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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A conclusão final a que chegamos

Nas últimas dez postagens vimos uma série de casos de recalls de motos e carros recém lançados com graves erros de projeto e execução.

Apenas separei alguns casos, para quem quiser pesquisar o assunto vai longe... 

Mas para concluir e encerrar o assunto destas duas semanas, vamos voltar à vaca fria:
Vendo tantos recalls por motivos graves e bizarros acontecendo, é o caso de perguntar:

Por que tantos problemas acontecem e são descobertos somente depois que as motos (e carros e mais um monte de produtos) estão nas mãos dos clientes — colocando a vida e o patrimônio deles em perigo?

A principal responsabilidade dos fabricantes é fornecer produtos confiáveis e seguros — não podemos abrir mão disso.

Mas parece que hoje a preocupação das fabricantes com o custo de fabricação, o preço de venda, a beleza, a propaganda, o apelo aos consumidores e a rapidez no lançamento e na obsolescência de novos produtos se sobrepõe a qualquer critério de segurança.
Imagem: http://leninja.com.br/obsolescencia-programada/ — A comparação entre windows e apple é bizarra... a microsoft não se diferencia da concorrência na hora de obrigar os consumidores a migrar para novos sistemas operacionais...
Mais sobre obsolescência programada: http://na-beirada.blogspot.com.br/2012/04/obsolescencia-programada.html

— O produto novo tem um risco mortal...

Nôu problem, se custar menos de 10 centavos a gente conserta na revisão e não fala nada — e cobra como "materiais diversos".

— Mas vai custar mais de 10 centavos...

Bom, o jeito é marcar uma reunião para discutir o assunto.

— O produto já matou alguém...

Tudo bem, o departamento jurídico cuida disso para negar a responsabilidade. Na pior das hipóteses, eles negociam a menor indenização possível.

— A imprensa está fazendo alarde... 

A gente aumenta a verba publicitária para preservar a imagem da empresa e manter as vendas lá no alto e enrola o quanto puder. 

— As autoridades estão investigando...

É, não vai ter jeito, faz um recall.

É triste, ma
s é assim que eu imagino essas decisões vitais sendo tomadas nessas empresas...
Imagem: Montagem sobre https://cityroom.blogs.nytimes.com/2010/10/18/complaint-box-recap-meetings-and-those-who-hate-them/?_r=0

Eu acuso as montadoras de descaso com seus clientes devido à urgência desmedida de lançar novos produtos no mercado sem fazer os devidos testes de confiabilidade e durabilidade.

Antigamente novos produtos eram testados no mínimo por dois anos antes de irem paras as ruas.

Hoje o projetista dá ENTER no computador e as motos já começam a ser despachadas para as concessionárias. 

Estou exagerando, mas não é muito diferente disso.

A data de lançamento é definida antes de outros parâmetros fundamentais do projeto — e os funcionários que façam mágica para cumprir as metas.

Se vai dar certo ou não, aí é outra história...

Chega uma hora em que se ultrapassa o limite do razoável e os problemas superam as vantagens.

Veja o caso da harley e da indian:

Os motores de menor cilindrada das Sportster e das Scout não excederam a barreira do viável e não dão problemas... enquanto os maiores estão decepcionando ou a caminho de decepcionar seus proprietários.

Fique esperto, porque se depender dos fabricantes, sejam quem for, você estará cada vez mais entregue à própria sorte porque as metas são cada vez mais inalcançáveis.

Como a dafra demonstra com as Indian e Kansas, nem mesmo na hora de convocar um recall que poderá salvar vidas eles enfiam a mão no bolso.


Mas para fazer propaganda na hora de vender, a estória é outra, vale até computação gráfica:


A dafra nunca se retratou por recomendar menos óleo que o mínimo necessário para as Kansas e Speed, e repetiu o escárnio com as Horizon 150.

A dafra não teve pudor de omitir e alterar informações em seus próprios manuais de proprietário, "porque assim se ganha mais dinheiro", já dizia o Cazuza.

A honda demorou uma eternidade para descobrir a causa do problema de incêndio do freio das Gold Wing, mas pelo menos teve a decência de convocar publicamente o recall até mesmo no Brasil... Antes tarde do que nunca.

Em compensação, até hoje a honda "não descobriu" o motivo dos motores começarem a pipocar depois da adoção do óleo 10W-30.

E até hoje deita e rola em cima dos proprietários que estão perdendo seus motores por confiar na empresa e usar esse óleo inadequado que até outro dia não era recomendado para o Brasil.

Suas concessionárias cometem o desplante de recomendar o famigerado óleo 10W-30 até mesmo para motos que originalmente usavam 20W-50, como a CB 300... 

O resultado é o que todos conhecem.

Graças a essa pressa de lançar novos produtos e ganhar mais dinheiro, os fabricantes não cumprem com sua obrigação de colocar à venda produtos seguros.

Quando descobrem um problema grave, nem sempre dão o destaque que a situação exige.

Se omitem quanto a seus deveres máximos — alguns são omissos até mesmo diante do que a lei determina.

O Casoy diria que tais erros e atitudes são uma vergonha.

Outros diriam que é a falta dela.

O pessoal sai de fininho e finge que nem é com eles.

Os engenheiros da polaris / indian, cujos problemas desencadearam esta série de postagens, não são vilões.

Eles certamente se empenharam em fazer o melhor projeto possível, e os quadriciclos e as motos fabricadas por eles são prova disso.

A gente vê nos detalhes que há paixão no desenvolvimento de todos os componentes das máquinas.

O lamentável é que na hora de unirem essas peças eles cometeram falhas de projeto elementares, indignas até de iniciantes — e essas falhas custaram vidas.

E assim como eles, a imensa maioria dos engenheiros das outras empresas também não quer ser vilão.

Mas eles são obrigados a trabalhar para atingir objetivos fora da realidade estabelecidos por critérios de marketing e não de bom senso.

Em nome do mercado, perdeu-se o pé da realidade, e isso está colocando vidas e patrimônios em perigo.

Está faltando alguém lá dentro dessas empresas dar um murro na mesa e afirmar em alto e bom som:
Imagem: http://www.arthur.bio.br/2013/12/31/relacionamentos/basta-ou-a-gota-que-faltava#.WJBfglMrK1s

Não dá para lançar produtos confiáveis nos prazos exigidos e nos custos de produção almejados!

Ou talvez alguém já tenha dito isso e foi substituído por outro engenheiro mais "pró-ativo e alinhado com as metas da empresa"... nunca saberemos.

Algo está profundamente errado na maneira como as empresas estão lançando produtos no mercado.


Quando a gente vê empresas como a harley-davidson lançando no mercado uma moto que precisa passar por recall porque não cumpre normas elementares — como a obrigatoriedade de instalar refletores na traseira da moto...
Imagem e reportagem: http://www.asphaltandrubber.com/recall/harley-davidson-recalls-motorcycles-lack-reflectors/

Ou uma honda da vida soltando no mercado milhões de motos perigosas porque os piscas não atendem às normas internacionais de distância mínima em relação ao farol...

E ainda por cima, retirando o modelo de fabricação de fininho, sem nunca convocar um recall...
Denúncia: http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/09/uma-modinha-e-milhoes-de-motos.html

Mesmo sabendo que os piscas embutidos no farol descumpriam a legislação e colocavam colocam a vida dos usuários em risco, a honda teve a cara de pau de fingir que nunca pariu a criança.

E ainda fez o marketing dos novos piscas externos da CG 2014 afirmando cinicamente que eles são "atualizados e atendem às normas internacionais de iluminação com excelente sinalização" — tudo o que os piscas das CG 2009 a 2013 não faziam e não fazem até hoje!

É ou não é o cúmulo do máximo da cara de pau?

Ver tantas empresas que se dizem sérias cometendo tantos erros que colocam as vidas dos usuários em perigo é suficiente para perder de vez a fé nas indústrias automotiva e de motocicletas.

Eu responsabilizo a ganância das empresas por levar ao abandono das práticas consagradas de Engenharia.

Culpo essa pressão absurda para vender cada vez mais e mais rápido, sem enxergar direito o que estão fazendo, sem prever as consequências dessa pressa irresponsável.

Na ânsia de despejar novos produtos no mercado, transformaram os consumidores em pilotos de prova e cobaias de teste.

Se alguma coisa der errado, fazem um recall.

Ou tiram o produto do mercado fazendo de conta que o problema nunca existiu — até têm o descaramento de usar a falha do projeto anterior como argumento de vendas para o novo produto.

Ou então enrolam o quanto podem para não assumir a responsabilidade pelos erros.

Quando não jogam a culpa pelos problemas nas costas dos clientes que nem sabem onde encontrar os argumentos mínimos para contestar esse abuso de poder.

Enquanto as verbas para o marketing forem a maior prioridade, e a segurança e confiabilidade dos produtos for sacrificada, continuaremos a ver os nomes de grandes empresas associados a escândalos revoltantes.

Revoltantes porque evitáveis.

Essa fórmula aplicada pelas empresas de "máxima qualidade no menor prazo e menor custo" está errada.
Imagem: http://uncyclopedia.wikia.com/wiki/Unobtainium

Começa errada porque nem considera a segurança final do produto.

Além disso, essa equação não fecha.

É algo impossível de se obter. 

Para atingir duas dessas metas, você é obrigado a abrir mão de uma.

E ao priorizar o menor prazo de desenvolvimento dos produtos e o menor custo de fabricação, automaticamente a qualidade e a segurança do produto vão pelo ralo.

Alguém precisa dar um basta nessa espiral decadente de obsolescência programada e muitas vezes imprevista que os carros, motocicletas e demais produtos estão cumprindo cada vez mais rápido. 

Se você souber de algum outro motivo para isso estar acontecendo além da ganância e abandono das práticas consagradas de Engenharia em prol do marketing e aumento das vendas, é só dizer nos comentários.

Obrigado por acompanhar o meu desabafo, eu precisava dizer essas coisas. 

Estavam entaladas na garganta há tempos...

Um abraço,

Jeff

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Os recalls de motos de arrepiar e o mistério daquela honda Gold Wing que pegou fogo sozinha no meio da estrada

A lista de motos recém lançadas que passaram por recall nos EUA nos últimos tempos é enorme.

Primeira página de outras muitas...
Somente no ano de 2015 você teve recalls da harley-davidson Dyna / Softail, aprilia Shiver 750, aprilia Caponord 1200, polaris Slingshot, brammo Empulse, can am Spyder, kawasaki Concours 14, indian Scout, ducati Multistrada 1200...

Vários modelos da yamaha deram problema no seletor de marchas, harley-davidson Street e Touring por problema na embreagem, ktm, yamaha R1, triumph Daytona 675 e Speed Triple e honda CBR 1000S por problemas nos amortecedores...

45 mil motos de vários modelos da honda por erro de aplicação de selante no interruptor de partida capaz de deixar a moto inoperante, honda CB 500F e CB 500R, bomba de combustível das harley-davidson Street 500 e Street 750, freio nas motonetas KYMCO, mangueira de freio nas motonetas bmw C 600, pinça do freio dianteiro nas suzuki GSX 1000...

Tudo isso só em tempos recentes.

Em 2017 já foram mais 6, descontando aqueles dos 7 modelos da indian.

Teve mais um outro da polaris que eu nem comentei porque é um triciclo que eu pensava que o Slingshot não era vendido aqui no Brasil.
Imagem: http://www.moto.com.br/acontece/conteudo/polaris-suspende-vendas-do-triciclo-slingshot-83247.html

Vou comentar somente os recalls com grande risco de vida para os ocupantes:

Você encontra casos apavorantes como o recall de 46.426 motos de vários modelos da bmw só nos EUA por possibilidade de quebra do flange de montagem da roda traseira.
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/04/bmw-convoca-4558-motos-no-brasil-para-recall.html

Aqui no Brasil o recall afetou somente os modelos K 1200 e K 1300, mas note que foram chamadas motos fabricadas durante 8 anos inteiros...

Ou seja, o excesso de aperto determinado no projeto foi aplicado durante esses 8 anos e só foi detectado depois que as motos mais antigas começaram a dar problema...

Não queria estar na pele do proprietário de uma dessas no momento em que a roda traseira rachou e se soltou.

Com o travamento da roda traseira, o tombo é certo e o risco de atropelamento — bah, não quero nem pensar.


Entre os recalls nos EUA não está a história bizarra e não muito bem explicada do recall das kawasaki Ninja ZX-10R e Concours 14 feito aqui no Brasil...
Imagem e ivulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2012/08/kawasaki-comunica-recall-dos-modelos-concours-14-e-ninja.html

Sabe o que eu achei curioso na divulgação feita na mídia?

As reportagens para falar do recall mostram fotos dando destaque para a Concours 14 (acima) por causa de um problema menor — o acúmulo de sujeira externa que bizarramente exige a substituição do cilindro mestre (linhas azuis)...

E ninguém deu destaque ao caso muito mais grave da moto muito mais vendida Ninja ZX 10R (linhas vermelhas)...
Imagem: Divulgação kawasaki

Nas manchetes o pessoal fala de um simples "acúmulo de óleo" fora do motor... 

E só nas letrinhas miúdas quase no final da reportagem quando ninguém mais está lendo — do lado de uma fotinho discreta da moto — é que falam que isso pode causar perda de controle da Ninja. 
Divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2012/08/kawasaki-comunica-recall-dos-modelos-concours-14-e-ninja.html

Ninguém fala em lugar nenhum que será necessário trocar a carcaça fundida defeituosa e fazer a reconstrução completa do motor... Mania de dourar a pílula que esse pessoal tem.

Ou será que taparam o furo com uma gambiarra de epóxi? Dona kawa, fala sério, hein?

Descobrir uma falha grosseira de fundição, ocorrida na primeira etapa do processo industrial, somente depois que a moto já está na garagem do dono? 

Que raio de controle de qualidade vocês estão usando aí no Japão? Ou é na fábrica da Tailândia, onde a mão de obra é mais barata? Sinceramente... pô, que decepção, dona kawa...

Outro caso que não teve o destaque merecido por aqui foi o recall da yamaha para as YZF R1 por uma falha potencialmente mortal — a quebra das engrenagens do câmbio.

O recall envolveu TODAS as motos fabricadas em 2015...
Imagem e reportagem: http://www.moto.com.br/acontece/conteudo/yamaha-yzfr1-2015-recall-por-problema-no-cambio-92568.html

Esse recall foi pouco noticiado no Natal porque não ocorreu no Brasil já que a yamaha não importa essa nova viúva negra para cá —então não chamou a atenção da grande mídia, mas devia, pela seriedade do problema.

Uma engrenagem quebrada no câmbio de um carro faz o seu fusca travar no meio da avenida Rubem Berta no horário de pico. Já fui contemplado com uma dessas, só saí de lá com guincho.

Se eu estivesse de moto não tinha blog.

Por aqui a yamaha não fez o recall da R1, mas em compensação fez o da YZF-R3, a rival da Ninjinha, por problemas na bomba de óleo, embreagem e possível erro de montagem das travinhas do câmbio...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2016/06/yamaha-r3-entra-em-recall-para-trocar-bomba-de-oleo-e-placa-de-embreagem.html

TRÊS problemas extremamente graves em um único modelo — TRÊS defeitos com potencial para derrubar o motociclista e causar um acidente fatal.

Como foi testada essa moto antes do lançamento que não perceberam TRÊS problemas assim graves?

Não fizeram testes de rodagem de alta quilometragem? 

Deixaram essa tarefa para os proprietários? 

Os donos agora são pilotos de teste sem remuneração? Ou melhor, pagando para servir de cobaias? Francamente....

A yamaha também fez o recall da MT-09 por outro motivo, a quebra da coroa de transmissão — outro problema com o mesmo perigo de derrubar os ocupantes:
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/11/yamaha-mt-09-e-chamada-para-recall-no-brasil.html

A MT-09 é esse modelo que você não vê na foto da divulgação do recall. Será que não queriam queimar a imagem?

A quebra de engrenagens ou eixo do câmbio, e também da coroa de transmissão, pode causar o travamento da roda traseira no meio de uma rodovia.

Um tombo certo com muita possibilidade de resultar em lesões graves, atropelamento e morte.


O ano de 2016 não foi muito bom para a yamaha...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2016/05/yamaha-xtz-150-crosser-tem-recall-por-possivel-quebra-do-chassi.html

Quem diria que a yamaha conseguiria lançar a Crosser com risco de quebra do chassi, um defeito que a gente só viu acontecer na dafra Kansas?

Exatamente o mesmo problema que a dafra nunca teve a hombridade de assumir.
Recall da yamaha Crosser: g1 autoesporte
Eu adoro a sutileza e a cara de pau do texto do recall...

Para eles o problema não está no chassi ter sido MAL PROJETADO...

Está nas "determinadas situações de uso frequente da motocicleta"...

"em pisos irregulares com trepidação constante"...

Pô, yamaha, não vem com esse papo de dafra!

Projeta uma moto que não aguenta ser usada por um ano e vem por a culpa nas ruas e condições normais que vocês não souberam prever?

Ora, faça o favor! Pelo menos a yamaha teve a decência de convocar o recall... 

Tantos problemas tão graves em motos recém lançadas, dona yamaha... 

O que está acontecendo com sua engenharia e controle de qualidade, dona yamaha?

Um recall por motivo semelhante ao da R1 — e risco idêntico — foi feito pela suzuki em relação a uma moto com boas vendas no Brasil, a GSR 150i.

Tome cuidado na hora de comprar uma dessas de segunda mão, verifique se o antigo dono soube do recall.

Melhor ainda, não confie na informação dele, verifique você mesmo se o recall foi feito visitando uma concessionária suzuki — lá eles têm como comprovar se o reparo foi executado. Ou tome muito cuidado ao passar pela Rubem Berta.

Recalls não têm prazo de validade, a montadora é obrigada a resolver o problema criado por ela — o que você não pode é ficar esperando o pior acontecer.

Sentiu falta de alguém?

Não falei até agora da honda, né?

Pois é.

Se o ano de 2016 foi péssimo para a yamaha, o de 2015 foi muito ruim para a honda...

Em 2015 a honda convocou mais de 12 mil motos de 10 modelos aqui no Brasil — incluindo a NC 700, NC 750, a Shadow 750, e as quatro cilindros CBR 600, Hornet e CB 650.

E isso foi noticiado pela rede globo como risco de desligamento repentino do motor por "curto-circuito e superaquecimento do interruptor de partida".
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/08/honda-faz-recall-de-11922-motos-modelos-podem-desligar-sozinhos.html

Mas o recall norte-americano falava em risco de o motor apagar e não voltar a funcionar em 33 modelos por causa do excesso de selante no solenoide de partida — starter relay switch.
Divulgação do recall: http://www.motorcycle-usa.com/2015/07/article/honda-recalls-45153-motorcycles/

Esse site americano nem sequer mencionou a possibilidade de incêndio do chicote elétrico e outros sites divulgaram com pequeno destaque a chance de a moto pegar fogo. Estranho.

Por que aqui no Brasil na mesma época o mesmo recall, apesar de noticiar corretamente os riscos envolvidos, foi divulgado de maneira diferente?

Sem falar nada sobre o desleixo na aplicação do selante no relé, a versão brasileira publicada no g1 disse que o problema estava no interruptor de partida:
Divulgação do recall: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/08/honda-faz-recall-de-11922-motos-modelos-podem-desligar-sozinhos.html

Eu até pensei que fosse erro da globo, mas entrei no site de recalls da própria honda e a informação diferente e errada partiu mesmo de lá:
Recall: https://www.honda.com.br/noticias/honda-convoca-proprietarios-de-diferentes-modelos-para-inspecao-e-caso-necessario

É isso que dá botar estagiário para escrever literatura técnica...

A tradução correta de starter relay switch é simplesmente relé de partida, e não interruptor de partida e nem interruptor do relé de partida, como está no site da montadora.

Quem ativa e desativa o relé de partida é o interruptor de partida no guidão — o relé é completo em si mesmo, chamá-lo também de interruptor só serve para causar confusão. Como essa.

Interruptor e relé de partida nem ficam perto um do outro...
O resultado é que o boletim de recall saiu errado e incompleto...

Concorda que noticiar um curto-circuito no interruptor de partida dá a impressão de que o problema é menos sério?

Mais fácil de resolver no guidão do que nas profundezas do chassi, né?

Não digo que isso tenha sido intencional, mas o fato é que a divulgação aqui no Brasil omitiu a causa do problema — uma falha grosseira na aplicação do selante durante a fabricação da peça.

Afinal, por que lá fora disseram a causa e aqui no Brasil não falaram nada? Nem falaram que o curto-circuito pode torrar o chicote elétrico?

Negar informações aos clientes brasileiros sobre o problema não ajuda o pessoal a se conscientizar da urgência em cumprir o recall, viu dona honda?

Custava falar exatamente o que a matriz lá no Japão determinou? 

Lá na Austrália e nos Estados Unidos foram bem claros... a aplicação incorreta do selante pode causar o travamento do relé causando parada do motor e a impossibilidade de ligar novamente com risco de acidente para os ocupantes e terceiros, ou um curto-circuito e também eventualmente causar o incêndio do chicote elétrico e da moto.

Porque pensando que o problema está no interruptor ali no guidão, e o interruptor não dando problema nenhum, o que o cidadão faz?

A tendência dele é pensar que a moto está livre de precisar atender o recall, né?

Isso não contribui para aumentar a baixa média de atendimento a recalls que segundo o PROCON de SP está abaixo de 13%... 

Parece que o pessoal lá não conhece piscologia. Piscologia vem de piscis, peixe em latim. Dori não manda lembranças.

Voltando a falar dos recalls nos EUA, note que na lista de 33 modelos com risco eventual de curto-circuito no chicote elétrico lá dos EUA não está relacionada a honda Gold Wing.

Ela estava pegando fogo na parte dianteira, inclusive roda e mangueira do freio dianteiro, e não há nenhum recall para algo parecido com isso.


O que poderia levar uma moto a pegar fogo sozinha como aconteceu com aquela?

Seria um caso que exigiria recall e que não foi convocado pela montadora?

É o que discutiremos na postagem de segunda-feira.

Até lá, um abraço e um bom fim de semana,

Jeff

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O recall da falha mortal dos quadriciclos Ranger da polaris

As motos da indian apresentaram risco de incêndio e foi feito um recall, falamos disso na postagem de terça-feira.

E também foi dito que o projeto das Indian modernas pós 2013 foi feito pela sua nova empresa matriz, a polaris.

A polaris é uma tradicional fabricante de motos de neve (snowmobiles) e quadriciclos.

Antes de adquirir a indian, a polaris já produzia nos EUA as motocicletas Victory, divisão que infelizmente está sendo encerrada agora em janeiro. Na internet um assunto puxa outro.
Imagem: https://en.wikipedia.org/wiki/Victory_Motorcycles

A concorrência interna com as Indian não deu chance às Victory, que nunca conseguiram se firmar na concorrência contra as Harley no mercado americano.

Uma pena, era um belo motorzão, um dos mais bonitos do mercado — e era a marca com o mais alto índice de satisfação de seus proprietários nos EUA.

Certamente o recall feito ainda em 2014 de 122 unidades por problemas no seletor de marchas dos modelos 2015 não ajudou a sustentar a marca.

Coincidentemente, também da polaris há um outro recall por risco de incêndio para os quadriciclos Ranger RZR.
Imagem e reportagem: http://oglobo.globo.com/economia/carros/uma-trilha-radical-com-utv-polaris-rzr-que-parece-um-jipe-das-antigas-13806322

E o motivo fundamental é semelhante, compactação excessiva do projeto mantendo componentes de alta temperatura muito próximos de outras partes do veículo e do sistema de combustível.

Essa é uma condição inerente de veículos compactos, mas as máquinas modernas (de todos os fabricantes) estão ultrapassando limites que não deveriam ser ultrapassados de acordo com as boas práticas de Engenharia.

Para começar, vamos falar um pouco sobre quadriciclos.

Existem dois tipos de quadriciclos:

ATV (All-Terrain Vehicle, veículo todo terreno) quando têm assento único e guidão. Basicamente, uma moto de quatro rodas (abaixo à esquerda).

UTV (Utility Task Vehicle, veículo utilitário para tarefas) quando têm gaiola de proteção, volante e um ou mais pares de assentos com encostos posicionados lado a lado (abaixo ao centro e à direita)Opa, isso pareceu papo anarquista? Abaixo a anarquia!!!
Imagem: http://www.motonauta.com.br/tag/polaris/

ATVs são mais voltados para o lazer, enquanto os UTVs foram concebidos para uso a trabalho no campo / floresta — são muito utilizados por fazendeiros e lenhadores no Canadá, Texas e extremos norte, oeste e noroeste dos EUA.

Alguns modelos do UTV Ranger são praticamente caminhõezinhos 4x4:
Imagem: Pesquisa no google por UTV polaris

Aqui no Brasil os UTVs têm grande potencial para se popularizarem como veículo de trabalho no agronegócio, mas por enquanto são usados principalmente para lazer e competição fora de estrada.

Por coincidência, no dia em que escrevia esta postagem soube que dois brasileiros, Leandro Torres e Lourival Roldan, tinham acabado de ser campeões inéditos do Rali Dakar 2017 com um quadriciclo polaris.
Imagem e reportagem: http://globoesporte.globo.com/motor/noticia/2017/01/dupla-brasileira-surpreende-e-garante-o-primeiro-titulo-do-pais-no-rally-dakar.html

A relação entre indian e polaris é que esta última é a empresa norte-americana que em 2013 comprou, levantou a empresa e reprojetou os motores e motocicletas da tradicional fabricante indian.

Não sei se foram os mesmos engenheiros, mas o resultado final em ambos os projetos foi o mesmo, risco de pegar fogo. 

Pior, mortes por incêndio. Na internet você pesquisa um assunto e descobre outro relacionado.

Devido ao superaquecimento de vários componentes muitos quadriciclos Ranger RZR foram consumidos pelas chamas, e também foi feito um mega recall por parte da polaris.

Pelo menos esse recall foi devidamente noticiado no Brasil:
Imagem e reportagem: http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/risco-de-incendio-leva-polaris-convocar-recall-de-veiculos-no-brasil-19422571

Note que no Brasil os quadriciclos não têm qualquer participação da dafra, eles sempre foram comercializados diretamente pela própria polaris.

E como a polaris é uma empresa séria, idônea e respeitável, ela não empurrou o problema para baixo do tapete, e convocou e anunciou publicamente o mega recall. Nos EUA e Canadá o Ministério Público atua com rigor quando tem de atuar com rigor.

Mas a imprensa tupiniquim nunca noticiou os fatos que deram origem ao mega recall:
Imagem e reportagem: Star Tribune
Basicamente, a notícia na seção de Economia diz que a polaris reduziu a previsão de lucros em 43% por conta desse recall e, presumo, futuras indenizações.

Tradução:

Um veículo recreativo fora de estrada Polaris RZR 900 alugado pegou fogo após tombar em julho no Condado de Juab, Utah [EUA]. 

Um dos quatro ocupantes, uma garota de 15 anos, sofreu queimaduras em 65% do corpo e morreu em novembro.

Mais de uma centena de quadriciclos pegou fogo.
Reportagem: http://www.startribune.com/polaris-industries-reduced-earnings-forecast-43-percent-because-of-latest-recall/393120271/

Tradução:


Até abril, mais de 100 veículos Polaris de assentos lado a lado pegaram fogo, um deles matando uma garota de 15 anos. Em 2 de setembro duas mulheres do Arizona morreram em Moab, Utah, depois que o veículo tombou durante um percurso com obstáculos e pegou fogo.

Uma garota de apenas 15 anos e duas mulheres morreram por causa desse pequeno erro de projeto dos engenheiros...


Pois é, todos os recalls por incêndio e possível incêndio 
(não encontrei notícias de motos pegando fogo) envolvendo a polaris e sua divisão indian foram emitidos no segundo semestre do ano passado para produtos recentes da empresa.

Como se explica que várias divisões de uma empresa moderna com produtos modernos recém lançados apresentem tantos problemas graves em projetos tão recentes?

Esse não é um mal que afeta somente a polaris, muito pelo contrário!

As próximas postagens irão relacionar muitos e muitos exemplos de falhas gritantes de projeto ocorridas em lançamentos recentes de praticamente todo mundo.

Que explicação pode ser dada para esse verdadeiro escândalo cada vez mais comum nas montadoras de automóveis, motocicletas e afins?

Chegarei a uma conclusão nas postagens de amanhã e sábado.

Até lá e um abraço,

Jeff