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terça-feira, 4 de julho de 2017

Quando é hora de trocar os pneus?

Quando é hora de trocar um pneu?

A regra geral para a segurança é trocar o pneu assim que ele atinge o indicador de desgaste da banda de rodagem, em inglês Thread Wear Indicator (TWI).

Você encontra algumas marcas TWI na lateral do pneu:

Elas servem para dizer que na direção dessa marca lá dentro do sulco central (ou nos sulcos laterais se o pneu não tiver um sulco central) você encontrará ressaltinho(s) de borracha:

A altura do ressaltinho corresponde à profundidade mínima recomendada para o(s) sulco(s) de escoamento de água mais próximo(s) do centro do pneu.

O indicador mostra que esse pneu dianteiro ainda pode ser usado por um bom tempo com segurança nos dias de chuva.

Mas o pneu traseiro da Jezebel já chegou ao limite de desgaste, o ressaltinho de borracha TWI está rente à superfície da banda de rodagem.

O sulco já está raso demais para conseguir escoar e dar vazão à água, esse pneu corre um grande risco de causar uma aquaplanagem.


Além dos riscos de aquaplanagem e de apreensão em uma blitz, há outro bom motivo para condenar esse pneu traseiro:

Rachaduras no flanco da carcaça.

Coisas como essa você só percebe olhando os pneus bem de perto, por exemplo quando você mesmo lava a moto.

Ninguém no lava-rápido vai se preocupar em te avisar que viu rachaduras no pneu.

E aquela olhada básica em pé antes de sair com a moto nem sempre permite ver detalhes como esse até por conta do ângulo de visão, falta de iluminação direta e distância da inspeção.

Rachaduras na borracha costumam aparecer em pneus de motos que ficam muito tempo paradas ou rodam com pressão abaixo da ideal. 

Rachaduras aumentam de tamanho e acabam mordendo a câmara, causando seu estouro repentino.

Estouro da câmara — o popular estouro de pneu — causa perda de controle, é muito difícil evitar uma queda.

Isso gera uma situação potencialmente fatal:
Imagem e reportagem: http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2016/04/pneu-traseiro-de-moto-estoura-e-mulher-morre-na-queda-em-rodovia.html

Então o pneu traseiro está condenado e o pneu dianteiro está bom, mas eu coloco na lista de compras uma câmara de ar nova e vacinada contra furos para o pneu dianteiro.

Porque apesar de o pneu dianteiro estar aparentemente em bom estado, meia vida, essa câmara está ali dentro já tem uns dois anos e meio.

Minha moto ficou parada muito tempo e pode haver um dano localizado (apodrecimento da borracha) por umidade acumulada no ponto que ficou mais baixo durante meses.

Ou reação química da vacina lá dentro... não sei o que ela é capaz de fazer apodrecendo acumulada em um mesmo ponto. 

O ar sempre tem umidade presente, e o risco de estouro do pneu dianteiro não compensa uma economia de 30 reais.

Esse era um dos motivos que não me animavam a sair rodando com a moto depois que ela foi resgatada de Santa Catarina há um ano.

E ao fazer a troca, um pneu dianteiro novo também poderá entrar na lista.

O que determinará isso é a inspeção por dentro da carcaça para ver se não existem danos internos, ainda mais perigosos que as rachaduras externas.

O pneu é a única coisa que nos impede de cair da moto e não vale a pena economizar com isso.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 3 de maio de 2017

O pequeno detalhe que derruba...

Primeiro dia, quatro horas depois de comprar a moto:


Por que isso aconteceu?

O autor do vídeo fala que nem ele sabe.

O "whiskey throttle" que ele fala não tem nada a ver com bebida.

É uma gíria em inglês para acelerar do jeito que ele acelerou.

Por que ele perdeu o controle de maneira tão bonita?

Várias possibilidades:

Não estar acostumado com a aceleração de uma moto nova mais potente que a anterior é uma delas.

Cera no pneu zero km é outro fator que causa derrapagens e tombos durante os primeiros 100 a 150 km.

O dia estava frio. Pneus derrapam com facilidade em dias frios — ainda mais se estiverem com cera. 

Estrear uma luva nova pode ser um fator contribuinte, elas não agarram muito bem.

Manoplas novas em folha podem estar escorregadias por serem... novas — podem ter sido enceradas na revisão de entrega.

Note que ele buzinou porque a mão dele escorregou e esbarrou no interruptor, então a mão dele não estava firme nos comandos.

E como observado pelo leitor Tiago Mesquita, a não adaptação à regulagem da embreagem, ou melhor, a não regulagem conforme sua preferência, pode ter contribuído também.

Cada um desses fatores pode ter influído, cada um deles poderia ter sido controlado, mas houve mais um fator complicador:

Ele tentou sair com o guidão esterçado.

Quando você arranca com o guidão esterçado, a moto tem dificuldade para ir em frente.

A roda traseira empurra a moto diretamente à frente, mas a roda dianteira esterçada freia esse movimento em linha reta.

Normalmente isso não é um problema — a força do motor é suficiente para movimentar a moto com o guidão esterçado.

Mas essa resistência ao movimento se somou à dificuldade de vencer o desnível da sarjeta.

Aí o novato acelera forte para compensar e, na hora em que a roda dianteira fica alinhada, a moto desembesta.

A moto arranca com mais vigor do que o piloto estava acostumado, o pneu encerado e frio patina, as mãos escorregam no comando... 

Foi o que aconteceu no vídeo e poderia acontecer contigo também.

Mas não agora que você ficou sabendo de mais esse macete.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 22 de março de 2017

Porque pneu de moto esportiva dechapa tão fácil?

Este piloto do vídeo nasceu de novo quando o pneu dianteiro dele soltou a banda de rodagem (dechapou) a quase 300 km/h e cortou a mangueira flexível do freio.

O quase acidente acontece aos 14:00:


O pneu era novo e a primeira coisa que o pessoal pensa é que o sortudo deu azar, "foi defeito de fabricação".

Tanto que a fábrica fez um laudo que constatou o defeito, substituiu o pneu e pagou o conserto da moto, quando poderia alegar algum descuido do piloto como uma pressão (calibragem) inadequada, algo difícil de provar.

Mas negar um pneu novo iria gerar uma disputa judicial e publicidade negativa muito ruim para a fabricante.

O pneu é este aqui:

O Diablo Supercorsa SP é aprovado pela pirelli para uso até 320 km/h, e a moto só vai até 299 km/h, então tudo bem, né?

Não, não está tudo bem.

A gente volta e meia ouve falar de pneus de motos esportivas dechapando... veja a postagem O caso do pneu michelin dechapado.

Por que um pneu dechapa?

Somando alguns ou todos estes fatores:

– a temperatura do asfalto...

– o acúmulo de calor gerado pelo atrito com o solo...

– a perda de resistência física porque a borracha amolece com o calor...

– os esforços gerados pelas inúmeras irregularidades do asfalto...

– o fato de que a banda de rodagem é aderida a quente e com o pneu quente ela fica mais fácil de se soltar...

– a alta velocidade periférica que gera uma grande força centrífuga para desintegrar o pneu...

– eventualmente uma calibragem inadequada (que além de danificar os flancos do pneu, contribui para seu aquecimento excessivo)...

– aquele fator que eu esqueci e alguém vai me lembrar nos comentários...

– dito e feito, lotes de matérias primas contaminadas que acabam indo para a linha de produção...

– problemas momentâneos com equipamentos durante a fabricação...

... tudo isso tende a soltar e descolar a banda de rodagem da carcaça do pneu, facilitando que ele estoure.

Pneu dianteiro estourado a quase 300 km/h em um autódromo já é um risco enorme, em uma estrada com tráfego é quase uma sentença de você-sabe-o-quê.

Além disso, há um fator fundamental que ninguém considera:

Há uma enorme diferença na utilização de pneus em uma pista de corrida e pneus em uma estrada. 

Ainda mais uma estrada brasileira que mais parece um ralador de queijo...

Dá só uma olhada no asfalto ali do lado para ver o que o coitado do pneu tem que enfrentar em nossas estradinhas pedagiadas...

Sim, aquilo ali atrás na foto é um pedágio arrancando arrecadando dinheiro para a "excelente" conservação de nossas vias públicas...

Agora compare aquele lixo asfáltico com um tapete uma pista feita para receber motos a 350 km/h:

Termas de Rio Hondo é um autódromo argentino que fica na mesma latitude que Floripa, temperaturas semelhantes. 

É uma pista moderna com traçado e médias de velocidade bem interessantes...
Dados: http://www.motogp.com/pt/event/Argentina

Notou uma coisa?

Apesar de as motos atingirem mais de 330 km/h de velocidade na reta, a média de velocidade do circuito é de 168,4 km/h — o que dá 43 minutos de corrida.

E essa média é mantida durante no máximo 120 km.

Depois disso, os pneus vão para o lixo do autódromo.

Aí o pessoal por aqui tira algumas horas no fim de semana pra rasgar o chão...

As motos vão do primeiro posto da Bandeirantes até o Serra Azul... voam baixo na Dom Pedro I... sobrevoam a Fernão Dias... sobem e descem a serra do Tabuleiro... vão e voltam a Petrópolis... descem para Caraguatatuba...

Fazem isso a uma velocidade média muito maior que a do autódromo!

60 km no cacete pra ir, 60 km no cacete pra voltar, já deu a quilometragem de jogar fora os pneus de competição.

"Ah, Jeff tá falando abobrinha, o pneu pra estrada é mais resistente que o pneu de competição!"

Sim, de fato é.

A dúvida é:

Mais resistente, quanto?

Quantas vezes ele vai aguentar essa brincadeira no limite?

E se depois de brincar você precisar voltar para casa via um ralador de queijo como aquele do vídeo?


Com a adrenalina a mil, você vai considerar que uma estrada dessas pode destruir seu pneu fácil, fácil?

Vai resistir a abrir o gás só um pouquinho?

Será que o pneu vai aguentar?

Os casos que o pessoal documenta e sobrevive para contar a história a gente fica sabendo.

Mas muita gente boa teve uma surpresa muito desagradável e não teve como contar pra ninguém...

Também tem outra coisa:

As motos só vão até 299 km/h no velocímetro porque existe um acordo entre as montadoras para desestimular o pessoal a se matar tentando descobrir a velocidade máxima da moto...

Então ela sempre pode chegar mais perto do limite máximo do pneu nos momentos em que o velocímetro marca "só" 299 km/h.


Reportagem: http://www.motorfantastico.com/motociclista-circula-299-kmh-ultrapassado-r1/

Qual a margem de segurança nessa velocidade quando você considera o efeito ralador de queijo?

Quão perto de dechapar seu pneu chega a ficar após longo tempo em alta velocidade e péssimas condições do asfalto?

Isso nenhum engenheiro da fábrica de pneus poderá te dizer, porque cada ralador caso é diferente do outro.

Dica:

Os dados para estimativa de velocidade máxima para os pneus não são feitos em estrada no Brasil...

São feitos em pistas de testes e em autódromos e em dinamômetros/bancadas de teste sem raladores de queijo.

Tipo essas daqui lá na Europa:
Imagem, vídeo e reportagem: http://www.cycleworld.com/metzeler-roadtec-01-motorcycle-tire-review-first-ride

Olha só que asfalto pavoroso só que não da pista de testes usada por uma fabricante de pneus alemã:
Imagem  e reportagem: http://www.cycleworld.com/2015/09/11/continental-sport-attack-3-sportbike-motorcycle-tire-performance-review

"Condições duríssimas" eles têm por lá, né?

Eles nem imaginam o que seja uma estrada pedagiada de terceiro mundo, muito menos uma estrada brasileira sem pedágio, então podem falar em 320 km/h...

Mas aqui no mundo real, qual é a margem de segurança necessária para aguentar o nosso rojão?

Então, por melhor que seja sua habilidade para pilotar, o negócio é nunca confiar demais na sua máquina.

Ela é projetada para condições medianas ou ideais lá no exterior.

Quanto mais perto do limite máximo você a pilotar — ainda mais aqui no Brasil — maior a chance de descobrir um fator que não foi levado em conta nos cálculos dos engenheiros.

Nem nas propagandas para vender pneus.

Sai mais em conta emitir um laudo apontando defeito de fabricação daquele pneu por causa de sdruws mal rebibocados e não se fala mais nisso.

Os departamentos de marketing de montadoras de motos e fabricantes de pneus nunca farão um alerta sobre os riscos de pilotar a moto no limite como este aqui do blog.

Ele salvaria vidas, mas afugentaria compradores para a concorrência e não ajudaria a vender motos nem pneus...

Um abraço,

Jeff
PS1: Agradeço ao meu amigo Daniel que enviou o vídeo! Forte abraço!

PS2: Estava eu pensando que este vídeo e a postagem resultante foi um verdadeiro presente de aniversário, quando entro no google e olha só o que eu encontro:
Um doodle animado do google!!

Fiquei tão emocionado! 

Tão emocionado que nem vou comentar que eu fico mais velho e o google é que fica lelé...
Nem vou falar da raiva que passo em todas as postagens com o blogspot mudando a formatação do texto de acordo com a cabeça maluca dele... nem vou contar que assoprei a tela...

Afinal, hoje é dia de festa!!! 

E vem aí uma nova fase do blog, novidades a caminho!

Abração pra todo mundo,

Eu de novo!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Vale a pena usar pneu maior que o original?

Assino embaixo tudo que ele diz no vídeo:



E digo mais, ele teve a sorte de voltar para o pneu original antes de ter a chance de se matar por causa dessa mudança.

Um pneu maior que o original fica muito bonito na moto:
Imagem: Extinto orkut, proprietário desconhecido, encontrada no google

Eu caí na besteira de colocar um pneu Mandrake grandalhão na roda traseira da Jezebel, minha Kansas 150.

Era um pneu de 250 em uma moto 150.

Não senti tanto o problema da perda de rendimento porque minha relação de transmissão estava adequada.

Mas a corrente de transmissão começou a pular fora da coroa dia sim, no outro dia também.

Aconteceu várias vezes no trânsito urbano.

Aconteceu durante a viagem para Foz do Iguaçu. 

Aconteceu na viagem para Trindade.

E voltou a acontecer na viagem para Santa Catarina.

Inesquecível pelejar no acostamento da BR-116 lá no Paraná, a noite chegando, eu chutando a roda para frente a fim de recolocar a corrente, e os caminhões passando a 140 km/h a metro e meio da gente... 
Imagem: http://www.jornalnanet.com.br/noticias/12998/regis-bittencourt-tera-operacao-carnaval-para-a-br-116-sp/pr 

Foi grande o cagaço.

E qual a causa de a corrente pular fora?

Justamente o aumento do diâmetro final do conjunto roda e pneu.

Um pneu maior aumenta o braço de alavanca da resistência do asfalto ao movimento da moto.

Isso precisa ser compensado aumentando a força que o motor precisa fazer para empurrar a moto.

Mas o motor já está no limite, não tem de onde tirar mais...

Com o pneu maior, a forcinha (torque) feita pelo motor e ampliada pelo câmbio e redução da coroa/pinhão virou uma forçona por causa do aumento da circunferência.

Todo o conjunto teve de fazer mais força para conseguir virar a roda, desde o motor (e é por isso que a moto fica fraca e o consumo de gasolina aumenta) até a corrente de transmissão.

Isso fez o desgaste da corrente, coroa e pinhão atingir níveis absurdos.

Juntou com a balança mais longa da Kansas e virou a tempestade perfeita. 

A mesma coisa aconteceu com a Kansas do meu amigo Will lá no Rio. 

Foi só eu voltar para o pneu original assim que cheguei em Santa Catarina e nunca mais vi o problema da corrente pular fora da coroa.

Então tome cuidado com essas mudanças puramente estéticas. 

O resultado pode ser imprevisível.

Uma única escapada de corrente que tivesse travado a roda traseira poderia ter causado um atropelamento fatal.

Não vale a pena colocar a segurança em risco por conta de um detalhe como esse.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Outra possibilidade para o caso do pneu dechapado de ontem

Analisando novamente os dados da ocorrência de ontem, do pneu michelin dechapado que quase matou o dono da moto, atentei para outro fato até agora despercebido:
Imagem: Pesquisa no google

O eliminador de rabeta, também chamado de eliminador de para-lama, a peça vermelha bem próxima ao pneu.

O suporte de placa dificilmente poderíamos imaginar fazendo o que os técnicos da michelin disseram que fez.

No entanto, o eliminador de rabeta está posicionado junto ao pneu e tem o formato de uma espátula.

Caso se soltasse, estaria em posição para exercer a ação sugerida pela michelin.

Fica mais fácil imaginar essa peça tendo algum papel no caso do que a pirueta que um suporte de placa teria de fazer para ir parar encravado no chassi.

Essa peça não aparecer nas imagens poderia ser explicado pela sua destruição ao ser atingido pela banda de rodagem descolada do pneu.
Imagem: Detalhe do vídeo original do dia do acidente aos 06:13

O dono da moto não teria como saber se a sua quebra e desaparecimento foi causa ou consequência do descolamento da banda de rodagem do pneu.

O fato de aparecer um suspeito mais provável para exercer o papel de objeto estranho, diferente daquele indicado pelos técnicos, demonstra que o laudo da michelin foi feito sem uma investigação aprofundada dos fatos.

Os técnicos trabalham limitados ao que veem, e essa barreira pode levar a resultados parciais e inconclusivos — e isso não é bom para ninguém, estamos tratando de uma questão de segurança que envolve risco de mortes.

Note que a informação da existência de um eliminador de rabeta é uma suposição minha baseado em uma modificação muito comum do mercado de motopeças, não sei se era o caso da moto em questão.

É uma dedução lógica — se alguém instala um suporte de placa não original, pode ser porque está instalando um eliminador de rabeta.

Se é que o proprietário da moto instalou um suporte de placa não original...

No entanto, as perguntas continuam:

Onde estão as marcas longitudinais na banda de rodagem mostrando esse atrito inicial?

Como uma banda de rodagem perfeitamente vulcanizada poderia se soltar da carcaça do pneu da maneira como se soltou?

Esta última pergunta a michelin ainda precisa responder.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O caso do pneu michelin dechapado

Nessa história, quem está dizendo a verdade?

O dono que por pouco não morreu com a moto, ou a fabricante do pneu michelin Pilot Road 4 dizendo que nunca registrou um problema com esse modelo de pneu?


Talvez ambos... e é aí que mora o perigo — um problema nunca ter sido registrado não quer dizer que ele não exista.


Este caso ganhou comentários na internet com postagens de outras pessoas afirmando que essa seria uma tendência desse modelo específico de pneu, talvez um lote deles ou um problema de fabricação da própria michelin...


O original de onde foram retiradas as imagens usadas nos comentários acima é este vídeo aqui deste link. O autor encontra o piloto aos 05:22 e mostra a moto com o pneu dechapado aos 06:10.


Diante da repercussão, a michelin emitiu um laudo técnico atribuindo a falha do pneu ao uso de um acessório da moto...

Press release da michelin: http://www.motorscompany.com.br/noticias/list.asp?id=443

Os técnicos da michelin podem ter elaborado o laudo de acordo com as evidências que encontraram, mas só isso não basta.

A questão é muito séria e, em minha opinião, a investigação precisa ir bem mais a fundo porque há coisas não consideradas. 


A alegação da fabricante do pneu foi que um suporte de placa possivelmente teria sido a causa do problema... algo como isto aqui:

Achou? 

É aquela peça lá em cima na rabeta, bem longe do pneu — supostamente uma peça desse tipo teria sido mal fixada, se soltado e ficado encravada entre o chassi e o pneu, arrancando a banda de rodagem como se fosse uma espátula.


O site que divulgou essa versão da michelin recebeu vários comentários de descrédito.


É estranho que em vez de vez de fazer um sulco completamente reto, esse objeto cortante tenha acompanhado o desenho em ziguezague da banda de rodagem do pneu, evidenciando o descolamento da banda...


A evidência fotográfica mostra que a banda de rodagem do pneu se descolou totalmente da carcaça, e a carcaça não mostra qualquer sinal de atrito longitudinal com algum objeto.


No entanto, é possível ver marcas transversais na carcaça...

Imagem: Detalhe do vídeo do dono da moto com a denúncia aos 0:18

Seriam esses os indícios de objeto cortante apontados pela michelin?


Só que o laudo fala que as marcas estão na banda de rodagem (a parte descolada) e não na carcaça do pneu...


Essas marcas na carcaça não parecem tão evidentes no vídeo original gravado no momento do acidente...

Imagem: Detalhe do vídeo original do dia do acidente aos 06:13

E por que não vemos em nenhuma das imagens as marcas feitas pelo tal objeto cortante sobre a face externa da banda de rodagem?


Aquelas marcas transversais na carcaça do detalhe do vídeo do dono com a denúncia parecem diferentes — menores — no vídeo original feito na estrada no momento do acidente — elas poderiam ter ocorrido durante o transporte da moto no intervalo entre as duas filmagens?


Foi com o pneu marcado do vídeo gravado pelo dono que os técnicos da michelin trabalharam — eles tiveram acesso ao vídeo original do local do acidente? 


Isso pode fazer a diferença entre identificar um defeito de construção do pneu ou uma causa externa posterior.


Se já é complicado ter um panorama claro da situação ocorrida com o pneu com base no material recebido, é ainda mais difícil avaliar à distância somente por imagens.

De qualquer maneira, isso não é o mais importante.


A questão fundamental que a michelin precisa responder de maneira clara para todo mundo é:


Como um objeto encravado entre o chassi e o pneu teria sido supostamente capaz de arrancar uma banda de rodagem perfeitamente vulcanizada da carcaça do pneu?


E da maneira vista nos vídeos e nas fotos, com esse descolamento perfeito, sem deixar mostras de abrasão retas nas bordas da área retalhada?

Press release da michelin: http://www.motorscompany.com.br/noticias/list.asp?id=443

O que é mais fácil de acontecer, um suporte de placa se soltar e ser arrastado para dentro do chassi, arrancando cirurgicamente a banda de rodagem perfeitamente vulcanizada?


Ou essas marcas terem sido feitas pela banda destacada do pneu chicoteando e arrancando o protetor de placa e toda a rabeta, fazendo os pedaços atingirem as costas do piloto devido ao giro do pneu?


É razoável que a banda de rodagem se descole da maneira como se soltou?


Se não foi uma falha de fabricação, que outra causa poderia ter levado a banda de rodagem a se descolar da carcaça?


Rodar com pressão baixa do pneu é uma causa possível — isso provoca um esforço e aquecimento excessivos e pode destruir um pneu.


Podemos ver isso nas estradas, é comum passar por carretas com pneus murchos dechapando.


No entanto, é muito improvável ver isso acontecendo com um pneu de moto....

Imagem: http://motorcycle.michelinman.com/

Num caminhão, um pneu murcho no meio dos dezesseis traseiros passa despercebido, mas na motocicleta não tem como deixar de notar um problema tão grave.


Não vejo como alguém conseguiria rodar tanto tempo com uma motocicleta com o pneu em condição de pressão tão baixa a ponto de causar um estrago tão repentino quanto um descolamento da banda de rodagem...


E o pneu não mostra os sinais típicos de ter sido exposto a uso abusivo com baixa pressão e/ou excesso de carga:

Imagens: http://wingworldmag.com/wing_featured/motorcycle-tires-ii/

Este pneu da foto que perdeu parte da banda de rodagem provavelmente o fez durante um borrachão, em autódromo ou sobre um dinamômetro.


E o pneu da denúncia não apresenta danos junto ao talão, tanto é que nem a michelin recorreu a esse argumento.


Em vez disso, usou a patética alegação de que nunca foi registrado um único caso de pneu michelin desse modelo dechapando.


Ora, esse argumento é simplesmente ridículo.


O que impede que esse seja o primeiro caso específico desse modelo?


Pneus com defeito de fabricação com risco de perda da banda de rodagem não são novidade nessa indústria e muita gente só não morreu por causa de recalls.

Reportagem: http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/servicos,michelin-faz-recall-de-12-milhao-de-pneus,16198,0.htm
Reportagem: http://www.motonline.com.br/noticia/a-michelin-faz-o-recall-dos-pneus-de-moto-dimensao-dianteira-12070-zr-17-michelin-pilot-power-2ct-e-michelin-pilot-power/

Independente do fabricante — Firestone, Goodyear, Pirelli, Bridgestone, Dunlop, Continental, Metzeler... todas as grandes fabricantes alguma vez já passaram por uma ou outra experiência ruim (algumas gravíssimas) com pneus para motos ou carros.


Por acaso a michelin não ficou sabendo da goma scoppiata do pneu fabricado por ela dechapando na moto do piloto Scott Redding no MotogGP da Argentina em abril deste ano?

Imagem: Detalhes deste vídeo do youtube

A michelin não leu as reportagens na imprensa especializada no mundo todo, até no Brasil?

Reportagem: http://grandepremio.uol.com.br/motogp/noticias/apos-incidente-com-redding-michelin-remove-pneus-traseiros-e-traz-composto-extra-pilotos-terao-novo-treino-livre

As equipes de MotoGP são extremamente cuidadosas com a pressão dos pneus durante as corridas...


E motos de competição nem sequer são emplacadas...


Em compensação, o pedaço de banda descolada do pneu deu uma bela chicotada nas costas do Scott Redding...


Reportagem completa e imagem: http://www.sportrider.com/motogp-tire-woes-in-argentina#page-3

Chicotada muito parecida com a que levou nas costas o dono da moto da denúncia...


Será mesmo que se pode descartar que não houve nenhum problema de fabricação com esses pneus?


Provavelmente nunca teremos outra resposta da michelin, porque essas informações não são reveladas espontaneamente pelos interessados em preservar a imagem de boa qualidade de seus produtos — uma imagem ruim prejudica as vendas.


Em resumo:


A única pessoa que pode garantir sua segurança é você mesmo, inspecionando a condição geral dos pneus antes de sair rodando com a moto.


Não descuide da pressão dos pneus, o risco é muito grande.


E saiba que mesmo que você encontre algum problema no pneu, será muito difícil cobrar a garantia.


Além de ter de apresentar a moto inteira para uma inspeção pela fabricante do pneu (pois é, não adianta reclamar na concessionária, a garantia da moto não cobre os pneus, você terá de correr atrás...)


Você terá de provar que a banda de rodagem se destacou não porque VOCÊ, entre várias outras coisas, foi negligente com a calibragem dos pneus:

Termos de garantia dos pneus michelin: http://www.michelin.com.br/tudo-sobre-motos/mais-info/Como-funciona-a-garantia-dos-pneus-Michelin-para-motocicletas.html
São similares às de todos os fabricantes.

Quem é que consegue provar que calibra os pneus todos os dias?


Ganho de causa tranquilo para os fabricantes.


Tentar apontar a origem do problema para um suposto acessório mal instalado soou estranho e implausível, mas não seria a primeira vez que a indústria recorre a argumentos eventualmente contestáveis.


Mas se todas as vezes que suspeitas sobre a qualidade de um produto forem respondidas com laudos técnicos controversos e justificativas aparentemente mais preocupadas em não causar prejuízo aos acionistas do que em pontuar os fatos, a credibilidade do fabricante que recorre a essa prática ficará extremamente prejudicada.

A relação consumidor / fabricante se baseia na confiança.


Seria bom que os marqueteiros das empresas se preocupassem mais com a verdade dos fatos, e na conscientização dos riscos envolvidos na pilotagem, e que os blogueiros e a imprensa tupiniquim não divulgassem press releases dos fabricantes sem exercer o mínimo de senso crítico.


Nossa segurança ganharia muito com isso.


Um abraço,


Jeff