergunto se mediram o nível de óleo corretamente nessa bmw...

Se chegou a rodar 40 km, esse motor estava funcionando normalmente; alguém cometeu um erro grave — será que foi a concessionária que montou, colocou óleo no motor e testou a moto antes de entregar?

Ou será que foi o piloto saudoso que por 40 km colocou no limite de giros um motor refeito que precisaria ser amaciado suavemente até as peças se ajustarem? Tenho um palpite, mas não vou dizer.

Quer ver o motor de uma moto novinha sendo exigido ao máximo e estourando, esguichando e deixando um longo rastro de óleo por dezenas de metros?



Nem mesmo motos aquáticas (os motores são muito similares aos de motos) escapam das leis da Mecânica. 

Olha só o tamanho do estrago deste motor: 



Estourar o motor de um jet-ski é bem menos grave do que estourar o motor de uma moto.

Quando qualquer motor estoura o pessoal que sobrevive fala mal do fabricante, que o motor não presta, etc., etc.


Se há uma coisa que eles podem falar mal e com razão é quanto ao procedimento de medição do nível de óleo confuso que ninguém faz direito porque é diferente dos carros, e da prática de colocar o mínimo de óleo sem que o cliente saiba — sujeitando-os a riscos como este.


Pode apostar que a maior parte das reclamações de motor estourado que aparecem na internet se devem a isso, exigir o máximo do motor sem que ele esteja corretamente lubrificado.


Se mesmo motores dotados de corte de giro para evitar que o motor estoure continuam estourando, o culpado tem de estar em outro lugar, e esse lugar é o nível de óleo dentro da carcaça do motor.


Mas os fabricantes não estão nem aí com um problema que pode tirar vidas. 


Ou por incompetência em percebê-lo, ou porque isso não está incomodando os acionistas porque os lucros vão muito bem, arigatô.


Se você não está nem aí com a tua vida, pelo menos tome cuidado com a vida da tua moto.

Aquelas motos pobrezinhas dos vídeos provavelmente nunca mais verão uma luz no fim do túnel. Nem túnel nenhum.


Para voltar a rodar elas irão depender de um transplante de motor. A carcaça quebrada de um modelo fora de linha não tem conserto nem reposição disponível. 


Tudo lá dentro deve estar quebrado... se algum caco metálico voou nas engrenagens, moeu o câmbio, o prejuízo é total.

Se a moto rodar com menos óleo que o ideal e for exigida no limite do motor, tenha certeza de que seu motor irá fundir.

Se não for hoje, será amanhã — independente da quilometragem ou anos de uso. 

Abusar da moto é algo que o pessoal faz totalmente sem consciência dos riscos, e é por isso que eu bato tanto nessa tecla do óleo.

O pessoal não imagina o quanto forçar o motor perto do limite — e acima do limite — é perigoso, e ainda por cima na pior condição possível de lubrificação, com desgaste acelerado e superaquecimento...

Quem escapa inteiro de uma travada dessas tem muita sorte — eles nasceram de novo.

Exceto o piloto de competição, eles quase entraram para a turma das manchetes misteriosas "motociclista perde o controle da moto..."


Reportagem: http://adilsonribeiro.net/itaperuna-sabado-motociclista-perde-o-controle-da-moto-e-acaba-batendo-no-guard-rail/

Vendo esse longo rastro de óleo por dezenas de metros, você consegue imaginar uma causa possível para este acidente que matou o piloto em Itaperuna?

Tomara que tomando conhecimento desses incidentes a galera se conscientize de que moto não é brinquedo.


Moto é igual a um avião, só que com você a 1 metro do solo. 


Uma motocicleta é uma máquina à qual você confia sua vida — se você não cuidar bem dela, ela não cuidará bem de você.


Um abraço,

Jeff