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terça-feira, 3 de março de 2020

As aparências podem enganar

Notícia publicada no G1 semana passada:
O vídeo mostra o caminhão totalmente na contramão:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

O vídeo finaliza com a frase "As causas do acidente ainda serão investigadas". 

Ao ver a cena você não se conforma e junto com todo mundo grita "caminhão na contramão, o motorista é culpado, lincha, lincha!" — e o perigo nessa hora é o pessoal se empolgar e cometer uma tremenda injustiça.

Será mesmo que o acidente aconteceu por causa do motorista do caminhão?

O que você nota ao ver a moto envolvida no acidente?
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

Frente totalmente destruída e roda traseira quebrada, certo?

Ora, a frente foi destruída no impacto com o caminhão, mas e a roda traseira?

A roda traseira não bateu contra o caminhão, nada ao redor dela bateu — o escapamento está inteiro, a rabeta está inteira.

Todo o lado posterior da moto está bem preservado, então me parece pouco provável que essa roda tenha se quebrado durante a batida. Pode até ser, mas...
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

A roda se quebrou no aro e também no raio, que mostra uma fratura do tipo frágil (instantânea e não por fadiga) em um local determinado — a roda não foi prensada entre a rabeta e o asfalto, senão ela estaria ovalizada.

Esse é um forte indício de uma pancada muito intensa e localizada — como o impacto contra a quina de um buraco profundo.

Buracos profundos costumam aparecer nas estradas em época de chuvas — estamos passando por uma temporada chuvosa sem precedentes e chovia no momento do acidente.

Buracos ficam cobertos de água suja e não permitem avaliar sua profundidade: o que parece uma poça inofensiva pode ser uma tremenda armadilha para motos.

Um cenário possível seria este (mas somente uma investigação do local e testemunhas poderão confirmar se esta suposição está correta):

Com a roda quebrada, o motociclista teria perdido o controle e a motocicleta começou a dançar na pista.

A moto teria desviado primeiro para a pista oposta, o motorista tentou desviar jogando o caminhão para a contramão, mas a moto sem controle inverteu a trajetória e aconteceu a colisão.

Invadir a contramão e retornar cruzando a pista, fazendo um S, é um comportamento típico de veículos desgovernados, como pode ser visto pelas marcas dos pneus de um carro que vinha na mão correta, perdeu o controle e capotou no acostamento:
Imagem e reportagem: https://planetafolha.com.br/11/01/2020/livramento-em-rolim-de-moura-familia-em-moto-escapa-da-morte-apos-carro-desgovernado-capotar-a-poucos-metros-de-distancia-na-ro-479/

Não se pode descartar que algo parecido tenha acontecido com a moto, por isso que as causas precisam ser investigadas.

Pessoalmente, sempre achei esse tipo de roda extremamente frágil para encarar nossas estradas esburacadas — até fiz uma postagem sobre isso em 2014.

É uma roda projetada para uso urbano, onde via de regra o asfalto é melhor conservado — pelo menos no Japão, onde a moto foi concebida — e as velocidades costumam ser mais baixas.

Naquela última viagem para Floripa em que o buraco na BR-116 quebrou o para-lama traseiro da Jezebel, a primeira coisa que fiz foi inspecionar as rodas — felizmente, a quina pegou na direção do raio e a roda aguentou o tranco.

Se tivesse batido na área entre os raios, o flange teria sido amassado, isso já aconteceu antes, mas uma vantagem da Kansas é usar câmara de ar, então o pneu não esvazia de repente.

Além disso, sua roda traseira é aro 16 polegadas (406 mm), então o espaçamento entre os centros dos raios é menor (255 mm).

Já o aro da suzuki Yes é de 18 polegadas (457 mm), por isso o espaçamento entre os centros dos raios é maior (287 mm).

Principalmente, a área da união entre raio e aro é menor na Yes, o que aumenta proporcionalmente o espaço vazio entre os raios — e quanto maior essa distância sem reforço, maior a fragilidade do aro:
Imagem: Roda traseira de Kansas (esquerda) e Yes (direita)

Na Yes, os raios são mais finos e vazados, e sua posição não ajuda a aceitar impactos — o raio da Kansas está na direção da compressão da pancada, enquanto o raio da Yes está na direção de dobramento, o que facilita sua quebra.

Pode ser um projeto bom para estradas do Japão e primeiro mundo, mas não é um projeto para as estradas do Brasil.

Em minha opinião, a roda traseira se quebrou ao passar por um buraco e causou a tragédia, mas sempre posso estar enganado. Todos nós sempre podemos estar enganados sobre tudo.

Então, tome consciência de que a primeira impressão de um acidente pode ser totalmente enganosa e não se precipite em acusar "culpados".

É para isso que servem as investigações.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Jezebel na sala de espera do consultório médico

Certa noite, uns três dias depois de resolver o problema de carga da bateria explicado na postagem anterior, Jezebel perdeu totalmente a tração.

Motor acelerando normalmente, marchas mudando normalmente, mas nada de a moto rodar.

Pensei que a corrente tinha pulado fora ou arrebentado, mas ela estava lá.

Apenas sua posição não me pareceu normal — ela estava totalmente apoiada na balança:
E ficou assim até agora, porque tive muito trabalho, nenhum tempo e nem como comprar as ferramentas que preciso para desmontar. As minhas foram roubadas quando fiquei no hospital ano passado.

E também eu queria documentar o processo para gerar algumas postagens, mas a câmera sem memória interna que comprei adiou o projeto. 

Ao ver a corrente naquele estado, a primeira coisa que pensei foi que o pinhão tivesse se soltado e caído lá dentro.

Também imaginei que o eixo de saída do câmbio, esse mesmo do pinhão, tivesse se quebrado do lado de fora da carcaça.

Se fosse isso, seria obrigado a desmontar o motor, complicaria bastante a situação. 

Mas por que o pinhão se soltaria ou o eixo se quebraria?

Bem... sentimento de culpa...

Lembra dos trancos para fazer o motor funcionar?

Não é a condição normal de trabalho, e todo improviso usado além da conta cobra seu preço...

Agora que estou com uma câmera funcional e ferramentas, abri a tampa do pinhão para conferir.

Parece coisa complicada, mas é só soltar os dois parafusos que prendem a tampa com uma chave canhão, aquelas compridas.
O pinhão está normal, mas a corrente está raspando na balança por falta da guia de borracha.

Esse descuido poderia danificar componentes bem caros...

- Lembrete: comprar guia da corrente.

Graças a minha lógica obtusa, nem me passou pela cabeça que o problema poderia não estar no pinhão... Que burro, dá zero pra mim.

Tirei o cadeado da roda e encontrei o problema:


A coroa está girando independente da roda... pois é, não deveria.

Mas por que a coroa ficou louca no eixo?

Lembra das partidas no tranco?

Resultado: 

Os prisioneiros do flange da coroa foram trincando com o uso normal e não aguentaram levar tranco.

E foram para o espaço quando rodávamos normalmente uns três dias depois de eu ter consertado a partida elétrica...

Prisioneiros e buchas da coroa já são itens bastante solicitados em condições normais... levando tranco então...

As buchas de nylon duram mais do que as de borracha originais:
Imagem: http://www.foxmotoshop.com.br/kit-prisioneiro-parafuso-com-porca-e-bucha-nylon-da-coroa-dafra-speed-150-p1529

Nas Kansas as buchas e os prisioneiros costumam quebrar com certa frequência, se não me engano já os troquei duas vezes... esta será a terceira.

Ou seja, eles duram uma média de 2 anos, porque este último ano ela rodou muito pouco.

Um bom item para entrar em uma lista de manutenção preventiva:

Trocar os prisioneiros a cada 2 anos para não sair com uma moto e voltar com uma draisiana gorducha.

Agora é desmontar essa roda e ver o que precisará ser trocado.

Os prisioneiros quebrados precisarão ser extraídos, é uma operação meio chata que envolve fazer fendas nos cotocos e soltá-los com uma chave de fenda.

Sabe a dificuldade de tirar um parafuso bem preso com uma fenda ruim na cabeça?

Pois é, prisioneiro nem cabeça tem...

Vai ficar para outro capítulo.

E acho que vou delegar para alguém porque tenho mais o que fazer do que ficar xingando parafuso...

Eu não tenho a mesma paciência que o amigo Vinícius...

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Oscilação por desalinhamento e desbalanceamento de rodas

Respondendo à dúvida da leitora Mariana lá da Espanha (internet é um barato!):

(...) Tem um mês que comprei minha primeira moto, moro na Espanha (Yamaha Sr special 250 ano 2003). 


(...) O problema é que eu instalei uma caixa na moto (36L), ela fica meio pra fora e as vezes eu sinto a moto rebolando. Eu andei só 2 vezes com ela sem caixa, então não sei se é isso. De qualquer maneira eu preciso da caixa então não dá pra tirar agora (mais pra frente penso em mudar por alforjes, se mudarem esse problema). 


As vezes é o asfalto que tem algum desnível e faz a roda rebolar no próprio eixo, mas em velocidades mais altas é algo parecido com o que eu vi nesses filmes (mas bem mais suave). Dá bastante incômodo a 90 por hora. 


Eu peso só 46 kgs... Não sei se tenho que regular o pneu e suspensão diferente do que tinha o dono anterior.... Que você acha? No manual fala algo sobre regulagem de pneu diferente caso o peso total seja menor que 90 kgs, mas eu não entendo direito a que se refere esse peso total. Alguma sugestão? :)


Vamos lá, Mariana:


O que no idioma espanhol é chamado de caja (caixa) é o que chamamos de baú ou bauleto aqui no Brasil.


A yamaha SR 250 Special é este bonito modelo que infelizmente não é comercializado no Brasil.

Note que ela tem a traseira alta, então um baú instalado na traseira fica bastante elevado ou deslocado para trás.

Baú (caixa) em posição alta e recuada desloca o centro de gravidade da moto para trás e para cima, o que deixa a moto instável e torna a frente da moto extremamente leve. Certamente isso colabora para sua dificuldade em controlar a moto.

Verifique se a instalação foi bem feita, com todos os fixadores bem apertados. Ela tem que estar bem fixa para evitar oscilações, assim como a carga transportada dentro da caixa ou baú.

A primeira coisa a ser verificada é a pressão dos pneus. Quanto maior o peso total sobre a moto (piloto + carga e/ou garupa), maior a pressão a ser usada. 

No seu caso, devido ao baixo peso, você precisará usar a pressão mínima recomendada. Uma pequena diferença na pressão modifica muito o comportamento da moto.  

Se a sua moto não tiver mais a etiqueta com os valores de pressão na balança ou protetor de corrente perto do amortecedor traseiro, você poderá descobrir em uma concessionária ou falando com outros proprietários.

Pneus com pressão acima da ideal para o seu caso colaborarão para tornar a moto instável e "dura", da mesma forma que pneus com pressão abaixo da ideal a tornarão "molenga", pesada e lenta e com alto consumo de combustível. E um perigo nas curvas.

Para o seu peso, a regulagem mínima da suspensão e da pressão dos pneus é o mais recomendado, a menos que você transporte um peso significativo no baú (o que nunca é recomendável) ou garupa.

A segunda coisa a verificar é a condição das rodas raiadas.

Vale a pena mandar fazer um alinhamento e balanceamento, motos com rodas raiadas tendem a precisar de balanceamento com frequência.

Na minha primeira moto esse problema de vibração que surgia perto dessa velocidade sempre era eliminado com o balanceamento. 

Aí você me pergunta, o que é alinhamento e balanceamento (em espanhol, alineado/centrado y balanceo/equilibrado)?

O alinhamento consiste em reapertar e endireitar eventuais raios tortos para melhorar a geometria da roda.


Para girar sem vibrar, a roda tem que estar bem centrada e bem equilibrada. Se o aro estiver ovalizado, o pneu terá desgaste mais acentuado em um ponto do que em outro, então um lado da roda ficará mais pesado.

Uma roda bem balanceada colocada para girar livremente cessa o movimento cada hora em um ponto diferente. Uma roda desbalanceada sempre irá parar com o mesmo lado mais pesado para baixo.

Na moto, é difícil identificar isso por causa da interferência dos freios e da corrente. 
Balanceadora eletrônica de rodas.
En España, equilibradora de ruedas

No balanceamento, a roda removida é colocada para girar em uma máquina dotada de balança eletrônica que descobre onde está o desequilíbrio e calcula o peso e local corretos para compensá-lo.

O balanceamento nada mais é do que adicionar um pequeno peso de chumbo no lado oposto ao mais pesado para compensar o desequilíbrio e anular a vibração. 

Eliminar essa possível fonte de vibração muito provavelmente irá resolver seu problema. 

Outra dica:

Se o baú estiver tornando a frente muito leve, sente-se bem próxima do tanque, assim você compensa o peso da caixa.

E verifique periodicamente a situação do quadro na região da fixação da caixa.

Algumas motos ao receberem um baú acabam trincando porque não foram previstas para um grande peso nessa fixação.

Uma caixa ou baú mal instalados ficam batendo contra o quadro como se fossem um martelo, o que causa fadiga e trincas.

Sobre os alforjes:

Alforjes deslocam o centro de gravidade para baixo e um pouco mais para a frente, não aplicam peso atrás da roda; é uma ótima solução que preserva e até melhora a estabilidade da moto. Mas não permitem guardar um capacete...

Se nada disso eliminar completamente o problema, resta o truque mostrado aos 4:05 no filme para os pilotos de baixo peso: 

Usar um cinto de mergulhador com pesos para aumentar a estabilidade da moto. 

Ah! Lembrei:

Não se esqueça de verificar os rolamentos das rodas ou seus alojamentos nos cubos das rodas quanto a desgaste! 

As rodas devem girar sem movimentos laterais; se os rolamentos ou cubos estiverem com folga, poderá ocorrer uma quebra, travando a roda e causando uma queda!

E o Daniel dá o recado:

Dê uma olhada nas buchas do quadro elástico, nas buchas dos amortecedores, conferir a suspensão dianteira e a caixa de direção. Estes também interferem na estabilidade/comportamento da moto. 

Um abraço!

Tudo de bom, e obrigado por acompanhar o blog,


Jeff

sábado, 26 de julho de 2014

O dia em que eu morri na rodovia

O dia em que eu morri na rodovia começou como todos os outros.

Ritual de vestir a roupa para viagem, carregar os alforjes, forrar o estômago, calibrar pneus, dar de beber à Bél, o de sempre.

A viagem seguiu tranquila até perto de Joinville, quando a quantidade de caminhões aumentou muito.

Não tivemos outra coisa a fazer, senão viajar entre dois caminhões, aquele grandão muito perto atrás de mim (epa!) me deixava preocupado.

Foi aí que o pneu dianteiro murchou de repente.

Reportagem: http://www.super30noticias.com.br/?p=7236

A direção ficou pesada, Jezebel começou a bambolear que nem doida, e num instante fomos para o chão. O caminhão não conseguiu parar a tempo.

Ainda tentei me agarrar a alguma parte do caminhão para não ir para debaixo das rodas, mas tudo aconteceu tão rápido...

...

Essa cena veio na minha cabeça enquanto faziam a revisão pré-viagem desta semana.

O mecânico quase não conseguiu tirar a vela de ignição de tão oxidada que estava. Várias partes da moto estavam bastante oxidadas.

Mas o que causou isso? 

Lembra quando voltamos cobertos de barro do Corvo Branco? A moto estava tão suja que usaram dose dupla de limpa-alumínio na lavação.

Essa porcaria é ácida, tem até ácido clorídrico na fórmula. O resultado é que o que podia oxidar, oxidou, e se a vela estava assim, lembrei que poderia ter ocorrido corrosão interna dos aros causada por esse limpador do mal.

Ele se infiltra nas frestas, e entre o aro e a câmara de ar, e com o tempo acaba corroendo o metal, furando a câmara na região que não é protegida pela vacina de pneu.

Já passei por essa experiência, felizmente com a moto estacionada. Tenho um excelente anjo da guarda.

Nunca use essa porcaria na lavação e lave você mesmo a moto enquanto as dores nas costas permitirem. Elas chegam aos 50.

Lavar a moto você mesmo é um pequeno cuidado que deixa sua moto muito feliz e que pode salvar sua vida também de outra maneira, como me salvou nessa viagem.

Mas isso eu só conto amanhã.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Vale a pena consertar uma câmara de ar furada?

Pouco tempo atrás, um tempo depois que eu comprei minha moto usada, o pneu furou na rodovia.

Que sufoco, ela dançou até eu cair, sorte que o caminhão estava na faixa do lado, e não tinha ninguém atrás.

No mecânico fui descobrir que o borracheiro que mexeu na câmara tinha feito um remendo mal feito, e ele abriu.

Entre pagar 24 reais em uma câmara e fazer um remendo, porque diabos as pessoas não escolhem segurança ?

Era na páscoa, tive que andar com ela um bom percurso pra procurar ajuda.

No final acabei só com um joelho estourado (viva ao couro, a jaqueta me deixou imune nos braços e peito) e 400 reais de prejuízo na moto.

***

Esse depoimento do Alan Fiore na postagem Pneu de moto não pode ficar careca resume bem a situação.

Esse tipo de economia que as pessoas fazem pode custar vidas.

Um conserto é sempre um risco, você nunca sabe com que grau de experiência, qualidade, habilidade — e em alguns casos, teor alcoólico — ele foi executado.

O pessoal está trabalhando honestamente, mas na imensa maioria das vezes aprendeu a consertar na prática, e nem sempre da maneira correta. Ou com os materiais e ferramentas corretos.

Imagem: http://www.viajantesdareal.com.br/2011_11_01_archive.html

Com todo respeito aos borracheiros profissionais, há muitos aventureiros que pensam que sabem consertar um pneu furado, e um deles pode acabar aprendendo a fazer isso na sua moto.

Instalar uma câmara nova elimina o risco de o reparo ter sido contaminado, de o adesivo utilizado estar vencido ou mal vulcanizado. 

Já vi borracheiro esquecer a câmara na prensa térmica... o aquecimento excessivo enfraquece a borracha, transformando sua câmara em uma bomba relógio.

Muitas vezes a pessoa não se dispõe a gastar o valor de uma câmara de ar nova para economizar 10 ou 15 reais, e gasta bem mais do que isso num único fim de semana só com gasolina, cerveja e/ou cigarros.

Andando de moto, qualquer coisa que possa dar errado pode potencialmente acabar com sua vida, pense nisso.

Não economize com itens de segurança.

Outra lição que se tira aqui:

Comprou moto usada, mande desmontar e inspecione câmaras e aros de roda.

Descarte câmaras com remendos e veja se os aros não estão enferrujados/corroídos por dentro — isso pode furar a câmara, uma simples lixada resolve. 

Não aplique graxa, ela reage quimicamente e apodrece a borracha.

Nem coloque forros por dentro do pneu ou da câmara, isso gera atrito e atrito gera desgaste e calor, pode causar a explosão do pneu.

Inspecione as buchas/prisioneiros da coroa (se equipada com parafusos prisioneiros). Buchas da coroa desgastadas e prisioneiros trincados poderão deixar sua moto sem tração no meio do trânsito.

A importância do uso de trajes adequados também ficou demonstrada nesse acidente.

Moro numa região onde as pessoas nascem e envelhecem de bermudas. Somente os pilotos profissionais andam por aí usando traje completo de proteção.

Curiosamente, nunca vi profissionais estatelados no asfalto, só Felizbertos ou suas vítimas.

Melhor investir em sua segurança e torcer para nunca precisar usar. 

Obrigado por acompanharem o blog e um abraço, Alan e Wagnão!

Jeff 

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Rodas raiadas e rodas de liga leve

Rodas de liga leve são práticas, bonitas, fáceis de lavar e permitem usar pneus sem câmara (se a roda for projetada para isso), mas nunca fui fã por um motivo:

Não me passam confiança.



Imagem: https://www.facebook.com/alexvalepiloto/posts/630563883664922


Uma roda raiada de aço é uma solução técnica comprovada: o aço é muito dúctil (amassa, mas não quebra), resistente, e a grande quantidade de raios distribui melhor os esforços, o espaçamento entre eles é pequeno.

Pelo fato de os raios não serem fixados radialmente, mas tangenciando o cubo, eles tendem a fletir (se dobrarem) quando recebem um impacto muito grande, o que minimiza a deformação da roda sinistrada.

O site http://trudcustom125.blogspot.com.br/2013/03/intruder-125-modificada.html não existe mais, recentemente encontrei as mesmas fotos no endereço http://www.intruder125.com.br/2013/06/projeto-trudcustom-de-macedo-suzuki.html

Nas rodas de liga, há grandes espaços vazios sem reforço, e a área da seção transversal de cada raio é pequena, todo o esforço passa por ali.

Na roda raiada, são 36 raios de aço com 4 mm de diâmetro. Na roda de liga, poucos raios de liga leve. Maiores, mas de um material bem mais fraco.

Nos fóruns de discussão sobre a roda quebrada da moto de ontem, levantou-se a hipótese de a roda ter se rompido por fadiga ou defeito do material.

Vejo como altamente impossível um defeito por fadiga da roda, porque aquela moto tinha apenas 1706 km rodados. Quilometragem insuficiente para que um defeito desse tipo se manifestasse.


(Fadiga é o que acontece com o clipe de arame dobrado várias vezes: chega uma hora em que ele se rompe praticamente sem esforço porque a fissura vai aumentando aos poucos).

E quanto a defeito do material?

O alumínio puro é um material que tende a se deformar muito antes de se quebrar, então aquela roda deveria se amassar e não se quebrar, é o pensamento que vem à cabeça.

Mas a coisa não é bem assim. Nossas rodas de alumínio não são de alumínio puro, são de liga leve.

Liga leve é um nome genérico para qualquer coisa feita de alumínio, magnésio, ou ligas (misturas) de alumínio ou magnésio com outros materiais.

O efeito desses outros materiais pode ser benéfico, aumentando a resistência mecânica do material de base (mas o tornando mais frágil para impactos).

Ou apenas maléfico, como é o caso dos contaminantes que precisam ser mantidos abaixo de níveis extremamente pequenos. 

Toda produção em níveis econômicos pressupõe um certo teor de contaminantes. Na verdade, é praticamente impossível se livrar deles no processo de fundição, cada lote de material tem maior ou menor resistência dentro de parâmetros julgados aceitáveis.

No caso do alumínio, o silício dentro de certos teores é benéfico (mas fragilizante) — ele é um elemento associado a todos os materiais, a crosta terrestre é chamada de sial justamente por causa da abundância desses dois elementos — silício e alumínio.

Contaminantes seriam o enxofre e o fósforo, verdadeiras pragas da metalurgia. Alumínio contaminado com óleo/graxa e reciclado pode ter sua resistência comprometida por esses dois elementos — e o uso de alumínio reciclado hoje é lei e não exceção.

Então, existe a possibilidade de o material da roda ter algum problema metalúrgico, mas isso somente poderia ser constatado com uma análise metalúrgica.

Aí você junta a incerteza do material que usaram para fabricar as rodas de sua moto com um fator que eu considero matador (no pior sentido):

O design.

O engenheiro projeta a roda conforme as especificações de marketing para potencializar ao máximo as vendas buscando leveza e economia de material (baixo custo de produção).

Aí o coeficiente de segurança do projeto cai para valores mínimos. Se é que esses novos engenheiros que aprenderam a projetar no CAD sabem o que é isso... o computador faz tudo, menos usar o bom senso.

Uma roda parruda aguenta uma pancada forte e se deforma. Uma roda com pouco material toma o mesmo tranco e se desintegra. 

O pessoal da ilha da fantasia dos escritórios não imagina que no mundo real o pessoal vai encontrar panelas como aquela da postagem de ontem.

Fazem um projeto que funciona dentro das condições normais, mas que na hora em que toma uma pancada das boas, vai pro beleléu. 

Os raios são o reforço das rodas, mas os designers concebem rodas com o mínimo de raios, e quanto mais finos, melhor para os custos. 

A roda é projetada para rodar, não para tomar pancadas.

Os engenheiros japoneses e chineses não imaginam que possa existir tamanho descaso com a manutenção viária, e é por isso que vemos acidentes dignos de países sem desenvolvimento, como esse de ontem.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 6 de maio de 2014

Como passar por um obstáculo grande?

Nunca encare um obstáculo grande (lombada, panela (buraco fundo), tampa de esgoto saliente, etc.) freando a moto; alivie imediatamente antes do impacto.

Se o freio dianteiro estiver acionado, na hora da pancada a suspensão estará rígida e a roda absorverá todo o impacto.


E dependendo do impacto, ela poderá se desintegrar, como na foto abaixo.



Imagem: https://www.facebook.com/alexvalepiloto/posts/630563883664922

Por sorte esse acidente aconteceu a 40 km/h, e felizmente o piloto só machucou o coração (metaforicamente).

Freie o que puder antes de chegar ao obstáculo, e alivie o freio na hora de passar pela encrenca para que a suspensão atue e absorva a maior parte do impacto.

Em inglês, amortecedor é shock absorber, "absorvedor de impactos".

A suspensão atuando e cedendo permitirá que a roda transfira boa parte da energia para as molas internas das bengalas — que nada mais são do que grandes amortecedores cromados — e elas estão lá para isso.

Mas com a suspensão afundada e travada pela ação do freio, a pancada seca irá toda ela para a roda, que poderá não aguentar a parada. Literalmente.


Foi nisso aí que aquela roda bateu:


Imagem: https://www.facebook.com/alexvalepiloto/posts/630563883664922

Convenhamos, o tamanho da pancada foi grande; não é todo dia que se vê uma bagaça dessas no chão.

O piloto provavelmente se assustou e entrou freando nessa tampa criminosa.


Como vimos, as rodas de liga leve não foram projetadas contra a incúria de nossas autoridades (ir)responsáveis pela manutenção da malha viária.


Nesse caso da foto, muita gente acha que uma roda sã deveria resistir a um impacto desses e que existiria a possibilidade de existir algum problema metalúrgico.

A capacidade de absorver impactos varia em função dos componentes metalúrgicos da liga usada na fabricação da roda.

Mas como não temos como fazer análise do material com o qual foram feitas as rodas de nossas motos, o prudente é evitar expô-las a impactos como esse.


Então o negócio é se precaver para evitar prejuízos maiores. Bem maiores.

Como o assunto é longo, as características de uma liga leve serão o tema da postagem de amanhã. 


Um abraço,


Jeff