segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A covid e eu

Olá, pessoal

Conforme prometido na postagem da semana passada, explico os motivos para o blog ficar fora do ar durante seis meses.

Bom, minha saúde não andou lá essas coisas, e minha moto andou menos ainda.

Passei a tomar muitos remédios novos depois de uma consulta em março, e tive vários sintomas que atribuí inicialmente aos efeitos colaterais daquelas pandorgas.

Mas vendo agora, acho que foi mesmo covid.

Fui a uma consulta em março que estava agendada há meses. Ela ocorreu poucos dias antes da decretação da quarentena obrigatória — o salão de espera do Hospital Municipal tinha centenas de pessoas sem máscaras, o vírus já estava circulando na população, hoje acredito que peguei o bicho ali mesmo.

Na época em que escrevi a despedida do blog eu já estava com os sintomas e cheguei a pensar que não sobreviveria à pandemia, achava que aquele adeus seria para sempre... 

Não cheguei a ter falta de ar a ponto de procurar um médico, mas teve umas duas ou três semanas em que faltou fôlego, eu não conseguia nem levantar da cama, se tivesse piorado um pouco mais, teria buscado a internação.

Senti dores que não eram as típicas da artrite, mas pareciam percorrer os nervos e veias das pernas como fogo. Minha pressão permaneceu ainda mais anormalmente alta que de costume, apesar de toda a medicação. 

Devo ter pegado a forma branda da covid porque tive muito pouca tosse, alguns espirros e alguma tremedeira. Não percebi febre, mas posso ter delirado que não tive. 

No pior estágio a fraqueza nas pernas aumentou, depois melhorou um pouco, mas mesmo depois disso as dores continuaram implacáveis, era analgésico forte todo dia várias vezes ao dia, ou eu não dormia.

Fiquei semanas sem capacidade de fazer força nem conseguir ficar de pé por mais de 5 minutos.

Resumindo, foi muito bem mais do que uma "gripezinha".

Nesse meio tempo fiz pesquisas e, muitos koalas depois, felizmente sem necessidade de internação, resolvi tentar combater as sequelas com meios naturais porque já estava entupido de remédios fortes.

Vi uma reportagem a respeito das qualidades anti-inflamatórias do curry, uma mistura de temperos orientais conhecida há 500 anos em Portugal como caril e que alguns amigo confundem com cúrcuma (né, Daniel?)

Cúrcuma é a mesma coisa que açafrão-da-terra.

Curry/caril é uma mistura de pó de açafrão-da-terra mais cardamomo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta e canela além de outros como alforva, pimenta-de-caiena, cominhos finos, noz-moscada, pimenta-da-jamaica, pimentão e alecrim, conforme a preferência. Fonte: wikipedia

Passei a consumir curry e canela em pó diariamente e comecei a ter melhoras significativas. 

Além disso, percebi que minha dieta tinha falta de um alimento fundamental para manter os níveis de vitaminas do grupo B: feijão. Dez entre dez brasileiros preferem feijão.

Com esse negócio de cozinhar em casa só no micro-ondas, o feijão tinha ficado de lado e as marmitex marmitexes quentinhas de comida chinesa (adoro) não vêm com feijão... 

Beribéri é o quadro de sintomas por falta de feijão vitamina B, e também tive falta de vitamina C, frutas também não acompanham quentinhas. Vitamina C ajuda a combater a artrite porque facilita a absorção de colágeno.

Depois que enriqueci a dieta (infelizmente, só a dieta), minhas dores diminuíram muito, a ponto de não depender mais de remédios. Também não sinto mais problemas de inflamação recorrentes, combatidas com outro remédio que tinha passado a tomar.

A pressão também se mantém mais baixa porque agora cozinho sem usar sal, mas com muitos temperos tipo alho, salsinha e cebolinha, todos apontados como anti-inflamatórios naturais.

Agora estou bem melhor e mais otimista quanto ao futuro. Até deixei de usar repelente de koala!

Mas chega de falar de mim, que sou um assunto nada interessante, só comento essas coisas na esperança de que minha experiência ajude mais alguém a se livrar de problemas de saúde semelhantes aos meus.

Na próxima postagem, voltarei a falar de motos.

Vou contar minha última viagem (no bom sentido — a última viagem que fiz antes da pandemia) onde tudo que podia dar errado deu pior ainda, e tudo por um motivo bobo e evitável.

Um abraço, se cuidem, e cuidem uns dos outros,

Jeff

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Momento de ser solidário

Olá, pessoal!

Estou ressuscitando o blog por uma boa causa: 

Vamos todos ajudar o Marlon a reconstruir sua oficina e sua vida!
























Marlon é um mecânico de mão cheia aqui de Santo André que sempre cuidou da moto do meu irmão e a quem conheço pessoalmente — um cara legal que não merece o que aconteceu.

Na noite de domingo a oficina dele pegou fogo e o prejuízo foi enorme — queimou praticamente tudo: instalações, estoque de peças, ferramentas, as motos dele e motos de clientes que ele não conseguiu retirar.

Então ressuscitei o blog para pedir a contribuição de quem puder colaborar para ajudá-lo nesse momento tão difícil.

Link para fotos do estrago no Instagram:


Link para o vídeo do próprio Marlon mostrando o resultado do incêndio:


O pessoal organizou uma vakinha para ajudá-lo a recuperar o seu ganha-pão e sua paixão.

Sempre há aproveitadores que tentam lucrar com a dificuldade dos outros, então peguei o link diretamente com ele, é a única vaquinha on line para esta causa:

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/oficina-m2-marlon

ID da vaquinha: 1398232

Link de compartilhamento da vaquinha no facebook, whatsup e instagram: http://vaka.me/1398232

Se você não puder contribuir financeiramente, por favor, compartilhe os links para seus amigos, toda contribuição ajudará muito. 

Quanto ao blog, esta é uma maneira súbita e inesperada de voltar à ativa, mas certas coisas são melhores assim, no susto.

Foram seis meses sem postagens, mas por um bom motivo que explicarei em breve.  

Nas próximas postagens eu contarei minha experiência com a covid-19 e os momentos em que parecia que tudo ia acabar por ali mesmo — e como as coisas mudaram para melhor.

Agora estou mais animado — talvez tenha descoberto e eliminado a causa definitiva dos meus problemas de artrite, de uma maneira natural e me livrando de alguns remédios.

Um abraço, e até a próxima,

Jeff
PS: Só não me livrei dos koalas. Peguei amor pelos bichinhos, eles me ajudaram muito.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Efeitos colaterais de remédios

Olá, leitores!

O blog saiu do ar por duas semanas porque levei um tombo. Na verdade, dois tombos.

Mas não foram de moto, foram por causa de um remédio novo que comecei a usar e o médico não avisou que havia a possibilidade de provocar desmaios.

Desmaios e coalas coloridos.

Burrice minha, devia ter lido a bula...

Acordei tonto com tontura (tonto já sou por natureza), dei meia dúzia de passos e as pernas fraquejaram, caí sentado e apaguei.

Acordei de cara no chão, com muita dificuldade consegui me sentar em uma cadeira, apaguei e fui para o chão de novo... 

Foi uma luta e um alívio enormes conseguir voltar para a cama depois de uma hora, fraqueza absoluta por pressão baixa, efeito colateral raro daquele remédio. Sou sortudo para essas coisas.

Mas nessa brincadeira de cair acabei machucando a coluna, aquela mesma região prejudicada na última viagem.

Fiquei vários dias esperando a dor passar, e quando voltei a usar o computador, acordei tarde, de bode, com tudo que sei, só não acendi uma vela, mas abri a tela e pasmei. Ainda bem que não tenho cozinheira.

Numa hora como essa, só há uma coisa a dizer:

— помой руки!!!!

Então, com tudo isso rolando, não tive ideias para novas postagens, e acho que não conseguirei escrever nada interessante e muito menos motivador por um bom tempo.

O blog estará fora do ar por um tempo incerto e não sabido, mas não por motivo de covid-19.

Pelo menos, por enquanto...

Vai levar algum tempo até as ideias voltarem e eu conseguir enxotar os coalas, eles estão em toda parte.

Isso, se o pessoal lá de cima quiser. Mas se o pessoal lá de baixo me quiser...

De qualquer modo, sempre foi um prazer estar aqui com vocês.

Um forte abraço, pilote sempre com segurança por milhões e milhões de quilômetros, e nunca sob efeito de drogas sem antes ler a bula,

Jeff

sexta-feira, 6 de março de 2020

Segundo flagra de moto (quase) ultrapassando pela direita

Acidente de moto na rodovia João Cereser onde o motociclista quase conseguiu ultrapassar pela direita (assista ao vídeo na página do uol):
Vídeo e reportagem: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/06/acidente-carro-moto-jundiai.htm

Ele deixou para desviar no último momento para ultrapassar pela direita, e fez isso no momento exato em que o motorista decidiu mudar de faixa.

Excesso de velocidade, não manter distância de segurança, (tentar) ultrapassar pela direita, encontrar um motorista que não espera que você esteja acima da velocidade máxima permitida.

Assim que acionou o freio, o piloto perdeu o controle da moto e teve a sorte de não ser atropelado nem matar ninguém.

Ao pilotar no limite, você coloca não apenas sua vida e sua moto em risco, mas também a vida e o veículo de outras pessoas que não têm nada a ver com a tua aventura.

O resultado é o que você vê no vídeo, outras consequências virão mais tarde.

Aprenda com o erro dos outros, dói menos e sai mais barato.

Mudando de assunto:

Curioso, parece ser uma moto laranja. 

Seria o proprietário de uma moto recém adquirida em péssima campanha promocional* tentando descobrir a velocidade máxima na estrada?
Imagem do vídeo: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/06/acidente-carro-moto-jundiai.htm

Não, seria coincidência demais.

Um abraço,

Jeff
* Está aparecendo anúncio deles até aqui no blog, não tenho controle sobre os anúncios postados pelo google, senão podava.

Flagra de moto (quase) ultrapassando pela direita

Reportagem em Joinville flagrou acidente com uma moto cometendo o mesmo erro que as bicicletas apresentado na postagem do último dia 4.

Veja o vídeo do acidente no site do g1 (a partir dos 2:50):
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/03/05/camera-flagra-acidente-entre-motociclista-e-caminhonete-em-joinville-video.ghtml

Não importa se o motorista deu seta ou não, isso não vai consertar o tanque da sua moto nem o amassado da sua perna, não adianta reclamar.

É aquele caso das bicicletas, nenhum motorista espera uma ultrapassagem por uma magrela naquele lugar.

Principalmeeeeeente, não vai amenizar a dor do orgulho ferido e da coluna lombar. E da almofada bumbar.

Não vai servir de desculpa para não pagar a pintura da lateral do carro, se riscar.

Ultrapassagens pela direita são proibidas, não tem o que mimimizar.

Se a moto estivesse ultrapassando pela esquerda, o motociclista não teria dado azar. Óbvio, né? Nem precisava explicar.

E se no próximo cruzamento a picape fosse virar à esquerda, teria menor chance de pegar a moto porque ela estaria visível no espelho e o motorista teria ouvido ela roncar.

Um abraço, e bom fim de semana pra passear, se a chuva passar,

Jeff
PS: Semana que vem poucas postagens irei publicar.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Discussões no trânsito

Reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/03/04/motociclista-e-baleado-na-cabeca-apos-briga-de-transito-em-ms.ghtml

Discussão no trânsito é uma situação que todo mundo corre o risco de enfrentar.

Um bate-boca pode começar mesmo sem o motociclista ou o motorista terem feito nada de errado, basta um deles achar que o outro fez.

E muitas vezes, pode começar porque um dos condutores está alcoolizado.
Imagem e reportagem: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/online/motorista-de-picape-colide-em-moto-apos-perseguicao-em-briga-de-transito-1.2190814

Discutir com bêbado é enxugar gelo... o resultado pode ser muito ruim para o motociclista.

Para começar uma briga, não precisa nem ter havido uma colisão — ela pode começar só porque um dos lados achou que o outro chegou perto demais do seu carro ou da sua moto.

O motorista não precisa estar armado com um revólver — só o carro já é suficiente para causar ferimentos graves:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2019/12/09/motociclista-vai-a-policia-e-diz-que-foi-atropelado-de-proposito-apos-briga-de-transito-em-ribeirao-preto.ghtml

Ou mesmo matar:
Vídeo e reportagem: http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/jornal-da-eptv-2edicao/videos/t/edicoes/v/apos-discussao-motorista-joga-kombi-contra-motociclista-que-morreu-atropelado/8069608/

Então, bote uma coisa na cabeça:

Por mais que você tenha razão (ou pense ter razão), não entre em brigas de trânsito — o motociclista só tem a perder.

Tentar convencer um idiota de que ele é um idiota não te leva a lugar nenhum; isso pode te colocar na mira de um idiota armado com um taurus 38 ou pior, um fiat 147 — o cara não tem nada a perder, você tem a sua vida.

Já vi um ogro sacar uma arma porque fez uma conversão na contramão, quase bater o carro e achar que tinha razão — e ele não tinha bebido, era só burro mesmo.

Então não faça manobras arriscadas que possam ser interpretadas como motivo para briga.

O atropelamento do vídeo de Ribeirão Preto aconteceu porque o motorista não gostou de ser ultrapassado pela direita e supostamente/possivelmente foi fechado pelo motociclista em um cruzamento.

Ultrapassagens em cruzamentos são proibidas por qualquer lado, porque criam situações de risco.

Certamente o motivo da discussão do atropelamento pela kombi foi algo nessa linha, um dos dois se sentiu ameaçado por uma fechada e foi tomar satisfação.

Infelizmente, nunca saberemos o que realmente ocorreu — a versão do motociclista morreu com ele.

Em uma discussão, o maior risco para nós, motociclistas, é o de sermos perseguidos e atropelados por um "justiceiro" irracional que pensa que uma fechada no trânsito ou um xingamento impensado — muitas vezes merecido — justifica uma sentença de morte.

Está cheio de ogros por aí, armados com carros e pistolas, então tente não se envolver em situações que despertem sua ira.

Não dê chance ao azar.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 4 de março de 2020

O porquê das bicicletas mortais

Acidente trágico registrado em Nova Andradina no Mato Grosso do Sul:
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/27/menino-irlandes-de-6-anos-morre-atropelado-por-carreta-enquanto-andava-de-bicicleta-em-ms.ghtml

Conforme a reportagem, a carreta vinha pela avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade (trecho urbano da BR-376) e passou por cima da bicicleta ao fazer uma conversão para entrar na rua Espírito Santo.

Por uma daquelas coincidências que a gente chega a pensar que não pode ser apenas coincidência, a imagem desse cruzamento no google Maps mostra exatamente uma carreta, no caso um bitrem, fazendo essa conversão:
Imagem: Google Maps

E essa imagem mostra exatamente porque bicicletas não devem circular por avenidas e rodovias.

Calma, ciclistas, eu explico:

Motos conseguem acelerar e ultrapassar caminhões, e conforme as leis de trânsito, essas ultrapassagens são feitas sempre pelo lado esquerdo dos veículos.

Ultrapassagens pela direita são proibidas porque são armadilhas mortais.

Mas as bicicletas estão condenadas a circular no lado direito das ruas, sempre sendo ultrapassadas — é o pior lado, o lado com a sarjeta, o lado sujo e mais esburacado.

No lado direito, o ciclista sempre corre o risco de se desequilibrar e cair embaixo do rodeiro de um ônibus ou caminhão — veículos grandes dificilmente conseguem fazer ultrapassagens respeitando a distância mínima de 1,5 metro das bicicletas.

Como eles são muito largos, isso os faria ocupar duas faixas, uma situação difícil de administrar do alto da cabine.  

E o pior de tudo:

Raros são os ciclistas com alguma noção da realidade do trânsito (e de suas leis).

A imensa maioria deles não faz a menor ideia da dificuldade que os motoristas têm para enxergar outros veículos pelo espelho do lado direito, ainda mais uma bicicleta magrela.

Não sabem que do alto da cabine de um caminhão não dá para ver uma bicicleta do lado direito, a bicicleta fica totalmente oculta pela lateral da porta.

Mesmo que o motorista olhe pelo espelho, ele não verá a bicicleta — o ponto cego do espelho de um caminhão é grande o suficiente para impedir a visão de ciclistas, motos e até carros inteiros.

Manobrar um caminhão, ônibus ou carreta em uma esquina é uma operação complicada que exige toda a atenção do motorista.

Note na foto como o caminhão é obrigado a ir para a faixa do meio da avenida e entrar na contramão da rua lateral para que a traseira e o(s) reboque(s) consiga(m) passar rente à calçada do lado direito — sem que as rodas subam na guia.

Quanto maior o veículo, mais difícil sua condução, mais pontos a observar, mais estressado seu condutor.

Toda a atenção do motorista está focada em calcular a manobra para não colidir com outros veículos nem derrubar postes e árvores nas esquinas — nem atropelar pedestres, que se movem muito mais devagar que uma bicicleta.

Para fazer essa conversão mostrada na foto, o motorista é obrigado a quase parar a carreta.

E é aí que a bicicleta cai na armadilha mortal:

O ciclista avança pelo lado direito livre, sem ser visto pelo motorista, e se coloca no caminho das rodas do ônibus, caminhão ou reboque.

Mesmo que pare antes da esquina, o ciclista não imagina que o reboque se moverá para cima dele sem que o motorista o veja.

Durante a conversão, o espelho do caminhão está apontando em direção à traseira do cavalo-mecânico e não para os reboques — o motorista só conseguirá ver a traseira da carreta (não o meio) se dobrando sobre o assento do passageiro. Antigamente um ajudante ocupava esse assento para servir de olhos para o motorista, mas sabe como é, né? Salário de ajudante diminui o lucro da transportadora.

Nesse momento, o motorista não espera que apareça uma bicicleta (ou uma moto) se enfiando pelo lado direito e fazendo uma ultrapassagem proibida durante a manobra do caminhão ou ônibus.

No instante em que o ciclista percebe o grande veículo virando na sua frente, ele já está caindo na frente de alguma das rodas.
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/01/04/caminhao-de-lixo-passa-por-cima-de-ciclista-ao-acessar-posto-de-combustivel-em-batatais-video.ghtml

Mesmo que o motorista pare imediatamente, um atropelamento fatal só precisa de meia volta do pneu, e isso é uma fração de segundo, mesmo em baixa velocidade.

Então, o(a) ciclista é sempre culpado(a) pelo acidente?

Não dá para falar em culpa.

Ciclistas muitas vezes são crianças ou adolescentes sem qualquer vivência no trânsito.

Ou idosos.
Reportagem: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/02/06/idoso-em-bicicleta-morre-apos-ser-atingido-por-caminhao-em-mato-grosso-do-sul.ghtml

Mesmo motociclistas habilitados cometem o erro de tentar ultrapassar um veículo grande pela direita... foi vendo um acidente desse tipo lá em Floripa que decidi criar o blog.  

Então ciclistas, não encarem essa crítica com revolta e mimimi de perseguição, mas com análise dos fatos — hoje motociclista, eu também já fui ciclista e motorista, vi muita coisa que não queria nesta vida.

Assim como não quero ver acidentes de moto, não quero ver acidentes com ciclistas. Ou pedestres. Ou carros.

Mas o fato é que bicicletas e trânsito pesado não combinam.

Os perigos já são grandes demais para nós, que rodamos com nossas motocicletas mais estáveis e equipadas com motores e freios mais eficientes, e respeitamos as leis de trânsito. Bom, quase todos...

Mas pedalando pela direita os ciclistas estão numa desvantagem enorme que, sinceramente, não vejo como poderão reverter.

Não dá para ensinar leis de trânsito para crianças, não dá para confiar na capacidade de julgamento de quem não conhece os perigos do trânsito.

Ou as bicicletas saem de vez das avenidas e rodovias, ou continuaremos a ver cenas tristes como esta.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 3 de março de 2020

As aparências podem enganar

Notícia publicada no G1 semana passada:
O vídeo mostra o caminhão totalmente na contramão:
Vídeo e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

O vídeo finaliza com a frase "As causas do acidente ainda serão investigadas". 

Ao ver a cena você não se conforma e junto com todo mundo grita "caminhão na contramão, o motorista é culpado, lincha, lincha!" — e o perigo nessa hora é o pessoal se empolgar e cometer uma tremenda injustiça.

Será mesmo que o acidente aconteceu por causa do motorista do caminhão?

O que você nota ao ver a moto envolvida no acidente?
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

Frente totalmente destruída e roda traseira quebrada, certo?

Ora, a frente foi destruída no impacto com o caminhão, mas e a roda traseira?

A roda traseira não bateu contra o caminhão, nada ao redor dela bateu — o escapamento está inteiro, a rabeta está inteira.

Todo o lado posterior da moto está bem preservado, então me parece pouco provável que essa roda tenha se quebrado durante a batida. Pode até ser, mas...
Imagem e reportagem: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2020/02/26/motociclista-morre-apos-bater-de-frente-com-caminhao-em-rodovia-de-paranapanema.ghtml

A roda se quebrou no aro e também no raio, que mostra uma fratura do tipo frágil (instantânea e não por fadiga) em um local determinado — a roda não foi prensada entre a rabeta e o asfalto, senão ela estaria ovalizada.

Esse é um forte indício de uma pancada muito intensa e localizada — como o impacto contra a quina de um buraco profundo.

Buracos profundos costumam aparecer nas estradas em época de chuvas — estamos passando por uma temporada chuvosa sem precedentes e chovia no momento do acidente.

Buracos ficam cobertos de água suja e não permitem avaliar sua profundidade: o que parece uma poça inofensiva pode ser uma tremenda armadilha para motos.

Um cenário possível seria este (mas somente uma investigação do local e testemunhas poderão confirmar se esta suposição está correta):

Com a roda quebrada, o motociclista teria perdido o controle e a motocicleta começou a dançar na pista.

A moto teria desviado primeiro para a pista oposta, o motorista tentou desviar jogando o caminhão para a contramão, mas a moto sem controle inverteu a trajetória e aconteceu a colisão.

Invadir a contramão e retornar cruzando a pista, fazendo um S, é um comportamento típico de veículos desgovernados, como pode ser visto pelas marcas dos pneus de um carro que vinha na mão correta, perdeu o controle e capotou no acostamento:
Imagem e reportagem: https://planetafolha.com.br/11/01/2020/livramento-em-rolim-de-moura-familia-em-moto-escapa-da-morte-apos-carro-desgovernado-capotar-a-poucos-metros-de-distancia-na-ro-479/

Não se pode descartar que algo parecido tenha acontecido com a moto, por isso que as causas precisam ser investigadas.

Pessoalmente, sempre achei esse tipo de roda extremamente frágil para encarar nossas estradas esburacadas — até fiz uma postagem sobre isso em 2014.

É uma roda projetada para uso urbano, onde via de regra o asfalto é melhor conservado — pelo menos no Japão, onde a moto foi concebida — e as velocidades costumam ser mais baixas.

Naquela última viagem para Floripa em que o buraco na BR-116 quebrou o para-lama traseiro da Jezebel, a primeira coisa que fiz foi inspecionar as rodas — felizmente, a quina pegou na direção do raio e a roda aguentou o tranco.

Se tivesse batido na área entre os raios, o flange teria sido amassado, isso já aconteceu antes, mas uma vantagem da Kansas é usar câmara de ar, então o pneu não esvazia de repente.

Além disso, sua roda traseira é aro 16 polegadas (406 mm), então o espaçamento entre os centros dos raios é menor (255 mm).

Já o aro da suzuki Yes é de 18 polegadas (457 mm), por isso o espaçamento entre os centros dos raios é maior (287 mm).

Principalmente, a área da união entre raio e aro é menor na Yes, o que aumenta proporcionalmente o espaço vazio entre os raios — e quanto maior essa distância sem reforço, maior a fragilidade do aro:
Imagem: Roda traseira de Kansas (esquerda) e Yes (direita)

Na Yes, os raios são mais finos e vazados, e sua posição não ajuda a aceitar impactos — o raio da Kansas está na direção da compressão da pancada, enquanto o raio da Yes está na direção de dobramento, o que facilita sua quebra.

Pode ser um projeto bom para estradas do Japão e primeiro mundo, mas não é um projeto para as estradas do Brasil.

Em minha opinião, a roda traseira se quebrou ao passar por um buraco e causou a tragédia, mas sempre posso estar enganado. Todos nós sempre podemos estar enganados sobre tudo.

Então, tome consciência de que a primeira impressão de um acidente pode ser totalmente enganosa e não se precipite em acusar "culpados".

É para isso que servem as investigações.

Um abraço,

Jeff

segunda-feira, 2 de março de 2020

Péssima campanha, dona royal enfield

Ao longo da semana passada, e até a data de hoje, pipocaram vários anúncios na mídia sobre o lançamento de umas tais Twins 650cc, sem qualquer informação de fabricante e modelo.

Só a foto, uma frasezinha de marketing para aguçar a curiosidade e o link para você clicar.

Como eu já sabia que a royal estava lançando dois modelos 650 aqui no Brasil, saquei de cara que os anúncios eram sobre as novas motos deles, passei a semana sem prestar atenção.


Mas depois de alguns dias sendo martelado com tanta propaganda eu notei uma coisa, a imagem do anúncio mostrava uma moto esportiva — e as motos lançadas pela royal não são esportivas...

A imagem do anúncio no g1 não é de nenhum modelo da royal enfield.

Eu tinha certeza que os anúncios eram sobre a Interceptor e a Continental, mas não queria acreditar que a royal enfield recorreria a um expediente tão ruim péssimo para a imagem deles.

Cliquei já me preparando para a decepção e não deu outra, olha só a página que abriu: 
Imagem: Link aberto ao clicar no anúncio do g1

Notou que o endereço do link não menciona a royal? Por que será, né? Curioso. 

Seria uma maneira de se desvincularem, atribuindo a iniciativa somente à agência de publicidade? Bizarro... propagandas precisam ser aprovadas pelos clientes antes do lançamento.

Em outro anúncio das twins 650 no g1, mais uma esportiva, de novo a foto não é das motos da royal enfield:
A imagem do anúncio no g1 não é de nenhum modelo da royal enfield. A royal não fabrica nenhuma moto esportiva.

"Suspensão finamente ajustada e com amortecedores duplos a gás."

Moto esportiva com amortecedores duplos? Que papagaiada é essa?

Nem a Roadwin 250, a "esportiva" da dafra lançada no final de 2011, usava amortecedores duplos... 

A única "esportiva" com amortecedores duplos que eu lembre foi a green Sport 150 — "esportiva" carenada chinesa com o mesmo motor da Kansas...

Amortecedor duplo em moto esportiva é coisa anterior aos anos 70 do milênio passado.

Ou seja, usaram uma foto que não é das 650 falando de amortecedores que não são da moto da foto.

E de novo outro anúncio, agora tentando apelar para quem gosta de custom:
A imagem do anúncio no g1 não é de nenhum modelo da royal enfield. Eu chutaria uma harley. Eu chutaria uma Softail. Eu chutaria o balde.

As únicas bicilíndricas da royal têm dois escapamentos, mas um de cada lado — e não do mesmo lado, como na foto do anúncio:
Imagem: Interceptor laranja e Continental GT, as 650 twins da royal.

Notou que não aparece nenhum amortecedor na moto custom da foto do anúncio ali de cima?

Será que é porque ela tem um único amortecedor tipo monoshock como todas as harley Softail?

Pois é, a mentira tem pernas curtas, amortecedores duplos e escapamento de V2.

Pensa que acabou? Acabou não... o melhor vem agora:
Sim, a imagem é essa mesma — mas a royal enfield não fabrica sofás. Nem almofadas sorridentes, é outro anúncio de outra empresa, mas a coincidência era boa demais...

Que sofazão almofadado é esse, dona royal?

"Silhueta clássica e despojada que remete à cultura das Café Racers." 

Nada é mais oposto à ideia de uma moto café racer que um sofazão almofadado...
Concordo com o cara do anúncio ao lado do da royal: WTF???

"Guidões clip-on de estilo retrô, assento bump-stop garantindo um maior estilo."

Realmente, sair por aí pilotando um sofazão seria muito estiloso — ainda mais com semiguidões e assento corcunda. Clip-on e bump-stop minha тапиока!

Nos dois casos, a moto que deveria estar ali no lugar do sofá seria a Continental GT, que não é nenhum divã.

As frases foram retiradas do site oficial da royal:
Frases e imagem: https://www.royalenfield.com/br/pt/motorcycles/continental-gt/ E café racer tem acento, mesmo em Inglês, porque é uma palavra importada do Francês. A França introduziu na Europa o conceito de barzinhos de café nos anos 1700.

Colocar um sofá no lugar da moto seria por acaso uma desculpa preconcebida para a royal poder dizer que a empresa contratada para fazer os anúncios era incompetente e eles não têm nada a ver com isso? Aham Claudia, senta lá.

Seria uma estratégia de clickbait, postar algo estranho para induzir os curiosos a clicarem para ver do que se trata? Tipo pendurar uma jaca no pescoço para aparecer no instagram?

Seria uma artimanha para algum blogueiro cair como um pato... oops...

Bom, só se for para fazer propaganda negativa.

Seria uma estratégia "falem mal, mas falem de mim"?

A royal fez uma campanha de mão pesada mesmo, com mais de um anúncio na primeira página do g1, além de repeti-los em quase todas as páginas de cada região e estado:
Imagem: Primeira página do g1 na manhã de 2 de março de 2020

Mas também na primeira página de outros portais como o terra, com anúncios pra tudo que é lado:
Imagem: Primeira página do site terra.com.br na madrugada de 1º de março de 2020

Como a campanha está no ar há vários dias e em vários sites, não dá para alegar que a responsabilidade seja só da empresa de publicidade — a royal teve todo o tempo do mundo para tomar conhecimento disso e reagir; como não reagiu, é porque a publicidade está do agrado deles.

Do lado de cá, a conclusão é uma só: 

A royal lançou as motos recorrendo a uma estratégia digna de um Odorico Paraguaçu.

Que papelão, royal enfield... usar motos da concorrência para anunciar o seu produto.


É como se a volkswagen usasse imagens de máquinas da ferrari para anunciar o lançamento de um Voyage... um carro meia-b satisfatório, mas com motor de sem cavalos. Nem cavalinho no emblema.

Poxa, dona royal, precisava mesmo disso? 

Suas motos já não são boas o suficiente, precisavam apelar para esse recurso que não ficou barato?

Pessoalmente eu gosto dessas motos, disse isso em duas postagens em novembro de 2017, uma já no lançamento na Índia e outra nanúncio da vinda para o Brasil.

Mas francamente, o desempenho dessas bicilíndricas 650 é apenas suficiente. Não ruim, apenas suficiente:

Apostaram no lado da economia de combustível e suposta durabilidade do motor (ainda por ser verificada), e não em fornecer aquele máximo desnecessário que só serve para aumentar a contagem de pontos e pinos dos Valentino Rossi da Fernão Dias.

Mas os anúncios com fotos de esportivas foram feitos visando esse público:

"Moto dinâmica e de resposta rápida, veloz na cidade, estável no asfalto e ágil nas curvas."

Essa frase também foi retirada do site oficial da royal:
Frase e imagem: https://www.royalenfield.com/br/pt/motorcycles/interceptor/

Ela pode ser veloz na cidade, mas na estrada a velocidade máxima medida por proprietários ficou na casa dos 147 km/h — uma bicilíndrica esportiva da concorrência na mesma configuração passa dos 200 km/h.

A velocidade de cruzeiro das royal é de 110-120 km/h, dentro do limite das rodovias, e ainda tem uma pequena reserva de potência para ultrapassagens — velocidades pouco superiores às de uma moto 250cc e 
consumo não muito diferente.

Então o desempenho é apenas suficiente, dá para encarar estradas numa boa, afinal rodar acima disso em nossas estradas e com o nosso trânsito, nem pensar. 

A única vantagem dessas 650 em relação a uma 250 qualquer é a maior estabilidade por ser uma moto mais pesada.

E talvez a sensação de tiozão pilotando um sofazão estiloso com menor chance de ser roubada. Hummm... hummm... laranja...

Mas usar a imagem de uma esportiva para atrair possíveis consumidores é uma estratégia que poderá decepcionar possíveis interessados — "se estão tentando me enganar já na propaganda, o que mais virá pela frente?"

Isso pode resultar em menor interesse do que o esperado, azar deles.


Interessados que forem até uma das ainda poucas concessionárias não descobrirão essa limitação de desempenho 
ao fazer o test drive em volta do quarteirão. Ops, preciso lembrar de fazer a postagem do meu test drive no ano passado com a Himalayan e a Classic...

Quem comprar pela internet, que é o objetivo principal da campanha, só descobrirá a realidade com a moto emplacada, lacrada e registrada no seu nome.


Na hora em que o proprietário pegar a estrada pra valer, poderá ficar muito decepcionado — poderá ficar com a sensação de ter sido ludibriado. Alguém ainda fala ludibriado?

Não tenho bola de cristal, mas prevejo um monte de gente desiludida rasgando o verbo nas redes sociais — da pior maneira.


Estratégia muito ruim para uma marca que está tentando se consolidar e ganhar a confiança dos clientes, inclusive começando a montar motos aqui no Brasil. 

Pelo menos eu fiquei muito decepcionado com essa atitude da royal enfield.


E você, o que achou?


Diga nos comentários, agora eu tenho acesso (menos no facebook).


Um abraço,


Jeff