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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ora, ora... novas motos da harley-davidson agora com novo chassi 65% mais rígido... por que será, né?

A harley lançou a nova linha 2018 da série Softail e olha só a grande novidade destacada:
Imagem e press-release: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/harley-davidson-faz-barca-de-lancamentos-2018-veja-fotos.ghtml

"Novo chassi 65% mais rígido que seu antecessor" é a maneira menos feia de dizer que o chassi anterior é 40% mais fraco.

Entenda "fraco" no sentido de "menos rígido" — o chassi anterior é 40% menos rígido.

Sabe aquele papo "em time que está ganhando não se mexe"?

Pois é, parece que alguém do time lá de Wisconsin não ia muito bem das pernas e foi substituído...

Todo mundo achando que o chassi antigo das Harleys já seria satisfatório em termos de rigidez... e estava todo mundo enganado.

O chassi poderia ter sido muito melhor, e há muito tempo.

A engenharia reprojetou o chassi para obter maior rigidez, e o marketing está enfatizando essa melhoria surpreendente — 65% é um ganho de rigidez e tanto. 

Surpreendente que puderam melhorar tanto assim um projeto que supostamente já deveria estar perto da perfeição.

Esse ganho de 65% é a prova clara de que o chassi não estava nem perto da perfeição.

As motos eram vendidas como sendo o suprassumo da tecnologia da harley, mas não eram... havia margem para melhorar 65%.

Isso me faz pensar (é raro, mas de vez em quando acontece):

Parece que minha teoria na postagem anterior passou bem perto da realidade...

Lá eu levantei a hipótese de que os quadros da harley não seriam suficientemente rígidos para aguentar o enorme peso do motor em pequenos tombos... 

... se deformando a cada queda do mesmo jeito que a minha primeira moto, minha não tão saudosa honda CG 1978...

... causando o desalinhamento das rodas alertado pelo Chuck da Classic Cycles...

... e segundo ele, essa seria a causa da mania das Harleys apresentarem o famoso "balanço da morte" (death wobble).

Se você não conhece a história, a postagem é esta aqui:
Postagem completa: https://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/08/harleys-e-sua-tendencia-mortal-de-sair.html

Juro que quando escrevi a postagem da semana passada eu não sabia que a harley estava para lançar novas motos nesta semana.

E também não fazia a menor ideia de que os engenheiros lá de Milaseu Milwaukee (Заднее столкновение corretor ortográfico!!!) estavam preocupados em reforçar o quadro dessas motos...

Parece que minha suposição inicial de que os quadros das Harley poderiam ter problemas de desalinhamento originais de fábrica não se confirmou, mas a realidade é muito pior.

A própria fábrica admite que os quadros não eram tão resistentes quanto os novos da linha 2018 — portanto, os quadros anteriores são muito mais vulneráveis a problemas de desalinhamento.

E de rigidez estrutural.

Agora tudo faz sentido.

São justamente as motos equipadas com os quadros 'ainda não 65% mais rígidos' que apresentam o death wobble. 

Falta de rigidez quer dizer tendência a se deformar e a desalinhar as rodas, causando instabilidade — como aquela moto testada e reprovada pela polícia rodoviária da Califórnia:


Reforçar o chassi para eliminar esse problema é uma coisa lógica.

Isso irá evitar que o quadro atue como uma mola, desalinhando as rodas temporariamente — e entre em ressonância fazendo a moto rebolar que nem uma doida.

Pelo menos, terá a tendência de entrar em ressonância apenas em velocidades maiores, é o mesmo princípio usado para afinar as cordas do violão.

Também evitará que o chassi se deforme por qualquer tombo besta e fique com as rodas desalinhadas.

Suspeito que um 'chassi ainda não 65% mais rígido' — ou 40% mais fraco em relação ao novo chassi — seja capaz de se deformar permanentemente até sem levar um tombo besta...

Deformação elástica é aquela que o objeto deformado retorna à forma original depois que o esforço aplicado é eliminado.

Deformação plástica é aquela que permanece depois que o esforço excessivo é eliminado.

Note que a capacidade de resistir ao esforço depende somente da rigidez e resistência mecânica desse objeto.

Um objeto que se deforma elasticamente está a um passo de se deformar permanentemente, basta ultrapassar seu limite de resistência física. 

Existe um limite para a deformação elástica — passou desse limite de esforço, ela vira uma deformação plástica, permanente.

Um pequeno esforço acima desse limite faz a diferença — é a gota que transborda o copo — e o resultado é a deformação plástica permanente do chassi da motocicleta.

Tipo aquela que você coloca duas réguas e descobre que suas rodas estão desalinhadas porque seu chassi se deformou, apesar de você nunca ter caído com sua moto.

Que segundo o Chuck da Classic Cycles, pode induzir o balanço da morte death wobble.

Então "é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho"?

A moto oscila porque o quadro se deforma, ou o quadro se deforma porque a moto oscila porque ele é fraco para aguentar?

Mas é claro que, se a má fama das Harleys foi causada pela fraqueza dos quadros anteriores, a fabricante nunca irá convocar um recall de seus "antecessores".

Já imaginou o prejuízo?

Quem caiu, caiu. Quem ainda cair, azar.

Azar dos ocupantes, não da fábrica.

Para eles, death wobble não é defeito, é "feature".

A culpa é sempre do piloto, nunca das fabricantes.

Qualquer semelhança entre esse reforço dos quadros das H-D modelos 2018 e o reforço dos quadros das dafra Kansas com o lançamento do modelo 2010 — SEM CONVOCAR RECALL DAS MOTOS ANTERIORES — é só uma coincidência, claro.

Não dá para comparar a qualidade de uma com a outra.

Só dá para comparar o método, que é comum a todas as fabricantes.

Novos modelos resolvem problemas dos anteriores, e os proprietários... 

Bem, os proprietários nunca descobrem o que está por trás dos press-releases de divulgação das empresas que enfatizam apenas o lado bom da coisa, e fica tudo por isso mesmo.

Os fatos estão aí, a moto é sua, tire a conclusão que quiser.

Você que se cuide, seja qual for a sua moto, porque você sempre estará sozinho em cima dela.

No máximo, com sua garupa — e a responsabilidade pela vida dela será somente sua.

Aprenda a ver o mundo com outros olhos, batalhe por sua segurança, porque para o marketing e o mercado você é apenas um 'consumer'.

No Brasil "consumer" é traduzido como "cliente", mas ao pé da letra, "consumer" é apenas "consumidor".

Boa sorte com sua moto de qualquer marca,

Jeff

domingo, 20 de agosto de 2017

Harleys e sua tendência mortal de sair fora de controle

Vídeo incrível flagrou uma Harley saindo fora de controle com o famoso "balanço da morte" (death wobble):

Vídeo: De autoria da família Hoff reproduzido na reportagem http://www.dailymail.co.uk/news/article-4657406/Shocking-video-shows-motorcyclist-losing-control-bike.html

Do nada a moto começa a oscilar de um lado para outro e acaba sofrendo uma queda feia. O piloto quebrou a cara no asfalto, aquela mania de não usar capacete integral... ou nenhum. Capacete coquinho é a mesma coisa que nada.

A família que gravou o vídeo conta que ele já havia quase perdido o controle da moto umas 6 vezes quando atingia uma determinada velocidade.

A harley-davidson há anos alega que não é culpa do projeto dela

Como sempre, para as fabricantes, a culpa é sempre do piloto.

Você pode me dizer o que o piloto fez nesse vídeo para ser culpado pela queda?

Nem eu.

Não há acessórios instalados naquela moto para serem usados como desculpa.

A moto viajava em velocidade muito próxima à dos carros, certamente não estava muito acima dos 100 km/h.

Mas o fato é que as motos fabricadas pela harley são famosas por acidentes desse tipo.
Imagem e reportagem: http://www.wftv.com/news/local/fhp-investigates-if-death-wobble-caused-troopers-motorcycle-crash/199766013

A polícia rodoviária da Califórnia barrou a compra de motos da harley por causa disso (vídeo mais abaixo e postagem antiga).

Motos zero km, diga-se de passagem.


Já que segundo a harley-davidson não é um defeito do projeto, então o que causa essa mania das Harleys?

Encontrei este vídeo de um mecânico que tem todo o jeitão de entender muito, muito mesmo de Harleys:


Segundo ele, o desalinhamento das rodas é o motivo de as Harleys terem essa mania de sair rebolando sem motivo aparente.

Ora, um desalinhamento das rodas ou do quadro não é coisa original de fábrica, correto?

Não é bem assim.

Supostamente os gabaritos de montagem devem garantir o alinhamento perfeito entre as peças, mas erros acontecem. Que o digam as primeiras dafra montadas no Brasil, que tinham o chassi muito mal soldado em Manaus...

É famosa a história de um carro nacional que saiu de fábrica com o lado esquerdo maior que o direito por erro de fabricação dos estampos de cada lado. Pena que agora eu não me lembre qual foi, e também não encontrei o caso na internet. 

E lembrando, os testes feitos pela polícia rodoviária da Califórnia, que barrou a compra de uma frota de Harleys, foram feitos com motos zero km...
 

De qualquer forma, você pode descobrir se é um problema original de fábrica ou não por conta própria.

O teste de alinhamento feito pelo Chuck é muito simples, só depende de duas réguas bem retas.

(E neste caso "régua" é qualquer tubo, cano, cantoneira, perfilado, etc. suficientemente reto e rígido para servir de referência.)

É algo que você proprietário de Harley pode e deve fazer, basta alinhar as réguas com o pneu traseiro e ver se há diferença em relação ao pneu dianteiro.

(Obviamente, o teste só tem sentido depois de comprovar que a roda traseira está corretamente alinhada na balança, as marcas de referência de um lado coincidindo com as do outro — isso é básico.)

O mecânico experiente afirma que isso é erro de reparador desqualificado, e não um problema original de fábrica. Pode ser. 

O torque de aperto excessivo da porca da roda traseira pode causar um pequeno desalinhamento das rodas.

Em uma moto longa como uma Harley, um pequeno desalinhamento vira um grande desalinhamento.

Mas eu suspeito que outra causa possível para esse problema seja aquele que os proprietários têm vergonha de admitir e nem comentam com os amigos:

O tombo besta com a moto.


Harleys são muito pesadas. 

Ao passar por um tombo besta, até mais besta que esse aí de cima, o enorme motor faz uma força tremenda sobre o chassi.

Minha suspeita é que isso possa ser o responsável por um grande desalinhamento do quadro.

Acontece até com o peso ridículo do motor de uma CG antiga — experiência própria de um amigo meu (que não sou eu ;).

A rigidez do quadro é proporcional ao peso da moto — a rigidez do chassi de uma Harley tem de suportar o enorme peso do motor projetado pela harley.

Mas boa parte do esforço dos engenheiros vai para a maior redução possível do peso para tornar a moto econômica (não só em consumo, mas principalmente nos custos de produção).

Se for negligenciada a conferência do alinhamento depois de um tombo besta, o proprietário se arrisca a passar por essa situação do balanço da morte.

Se minha hipótese for correta, podemos dizer que não se trata de falha do projeto? 

Um chassi "fraco" que não aguenta um tombo besta sem se deformar?

Bom, nenhuma moto é feita para cair. 

Harleys até são resistentes, mas o motor é realmente algo muito pesado, e cada tombo é um tombo diferente.

Então atribuir a culpa do problema à harley vai muito da opinião pessoal de cada um. A minha os leitores do blog já conhecem, então sou suspeito para falar... hehehe.... o fato é que os tombos com minha antiga CG entortavam o quadro, e tombos tão graves quanto com minha Kansas nunca o entortaram. O quadro da Kansas peca pela resistência à fadiga, mas não pela resistência à torção. 

A grande questão é:

Será que passa pela cabeça do proprietário de uma Harley que sofreu um tombo besta — e aparentemente não teve danos — levar a moto à concessionária para verificar o alinhamento do chassi e das rodas?

Tenho certeza que não. 

E mesmo que leve a moto à concessionária, será para trocar algum componente riscado ou danificado.

Será que passa pela cabeça dos mecânicos da concessionária harley fazer a verificação do alinhamento das rodas de uma moto que chegou para trocar um componente riscado ou danificado?

Sem dispor de um dispositivo medidor a laser? Tudo fica melhor com lasers, já dizia o Cardoso.

O macete ensinado pelo Chuck é macete de quem conhece... 

Então tenho minhas dúvidas se em todas as concessionárias encontraremos gente com essa percepção e capacidade de solucionar o problema.

Assim, minha sugestão é que você mesmo faça a medição verificação conforme ensinada pelo Chuck, seja sua moto original zero km nunca caída ou não.

Quem sabe o que mais a gente descobre?

E se descobrir, não deixe de avisar a gente!

You're welcome,

Jeff

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Acidente de moto por falha mecânica? Não mesmo! Sua moto pode fazer o mesmo correndo menos que essa...

Muita gente que assiste a este vídeo pensa que a moto perdeu o controle porque teve uma pane mecânica:

Até o autor do vídeo pensava isso quando postou e deu nome ao vídeo...

Mas a verdade é que a moto perdeu o controle simplesmente porque estava em alta velocidade e passou por uma pequena elevação do asfalto. Você nota a elevação discreta logo no primeiro instante do vídeo, a moto do filmador muda de atitude.

Quem diz isso é o autor e o próprio piloto acidentado na atualização:
Comentário: Vídeo acima https://www.youtube.com/watch?v=KeXJRfIOytM — O autor traz uma descrição muito detalhada de todo o caso, inclusive o estado de saúde do piloto no hospital.

O autor do vídeo tinha sido informado pelos colegas do acidentado que a roda traseira tinha se soltado por causa de um serviço mal feito.

Estavam errados.

O autor visitou o piloto no hospital e soube o que ocorreu de verdade.

Ao passar pela elevação a frente ficou leve e então a moto começou a chacoalhar cada vez mais violentamente. Não foi uma falha mecânica.

Nem sempre a primeira conclusão ou o título de um vídeo estão corretos, vimos isso acontecendo na postagem de ontem.

Falha mecânica é a primeira coisa que todo mundo pensa — ninguém quer acreditar que uma moto possa sair de controle desse jeito.

Precisam achar um culpado, e pela lógica, um comportamento tão anormal só pode ser uma falha mecânica.

Mas uma moto pode fazer isso em perfeitas condições sim.

Mas por que isso ocorre?

Porque devido ao ângulo da suspensão dianteira, a roda pode ficar louca quando o peso sobre ela é aliviado e ela perde o alinhamento com a trajetória da moto.

Você vê isso acontecendo direto em carrinhos de supermercado — e na moto é a mesma coisa:


Então basta uma moto em alta velocidade passar sobre uma pequena elevação quase imperceptível — mas suficiente para aliviar o peso da roda dianteira — para ela ter chance de começar a oscilar feito louca.

Quem vai determinar se isso ocorre ou não será o ângulo do guidão quando o peso voltar para a roda.

Se ela estiver desalinhada, inciará um movimento que entrará em ressonância com o quadro da moto e será amplificado até se tornar incontrolável.

Mas como o pessoal só vê o guidão ou a traseira da moto rebolando, interpreta erradamente como uma falha mecânica — não é.

É muito comum o shimmy acontecer entre os caras que gostam de empinar a moto e não imaginam o que pode acontecer na volta ao solo:

Não tem como evitar isso?

Tem.

Primeira coisa é não empinar a moto, ela não é feita pra isso.

A segunda é não abusar da aceleração na hora de trocar as marchas.

E a terceira é não abusar da velocidade porque irregularidades do asfalto aparecem a qualquer momento.

Ou seja... as fabricantes soltam veículos inseguros no mercado.

Motos de alta cilindrada deveriam todas elas sair de fábrica equipadas com amortecedor de direção. 
Imagem: Fórum de discussão http://www.fz09.org/forum/13-fz-09-gear-accessories/1301-steering-dampner-4.html

Mas as fabricantes têm seus próprios critérios para instalar o equipamento ou não.

A honda, por exemplo, instala esse item original na CB 1000RR Fireblade, mas nunca instalou na CB 1000.
Imagens: honda, internet

Deve ser porque a primeira passa de 300 km/h e a outra chega "só" a 245 km/h...

Mas essa desculpa não cola, porque esse fenômeno pode acontecer em velocidades bem mais baixas.

O shimming é muito mais fácil de acontecer como resultado de uma empinadinha da frente durante a troca das marchas... em velocidade relativamente baixa para uma moto de alta cilindrada.

Você começa a acelerar e sua moto começa a chicotear igual a uma doida:

Pilotos de peso leve como a garota do vídeo estão ainda mais propensos a levar um susto desses.

E essa vibração pode aparecer em velocidades baixas dependendo da aerodinâmica da moto:


Até mesmo motos pesadas da harley-davidson passam por isso, veja o link no final da postagem.

Neste caso da vibração induzida pelo vento, o shimming é mais fácil de controlar.

Se a roda dianteira não for aliviada do solo, a vibração não aumentará — o peso da moto é suficiente para limitar o problema.

Aliviar o acelerador e ao mesmo tempo deslocar o peso do corpo para frente eliminará a vibração.

Mas na hora em que uma moto em alta velocidade passa por um desnível e a roda dianteira perde o alinhamento com a traseira, ela começa a shimar muito rápido, você viu no primeiro vídeo.

Algumas motos têm mais tendência a chicotear do que outras por causa da distribuição de peso, aerodinâmica e capacidade de aceleração suficiente para levantar a frente da moto em mudanças de marcha.

Mas independente desses fatores, todas as motos passam por obstáculos capazes de causar o desalinhamento da roda dianteira como morrinhos, buracos e cabeceiras de ponte na estrada (cabeceira de ponte aos 05:08).



Como a maioria das motos de alta cilindrada não vem com amortecedor de direção original de fábrica, depois do primeiro susto os donos de esportivas acabam instalando o acessório.

A coisa é tão séria com as ducati que os donos chegam a apelar para soluções extremas:
Imagem: http://www.storzperf.com/np_ducsprtclsc.html

Para as fábricas esse amortecedorzinho em miniatura encareceria demais uma moto que já custa mais caro que um ou dois carros. Como as fabricantes conseguem?
Imagens e preços: http://www.honda.com.br/motos/ e http://g1.globo.com/carros/noticia/lista-veja-os-10-carros-zero-mais-baratos-do-brasil.ghtml, preços em vigor em 09/05/2017

Nenhuma dessas duas motos aí de cima vem com amortecedor de direção. Em compensação, os carros também não vêm com ar condicionado nem direção hidráulica. Mas vêm com estepe e macaco. E outras coisinhas mais.

O amortecedor de direção salvaria vidas, mas atrapalharia as vendas — e a margem de lucro.

Algumas fabricantes instalam amortecedores de direção originais de fábrica somente em determinados modelos de alto desempenho.

Mas elas optam por não instalar em outros modelos potentes onde não consideram isso necessário.

Erros de avaliação dos projetistas acontecem.

A bmw só descobriu isso quando jornalistas especializados perceberam um problema grave na R1200GS antes que os engenheiros da fábrica.
Imagem e reportagem de lançamento: http://canadamotoguide.com/2013/01/28/launch-bmw-r1200gs/

É muito chato quando quatro jornalistas especializados em motociclismo descobrem que isso acontece durante o lançamento oficial da moto:
Reportagem: https://idratherberiding.com/2013/01/24/kevin-ash-dies-in-accident-at-the-2013-bmw-r1200gs-press-launch/

Fala sério — que engenheiros são esses que não testam adequadamente os modelos antes de convidar os jornalistas para o lançamento da moto? Como se eu não soubesse...

E aí acontece a fatalidade:

Um dos jornalistas especializados experientes morre em um acidente durante o test-drive de lançamento do novo modelo promovido pela fábrica...
Reportagem: https://idratherberiding.com/2013/01/24/kevin-ash-dies-in-accident-at-the-2013-bmw-r1200gs-press-launch/

As vendas podem ficar seriamente comprometidas se a notícia se espalha, então compensa gastar uns caraminguás a mais e não se fala mais nisso.

Aí sim o modelo do ano seguinte adota amortecedor de direção original de fábrica.
Reportagem: https://idratherberiding.com/2013/01/24/kevin-ash-dies-in-accident-at-the-2013-bmw-r1200gs-press-launch/

A montadora faz recall para os modelos do ano anterior?

Mas você é ingênuo mesmo, hein?

Como disse o autor Cesar em seu blog I'd Rather Be Riding:

Se a bmw modificou o software dos modos de pilotagem e adicionou o amortecedor de direção para corrigir um problema técnico real da R1200GS 2013 que poderia ser associado com uma oscilação da direção que poderia levar a um tank slapper [perda de controle por oscilação harmônica violenta da roda dianteira e quadro] como foi especulado por alguns, e experimentado por uns poucos, ou se foi simplesmente para acabar com a percepção de um problema técnico como foi especulado, nós nunca saberemos, eu suponho.

Então, caro colega, você aprendeu mais uma sobre o comportamento traiçoeiro das motos.

E também sobre o comportamento peculiar das montadoras quando se trata da segurança de seus produtos.

Sim, sua moto sem amortecedor de direção pode sair totalmente de controle apenas por estar em alta velocidade em uma pista que não é perfeitamente lisa ou nivelada.

Estou sugerindo que você deve instalar um amortecedor de direção e continuar pilotando em alta velocidade?

Somente se você fizer isso apenas em autódromos.

A obrigação de instalar o amortecedor de direção é das fabricantes.

Mas elas não julgam isso necessário porque motos vendidas com capacidade de rodar a quase 300 km/h não são usadas em velocidades acima de 110 km/h, não é mesmo?

Se acontecer um acidente, as fabricantes não serão responsabilizadas porque ninguém poderá provar a mínima parcela de culpa delas.

O único responsável sempre será o piloto que morreu ou se quebrou inteiro — afinal, ele estava pilotando acima do limite de velocidade máxima permitida.

Ninguém pode responsabilizar as montadoras por não instalarem amortecedores de direção.

No máximo, podem ser acusadas de incoerência, mas não de negligência.

Elas não têm culpa que você abusa do produto inocente delas...

Ninguém estranha isso porque as montadoras agem assim há tantas décadas que todo mundo já está acostumado, faz parte das regras do jogo.

"Vida loka é arte, morrer faz parte."

Então está tudo muito bem, tudo muito bom, e la nave va.

Para saber mais sobre o shimmy, shimada ou chicotada, inclusive técnicas para seu controle, leia as postagens Ressonância, oscilação e instabilidade e a Apresentação. 

Pois é, falo disso desde o primeiro dia.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Oscilação por desalinhamento e desbalanceamento de rodas

Respondendo à dúvida da leitora Mariana lá da Espanha (internet é um barato!):

(...) Tem um mês que comprei minha primeira moto, moro na Espanha (Yamaha Sr special 250 ano 2003). 


(...) O problema é que eu instalei uma caixa na moto (36L), ela fica meio pra fora e as vezes eu sinto a moto rebolando. Eu andei só 2 vezes com ela sem caixa, então não sei se é isso. De qualquer maneira eu preciso da caixa então não dá pra tirar agora (mais pra frente penso em mudar por alforjes, se mudarem esse problema). 


As vezes é o asfalto que tem algum desnível e faz a roda rebolar no próprio eixo, mas em velocidades mais altas é algo parecido com o que eu vi nesses filmes (mas bem mais suave). Dá bastante incômodo a 90 por hora. 


Eu peso só 46 kgs... Não sei se tenho que regular o pneu e suspensão diferente do que tinha o dono anterior.... Que você acha? No manual fala algo sobre regulagem de pneu diferente caso o peso total seja menor que 90 kgs, mas eu não entendo direito a que se refere esse peso total. Alguma sugestão? :)


Vamos lá, Mariana:


O que no idioma espanhol é chamado de caja (caixa) é o que chamamos de baú ou bauleto aqui no Brasil.


A yamaha SR 250 Special é este bonito modelo que infelizmente não é comercializado no Brasil.

Note que ela tem a traseira alta, então um baú instalado na traseira fica bastante elevado ou deslocado para trás.

Baú (caixa) em posição alta e recuada desloca o centro de gravidade da moto para trás e para cima, o que deixa a moto instável e torna a frente da moto extremamente leve. Certamente isso colabora para sua dificuldade em controlar a moto.

Verifique se a instalação foi bem feita, com todos os fixadores bem apertados. Ela tem que estar bem fixa para evitar oscilações, assim como a carga transportada dentro da caixa ou baú.

A primeira coisa a ser verificada é a pressão dos pneus. Quanto maior o peso total sobre a moto (piloto + carga e/ou garupa), maior a pressão a ser usada. 

No seu caso, devido ao baixo peso, você precisará usar a pressão mínima recomendada. Uma pequena diferença na pressão modifica muito o comportamento da moto.  

Se a sua moto não tiver mais a etiqueta com os valores de pressão na balança ou protetor de corrente perto do amortecedor traseiro, você poderá descobrir em uma concessionária ou falando com outros proprietários.

Pneus com pressão acima da ideal para o seu caso colaborarão para tornar a moto instável e "dura", da mesma forma que pneus com pressão abaixo da ideal a tornarão "molenga", pesada e lenta e com alto consumo de combustível. E um perigo nas curvas.

Para o seu peso, a regulagem mínima da suspensão e da pressão dos pneus é o mais recomendado, a menos que você transporte um peso significativo no baú (o que nunca é recomendável) ou garupa.

A segunda coisa a verificar é a condição das rodas raiadas.

Vale a pena mandar fazer um alinhamento e balanceamento, motos com rodas raiadas tendem a precisar de balanceamento com frequência.

Na minha primeira moto esse problema de vibração que surgia perto dessa velocidade sempre era eliminado com o balanceamento. 

Aí você me pergunta, o que é alinhamento e balanceamento (em espanhol, alineado/centrado y balanceo/equilibrado)?

O alinhamento consiste em reapertar e endireitar eventuais raios tortos para melhorar a geometria da roda.


Para girar sem vibrar, a roda tem que estar bem centrada e bem equilibrada. Se o aro estiver ovalizado, o pneu terá desgaste mais acentuado em um ponto do que em outro, então um lado da roda ficará mais pesado.

Uma roda bem balanceada colocada para girar livremente cessa o movimento cada hora em um ponto diferente. Uma roda desbalanceada sempre irá parar com o mesmo lado mais pesado para baixo.

Na moto, é difícil identificar isso por causa da interferência dos freios e da corrente. 
Balanceadora eletrônica de rodas.
En España, equilibradora de ruedas

No balanceamento, a roda removida é colocada para girar em uma máquina dotada de balança eletrônica que descobre onde está o desequilíbrio e calcula o peso e local corretos para compensá-lo.

O balanceamento nada mais é do que adicionar um pequeno peso de chumbo no lado oposto ao mais pesado para compensar o desequilíbrio e anular a vibração. 

Eliminar essa possível fonte de vibração muito provavelmente irá resolver seu problema. 

Outra dica:

Se o baú estiver tornando a frente muito leve, sente-se bem próxima do tanque, assim você compensa o peso da caixa.

E verifique periodicamente a situação do quadro na região da fixação da caixa.

Algumas motos ao receberem um baú acabam trincando porque não foram previstas para um grande peso nessa fixação.

Uma caixa ou baú mal instalados ficam batendo contra o quadro como se fossem um martelo, o que causa fadiga e trincas.

Sobre os alforjes:

Alforjes deslocam o centro de gravidade para baixo e um pouco mais para a frente, não aplicam peso atrás da roda; é uma ótima solução que preserva e até melhora a estabilidade da moto. Mas não permitem guardar um capacete...

Se nada disso eliminar completamente o problema, resta o truque mostrado aos 4:05 no filme para os pilotos de baixo peso: 

Usar um cinto de mergulhador com pesos para aumentar a estabilidade da moto. 

Ah! Lembrei:

Não se esqueça de verificar os rolamentos das rodas ou seus alojamentos nos cubos das rodas quanto a desgaste! 

As rodas devem girar sem movimentos laterais; se os rolamentos ou cubos estiverem com folga, poderá ocorrer uma quebra, travando a roda e causando uma queda!

E o Daniel dá o recado:

Dê uma olhada nas buchas do quadro elástico, nas buchas dos amortecedores, conferir a suspensão dianteira e a caixa de direção. Estes também interferem na estabilidade/comportamento da moto. 

Um abraço!

Tudo de bom, e obrigado por acompanhar o blog,


Jeff

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ressonância, oscilação e instabilidade

O que você faria numa situação dessas?


O que causou isso não foi apenas um problema da pista, nem a quebra de algum componente — a moto simplesmente começou a oscilar cada vez mais até sair totalmente do controle.

É o famoso shimmy, a moto está "shimando".

Na verdade, apesar de mais comuns nas esportivas, isso pode acontecer quase com qualquer moto, até em bicicletas, e a qualquer momento — só depende de uma série de fatores coincidentes.

Mas o que causa isso? Possessão demoníaca? Artes do tinhoso?

Negativo. 

É um fenômeno natural chamado ressonância.  

A ressonância ocorre quando vibrações diferentes coincidem em múltiplos de uma das frequências. Com isso elas se somam e se reforçam, se amplificando.

Há diversas vibrações atuando simultaneamente em uma moto: a vibração do motor, as oscilações da suspensão, desbalanceamento das rodas, a turbulência do ar (você não vê, mas atrás de você existe um turbilhão de ar permanente que aumenta e diminui a pressão sobre a traseira da moto).

E a oscilação da maior mola que você encontra em sua moto, o chassi rígido (ou não)... 

O aço parece uma coisa rígida para a força que você consegue fazer, mas ele tem uma certa flexibilidade e se deforma elasticamente (retorna à forma original) quando sofre um grande esforço, tipo passar pelas irregularidades do asfalto

Se o projeto permitir uma flexibilidade tal que deixe o quadro entrar em ressonância, você verá cenas como estas (tenha um pouco de paciência, vale muito a pena):



As motos dos anos 60 e 70 atingiram velocidades inalcançadas por suas predecessoras, e ressonância induzida pela pista e pela turbulência do ar à sua volta começou a se tornar um problema.

Ao contrário do que se pensa, a ressonância não acontece apenas em altas velocidades. Ela pode aparecer em velocidades bem mais baixas.


No filme você vê motos entrando em ressonância em velocidades de 50-55 km/h, enquanto em outras ela surge a 135 km/h.

Fatores importantíssimos para a ocorrência desse fenômeno em baixa velocidade são o ângulo da suspensão dianteira e a rigidez do quadro. 


Já viu carrinho de supermercado balançando a roda de um lado para outro?

É ressonância em baixa velocidade devido ao ângulo entre o eixo do pivô e o ponto de contato da roda com o solo. 

Um dos casos de maior repercussão atualmente é a fama de instabilidade em baixa velocidade atribuída a alguns modelos de motos da harley-davidson.



Os modelos Road King, Ultra Classic, Electra Glide e Série FLH foram apontados por alguns pilotos como inerentemente instáveis, podendo entrar em ressonância em velocidades relativamente baixas.

Isso é visto no vídeo acima e no link abaixo, onde é feito um teste comparativo entre motos da harley e da bmw pelos CHiPs (California Highway Patrol), onde nas mesmas condições a harley dança e a bmw não.

O assunto foi divulgado nesta reportagem de uma afiliada da CBS News, assista esse outro vídeo bem interessante lá na reportagem deste link.

A harley, em atitude típica dos fabricantes, nega que a culpa seja de seu projeto de quadro (que não mudou muito desde os anos 60 e 70)...


Imagem: http://www.kpho.com/story/14896060/some-harley-motorcycles-plagued-by-death-wobble-5-16-2011

... mas ao que parece reforçou os quadros das novas motos para torná-los ainda mais rígidos. 

Se os quadros não tinham problema, por que fizeram isso?


Note que a harley afirma que todas as motocicletas podem estar sujeitas a oscilação e instabilidade (o que é verdade) por motivos que nada têm a ver com seus projetos (bem, como direi, ahn... isso é relativo. O vídeo das motos antigas lá em cima deixa evidente que os projetos dos anos 60 e 70 eram mais suscetíveis a esse fenômeno, e hoje ele não é mais tão comum).

Os projetos das motos dos anos 60 e 70 foram melhorados com acertos de quadro, ajustes de molas e amortecedores da suspensão, mudanças de ângulo de cáster (a inclinação do garfo dianteiro), pneus, centro de gravidade da moto, etc. 

E quando ainda assim o problema persiste, instalam-se amortecedores de direção para evitar que pequenas oscilações virem uma instabilidade perigosa. 


Amortecedor de direção: http://en.wikipedia.org/wiki/Steering_damper

No entanto, esse fenômeno é típico de motos leves esportivas. Pela lógica, as grandes e pesadas motos da harley não deveriam ser propensas a esse fenômeno. 

Então por que especificamente esses modelos de motos estariam sofrendo dessa síndrome?

Nossa teoria é que
a causa do problema seria a turbulência gerada pelos alforjes laterais somada ao chassi longo, suspensão macia e quadro com frequência ressonante coincidente com a vibração do motor e a induzida pelo vento sobre os alforjes e carenagens.

O centro de gravidade mais para trás das grandes custom V2 tende a anular o peso (massa) da frente, deixando a suspensão dianteira proporcionalmente mais leve. Conheça mais sobre isto nesta excelente postagem do Tite.


Isso facilita a amplificação da vibração gerada pela turbulência sobre a parte traseira da moto: tudo gira em volta do Centro de Gravidade do conjunto moto/piloto. 

Quando esse CG está deslocado para trás, como nas motos custom, o peso sobre a suspensão dianteira é relativamente menor, e a força do vento sobre a grande área dos alforjes rígidos atua com um braço de alavanca em relação ao CG, e a suspensão dianteira com outro braço mais longo. 


É como se fosse uma gangorra com lados diferentes, um mais comprido que o outro, mas no plano vertical. A articulação está no CG da moto e os pontos de aplicação de força nos contatos das rodas com o solo.

Uma pequena vibração lateral na traseira da moto com ponto central no centro de gravidade se torna uma vibração amplificada na dianteira mais leve, multiplicada pelo maior braço de alavanca na frente. 


Isso reforça a oscilação e, se ela não for amortecida e vier a coincidir com a frequência ressonante natural do quadro, tenderá a aumentar cada vez mais.

A ressonância surge em uma determinada velocidade, que varia para cada modelo de moto. 


Mas também existe algo anormal e facilmente corrigível que pode causar grande vibração: o desbalanceamento das rodas.


A moto chega a uma determinada velocidade (nas CG antigas, perto dos 80 km/h) e começa a oscilar. 


Se isso coincidisse com a frequência ressonante do quadro e suspensão da moto, a oscilação se amplificaria; felizmente, não é o caso nas motos pequenas — passou dessa velocidade, a oscilação desaparece. 


Pneus bem calibrados e rodas bem balanceadas eliminam esse grande fator causador de vibração que em motos maiores pode virar oscilação e instabilidade.

Bom, tudo muito bom, tudo muito bem (só que não), você me pergunta o que fazer se de repente descobrir que aquele acessório novo que você instalou (bolha, alforjes laterais, etc.) está fazendo sua moto entrar em ressonância — já que isso nunca aconteceria com uma moto original, nas palavras dos fabricantes. Sei.

Imagine a cena, você na estrada e sua moto começa a dançar cada vez mais rápido. 

A primeira coisa que você pensa é que furou um pneu e a reação natural é levantar tronco e cabeça, o que piora a situação ainda mais.

Agora que você descobriu mais essa manha tinhosa de algumas motos, já sabe a solução:

Você tem de sair da frequência ressonante, acelerando ainda mais (opção arriscada!), ou diminuindo a velocidade na esperança que a instabilidade diminua.

Mas só isso não basta, porque o problema pode evoluir muito rapidamente: 

Para interromper de vez a ressonância, antes que ela chegue a um ponto incontrolável, além de diminuir a velocidade você terá de fazer aquilo que vimos o piloto da Dunlop fazendo:

Deite-se sobre o tanque de combustível — isso aumenta o peso sobre a suspensão dianteira e ajuda a neutralizar a ressonância. 

Um abraço, e espero que você nunca precise usar esta dica,

Jeff