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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O festival de recalls automotivos que assola o Brasil

Você pode até ficar surpreso (OHHH!!!), mas não precisamos buscar exemplos nos EUA ou no resto do mundo para falar de recall. 

Praticamente toda semana sai uma notícia nova na mídia tupiniquim.

Estes dois recalls aí embaixo são bem atuais.

São os mais recentes por falha de projeto. Até o momento desta publicação.


Já o recall por risco de incêndio dos hyundai HB 20 é do penúltimo dia do ano passado, então vou contar como sendo deste ano. 
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/12/hyundai-hb20-e-chamado-para-recall-por-risco-de-incendio.html

É bem capaz de ter passado batido no meio das festas e férias de ano novo. 

Por que será que lembrei do recall dos gm Fiero na véspera das festas natalinas? 

Ou do recall das Indian no finalzinho do ano passado?

Pois é, que coincidência, né? 

Defeitos graves parece que preferem ser comunicados ao público em épocas de festa...

E enquanto revisava a postagem tive que atualizar com mais este recall aqui:

Veja que não é um daqueles recalls semanais por airbag assassino que você vê todo santo dia! 

O caso da mercedes-benz é uma falha de programação do módulo eletrônico.

A central eletrônica não se entende com um sensor e o airbag pode deixar de funcionar na hora da pancada... Será que lançaram o carro sem testar o suficiente essa bagaça?

E falando em airbag, não posso deixar de comentar os recalls semanais por "airbag mortal" que atingem todas as montadoras...

Afinal, é apenasmente o maior recall da história mundial e quiçá da galáxia depois daquele caso do duto de ventilação da primeira estrela da morte.
A segunda e a terceira não tiveram recall porque uma foi o Palpatine que não fez o amaciamento e a outra foi vacilo da capitã Phasma.

Afinal, são cinquenta e três milhões de veículos entre carros e motos (Gold Wing, para variar) no mundo todo...

Lendo os jornais você pensa que a culpa é da takata, que fabricou os airbags, e as montadoras não tiveram participação nisso, né?

Errou:
Reportagem: 

Olha a gm aí de novo, geeente!

Esse caso da takata merece uma postagem exclusiva... está a caminho, mas não agora.

A atitude que resultou no escândalo da takata é um caso muito parecido com o que ocorreu com a firestone e os pneus do ford Explorer que eu comentei em outra postagem.


Outra montadora que cometeu os mesmos erros que uma montadora de motos foi a volkswagen.

Ela teve o "mérito" de adotar o famoso óleo sintético de viscosidade inferior à recomendada para a temperatura do Brasil antes da honda. 

Mas já falei sobre isso na postagem Olha só quem se ferrou com óleo sintético menos viscoso!, então não vou entrar no assunto de novo. Só para ilustrar:

E a vw não poderia estar de fora da lista de recalls nacionais de veículos recém lançados...

Não é de hoje que a vw — e as outras montadoras — dão um tiro no pé — dos consumidores — e saem de cena de fininho, assobiando com as mãos nos bolsos.

É que estou falando de recall aqui no Brasil, mas procure por recall vw fire (fogo, incêndio) no google que você encontra casos nos EUA em 2008, em 2010em 2011, um recall voluntário em 2014, em 2015 e dois recalls obrigatórios em 2016, sendo um em abril e outro em outubro.

Não resisti... esse modelo veio para o Brasil também.

O vw Passat americano não tem uma fama muito boa lá nos States — aliás, a vw coleciona recalls por lá — assim como ford, gm....

A fiat não podia ficar de fora tanto lá como aqui. 

Aliás, o que tem de recall da fiat principalmente por causa dos carrões fabricados nos EUA pela antiga chrysler não é brincadeira... são muitos e muitos. 

Vou comentar somente este, a tampa estética do motor (aquela cobertura colocada embaixo do capô para não permitir que o proprietário identifique pequenos problemas de vazamento de fluidos ou mau contato elétrico e seja obrigado a recorrer à concessionária) se solta e encosta no catalisador, derrete e pega fogo... custava ter feito a coisa bem feita? Sim, custaria uns 20 reais a mais...

Nem vou falar do problema do câmbio automatizado da fiat que afetou quase toda a linha... quanto mais detalhes tecnológicos, maiores as chances de falha.

Para que um sistema automático funcione, TODOS os componentes precisam estar funcionando perfeitamente — basta que uma grampola pife para criar uma situação potencialmente muito grave a 100 km/h. Essa é minha bronca com a automação de coisas que não precisariam ser automatizadas.

O mesmo problema de fragilidade de material que vimos no recall do eixo traseiro lá de cima acontece também com os Grand Siena e Fiorino da fiat...
Imagem e divulgação: http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/07/fiat-convoca-recall-para-62-mil-unidades-de-grand-siena-e-fiorino.html

Por filosofia de projeto prevendo economia de material e fator de segurança inadequado no projeto, a base da coluna de direção pode trincar e se soltar — e você fica com o volante na mão que nem um bobão. Por pouco tempo, dependendo da velocidade o sofrimento e o arrependimento acabam rápido.

renault, ainda não falei da renault, renault também pode perder a direção...
Imagem e divulgação: http://www.car.blog.br/2016/01/recall-renault-sandero-e-logan-podem.html

Outra fragilidade de componente que pode se romper e te deixar com o volante na mão.

Já imaginou que legal, você no meio da rodovia, vem a curva, você gira o volante e o carro segue reto?

Para não ficar atrás, os peugeot podem perder o servofreio...
Reportagem: http://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2016/09/peugeot-convoca-recall-dos-modelos-308-e-408-por-falha-no-sistema-de-freios.html

Aí você calcula a força no freio para parar antes do problema, descobre que o pedal ficou duro e o carro não está parando como devia e enche a lata do carro na frente.

Tem que pagar o prejuízo do outro cara e ainda brigar para ser indenizado porque não há prova de que você não foi imprudente...

Carro perdendo o volante, carro perdendo freio... 

Depois falam que motocicleta é perigosa... ops, esqueci das motos que também perdem o freio.

Ainda falta falar das montadoras de carros japonesas... mas o que eu encontrei é tão interessante que pede postagem especial.

Mas eu cansei de escrever por enquanto e você cansou de ler.

É interessante notar como a percepção de que a qualidade vem caindo em níveis assustadores a cada ano já existia em 2014.

Naquele ano o blogueiro Thiago Padilha já se assustava com a quantidade crescente de recalls e chegava às mesmas conclusões...
Blog Carro para usar: http://carroparausar.blogspot.com.br/2014/01/recall-o-que-era-excecao-esta-virando.html

E dava uma lista de exemplos.

Compare os casos de 2014 com as listas mais recentes para ver como a coisa piorou muito:

Aqui estão os links para as reportagens do g1 com a lista de todos os recalls de automóveis nacionais de 2015 e a lista de todos os recalls de carros nacionais de 2016 — verifique o show de horrores você mesmo.


E uma pesquisa em 2017 prova que o volume de recalls aumenta de um ano para outro...


Cada vez mais as empresas erram, se precipitam e lançam máquinas e equipamentos sem um projeto adequado, sem testar devidamente, sem tomar os devidos cuidados na produção, sem monitorar devidamente a qualidade.

Tudo isso para economizar míseras merrecas em cada unidade — e/ou induzir o proprietário a trocar rápido de modelo.

Mas hoje va
mos parar por aqui.

Na postagem de amanhã vou voltar a falar de coisas que a gente trata normalmente aqui no blog — recalls mundiais de motocicletas de todas as marcas.

Tem cada recall por motivo esdrúxulo e mortal que você não acredita...

Até lá,

Jeff

segunda-feira, 20 de junho de 2016

A ganância das empresas e o abandono das práticas consagradas de Engenharia

Havia um tempo em que as empresas tinham um pouco mais de escrúpulos éticos — era o final dos anos 60, a mesma época em que eu comecei a desconfiar da fada dos dentes e do coelhinho da páscoa, mas ainda escrevia cartinha para o papai noel.

Era um tempo em que novos produtos eram testados exaustivamente antes do lançamento — os projetos usavam margens de segurança ditadas pela segurança, e não pelos custos ou prazos de lançamento estabelecidos pelo marketing.
Reportagem: http://www.autoentusiastas.com.br/2016/05/gordini/

Hoje a data de lançamento do produto é definida com base na suposição ingênua de que as coisas projetadas nos computadores já nascerão perfeitas — só que a vida é real e de viés, como dizia o Caetano.

Há alguns anos um grande amigo meu teve o enorme desprazer de traduzir um documento em que um engenheiro apresentava de maneira imbecil o método de projeto desenvolvido por ele e implementado pela multinacional fabricante de carros.

Era um passo a passo para eliminar os possíveis problemas de um carro ainda na fase de projeto com o objetivo de reduzir custos e diminuir prazos de entrega de novos modelos ao mercado.


Um carro genérico fabricado por uma montadora
qualquer 
antes dessa ideia genial, só para ilustrar.
Na suposição infantil desse engenheiro, todos os problemas possíveis seriam deduzidos e eliminados sem a necessidade de fabricar uma série grande de veículos de teste (pré-série), nem realizar períodos de prova prolongados.

Nessa ilusão de faz de conta, os carros sairiam das workstations direto para a produção e concessionárias — eliminando os salários de alguns engenheiros e pilotos de teste.

Esse amigo traduziu esse material com muita raiva, porque é evidente que por melhor que seja o método, ninguém consegue prever tudo — dito e feito.

Esse método idiota está sendo aplicado por todos os fabricantes e está matando muita gente por aí.

Desta vez a vítima foi o ator Anton Yelchin, de apenas 27 anos. 
Reportagem: http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2016/06/20/problema-no-cambio-pode-ter-causado-acidente-que-matou-ator-de-star-trek.htm

Resumindo, o fiat-chrysler Jeep Grand Cherokee modelo 2015 do ator estava estacionado em um local inclinado.

A marcha de estacionamento (posição P da transmissão automática) escapou, permitindo que o carro se movimentasse — algo impensável, porque essa marcha serve justamente para imobilizar o carro.

Anton foi empurrado contra uma parede, ninguém nas proximidades, e morreu por asfixia, não pôde respirar com o carro prensado contra seu peito.

Trata-se de uma falha gravíssima de projeto para o qual a fiat-chrysler convocou recall em abril deste ano.
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/05/jeep-grand-cherokee-e-chrysler-300-sao-chamados-para-recall.html

Falha gravíssima que foi minimizada na reportagem da globo: impedir que o motorista saia sem colocar a transmissão na posição P é uma tremenda besteira, a menos que estejam falando em impedir que o motorista saia do carro, e não com o carro.

De que forma farão isso? Com um alarme que todo mundo vai ignorar? Travando as portas e não deixando ninguém sair, nem que o carro esteja pegando fogo? бред сивой кобылы.

A chamada da reportagem não passa a menor ideia da gravidade da coisa — faltou dizer que o carro pode começar a descer uma ladeira, apesar de travado na marcha P, e atropelar alguém — o próprio motorista abrindo ou fechando a garagem.

Coisa que não deveria fazer mesmo que o freio de estacionamento não esteja aplicado, como foi nos carros de transmissão automática desde sempre. 

Anton Yelchin talvez tenha sido a primeira vítima fatal dessa falha, se é que outras não ocorreram.
Reportagem: https://consumerist.com/2016/02/08/more-than-100-crashes-caused-by-confusing-jeep-chrysler-dodge-gear-shifters/

Mas por que estou falando disso aqui em um blog sobre motos?

Porque essa mesma afobação para lançar novos produtos também é praticada por fabricantes de motos.

A mesma pressa de colocar novos produtos no mercado e poupar tempo e uns trocados miseráveis leva os fabricantes de motos a lançar máquinas que quebram o eixo secundário (eixo do pinhão) por fadiga (suzuki GSR150i — estou devendo a postagem).

Também estão na lista o retificador das suzuki (esportivas, Boulevard e Burgman 400), quebra do chassi (yamaha Crosser 150 e dafra/zongshen Kansas 150 — ah, esquece, a dafra nunca chamou o recall), quebra da coroa da yamaha MT-09, recall da quebra dos parafusos da coroa roda traseira da bmw...

Reportagem: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/04/bmw-convoca-4558-motos-no-brasil-para-recall.html


Não escapa nem a harley...
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/07/harley-davidson-chama-2-mil-motos-para-recall-no-brasil.html

Em se tratando de motocicletas, são falhas potencialmente mortais.

Mas o marketing na frente de todos os critérios torna as empresas cegas para o risco de se lançar produtos às pressas e sem os devidos testes.

Ninguém dentro da empresa tem a coragem de dizer "não" porque ninguém quer perder o emprego na salinha com ar condicionado, ninguém levanta o pescoço com medo do facão.


Enquanto isso, os erros vão causando acidentes e ceifando as vidas dos proprietários, sejam eles conhecidos ou não.


Moral da história: Não confie cegamente em marcas renomadas.

Hoje elas não usam mais os mesmos critérios pelos quais se tornaram conhecidas.

A ganância traiu os clientes.

Fique atento a coisas estranhas acontecendo com sua moto e acompanhe as notícias sobre recalls de fabricantes — não adie comparecer à concessionária, sua vida e a de pessoas próximas a você podem depender disso.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Você pensa que sabe a hora de trocar o óleo do motor? Parte 1

Você pensa que sabe a hora de trocar o óleo do motor? 

Tem certeza? Quer apostar?

Eu aposto que não...

Mais uma pegadinha para sua coleção:

Seu manual de proprietário de motocicleta não fala nada sobre uso severo do motor, mas os manuais de proprietário de automóveis falam.
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/blog/oficina-do-g1/post/descubra-se-voce-faz-uso-severo-do-carro-e-precisa-repor-pecas.html

Será que moto não faz uso severo do motor?

Claro que faz!

Então por que será que algo tão importante para os motores de automóveis nem sequer é mencionado pela imensa maioria dos fabricantes de motocicletas?

Veja como a coisa funciona:

Nos manuais de automóveis o fabricante recomenda uma quilometragem para a troca do óleo, e ao longo do texto ele faz uma ressalva que, se o uso do carro for severo, será necessário trocar o óleo na metade da quilometragem recomendada.

Mas o que é considerado uso severo?


Acredite se puder:


Condição de uso severo é aquela que todo mundo usa pensando que é uso normal...

Rodar trajetos curtos e rodar em baixa velocidade em congestionamentos a caminho do trabalho ou escola é uso severo, sabia? Leia a reportagem da revista 4 Rodas com as definições de uso severo neste link.

O povão leigo em Mecânica não lê o manual do carro não fica sabendo que em condições severas, que são as mais usadas por todo mundo, você precisa trocar o óleo na metade da quilometragem ou prazo recomendados.

O povão motociclista leigo em Mecânica nem sequer tem essa informação no manual do proprietário da moto...

O resultado é que todo mundo usa o óleo até depois de ele deixar de proteger adequadamente o motor.

Pessoal só descobre (quando descobre) que o prazo recomendado de 3000 km não funciona para motos resfriadas a ar na hora em que percebe a moto fraca, barulhenta, esquentando e ruim de passar marcha muito antes da hora de trocar o óleo, mas aí o estrago no motor já está feito.

E do mesmo jeito que o pessoal fica papagueando "1 litro é 1 litro", o povão sem noção fica repetindo "se o fabricante manda trocar a cada 3000 km, então é 3 mil km". 

Nos carros é pior ainda, o pessoal fala em períodos de troca de até 20 mil km... 

Por isso que o Marea ganhou a má fama injusta que tem: 

Os proprietários não seguiram as instruções do manual, ficaram iludidos com a ideia de que o óleo sintético não é consumido — apesar de o manual deixar claro que óleo sintético é consumido sim, não repunham o óleo e esperavam dar os 20 mil km para descobrir que o motor já tinha ido para o saco.  
Manual do fiat Marea explicando que o nível de óleo abaixa e precisa ser reposto, 
coisa que muito proprietário de carro e de moto acha que não precisa fazer.

Veja as definições de uso severo.

Note também que os taxistas da Itália rodam em condição muito diferente dos taxistas de Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Florianópolis, Porto Alegre... só que o pessoal traduz o manual e os engenheiros das montadoras não fazem o trabalho deles — avaliar se as condições lá e cá são as mesmas e se continuam válidas e aplicáveis sem alterações.

O fato é:

Se você roda 10 km de casa para o trabalho, deixa a moto estacionada o dia inteiro, aí de noite vai para a faculdade, roda mais 10 km, deixa ela parada por algumas horas, aí volta para casa e roda mais 15 km, isso é uso severo, você fazia ideia disso?

Isso acontece porque quando você faz trajetos pequenos, o motor mal esquenta direito e já é desligado.

Com o motor meio frio as folgas estão maiores do que a condição de projeto, o consumo de combustível é maior, o consumo de óleo é maior, a contaminação e a degradação do óleo pelo combustível é maior.


Aquecido corretamente e trabalhando sempre corretamente aquecido, o motor se dilata e funciona com as folgas mínimas corretas de projeto, o que diminui muito o consumo e a contaminação do óleo.

Outro dia falei com o dono de uma Titan que chegou a 100 mil km sem retificar o motor, sempre usando apenas 1 litro de óleo.

Como ele conseguiu essa proeza?

Primeiro porque na época ele só usava óleo 20W-50 e nunca descuidou de repor o consumo, mesmo medindo da maneira errada.

E ele só chegou a essa quilometragem porque trabalha como mototaxista / motoboy em trânsito urbano.


Essa condição de trabalho é a melhor para o motor, porque ele está sempre rodando quente, na cidade, o que implica em velocidades moderadas... por mais que os motoboys tentem, não dá para atravessar a cidade inteira a 100 km/h.

Ao longo da vida útil, esse motor trabalha 95% do tempo na temperatura correta com a moto na velocidade média diária de 50 a 60 km/h. 

A postagem ficou muito longa e vou dividir em duas partes para não arriscar a perder a postagem de novo...

Amanhã eu continuo de onde paramos.


Um abraço,


Jeff

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fabricantes de carros mudam as regras no meio do jogo — qual o nome disso?

Houve um tempo, e não muito distante, em que mudar as regras no meio do jogo podia acontecer por um de dois motivos:

1) A mudança das regras podia ocorrer com o propósito de dar uma vantagem para o time / jogador sensivelmente mais fraco, e nesse caso era uma atitude de nobreza por parte da equipe mais forte / jogador em vantagem. 

2) Ou então essa mudança era feita para beneficiar exclusivamente uma das partes, de maneira injusta. Isso era considerado abominável por todo mundoera chamado de trapaça.

O motivo desta postagem é a descoberta feita pelo leitor Deivisson Nobre, publicada na postagem A maneira errada de trocar o óleo, e a moto que consertaram uma coisa e pifaram outra, que transcrevo a seguir:

Engraçado, Jeff, que fui ler o manual do carro da minha mãe, Fiat Novo Uno, e até no carro pede pra medir o nível do óleo com o motor quente.

[O manual] fala pra medir após 10 minutos que o motor for desligado, e eu sempre achei que media com o motor frio... [você e todo mundo, Deivisson...]

Testei e dá diferença, com motor frio a vareta estava no máximo e fazendo o procedimento correto o nível baixava 1/5 da medição.

O Deivisson fez a gentileza de me enviar a página do manual do proprietário para que todos comprovem a denúncia:

O controle do nível de óleo deve ser efetuado com o veículo em terreno plano e com o motor ainda quente (cerca de 10 minutos após tê-lo desligado). 

E não foi só a fiat que mudou as regras do jogo no meio do campeonato. Olha só o que eu encontrei em um blog sobre o motor do nissan March:

Imagem: http://marchok.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html

E antes que alguma тапир comece a caluniar o autor daquele blog, eis a página do manual do proprietário:
Se bem que publicar a página do manual do proprietário não ajuda muito, тапир que é тапир de verdade continua não acreditando.

Como você pode ver, um procedimento muito parecido àquele que os fabricantes de motos recomendam. 

Agora juro que eu pagava para ver a cara do pessoal que diz que o procedimento de medição do nível de óleo da moto é "igual carro, pela manhã sem ligar o motor"... Hahahahaha... ai, deu cãibra...

O que descobrimos hoje?

Que acabou aquela história que você estava acostumado: 

Os fabricantes mudaram um procedimento consagrado há um século, e trocaram por outro que a imensa maioria dos consumidores nunca ouviu falar, sendo que a imensa maioria não lê e não lerá seu manual do proprietário. Ora, o que poderá dar errado, Murphy?

Os fabricantes de automóveis mudaram a regra no meio do jogo, sem fazer alarde, da mesma maneira que os fabricantes de motocicletas fizeram.

Em vez de medir o nível do óleo com o motor frio pela manhã, com todo o óleo escoado para o cárter — um critério universal impossível de errar ou causar confusão — alguns fabricantes passaram a exigir que o óleo seja medido completamente a quente (caso do novo fiat Uno e sabe Deus de quem mais) ou em um estágio intermediário (caso do nissan March e sabe Deus de quem mais) e dentro de um prazo determinado por eles.

Como eu disse lá em cima, há algum tempo atrás mudanças de regra no meio do jogo só tinham duas possibilidades:


Ou eram abomináveis, porque prejudicavam o lado mais fraco; ou visavam a auxiliar o jogador em visível desvantagem. Mas isso era antigamente.


Hoje vivemos em um admirável mundo novo e cheio de nuances. É a modernidade.

O sistema antigo é universal e muito prático — medir o nível do óleo com o motor totalmente frio garante uma constância dos fatores temperatura e descanso do motor, não queima a mão de ninguém e garante resultados exatos.

Você mede o nível com exatidão antes de começar o dia, antes de começar uma viagem.

Não precisa aguardar tempo algum, basta abrir o capô pela manhã e conferir a situação real do nível de óleo, sem risco de se queimar, de ser atingido pela ventoinha ligando automaticamente, e sem depender de condicionantes de tempo.


Já com o novo sistema:


Medir o nível com o motor quente exige parâmetros adicionais — você precisa aguardar 10 minutos, nem mais nem menos, para obter o nível correto.

Você precisa mexer em um motor quente, com cuidado para não se queimar.

Há um detalhe que faz toda a diferença:


O óleo está dilatado pelo calor do motor, portanto o nível medido com o motor completamente aquecido não corresponde ao nível medido com o óleo frio.


As marcas da vareta medidora poderiam ser feitas em qualquer altura, portanto em qualquer condição de uso do motor... mas os fabricantes optaram por fazer as marcas para um nível correspondente ao prazo de 10 minutos de escoamento do óleo para o cárter.

Por quê 10 minutos? 

Qual o benefício desse prazo?

Dez minutos é um prazo que inviabiliza a conferência rápida no posto de gasolina. Não traz vantagem alguma.

Passados 10 minutos, nem todo o óleo escoou para o cárter. O retorno do óleo é um processo longo e contínuo, que leva muitas dezenas de minutos, senão horas.

Se você não aguardar 10 minutos, ou se você ultrapassar o prazo de 10 minutos, a leitura será inexata.

Analise agora o caso da nissan:

O procedimento é muito similar ao das motos, a medição é feita com o motor em uma temperatura que não é totalmente quente, mas também não é totalmente fria.

O óleo não chegou a se dilatar tanto quanto em um motor que acabou de chegar em casa.

Os procedimentos "modernos" exigem que você se lembre de realizá-lo 10 minutos depois de chegar em casa, ou então gaste 15 minutos pela manhã aquecendo e esperando o óleo escoar.

Os procedimentos "modernos" consomem um tempo que hoje em dia ninguém tem.


Ao chegar em casa você tem uma pá de coisas para fazer, como abrir a porta para as crianças, sair correndo atrás do cachorro que escapou, descarregar as compras... 
...cumprimentar o vizinho e zoá-lo porque o time dele perdeu de lavada para o Figueirense, e por último, e mais importante, tirar a água do joelho — você não vai se lembrar de cronometrar 10 minutos exatos para medir o nível do óleo. 

E antes de sair de casa, quem é que pode se dar ao luxo de desperdiçar 15 minutos fazendo um procedimento de medição do nível do óleo?


O procedimento anterior era direto, rápido, simples e objetivo.


Com essa mudança não noticiada, milhões de proprietários continuarão a medir o nível de óleo como sempre fizeram — basta ver o que acontece com as motocicletas, todo mundo mede o nível da maneira errada. E é difícil convencer o pessoal da besteira que estão fazendo. ""Sempre foi assim!" "1 litro é 1 litro".

Qual a consequência disso?

20% da faixa de medição não são suficientes para fundir o motor de imediato, mas nível de óleo abaixo do ideal é um fator que acelera o desgaste do motor.

Nas motos, principalmente as arrefecidas a ar, isso reduz à metade a vida útil do motor.

Nos carros isso aparentemente não é tão grave como nas motos pequenas; a falta de 200 a 300 ml de óleo mascarados pelo procedimento de medição em uma faixa de segurança de 1 litro, com mais 2 a 3 litros no cárter, ainda não compromete o motor — se ele estiver com a quantidade correta de óleo, ou seja, se o nível estiver próximo à marca de nível superior.


Mas o que acontecerá na hora em que o proprietário conferir o nível de óleo da maneira errada, e encontrar o óleo aproximadamente na metade da vareta?

A leitura será falsa, indicando um nível de óleo que não existe; na verdade o óleo já estará no mínimo, implorando reposição, mas o proprietário não descobrirá e continuará a rodar normalmente em condições prejudiciais ao motor.

Além disso, existe outra coisa a ser verificada:

É fundamental ver se a quantidade recomendada pelo fabricante realmente deixa o nível de óleo na marca de nível superior, onde ele sempre deve ficar.

Se eu fosse proprietário de automóvel, me certificaria quanto a isso.

EU MEDIRIA O NÍVEL DE ÓLEO IMEDIATAMENTE DEPOIS DA TROCA, independente de ser feita em concessionária ou posto de gasolina.

Eu faria exatamente o procedimento descrito no manual, ligaria e desligaria o motor sempre aguardando os prazos determinados...


E comprovaria se os fabricantes de automóveis também não adotaram a prática de recomendar uma quantidade de óleo insuficiente para atingir o nível superior da vareta medidora...


Veja o texto destacado em azul no manual da fiat...


ADVERTÊNCIA: depois de ter adicionado ou substituído o óleo, funcionar o motor por alguns segundos, desligá-lo e só então verificar o nível do óleo.


Será que a quantidade recomendada deixa o nível de óleo realmente na marca de nível superior, garantindo a faixa de segurança?


Ou será que o nível de óleo fica lá embaixo, já pedindo reposição e facilitando com que seu motor se desgaste precocemente por falta de óleo? O macete "se por acaso o nível estiver baixo, complete"...

Fizeram isso com as motos, não fizeram?


A consequência virá apenas a médio prazo, e o gasto com peças de reposição sobrará para o proprietário.

Mas ele nem perceberá, porque já compra o veículo pensando em vendê-lo antes que comece a ter problemas — problemas causados pelo fato de o motor sempre trabalhar com o nível de óleo abaixo do ideal.

Ele nem percebe que está pagando um preço bem alto por conta dessa modernidade do modo de medição adotada pelos fabricantes, da mesma forma que acontece com as motocicletas.

Poucas dezenas de reais que não são investidos na manutenção e que depois se transformam em milhares de reais na aquisição de um carro novo. Ou moto nova.

— Que é isso, Jeff... você está dizendo que empresas sérias como essas fariam algo assim tão danoso aos seus clientes?

Só para refrescar a memória, informar os desinformados e não deixar que alguns escândalos sejam esquecidos:


Reportagem: http://www.autohoje.com/index.php/noticias/noticias/item/50128-ford-quer-esquecer-escandalo-dos-pneus-firestone  

A ford sabia do problema de explosão dos pneus do Explorer e, em vez de alertar imediatamente os clientes sobre o perigo que corriam, ficou trocando e-mails com o fabricante dos pneus durante vários meses para decidir quem assumiria o prejuízo pelo recall.


Reportagem: http://www.csrconnected.com.au/2013/04/my-biggest-mistake-what-we-all-can-learn-from-the-ford-pinto-case/  em inglês
Já no caso do ford Pintofamílias eram queimadas vivas pelas estradas dos EUA enquanto a ford fazia uma análise para considerar os custos e benefícios de convocar o recall, contabilizando a expectativa de pagar indenizações por explosão do tanque de combustível inseguro e mal localizado. O que são algumas centenas de vidas em comparação com a meta de faturamento da empresa? 

Reportagem: http://quatrorodas.abril.com.br/autoservico/autodefesa/conteudo_295052.shtml

Aconteceram muitos e muitos casos, a fiat nunca admitiu que o carro tivesse problemas. Os donos diziam que a roda se soltava e causava o acidente, a fiat alegava que a roda se soltava por causa do acidente. Sério, falaram isso. Foi até tema de reportagem da revista Quatro Rodas.

Reportagem: http://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2015/05/12/gm-ja-contabiliza-100-mortes-em-escandalo-de-defeito-na-ignicao.htm  

A mola do miolo do interruptor de ignição era fraca e, com um chaveiro pesado, a chave escapava com o carro em movimento, travando a direção, desligando o motor e desativando o servofreio. A gm sabia do problema há anos e não tomou atitude alguma até que o escândalo se tornou público. O último registro fala em 121 mortes.

Imagem: Aproveite para vê-la aqui, porque foi misteriosamente removida da página da Wikipedia sobre o assunto...

A toyota economizou grana eliminando a etapa de testar os veículos antes do lançamento. Os tapetes travavam o pedal do acelerador em aceleração máxima causando acidentes fatais. Tiveram de fazer um acordo de indenização bilionário depois que o escândalo se tornou público. 

 Fonte: http://serkadis.com/index/347050
Fonte: http://www.car.blog.br/2015/07/honda-civic-city-fit-e-cr-l-sao.html
Reportagem: http://omundoemmovimento.blogosfera.uol.com.br/2015/07/28/defeituoso-airbag-da-honda-so-sera-substituido-em-novembro/  

Caso o airbag seja acionado, os ocupantes podem sofrer lesões por estilhaços no pescoço, causando hemorragia fatal — sabia disso? Solução só daqui a alguns meses. Se não fosse a pressão do governo dos EUA, o assunto dos airbags matadores teria ficado por vários anos somente nos relatórios e estatísticas. 
Reportagem: http://www.car.blog.br/2012/11/hyundai-e-kia-escandalo-com-dados.html

hyundai e kia tiveram de indenizar os proprietários nos EUA porque seus carros consumiam mais do que os relatórios enviados para a homologação e a propaganda afirmavam. Já pensou se a moda pega no Brasil? 

Reportagem: http://meiobit.com/327018/volkswagen-teria-feito-o-software-de-500-mil-carros-trapacear-em-testes-de-emissoes-oxido-nitrico-nos-estados-unidos/ 
Reportagem: http://economia.terra.com.br/acoes-da-volkswagen-despencam-em-meio-a-escandalo,edecc40d41a280495e66b06b16226f069kdc77r1.html
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/09/volkswagen-admite-que-11-milhoes-de-carros-tem-software-que-frauda-testes.html

Se a vw não fosse flagrada pelo governo dos EUA, ninguém iria descobrir que doenças seriam causadas por uma artimanha esperta para mascarar o desempenho do carro... sem contar aquele lance dos motores do Gol G5 pipocando...

Se não tiver tempo de ler todas as matérias, veja pelo menos o caso dos rolamentos das rodas do fiat Stilo e o escândalo desta semana na matéria do Cardoso. 

Pois é, senhoras e senhores, meninas e meninos...

Me desculpem por acabar com sua ilusão...

A regra do jogo é ter lucro — consumidores são mera estatística.


A quem beneficia essa mudança no procedimento de medição do nível de óleo que os fabricantes de automóveis fizeram?

Avalie você mesmo se ela se destina a dar vantagem ao consumidor — o jogador mais fraco, o time em desvantagem. 

Eu tenho minha opinião a respeito e os leitores habituais do blog sabem qual é.

Não considero que essa alteração que os fabricantes fizeram seja pura e simplesmente uma trapaça — ninguém pode acusá-los disso.

Afinal, eles estão informando os clientes, que não se dão ao trabalho de ler o manual do proprietário.

Trata-se apenas da esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo, agora em versão 4 rodas.


Só lembrando, ser esperto não é crime.


Ser ingênuo também não, mas isso pode te dar enormes prejuízos — além de potencialmente colocar a vida de proprietários e suas famílias em risco.

Fique esperto com veículos de duas ou de quatro rodas... confie apenas em você mesmo.


Aprenda a interpretar a saúde mecânica do seu veículo e conheça os fundamentos das práticas de manutenção para não ter prejuízo nem arriscar sua vida.

Tenho muita pena daqueles proprietários com quem converso e me respondem com desdém "nem sei quanto óleo vai, deixo tudo na mão do mecânico"...

A vigilância do dono é que faz carros e motos engordarem. Ou algo assim.

Um abraço, e um agradecimento especial ao Deivisson, que descobriu mais esse macete que tomei a iniciativa de denunciar,


Jefferson