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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Os problemas da royal enfield Himalayan e sua implicação para toda a indústria de motocicletas

Apareceram denúncias de problemas de fabricação muito sérios após o lançamento da royal enfield Himalayan.

Problemas que chamaram minha atenção pela sua similaridade com os ocorridos no lançamento da dafra Kansas — chassi se partindo ao meio.


Jezebel e Lala Kansas e Himalayan: unidas pelo destino?

Para começar, o que é a Himalayan?

É uma moto lançada em 2016 na Índia pela royal enfield, cuja marca chegou ao Brasil este ano, mas ainda não trouxe esse modelo para cá.

Ela faz parte de uma tendência "nova" no mercado, motos 'aventureiras' com chassi reforçado que encaram sem medo estradas muito ruins.

Qual a novidade nisso?

Basicamente, a Himalayan compete na faixa de uso, potência e mercado de uma honda Falcon — motor monocilíndrico de 400 cm3.

Mas o que distingue a Himalayan é o projeto robusto e sem frescura, com protetores de motor e de tanque feitos de aço em vez de abas de plástico, e a preparação para receber acessórios úteis em viagens prolongadas:
Sim, são dois galõezinhos de combustível adicionais, um de cada lado do tanque. Não usaria nunca, não sou doido de cair em cima de um coquetel molotov.

Tudo nela (menos os galõezinhos adicionais) foi pensado para enfrentar tombos, e não para vender peças a cada queda.

Notou o farol?
Imagem e site oficial: https://royalenfield.com/motorcycles/himalayan/

É fixado no protetor de tanque e não na suspensão dianteira.

Isso quer dizer que na hora em que você (não eu) cair aquele tombo besta, não precisará trocar o farol inteiro nem o caro aro cromado ralado não encontrável na concessionária que até hoje passados cinco anos você olha e lamenta.

Ela tem grande distância livre do solo, muito útil para atravessar riachos...

... e não entalar a moto no barranco lá no riozinho da praia dos Castelhanos (não que isso tenha acontecido comigo).

Postei esse vídeo por brincadeira, porque uma travessiazinha dessas você faz até com uma Kansas, se mantiver o motor acelerado para não deixar entrar água no escapamento e controlar a embreagem para não deixar o motor morrer...

A única dificuldade da Kansas será enfrentar o barranco na saída do riozinho da praia dos Castelhanos por causa da pequena altura livre do solo, aí ela fica entalada e você e sua moto (não eu nem a Jezebel) caem dentro da água. Aquele meu amigo teve muita sorte naquele dia de não entrar água no motor. E não ter ninguém filmando.

Ou seja, para motociclistas com esse meu perfil, é um pacote interessante e vendido basicamente pelo mesmo preço de uma Falcon, se não menos:

O preço da Himalayan lá na Índia é a partir de 1,55 lakhs, ou 155.000 rúpias, o que dá exatos 7.735 reais brasileiros... com nossa carga de impostos mais LVB (Lucro Vampiro Brasil), chegará por aqui perto do preço da Falcon.

Mas os problemas ocorridos desde o lançamento da Himalayan foram muito 
sérios — diversos casos de quebra de chassi, algo extremamente grave:
Imagem e reportagem: https://www.rushlane.com/royal-enfield-himalayan-quality-reliability-12237993.html

A seriedade dessas denúncias precisa ser considerada com cuidado, porque tem proprietário que acha absurdo (e até faz vídeo reclamando) a moto quebrar ao passar por obstáculos como este:

Imagem: Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=CHrAH488_EU aos 5:08

Resta saber se ele passou realmente pelo meio da trilha, ou se — como eu suspeito — errou a manobra e enfiou a moto de cara na pior parte do valetão.

Fala sério, ninguém faz um estrago desses se não trombar de frente com uma parede vertical:

Imagem: Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=CHrAH488_EU 

Como a Himalayan vendeu muito bem inicialmente, a concorrência local está empenhada em divulgar casos como esse aos quatro ventos para derrubar a imagem da moto e da empresa.

Não que a royal também não tenha os seus pecados... 

Mas neste caso, não seria a primeira vez que alguém destrói a moto por inabilidade e depois tenta recuperar o prejuízo tentando botar a culpa na fabricante.

Ou faz isso intencionalmente visando queimar a concorrência

No começo eu acreditava que era isso que acontecia com as Kansas, mas o tempo provou que eu estava errado.

Todos os outros casos registrados merecem ser analisados em profundidade, porque parecem apontar para problemas realmente sérios em toda a cadeia de produção:

Imagem e reportagem: https://www.rushlane.com/royal-enfield-himalayan-quality-reliability-12237993.html

A primeira foto mostra um cordão de solda muito bonito, mas que não penetrou no material de base.

É um fenômeno típico da soldagem MIG, aquela que usa arame fornecido continuamente e derretido debaixo de uma proteção de gás inerte argônio.

Isso se chama "colagem", algo que não acontece na soldagem com eletrodos revestidos comuns.

O metal simplesmente é depositado e não forma uma união resistente, e o resultado é o descolamento com esforços muito menores do que o esperado.

A colagem é o pesadelo dos técnicos de soldagem, porque não é detectável por inspeções de qualidade, nem mesmo por exames de ultrassom ou raios X.

O soldador precisa ser muito bem treinado para ele mesmo detectar e corrigir o problema, o que nem sempre é possível.

A atenção e a concentração do pessoal variam muito em função da posição do time no campeonato, do salário e do sucesso no relacionamento com a patroa na noite anterior... 
Imagem e reportagem: https://www.rushlane.com/royal-enfield-himalayan-quality-reliability-12237993.html

A segunda foto mostra uma fratura preocupante.

O material visivelmente sofreu um esforço bastante superior ao que conseguia suportar.

Se for a mesma moto, esse esforço maior pode ter sido consequência do descolamento da solda MIG.

Sem o reforço da longarina principal, a secundária simplesmente não resistiu e se rompeu. 

No entanto, a granulosidade do aço na fissura mostra o que é conhecido pelos técnicos e tecnólogos de soldagem como "fratura frágil".

Fraturas frágeis acontecem em material com teor de carbono elevado, e os quadros de nossas motos não podem ser fabricados com aço de alto teor de carbono.

Quanto mais elevado o teor de carbono, mais resistente mecanicamente será o aço, mas também mais frágil e quebradiço.

Um quadro frágil e quebradiço é tudo que não queremos em uma moto. 

Em uma condição extrema, é melhor ter um quadro empenado do que uma motocicleta partida ao meio.

Há outro indício de que esse aço tem excesso de carbono:

A ruptura ocorreu no limite da zona afetada pelo calor da solda.

Quando você faz uma soldagem, a vizinhança do cordão de solda se avermelha e esfria mais rápido do que o próprio cordão fundido.
Imagem: http://www.hotrod.com/articles/1112phr-tig-weld-like-a-pro/ Imagem meramente ilustrativa da zona afetada pelo calor. Esse material é aço inoxidável, não suscetível à têmpera. Pelo menos, não à têmpera nos mesmos moldes que o aço comum, os fenômenos aqui são outros.

Aquecimento elevado e esfriamento rápido são a base do processo de têmpera do aço.

Têmpera é um processo que torna o aço ainda mais duro e, portanto, ainda mais frágil e quebradiço.

Um aço de alto teor de carbono será temperado e poderá trincar no limite da região afetada pelo calor (região mais escura na foto), onde o resfriamento aconteceu mais rápido.

Um aço de carbono elevado acaba sofrendo têmpera na zona afetada pelo calor, e é por isso que as soldas geralmente nunca quebram, mas sim as áreas vizinhas a ela.

Um aço com teor mais elevado de carbono somente será útil para um chassi de motocicleta se ele receber a adição de outros elementos que estabilizem essa tendência de temperar facilmente, como o molibdênio.

A desgraça é que os engenheiros aproveitam que agora o aço com molibdênio resolve o problema da soldagem e é mais resistente, mas como esse elemento de liga é mais caro, passam a usar aço mais fino com a desculpa de tornar a moto mais leve...

Aí bastam variações mínimas nos teores (mínimas mesmo, na casa dos centésimos porcentuais) para o material deixar de atender ao que se espera dele...
Imagem e depoimento: Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=y3hTqbih3Do

Esta outra foto mostra o metal da bandeja fraturado em vários locais, como se tivesse sido corroído.


Não parece uma chapa de aço nova, mas sim um material velho com muitos anos de corrosão.

Posso estar enganado, mas me parece o sintoma de aço com alto teor de contaminantes, principalmente enxofre e fósforo.

Fósforo e enxofre têm o dom de se enfiarem entre os cristais que formam o aço, e têm extrema afinidade com água.

Enxofre + umidade = ácido sulfúrico

Fósforo + umidade = ácido fosfórico

São ácidos que geram corrosão entre os grãos cristalinos do aço, e o resultado é esse aí da foto...

São problemas metalúrgicos e de execução que não são exclusividade de uma única fabricante, mas que podem aparecer em qualquer moto de qualquer marca.

Problemas estruturais de produção que surgem nas usinas siderúrgicas, durante a produção do aço, e que são extremamente difíceis de resolver. 

Lembra de como os carros nacionais apodreciam de um ano para outro nos anos 70 e 80?

Imagem e reportagem: https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/dez-coisas-dos-velhos-tempos-que-nao-eram-nada-boas/

Carros com 30 mil km já mostravam rombos de chapa podre ainda durante os testes de quilometragem da revista 4 Rodas.

O material já saía contaminado e mal refinado da siderúrgica, e resolver isso não estava ao alcance das montadoras.

E o que acontecia no Brasil nos anos 70 e 80 agora periga acontecer em escala mundial até mesmo nos países que sempre se pautaram pelos elevados padrões de qualidade:
Imagem e reportagem: http://money.cnn.com/2017/10/24/news/economy/japan-inc-scandals-kobe-steel/index.html

A kobe steel é simplesmente uma das maiores siderúrgicas e metalúrgicas do mundo com base no Japão. 

E o que é esse escândalo reportado pela CNN e também pela globo?
Reportagem: http://money.cnn.com/2017/10/16/news/companies/kobe-steel-scandal-what-we-know/index.html?iid=EL

"Essencialmente, os funcionários da Kobe [Steel] falsificaram relatórios para fazer parecer que os produtos atendiam às especificações solicitadas pelos clientes quando de fato eles não atendiam." 

"Isso levantou dúvidas sobre [a qualidade de] milhares de toneladas de material produzido ao longo de mais de 10 anos."

E qual o motivo de os materiais não atenderem às especificações a ponto de levar os funcionários à falsificação de relatórios?


Bom, além da pressão por resultados e prazos imposta de cima para baixo, suspeito de um fator importante: uso de material reciclado.

Seja no Japão, na Índia, no Brasil, cada vez mais se usa material reciclado para a produção de aço, alumínio, cobre. 

Como são reciclados carros e motos?

Triturando tudo, separando os componentes ferrosos com eletroímãs e derretendo num alto-forno.

E junto com a sucata também vão junto o óleo e a graxa.

Sai mais barato derreter um carro ou uma moto prensados num bloco do que minerar e produzir material mais puro.

E é mais "eco-friendly"...

Óleo e graxa são extremamente ricos em enxofre, fósforo, carbono e hidrogênio — todos são venenos para o aço, alumínio e outros metais.

A maior parte é queimada e vira escória, mas sempre sobra uma fração residual dissolvida no metal.

E basta uma porcentagem ínfima desses materiais para alterar significativamente para pior as qualidades do aço.

Eliminar totalmente esses contaminantes adicionados junto com a sucata encarece o processo e aumenta os prazos de produção da siderúrgica, o que impede atingir as metas de produção e reduz a lucratividade geral, então...

Possivelmente já tenhamos tido uma amostra disso no caso das Kansas e outras motos chinesas extremamente frágeis.

Antigamente, as empresas mantinham departamentos de testes para assegurar que o aço recebido realmente estava dentro dos limites de carbono e contaminantes exigidos pelo projeto.

Hoje, reduzindo custos, elas confiam totalmente na palavra e laudos dos próprios fornecedores — colocaram os interessados em faturar o produto para garantir sua qualidade...

Só eu vejo um enorme conflito de interesses aqui?

Minha suspeita é de que os problemas da Himalayan sejam apenas um sintoma claramente visível do que se tornará a regra do mercado nestes anos de agora em diante.

Essa suspeita sobre a qualidade variável de lotes de aço foi levantada por mim no fórum da dafra quando as Kansas começaram a se partir ao meio, mas na época ainda não havia estourado nenhum escândalo como esse da Kobe Steel comprovando a existência do problema nas siderúrgicas.

E agora a Kobe Steel mostra esse escândalo em uma siderúrgica não chinesa nem indiana nem brasileira.

Puxe a ponta do fio que coisas piores aparecerão.

Estou vendo um filme antigo acontecer de novo... só mudaram os atores. 

Não será algo agradável ver motos novas se partindo ao meio todos os dias.

Sinceramente, não sei mais o que fazer.

Parem o mundo, porque eu quero descer.

Os pilares que permitiram criar o mundo que conhecemos foram corroídos pela falta de ética tanto capitalista quanto comunista, ambos os sistemas exigindo produtividade, redução de custos e lucros acima de tudo.

Faz parte do esquema de ganhar muito dinheiro que capitalistas, comunistas e qualquercoisistas imponham o silêncio de quem deveria denunciar os problemas — a perspectiva de demissão dos responsáveis pela qualidade sempre fala mais alto, ou os exclui do processo.

Enquanto isso, nós os consumidores acabamos fundidos e reciclados por esses sistemas.

E aqueles que percebem o funcionamento da máquina podre não têm a quem recorrer, porque todos os governos são sustentados no poder por essas indústrias.

É triste, mas é nossa realidade.

Só nos resta saber o que acontece e ficarmos atentos para não acabarmos vitimados pelo sistemão dos acordos repulsivos feitos por baixo dos panos na frente de todo mundo e com transmissão ao vivo pela tv.

Um abraço,
Jeff

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Os recalls de motos de arrepiar e o mistério daquela honda Gold Wing que pegou fogo sozinha no meio da estrada

A lista de motos recém lançadas que passaram por recall nos EUA nos últimos tempos é enorme.

Primeira página de outras muitas...
Somente no ano de 2015 você teve recalls da harley-davidson Dyna / Softail, aprilia Shiver 750, aprilia Caponord 1200, polaris Slingshot, brammo Empulse, can am Spyder, kawasaki Concours 14, indian Scout, ducati Multistrada 1200...

Vários modelos da yamaha deram problema no seletor de marchas, harley-davidson Street e Touring por problema na embreagem, ktm, yamaha R1, triumph Daytona 675 e Speed Triple e honda CBR 1000S por problemas nos amortecedores...

45 mil motos de vários modelos da honda por erro de aplicação de selante no interruptor de partida capaz de deixar a moto inoperante, honda CB 500F e CB 500R, bomba de combustível das harley-davidson Street 500 e Street 750, freio nas motonetas KYMCO, mangueira de freio nas motonetas bmw C 600, pinça do freio dianteiro nas suzuki GSX 1000...

Tudo isso só em tempos recentes.

Em 2017 já foram mais 6, descontando aqueles dos 7 modelos da indian.

Teve mais um outro da polaris que eu nem comentei porque é um triciclo que eu pensava que o Slingshot não era vendido aqui no Brasil.
Imagem: http://www.moto.com.br/acontece/conteudo/polaris-suspende-vendas-do-triciclo-slingshot-83247.html

Vou comentar somente os recalls com grande risco de vida para os ocupantes:

Você encontra casos apavorantes como o recall de 46.426 motos de vários modelos da bmw só nos EUA por possibilidade de quebra do flange de montagem da roda traseira.
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/04/bmw-convoca-4558-motos-no-brasil-para-recall.html

Aqui no Brasil o recall afetou somente os modelos K 1200 e K 1300, mas note que foram chamadas motos fabricadas durante 8 anos inteiros...

Ou seja, o excesso de aperto determinado no projeto foi aplicado durante esses 8 anos e só foi detectado depois que as motos mais antigas começaram a dar problema...

Não queria estar na pele do proprietário de uma dessas no momento em que a roda traseira rachou e se soltou.

Com o travamento da roda traseira, o tombo é certo e o risco de atropelamento — bah, não quero nem pensar.


Entre os recalls nos EUA não está a história bizarra e não muito bem explicada do recall das kawasaki Ninja ZX-10R e Concours 14 feito aqui no Brasil...
Imagem e ivulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2012/08/kawasaki-comunica-recall-dos-modelos-concours-14-e-ninja.html

Sabe o que eu achei curioso na divulgação feita na mídia?

As reportagens para falar do recall mostram fotos dando destaque para a Concours 14 (acima) por causa de um problema menor — o acúmulo de sujeira externa que bizarramente exige a substituição do cilindro mestre (linhas azuis)...

E ninguém deu destaque ao caso muito mais grave da moto muito mais vendida Ninja ZX 10R (linhas vermelhas)...
Imagem: Divulgação kawasaki

Nas manchetes o pessoal fala de um simples "acúmulo de óleo" fora do motor... 

E só nas letrinhas miúdas quase no final da reportagem quando ninguém mais está lendo — do lado de uma fotinho discreta da moto — é que falam que isso pode causar perda de controle da Ninja. 
Divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2012/08/kawasaki-comunica-recall-dos-modelos-concours-14-e-ninja.html

Ninguém fala em lugar nenhum que será necessário trocar a carcaça fundida defeituosa e fazer a reconstrução completa do motor... Mania de dourar a pílula que esse pessoal tem.

Ou será que taparam o furo com uma gambiarra de epóxi? Dona kawa, fala sério, hein?

Descobrir uma falha grosseira de fundição, ocorrida na primeira etapa do processo industrial, somente depois que a moto já está na garagem do dono? 

Que raio de controle de qualidade vocês estão usando aí no Japão? Ou é na fábrica da Tailândia, onde a mão de obra é mais barata? Sinceramente... pô, que decepção, dona kawa...

Outro caso que não teve o destaque merecido por aqui foi o recall da yamaha para as YZF R1 por uma falha potencialmente mortal — a quebra das engrenagens do câmbio.

O recall envolveu TODAS as motos fabricadas em 2015...
Imagem e reportagem: http://www.moto.com.br/acontece/conteudo/yamaha-yzfr1-2015-recall-por-problema-no-cambio-92568.html

Esse recall foi pouco noticiado no Natal porque não ocorreu no Brasil já que a yamaha não importa essa nova viúva negra para cá —então não chamou a atenção da grande mídia, mas devia, pela seriedade do problema.

Uma engrenagem quebrada no câmbio de um carro faz o seu fusca travar no meio da avenida Rubem Berta no horário de pico. Já fui contemplado com uma dessas, só saí de lá com guincho.

Se eu estivesse de moto não tinha blog.

Por aqui a yamaha não fez o recall da R1, mas em compensação fez o da YZF-R3, a rival da Ninjinha, por problemas na bomba de óleo, embreagem e possível erro de montagem das travinhas do câmbio...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2016/06/yamaha-r3-entra-em-recall-para-trocar-bomba-de-oleo-e-placa-de-embreagem.html

TRÊS problemas extremamente graves em um único modelo — TRÊS defeitos com potencial para derrubar o motociclista e causar um acidente fatal.

Como foi testada essa moto antes do lançamento que não perceberam TRÊS problemas assim graves?

Não fizeram testes de rodagem de alta quilometragem? 

Deixaram essa tarefa para os proprietários? 

Os donos agora são pilotos de teste sem remuneração? Ou melhor, pagando para servir de cobaias? Francamente....

A yamaha também fez o recall da MT-09 por outro motivo, a quebra da coroa de transmissão — outro problema com o mesmo perigo de derrubar os ocupantes:
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/11/yamaha-mt-09-e-chamada-para-recall-no-brasil.html

A MT-09 é esse modelo que você não vê na foto da divulgação do recall. Será que não queriam queimar a imagem?

A quebra de engrenagens ou eixo do câmbio, e também da coroa de transmissão, pode causar o travamento da roda traseira no meio de uma rodovia.

Um tombo certo com muita possibilidade de resultar em lesões graves, atropelamento e morte.


O ano de 2016 não foi muito bom para a yamaha...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2016/05/yamaha-xtz-150-crosser-tem-recall-por-possivel-quebra-do-chassi.html

Quem diria que a yamaha conseguiria lançar a Crosser com risco de quebra do chassi, um defeito que a gente só viu acontecer na dafra Kansas?

Exatamente o mesmo problema que a dafra nunca teve a hombridade de assumir.
Recall da yamaha Crosser: g1 autoesporte
Eu adoro a sutileza e a cara de pau do texto do recall...

Para eles o problema não está no chassi ter sido MAL PROJETADO...

Está nas "determinadas situações de uso frequente da motocicleta"...

"em pisos irregulares com trepidação constante"...

Pô, yamaha, não vem com esse papo de dafra!

Projeta uma moto que não aguenta ser usada por um ano e vem por a culpa nas ruas e condições normais que vocês não souberam prever?

Ora, faça o favor! Pelo menos a yamaha teve a decência de convocar o recall... 

Tantos problemas tão graves em motos recém lançadas, dona yamaha... 

O que está acontecendo com sua engenharia e controle de qualidade, dona yamaha?

Um recall por motivo semelhante ao da R1 — e risco idêntico — foi feito pela suzuki em relação a uma moto com boas vendas no Brasil, a GSR 150i.

Tome cuidado na hora de comprar uma dessas de segunda mão, verifique se o antigo dono soube do recall.

Melhor ainda, não confie na informação dele, verifique você mesmo se o recall foi feito visitando uma concessionária suzuki — lá eles têm como comprovar se o reparo foi executado. Ou tome muito cuidado ao passar pela Rubem Berta.

Recalls não têm prazo de validade, a montadora é obrigada a resolver o problema criado por ela — o que você não pode é ficar esperando o pior acontecer.

Sentiu falta de alguém?

Não falei até agora da honda, né?

Pois é.

Se o ano de 2016 foi péssimo para a yamaha, o de 2015 foi muito ruim para a honda...

Em 2015 a honda convocou mais de 12 mil motos de 10 modelos aqui no Brasil — incluindo a NC 700, NC 750, a Shadow 750, e as quatro cilindros CBR 600, Hornet e CB 650.

E isso foi noticiado pela rede globo como risco de desligamento repentino do motor por "curto-circuito e superaquecimento do interruptor de partida".
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/08/honda-faz-recall-de-11922-motos-modelos-podem-desligar-sozinhos.html

Mas o recall norte-americano falava em risco de o motor apagar e não voltar a funcionar em 33 modelos por causa do excesso de selante no solenoide de partida — starter relay switch.
Divulgação do recall: http://www.motorcycle-usa.com/2015/07/article/honda-recalls-45153-motorcycles/

Esse site americano nem sequer mencionou a possibilidade de incêndio do chicote elétrico e outros sites divulgaram com pequeno destaque a chance de a moto pegar fogo. Estranho.

Por que aqui no Brasil na mesma época o mesmo recall, apesar de noticiar corretamente os riscos envolvidos, foi divulgado de maneira diferente?

Sem falar nada sobre o desleixo na aplicação do selante no relé, a versão brasileira publicada no g1 disse que o problema estava no interruptor de partida:
Divulgação do recall: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/08/honda-faz-recall-de-11922-motos-modelos-podem-desligar-sozinhos.html

Eu até pensei que fosse erro da globo, mas entrei no site de recalls da própria honda e a informação diferente e errada partiu mesmo de lá:
Recall: https://www.honda.com.br/noticias/honda-convoca-proprietarios-de-diferentes-modelos-para-inspecao-e-caso-necessario

É isso que dá botar estagiário para escrever literatura técnica...

A tradução correta de starter relay switch é simplesmente relé de partida, e não interruptor de partida e nem interruptor do relé de partida, como está no site da montadora.

Quem ativa e desativa o relé de partida é o interruptor de partida no guidão — o relé é completo em si mesmo, chamá-lo também de interruptor só serve para causar confusão. Como essa.

Interruptor e relé de partida nem ficam perto um do outro...
O resultado é que o boletim de recall saiu errado e incompleto...

Concorda que noticiar um curto-circuito no interruptor de partida dá a impressão de que o problema é menos sério?

Mais fácil de resolver no guidão do que nas profundezas do chassi, né?

Não digo que isso tenha sido intencional, mas o fato é que a divulgação aqui no Brasil omitiu a causa do problema — uma falha grosseira na aplicação do selante durante a fabricação da peça.

Afinal, por que lá fora disseram a causa e aqui no Brasil não falaram nada? Nem falaram que o curto-circuito pode torrar o chicote elétrico?

Negar informações aos clientes brasileiros sobre o problema não ajuda o pessoal a se conscientizar da urgência em cumprir o recall, viu dona honda?

Custava falar exatamente o que a matriz lá no Japão determinou? 

Lá na Austrália e nos Estados Unidos foram bem claros... a aplicação incorreta do selante pode causar o travamento do relé causando parada do motor e a impossibilidade de ligar novamente com risco de acidente para os ocupantes e terceiros, ou um curto-circuito e também eventualmente causar o incêndio do chicote elétrico e da moto.

Porque pensando que o problema está no interruptor ali no guidão, e o interruptor não dando problema nenhum, o que o cidadão faz?

A tendência dele é pensar que a moto está livre de precisar atender o recall, né?

Isso não contribui para aumentar a baixa média de atendimento a recalls que segundo o PROCON de SP está abaixo de 13%... 

Parece que o pessoal lá não conhece piscologia. Piscologia vem de piscis, peixe em latim. Dori não manda lembranças.

Voltando a falar dos recalls nos EUA, note que na lista de 33 modelos com risco eventual de curto-circuito no chicote elétrico lá dos EUA não está relacionada a honda Gold Wing.

Ela estava pegando fogo na parte dianteira, inclusive roda e mangueira do freio dianteiro, e não há nenhum recall para algo parecido com isso.


O que poderia levar uma moto a pegar fogo sozinha como aconteceu com aquela?

Seria um caso que exigiria recall e que não foi convocado pela montadora?

É o que discutiremos na postagem de segunda-feira.

Até lá, um abraço e um bom fim de semana,

Jeff