quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo - Parte 5 de 5

Você está lendo esta denúncia em primeira mão neste blog.

Eu já havia denunciado esse problema da falta de óleo crônica com base nas dafra Kansas e Speed para as revistas especializadas em motos Motociclismo, Duas Rodas e Quatro Rodas Moto.

Um escândalo que coloca em risco a vida de milhares de usuários não despertou o interesse de quem vive divulgando motos. Nenhuma delas se interessou sequer em pedir mais informações ou averiguar a denúncia. 

Mas isso é compreensível, afinal não se morde a mão que te alimenta e te leva para a China com as despesas pagas.

Você também não verá essa denúncia na TV, porque as montadoras são boas anunciantes e o povo, bem... para a TV, o povo taí é pra consumir mesmo.

Eu também denunciei o fato para o Ministério Público Federal em Santa Catarina, que arquivou o processo por entender que a dafra não estava fazendo nada diferente em relação aos outros fabricantes. 

Na verdade, o MPF não percebeu que o caso da dafra era ainda pior que o das outras, porque a quantidade está muito errada e as motos recebem óleo insuficiente para chegar à vareta medidora, que dirá ao mínimo dela.

Mas sinceramente tenho que agradecer à dafra e ao MPF, porque se não fosse pela defesa obstinada da quantidade irreal de óleo feita por ela, contra todas as evidências, nunca teríamos descoberto os esquemas macetes denunciados aqui e, até onde eu sei, praticados por todos os fabricantes (exceto pela Green, que já faliu).

Agradeço também aos amigos que ajudaram a pesquisar o assunto e aos proprietários das motos que se dispuseram a comprovar minhas afirmações.

Esta última postagem resume tudo, e finaliza explicando porque ao adicionar mais óleo você não está fazendo algo errado, muito pelo contrário (leia abaixo).

Já que a mídia especializada não está nem aí, agora é com você, espalhe a denúncia para que mais pessoas se conscientizem e deixem de ser prejudicados por essas 'espertezas' dos fabricantes. 

Recapitulando:

Esta é sua última chance. Depois disso, não tem volta. Você toma a pílula azul - 
a estória acaba, você acorda em sua cama e acredita no que quiser acreditar. 
E tem a pílula vermelha...

A principal trapaça informação dúbia fornecida pelos fabricantes é a quantidade recomendada de óleo:

Ela é de 1 litro nas honda Fan e Titan, 1 litro nas yamaha YBR, 850 ml nas suzuki Intruder, 1 litro nas dafra Kansas e Speed, 1 litro nas traxx e por aí vai, e você não pode colocar mais do que isso porque estraga o motor, correto?

ERRADO!

É isso que eles querem que você acredite!

Não é com a quantidade que você tem que se preocupar, mas sim com o nível dentro do motor.


É o nível de óleo correto que garante a vida do motor. Ele é que deve ser o seu parâmetro de referência.


A verdade é que não se deve colocar mais óleo do que o nível máximo recomendado.

E o recurso usado por eles é:

A quantidade recomendada de óleo não corresponde ao nível ideal recomendado. 

Para seu motor, o vital é manter o nível de óleo correto. 

Se há contradição entre o nível e a quantidade, uma das duas informações está errada.


Nunca rosqueie a vareta medidora para encontrar o óleo se o seu procedimento não pedir!


Fazendo isso, você estará obtendo uma leitura falsa, seu motor continuará pedindo óleo e se desgastando.


E para quem acha que não pode colocar mais óleo do que o recomendado, entenda o seguinte:

Não se trata de colocar óleo acima da quantidade recomendada.

Se trata de colocar óleo suficiente para atingir o nível correto recomendado.

O próprio manual fala que VOCÊ DEVE colocar mais óleo se estiver faltando:



Só não diz que precisa ligar o motor antes de medir, e aí está o imperdoável.


Mas imperdoável mesmo é a concessionária entregar a moto quase seca.


Na hora de fazer uma troca por conta própria você, confiando que o fabricante não iria te engambelar, se preocupa com a quantidade (é um número fácil de memorizar) e, com medo de estragar o motor por excesso, você mesmo acaba estragando lentamente o motor por falta de óleo.

Porque você não leu o manual, seu motor estará indo embora muito mais rápido graças a essa artimanha esperta dos fabricantes. 

Se com pouco óleo ele dura 50 a 60 mil km (e ontem mesmo ouvi falar de casos de motores consagradíssimos abrindo o bico com 38 mil km), com a quantidade certa talvez ele durasse 120, 150 mil km. 


Talvez 200 mil km...


Então caia na real:

Você compra a moto zero km em suadas prestações, faz as revisões e trocas de óleo colocando sempre a quantidade recomendada, e sai a rodar e rodar, confiando na palavra do fabricante e achando que sua moto está do balacobaco.

Mas lendo o manual e fazendo o procedimento de medição corretamente, você descobre que a quantidade informada não chega ao nível máximo da faixa de segurança da vareta, não atinge a condição de lubrificação ideal do motor!


Você é induzido a pensar que o nível de óleo após a revisão estará correto, talvez até te mostrem a vareta na concessionária (medido sem ligar o motor, ou com o motor quente e o óleo dilatado... totalmente fora das condições que eles mesmos determinaram).

O fato é que a moto sai da revisão sem óleo suficiente para a condição de lubrificação ideal do motor.


Rodando nessas condições de óleo baixo, e com óleo muito fino, seu motor já estará sofrendo e se desgastando prematuramente ainda no período da garantia, esperando a hora de abrir o bico assim que ela acabar. 

E você perpetuará esse crime contra a vida de seu motor, porque em todas as trocas que fizer, se preocupará apenas com a quantidade recomendada pelo fabricante...

Essa informação incompleta circulará para sempre, porque as pessoas vendem as motos sem repassar o manual do proprietário (não seria lido mesmo...)

Então lembre-se:

O correto é que o nível fique sempre próximo ao máximo, otimizando a lubrificação e o arrefecimento, te dando tempo para repor o consumo natural antes que o nível chegue ao mínimo.

É por isso que se chama faixa segura, você não pode excedê-la para mais ou para menos. 

E para não excedê-la para menos, seria obrigação dos fabricantes entregar as motos nas revisões com a quantidade máxima correta de óleo para que você rodasse tranquilo dentro da faixa de segurança até que o consumo natural e inevitável exigisse reposição.

Mas eles não fazem isso.

Ao dizer que a quantidade ideal é um determinado valor em litros, eles te vendem a ilusão de que com aquela quantidade sua moto estará bem lubrificada e bem tratada.

Você confia na palavra do fabricante, mas a verdade é que não deveria.

A triste verdade é que seu motor já está pedindo reposição de óleo assim que sai da concessionária!

Sua moto duraria muito mais se saísse das revisões com a quantidade certa de óleo com a viscosidade adequada para um país tropical como o Brasil. 

Mesmo que ela saísse com um pouco mais, no caso de se colocar 1,x litro* a cada troca com resto de óleo preso no motor, isso não seria tão danoso quanto rodar com o óleo abaixo da vareta, que é o que acontece quando você já começa com o mínimo.

*(para cárter de 1 litro)

Não conte pra ninguém, mas uma vez eu me enganei (maldito remedinho tarja preta) e rodei com 2,1 litros do Rio de Janeiro até São Paulo. Sabe o que aconteceu com meu motor? 

Teve uma overdose de alegria. 

Mas não estou recomendando fazer isso, porque não sei o que aconteceria se tivesse rodado milhares de km nessas condições. Só contei esse fato para deixar claro que não será um pequeno excesso de óleo que detonará seu motor, como é crença generalizada.

E para finalizar, tem aquele último e definitivo macete para acabar com a vida de seu pobre motor:

Rodar com óleo velho que já perdeu a capacidade de lubrificar. Esse assunto foi tratado com detalhes aqui nesta outra postagem.

Rodar com o óleo velho e insuficiente acaba rapidinho com seu motor, e para os fabricantes isso é ótimo.

Não dê esse gostinho a eles.


Primeiro encontro anual RJ/SP em Paraty/2010 – 
todas bem lubrificadas e hoje se preparando para o quarto encontro...

Sua moto bem lubrificada e bem cuidada pode te levar longe e ajudar a fazer amizades para o resto da vida.

Faça as verificações exatamente de acordo com o manual, troque o óleo quando necessário (e não apenas quando recomendado), faça bons passeios com sua moto, ambos felizes, e fique alerta para as tentativas de ganhar dinheiro fácil às suas custas.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo - Parte 4 de 5

Mas quais problemas sua moto terá por rodar com o mínimo do mínimo de óleo?

Todos que você possa imaginar.

O primeiro sintoma de uma moto rodando com pouco óleo é o motor barulhento. Barulho é sinônimo de desgaste, quanto mais barulhento um motor, menor sua expectativa de vida útil.

O segundo sintoma de um nível de óleo baixo é o motor trabalhando muito quente. Você passa a ter dificuldade de achar o neutro e mudar as marchas porque o óleo não está lubrificando direito o câmbio. 

Todo câmbio deve funcionar com suavidade, não seja tapeado com a desculpa de que "essa moto é assim mesmo".

Ao trabalhar com pouco óleo, o motor não é arrefecido ("refrescado") como deve. Trabalhando mais quente do que o normal, o óleo perde a viscosidade ("afina") e não lubrifica direito.

As primeiras a sentir o efeito serão as engrenagens do câmbio, porque o óleo fino não manterá uma película lubrificante entre os dentes, e o desgaste será rápido. Seu câmbio começará a roncar em um ano ou dois.

O cilindro se desgastará mais rapidamente por conta do atrito exagerado dos anéis do pistão. Sobrará para o proprietário fazer a retífica do motor a cada 50 mil km. 

Retífica que não precisaria ser feita até os 150 mil km.

O comando de válvulas também logo estará desgastado e barulhento, a moto perderá rendimento e se tornará uma beberrona. Por desgosto de viver. 

Outro que sentirá o efeito será o alternador. As bobinas de fios de cobre do estator precisam trabalhar em banho de óleo porque não podem ultrapassar uma determinada temperatura, senão o verniz isolante se queima e começa a ocorrer curto-circuito entre as espiras.

Esse problema é crônico nas yamaha XTZ 200 e os donos descobriram que colocando mais 200 ml por conta própria o problema desaparece. 

Eles nunca imaginaram que na verdade estavam apenas colocando a quantidade certa de acordo com o procedimento do manual do proprietário.

Neste momento sua dúvida provavelmente é:

"Mas eu sempre ouvi dizer que não posso colocar mais óleo do que o recomendado".

Isso será respondido na postagem de amanhã, a última desta série, prometo.

Mas atenção:


As medições de nível de óleo podem variar muito de uma troca para outra.


E essa é a desculpa que eles dão para não dizer que a quantidade correta de óleo para seu motor é simplesmente 1,x litro.


Em vez disso, eles usam a fórmula 1 litro + complete conforme necessário, o que acaba unindo o útil desgaste do motor ao agradável aumento das vendas de peças.


Essa variação de quantidade de uma troca para outra acontece porque tudo depende das condições em que as trocas são feitas.

O procedimento certo para a troca de óleo seria ligar o motor e deixar a moto se aquecer por alguns minutos antes de escoar o óleo, e aguardar algumas horas para que todo o óleo preso no cabeçote descesse e fosse escoado. 

Mas você sabe como é oficina, né?


Imagem:http://sideburnmag.blogspot.com.br/2011/02/shrine.html do filme Desafiando os Limites

Fazer uma troca rápida sem perda de tempo, tipo pit stop, irá reter óleo velho preso no cabeçote (e você não perceberá uma diminuição significativa no nível mesmo colocando apenas a quantidade recomendada).

Já uma troca feita com o motor frio, típica de concessionárias (você deixa a moto de manhã para pegar no fim da tarde, e eles fazem a troca só depois do almoço) permitirá escoar 100% do óleo dentro do motor, mas as impurezas irão assentar no cárter.

Nessa brincadeira, 200 ml de diferença (em um motor de 1 litro) entre uma troca e outra são normais.

Observe que as duas condições de troca são ruins:

- Na primeira, você fica com o nível próximo ao correto, mas continua com óleo velho e com as qualidades lubrificantes prejudicadas dentro do motor;

- Na segunda, a sujeira proveniente do desgaste dos componentes assentada no cárter não é removida de dentro do motor, voltando a circular com o motor em funcionamento e agindo como uma lixa para reduzir sua vida útil.

Ambas as condições contribuirão para que seu motor bata com as cinco, mas tem coisas que não tem jeito, temos que optar por uma ou por outra, a menos que você se disponha a fazer a troca você mesmo e deixe o óleo quente escoando na véspera para abastecer pela manhã.

Como nunca haverá certeza quanto às condições em que será feita a troca na oficina, é fundamental verificar e completar o nível de óleo do motor no dia seguinte para garantir que você não sairá no prejuízo no médio prazo.

Mas tem outro macete terrivelmente eficiente para você mesmo destruir sua moto:


Com a desculpa ecologicamente verde de defesa do meio ambiente, eles dizem que sua moto pode passar a usar óleo mais fino e por mais tempo.


Só que esqueceram que estão falando para fazer isso em motos que usam exatamente o mesmo projeto de motor há quase 40 anos.


Se não mudou o motor, então mudou o óleo ou mudaram as leis da Física?

O óleo sintético lubrifica melhor, isso é fato, mas não faz milagres.

E não pense que esse aumento de quilometragem tem a ver com óleo sintético não, essas quilometragens foram ampliadas muito antes da adoção do sintético como poção mágica da eterna juventude.


Essas sempre foram as quilometragens para troca usadas no Japão. A fábrica no Brasil é que tinha o bom senso de recomendar a troca mais frequente, porque os engenheiros capacitados de antigamente sabiam que recomendar uma troca tão espaçada seria uma encrenca capaz de prejudicar a imagem da marca.

(Engraçado, não é exatamente isso que está acontecendo hoje? Estão usando a mesma viscosidade que no Japão, onde até cai neve, com o mesmo espaçamento, e todo mundo está reclamando que a moto não dura nada. Por que será, hein?) 

Qualquer um pode ver o estado em que se encontra o óleo que sai do motor aos 1000 km; e aí o fabricante vem e diz que você pode rodar com aquela água suja por mais 2 ou 3 mil km.


Óleo sujo e sem viscosidade não lubrifica. Só serve para uma coisa: acelerar o desgaste do seu motor.


Ah, também tem outra utilidade:

Quanto mais rodada a moto, maiores as folgas internas, o óleo fino volta mais rapidamente para o cárter: fica mais difícil descobrir que o nível está abaixo do ideal...

Fale com as pessoas, você vai descobrir que os casos de motores destruídos de motos consagradíssimas estão pipocando nas concessionárias.


E as garantias são negadas, alegando mau uso da moto. 


Em alguns casos, isso até é verdade. A garotada não respeita o período de amaciamento do motor e sai exigindo tudo que ela não pode dar. Aí o motor acaba mesmo, bem feito para o cupim de ferro.


Mas você também encontrará muitos, muitos casos de proprietários que usaram as motos em condições absolutamente normais e o motor acabou no finzinho da garantia, depois de apenas 1 ano, 1 ano e 2 meses.



  • Óleo muito fino para nosso clima, 
  • Intervalos de troca excessivamente grandes, 
  • Motos sem óleo suficiente....

Nada é mais eficiente para destruir seu motor com a desculpa de preservação do meio ambiente.

O que polui mais o planeta, reciclar o óleo, ou reciclar milhões de motocicletas?


Pois é, donas montadoras (de carros também), é só pensar um pouquinho para ver que essa desculpa de preocupação com a defesa do meio ambiente não cola, é só marquetingue barato.


Barato para elas, bem caro para nós consumidores.


Defenda-se. Procure saber mais. Pesquise. Comprove.

E se quiser deixar de usar o óleo sintético e passar para o mineral, saiba os cuidados importantíssimos que essa mudança exige para não prejudicar ainda mais seu motor.

Nunca misture óleo mineral com restos de sintético!

Um abraço,


Jeff

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo - Parte 3 de 5

Não sei se ficou claro na postagem de ontem, mas:

Quando você confere erradamente apenas tirando a vareta e encontra o óleo no nível mínimo, na verdade seu motor está rodando com o óleo bem abaixo do mínimo, entendido?

Pois bem:

Lendo o manual do proprietário e fazendo o procedimento de medição corretamente, na manhã seguinte à retirada da revisão, com a moto nivelada no cavalete central, o motor frio, ligando o motor por alguns minutos e desligando, tirando a vareta, limpando e colocando a vareta sem girar*, você comprova que a quantidade de óleo determinada pelo fabricante não permite atingir o nível ideal recomendado por eles mesmos

*Verifique o procedimento exato no seu manual, pode haver variações de um fabricante para outro.


Ninguém pode dizer que 
eles não te avisam...
Com essa quantidade o óleo sempre fica bem perto do nível mínimo, aquele que seria o limite para você adicionar mais óleo a fim de evitar rodar com uma quantidade menor do que a recomendada para não sofrer sérios danos.

Ou seja, com sua moto rodando com nível de óleo baixo assim que sai da concessionária, assim que o óleo for consumido naturalmente, o nível sairá da faixa segura e sofrerá sérios danos. 

Você até corre o risco de trocar o óleo, subir uma serra e fundir o motor, como eu já vi acontecer.

Mas o problema não está só em viagens. 

Se você não corrigir o nível de óleo na primeira oportunidade, a vida útil de seu motor, que poderia ser de centenas de milhares de km, será reduzida a apenas algumas dezenas de milhares de km.

Normalmente, 50 a 60 mil km. Em alguns casos, apenas o suficiente para acabar o período de garantia. Às vezes, nem isso. 

O cliente na visão de marquetingueiros
E mesmo que ainda durante a garantia seu motor pife por falta de óleo crônica, eles tirarão o corpo fora alegando que isso ocorreu porque você deixou de fazer a reposição de óleo conforme o manual.

E não adiantará levar o caso à Justiça, porque para o juiz, será a sua palavra contra a deles. Quem entende mais de moto, você ou o fabricante? Pois é, você não tem chance.

Você descobrirá o quanto seu fabricante está dizendo meias-verdades se medir o nível de óleo exatamente conforme o manual na primeira manhã depois de tirar a moto da revisão, ou no dia seguinte a uma troca com a quantidade indicada, quando o motor estiver frio. 

A leitura com óleo quente mascara o resultado por causa da expansão térmica do óleo.

Quando você faz a medição como deveria, descobre que cerca de 200 ml de óleo (num motor de 1 litro) ficam presos no cabeçote e galeria de óleo. 

Por causa da válvula de* retenção da bomba de óleo, essa quantidade ficará retida por várias horas, escoando muito lentamente.

*Corrigindo a informação, somente motores maiores usam válvula. Nos motores pequenos, o óleo retorna através das folgas extremamente estreitas da própria bomba de óleo. Obrigado! 

É por isso que se você simplesmente tirar a vareta pela manhã e medir sem ligar o motor, com todo o óleo no cárter, o nível parecerá suficiente.

Mas na hora em que você ligar o motor, de acordo com os critérios estabelecidos pelo fabricante, faltarão quase 20% da capacidade de óleo, exatamente o correspondente à faixa segura da vareta medidora.

Ou seja, as próprias concessionárias não cumprem o que está estabelecido no manual; não medem e completam conforme dito por eles mesmos; deixam essa tarefa para você. E você confia neles e dança. 

Achou que era só isso?

Aí vem mais um macete de informação contraditória:

No manual eles falam que o óleo tem que ficar entre as marcas de nível da vareta, e alguns fabricantes dão a entender que você só deve se preocupar em repor o óleo quando ele estiver na marca de nível mínimo.

Isso está muito errado.

Com essa informação você confia que está tudo bem rodar com o nível de óleo lá embaixo, certo?

Engano seu! 

Eles sabem que você vai pensar dessa maneira, afinal ninguém ensina Mecânica na escola. Agradeço muito ao seu Antônio, meu pai, que me orientou a fazer o curso técnico. Hoje eu vejo a importância disso.


nível de óleo tem que ficar ali dentro daquela faixa existente na vareta medidora e, quanto mais alto, melhor para a lubrificação, o arrefecimento e a vida útil de seu motor. 

Olhe o exemplo desses caras aí da imagem que eu não sei quem são (provavelmente é uma vareta de motor de carro): 

Apesar de dizer que a faixa segura é lá em cima na vareta, eles falam para colocar óleo só quando o nível chegar lá embaixo. 

Percebeu a contradição? 

É frequente encontrar nos manuais de motos frases do tipo "se o óleo estiver abaixo do nível mínimo, adicione óleo até o nível correto". 

Com o nível abaixo do mínimo seu motor já está dançando a valsa do adeus há tempos... se for medido erradamente, então...

Percebeu quem é que será prejudicado com essas informações contraditórias? 

E quem lucrará vendendo peças de reposição e motos novas?

Você não precisa acreditar apenas no que eu digo! 

Comprove você mesmo: 

Faça o procedimento exatamente como descrito nas páginas internas do manual do proprietário, nunca com o motor quente. 

Você irá constatar que a concessionária te entrega a moto com o mínimo de óleo possível, muito conveniente para eles e péssimo para você. Se for uma dafra Speed ou Kansas, nem o mínimo você encontrará.

A menos que você se defenda, os fabricantes continuarão contabilizando vendas de peças de reposição e vendas de motos novas às suas custas, porque quanto antes sua moto começar a fumar e bater o motor, mais cedo você pensará em comprar outra.

Lembre-se:

O fabricante manda colocar apenas o suficiente de óleo para que sua moto não dê problema durante o período de garantia; depois disso, o abacaxi será todo seu.

É claro, você sempre poderá optar pela pílula azul e continuar achando que a fabricante de sua moto é a empresa mais legal do mundo.

Um abraço,

Jeff

Caso não tenha mais o manual, as cópias de alguns modelos mais vendidos estão aí em baixo. Abra em outra aba do navegador para ler agora em tamanho grande. Para facilitar, imprima a página do manual da sua moto para ter o procedimento à mão na hora da medição.


Processo de medição da honda Titan:


Processo de medição da yamaha Factor (se não me engano, verifique antes):



Processo de medição da dafra Kansas 150:










Processo de medição de outras motos:


[se alguém tiver figuras dos manuais de outras motos onde ocorre a mesma coisa, me envie que eu posto aqui.]

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo - Parte 2 de 5

Todos os fabricantes especificam uma determinada quantidade de óleo para a troca, e você acredita porque foi o fabricante que disse, você automaticamente confia ser essa a quantidade ideal para o bom funcionamento do motor. 

O fabricante não te passaria uma informação incorreta, certo?

Eu te digo que você não devia acreditar cegamente nisso, porque a regra do jogo é ter lucro, não se esqueça.

Você consumidor é que tem essa mania ingênua de achar que as empresas não golpeiam na linha da cintura.

Tem hora que dá vontade de soltar os cachorros...

O macete é muito simples:

O que os fabricantes fazem você acreditar que seja a quantidade de óleo ideal é apenas a quantidade mínima para o motor funcionar; não é a quantidade ideal para que o motor tenha uma longa vida útil.

Atualização:
Veja como a quantidade recomendada não é suficiente para chegar ao nível ideal de óleo. 
Esse é o nível real medido corretamente depois de colocar a quantidade indicada pelo fabricante. Para ver o vídeo completo dos procedimentos de troca de óleo e de medição correta do nível de óleo, vá para esta postagem mais recente.

Moto durável não dá retorno para o fabricante. 

Essa quantidade recomendada só é ideal para os fabricantes, que assim vendem mais rapidamente peças e motos novas para os clientes cativos.

A grande jogada é esta:

Os fabricantes recomendam e colocam apenas o mínimo de óleo nas revisões, e jogam para você a responsabilidade de completar até o nível correto.

É isso mesmo que você leu, sua moto sai da concessionária pedindo, implorando mais óleo. Só com o suficiente para o motor não travar, senão eles teriam problemas ainda no período de garantia. 

Fazendo essa jogada esperta eles não estão te enganando, está tudo escrito claramente lá no manual do proprietário, você que não se deu o trabalho de ler.

Eles sabem que muito pouca gente irá conferir o nível de óleo no dia seguinte que tirou a moto da revisão (conferir ao sair da concessionária com o motor quente dá uma leitura errada, explicarei adiante) e quase ninguém vai descobrir o macete, porque mesmo quem lê o manual do proprietário não imagina que o fabricante faria algo desse tipo. 

Você confia que levando sua moto à concessionária ela será abastecida corretamente, não é?

Só que eles não fazem isso.

E você não poderá acusá-los de fornecerem informações incorretas ou incompletas, porque eles avisam você, está bem claro no manual do proprietário. 

Você é que não leu com a atenção devida, portanto não tem do que reclamar.

Está escrito logo na primeira página:

"Verifique o nível de óleo do motor diariamente, antes de pilotar a motocicleta, e adicione se necessário."

Diariamente quer dizer todos os dias, e isso inclui o primeiro dia após a revisão.

É, eles são espertos. 

Está tudo no papel, preto no branco. Você é que se ilude em confiar.

Mesmo que depois de algum tempo você verifique o nível de óleo, muito provavelmente o fará de maneira errada, porque as informações dadas por eles sutilmente te induzirão a erro, se não forem lidas com atenção.

Você pensa que para conferir o óleo é só tirar a vareta, limpar e medir, né? Foi assim que te ensinaram, não foi?

Pois está errado, e é aí que está o truque da coisa.

Dá uma olhada neste procedimento que geralmente aparece logo na primeira página, aquele que certamente você vai olhar e memorizar (e que está incompleto e, portanto, errado): 

É uma cilada, Bino!!!
O procedimento reduzido dá a entender que é só retirar a vareta, e eles só falam o procedimento correto lá nas páginas do meio do manual, no meio da página, justamente aquelas que ninguém lê (fala sério: você só lê o primeiro parágrafo e vira a página, né? Aí está o seu grande erro...).

São as tais "mais informações".

Apesar de parecer ter a melhor das intenções, o procedimento resumido da primeira página te induz a erro porque não menciona que você precisa ligar o motor por poucos minutos antes de medir o nível, e isso faz toda a diferença. 


Isso mesmo, a medição deve ser feita com óleo preso no cabeçote e que não aparecerá na vareta medidora.

Você é induzido pela figura da primeira página a achar que basta tirar a vareta e ver o nível... provavelmente o vendedor te explicou e até demonstrou que é assim que se faz quando entregou a moto. 

(E ele nem fez isso por má fé, ele faz a mesma coisa na moto dele... o vendedor também não lê o manual.)

O problema é que fazendo a medição desse jeito você estará obtendo uma leitura falsa de nível suficiente.

A verdade é que sua moto já começa a sofrer com o nível de óleo baixo assim que sai da primeira revisão na concessionária, se é que já não saiu de fábrica assim.

Faça o teste com o procedimento correto descrito no seu manual do proprietário, e você verá que o nível que você pensava que estava bom, na verdade estará lá no mínimo da vareta.

[* Atualização: Alguns fabricantes estão se precavendo para que você não descubra este macete durante a garantia, passando a abastecer corretamente durante a garantia e depois entregando o abacaxi para você; leia as postagens Desconfie das promoções e Alerta aos proprietários de honda.]

É, eles são muito espertos. 

Mas essa não é a maior das sacanagens informações questionáveis, tem coisa muito pior. 

Amanhã vem a grande bomba, tenha uma boa noite de sono.

Ou não.

Um abraço,

Jeff