Acha que coisas como essas não acontecem na indústria? Engano seu.
Há muitos casos como esse registrados e documentados, e muitos outros que só ficaram sabendo as concessionárias e os donos que pagaram o mico...
Se o problema realmente estiver acontecendo, a harley-davidson será apenas mais uma em uma longa lista.
Imagem e recall: https://motorbikewriter.com/honda-recalls-300s-engine-failure/
Não se preocupe, essa aí é a honda CB 300 vendida lá na Austrália, o motor é esfriado a água.
Recall em 2016 por travamento do motor devido a falha no controle de qualidade resultando em dano às bronzinas, rolamentos ou mancais... (Bearing pode ser traduzido como rolamento ou mancal, e bearing cap é bronzina, que às vezes é mencionada somente como bearing. O virabrequim usa mancais com bronzinas e rolamentos ou apenas rolamentos, dependendo do tipo do motor. Monocilíndricas costumam usar apenas rolamentos e motores com vários cilindros usam mancais de bronzinas. Provavelmente a CB 300 australiana usa rolamentos.)
Muito provavelmente falha de lubrificação devido a cavacos na galeria de óleo, porque se fosse outro problema dificilmente o motor sairia da fábrica — pifaria no teste por lá mesmo.
Essa praga de recalls por falhas extremamente graves em veículos novos das montadoras não ataca apenas as fabricantes de motos.
É verdade que nas motocicletas os usuários correm maior risco de acidentes graves potencialmente fatais.
Mas na indústria de automóveis as situações de grande risco à vida e mesmo mortes não faltam.
E a lista de exemplos notáveis também abunda. Nossa, infelizmente.
Imagem e reportagem: http://www.usatoday.com/story/money/cars/2015/09/25/hyundai-recalls-sonata-engine-problem/72797502/
A hyundai dos EUA teve esse recall em 2015 de 470 mil carros com cavacos esquecidos dentro do bloco do motor antes da montagem. E quase 100 mil por falha na luz do freio.
E em 2016 a concorrente coreana kia estava para receber uma ação judicial também nos States exigindo recall — exatamente pelo mesmo problema:
Imagem e reportagem: https://topclassactions.com/lawsuit-settlements/lawsuit-news/337085-kia-class-action-lawsuit-targets-engine-oil-defect/
A general motors também deu uma vistosa contribuição para evidenciar a gravidade do problema.
Você soube dos motores V8 de 8,3 litros dos novos chevrolet Corvette Z06 2015 estourando de rachar o bloco com menos de 1.500 km?
Relato indignado: http://www.motorauthority.com/news/1096096_first-2015-chevy-corvette-z06-engine-destroyed-with-just-891-miles-on-the-clock
Imagine você no primeiro passeio com seu Corvette zero km, ainda amaciando o motor...
A 137 km/h — porque ainda está amaciando e você está pisando leve andando na velocidade máxima permitida naquela região do Texas — o motorzão de 659 hp explode. Faz BOOM-klank-klank-klank.
Olha que coisa linda... perda total do motor antes da primeira revisão por causa de um descuido escabroso na linha de produção:
Imagem e reportagem: http://www.foxnews.com/leisure/2015/08/21/chevrolet-finds-cause-and-solution-for-corvette-z06-engine-problem/
Simplesmente a gm chevrolet esqueceu de limpar os cavacos de usinagem da galeria de óleo do bloco fundido antes de montar o motor.
Não fez o básico do básico...
Cavacos de usinagem não removidos do interior do bloco foram parar na galeria ou filtro de entrada da bomba de óleo e bloquearam a lubrificação das bronzinas — causando travamento do motor e risco de acidente.
É o mesmo problema que tivemos notícia de estar acontecendo com os motores da nissan e kia... e possivelmente com os da honda e harley-davidson...
A reportagem mostra um aspecto pitoresco da maneira como as empresas tratam o assunto:
E isso causou o estouro de 1 em cada 3 dos motores dos carros entregues aos clientes até a data da divulgação da solução do problema.
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E será que nos carros entregues restantes os problemas simplesmente ainda não haviam dado as caras?
Ou ocorreram de maneira menos danosa?
Afinal, quantos carros foram afetados de verdade?
Sem dúvida, o raciocínio de quem "explicou" a taxa de defeitos é difícil de entender.
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1% é um número irrisório, quase desprezível.
A menos que você esteja a 137 km/h lá no Texas e o motor do seu carro estoure espalhando óleo e fazendo você rodar na pista e dar de cara com um mercedão. Ou um Mack.
A mais que centenária gm começou com gente que já construía carros em 1899, foi oficializada como general motors entre 1908 e 1916 e agregou várias outras montadoras já antigas em 1930.
Essas montadoras unidas eram a Buick, Oldsmobile, Chevrolet, Cadillac, Oakland/Pontiac — anote esse nome — a canadense McLaughlin, a australiana Holden e a tradicionalíssima alemã Opel que ficaram abrigadas sob o guarda-chuva da maior das montadoras originais, a General Motors. Depois vieram outras.
Imagem e história da gm: https://en.wikipedia.org/wiki/Buick – https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_General_Motors – https://pt.wikipedia.org/wiki/General_Motors
A gm quebrou financeiramente em 2008 tropeçando nos problemas criados por ela mesma e "renasceu" em 2009 afirmando estar livre dos erros da antiga gestão.
Experiência de produção é o que não falta.
Apesar de tudo isso e talvez por causa desse rejuvenescimento pós-falência, nesta década a gm reincidiu em cometer os erros mais idiotas do mundo.
Não foi só o Corvette.
Teve também o caso das bielas que "escaparam do controle de qualidade" dos modelos Maliboom Malibu 2014 recém lançados na terra do seu não meu tio trump — e para o qual a gm não convocou recall.
Imagem e reportagem: http://blog.caranddriver.com/maliboom-faulty-connecting-rod-bearing-causing-engine-failures-in-gm-four-cylinders/
Se três carros não apresentassem simultaneamente o problema nas mãos dos editores do blog especializado Car and Driver, ninguém ficava sabendo da história dos outros trinta e sabe lá quantos mais.
Essa maneira de lidar com os defeitos escondendo os fatos do público para evitar prejudicar as vendas — mesmo que sua divulgação pudesse evitar mortes — não é exclusividade da general motors.
É uma prática geral na indústria de carros, motos e outros produtos para uso público.
Mas acredite ou não, esses ainda não foram os casos mais patéticos da indústria.
Amanhã finalmente eu conto a incrível história do carro que pegava fogo porque saía de fábrica e das revisões de concessionária sem óleo suficiente para o bom funcionamento do motor.
Que nem uma certa moto que eu conheço. Né, Jezebel?
Um abraço,
Jeff