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quinta-feira, 13 de julho de 2017

bmw 1200 e seu histórico de falhas potencialmente fatais

Ontem foi noticiado o recall da bmw para todos os modelos R1200 fabricados até hoje:
Reportagem e recall: https://infomoto.blogosfera.uol.com.br/2017/07/12/problema-na-suspensao-obriga-bmw-a-fazer-recall-das-r-1200-gs-gs-adventure/

Resumidamente, as bengalas podem se afrouxar da suspensão dianteira — junto com a roda.

Só isso.

E o Blog da Infomoto (leia!) dá a notícia de que o recall pela fabricante deve muito à iniciativa de um proprietário e blogueiro sul africano que vem denunciando o problema há tempos.

Ele até criou um site denunciando o problema:
Site com a denúncia (em inglês): http://bmwfatalflaw.com/ 

Não é o primeiro caso de falha grave a atormentar esse modelo específico da bmw.

Nem o primeiro recall por motivo absurdo.

Talvez você não tenha ficado sabendo, porque na divulgação curiosamente usaram a foto do modelo menos vendido no Brasil:
Recall: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/04/bmw-convoca-4558-motos-no-brasil-para-recall.html

Já no lançamento desse modelo R1200 GS para a imprensa ocorreu a morte de um repórter especializado experiente por motivos que alguns atribuíram à falta de um amortecedor de direção.

Essa história foi contada entre outras aqui no blog na postagem Acidente de moto por falha mecânica? Não mesmo! Sua moto pode fazer o mesmo correndo menos que essa...
Reportagem: https://idratherberiding.com/2013/01/24/kevin-ash-dies-in-accident-at-the-2013-bmw-r1200gs-press-launch/
Postagem: http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/05/acidente-de-moto-por-falha-mecanica-nao.html

A bmw nunca admitiu que a falta do amortecedor de direção pudesse ser a causa do acidente fatal, mas incorporou essa peça no ano seguinte.

Amortecedor de direção esse que já no primeiro semestre de uso deu problemas, sendo objeto de recall por parte do próprio fabricante:
Recall: https://www-odi.nhtsa.dot.gov/acms/cs/jaxrs/download/doc/UCM441718/RCMN-13E034-3459.pdf

Motivo do recall alegado pelo fabricante de amortecedores Öhlins?

O suporte do amortecedor teria sido "usinado em uma direção desfavorável em combinação com provável defeito do material e a liga de alumínio sendo sensível a fissuras por corrosão sob tensão".

Uma combinação de fatores e tanto, né?

Um macaco velho também poderia interpretar assim:

"O suporte foi subdimensionado para resistir aos esforços a que é submetido."

Ou seja, o componente era fraco, sem fator de segurança para aguentar o tranco.

E o fabricante muito possivelmente teve que assumir a culpa para não perder contratos com esse cliente — é assim que é no mundo dos negócios.

O suporte do amortecedor era fraco e não foi testado extensivamente antes de ser colocado no mercado.

A Öhlins assumiu o problema e livrou a cara da bmw.

Resta saber se o amortecedor foi projetado pela Öhlins ou se foi fabricado conforme as especificações da montadora bmw...

E se as especificações continham um fator de segurança adequado para a peça.

Seja quem for o pai ou a mãe da criança, o fato incontestável é que esse modelo de moto não foi testado adequadamente pela bmw antes de ser colocado no mercado.
Imagem e reportagem de lançamento: http://canadamotoguide.com/2013/01/28/launch-bmw-r1200gs/

A moto não foi testada adequadamente pela bmw antes de seu lançamento sem o amortecedor de direção.

A moto não foi testada adequadamente pela bmw quanto à resistência do amortecedor de direção incorporado.

A moto não foi testada adequadamente pela bmw quanto ao aperto da porca da roda traseira especificado e aplicado pela bmw.

A moto não foi testada adequadamente pela bmw quanto à resistência da suspensão dianteira projetada pela bmw.

Os fatos estão aí para provar.

Note que é exatamente o mesmo problema do amortecedor de direção, só que em uma escala maior:

Os amortecedores de suspensão (bengalas) não aguentam os esforços para os quais foram projetados:

"Tal folga decorre de impactos severos em grandes obstáculos e buracos em alta velocidade, por exemplo, a depender do modo de condução e tipo de terreno."

Mais uma mostra da pressa com que novos modelos são lançados com cálculos de resistência feitos por computador com base em tabelas de cálculos feitas por computador.

Pena que a vida real não é uma simulação de computador.

E o salário dos pilotos de teste das fábricas foi economizado, já que os testes de longa duração são feitos por voluntários que pagam para fazer o serviço.

Sim, você é o voluntário inocentão que está pagando para fazer os testes de rodagem de longa duração que as fábricas economizam.

A responsabilidade pela moto é deles, mas a vida é sua.

Cuidado com o que você compra.

Marca famosa hoje em dia não quer dizer mais nada, quem está no projeto é a gurizada com os computadores.

Se der problema, eles fazem um recall.

O problema é se a encrenca acontecer primeiro com você.

Um abraço, menos a essa garotada inexperiente que projeta motos hoje em dia,

Jefferson

segunda-feira, 6 de março de 2017

Primeiro recall da yamaha em 2017

A yamaha continua convocando recalls em 2017...
Imagem e divulgação: https://www.campograndenews.com.br/veiculos/yamaha-convoca-cinco-modelos-para-recall

O subchicote de ignição da Lander, Fazer 250 e Ténéré 250 2016 a 2018 pode permitir a entrada de água e oxidação dos contatos e levar a panes elétricas.

Imagem e divulgação: https://www.campograndenews.com.br/veiculos/yamaha-convoca-cinco-modelos-para-recall

Além disso, todas as MT-03 e R3 2016 a 2018 estão com possível problema de trinca do tanque permitindo vazamento de combustível — e também o mesmo problema no subchicote de ignição.

Enquanto isso, os proprietários continuam fazendo testes de durabilidade das motos para as fábricas sem serem remunerados por isso.

Não se descuide de atender a recalls, se eles convocam um recall publicamente é porque o risco para você é bem grande.

Um abraço,

Jeff

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

[Desatualizado]: O céu está caindo em nossas cabeças

Depois de todos esses dias falando de um assunto pesado, a postagem é mais leve. Literalmente.

Lembra daquele drone simpático que eu achava que ia provocar acidentes de moto?

Não vai mais, a empresa acabou e está sendo processada.

As autoridades dizem que o vídeo de apresentação teria sido uma farsa para arrecadar dinheiro.
Imagem e reportagem: http://www.bbc.com/news/technology-38595473

Aliás, essa tecnologia de drones de filmagem não está dando muito certo não.

Outra empresa que quebrou a cara, por incrível que pareça, foi a GoPro.

No final de setembro eles lançaram um drone chamado Karma que parecia que seria um sucesso, mas aí... 

O karma dos Karmas não era bom e eles começaram a morrer de morte súbita durante o voo.

E por pouco um deles não piorou ainda mais o preço das ações e o karma da GoPro.



A brincadeira mal durou 2 meses, em novembro já convocaram um total recall para recolher e aposentar os bichinhos

Simplesmente se apressaram em lançar o produto em grande escala sem fazer os devidos testes para detectar problemas que as simulações por computador não previram.

Aliás, falando em karma ruim, a samsung leva o troféu, hein? 

A шпаргалка Рождество que eles aprontaram com o Galaxy S7 é o suprassumo dessa prática do marketing pisando no pescoço dos engenheiros denunciada aqui no blog.

No desespero para fazer um celular mais fino, mais leve e mais barato de menor custo com aparência de mais caro, a samsung se esqueceu de prever o básico:

Baterias em uso se aquecem e se dilatam.

Simplesmente não previram que sem espaço para se expandir os polos da bateria iriam fechar um curto-circuito com a dilatação inevitável da bateria.

Não deu nem tempo de a postagem ir ao ar, já eliminaram o vídeo que mostrava um celular explodindo do nada... o pessoal é ligeiro.
Imagem: No lugar do vídeo amoitado do celular explodindo.

Ainda bem que o samsung Galaxy Note 7 não chegou a ser vendido por aqui.

Mas tome cuidado para não comprar uma bomba dessas em algum site de usados na internet...

Opa, corrigindo a informação:

O Galaxy S7 foi recolhido no mundo todo, mas está à venda novinho em folha aqui no Brasil sim... 

Agora descorrigindo a informação:

Quem foi recolhido foi o Galaxy NOTE 7, um modelo diferente.

Quem está à venda no Brasil é o Galaxy S7 que não teve problemas de bateria, inclusive foi lançado há mais tempo — o Note 7 nem chegou a ser lançado.
Imagens: https://www.walmart.com.br/item/3562560/sk?utm_source=google-pla&adtype=pla&utm_medium=ppc&utm_term=3562560&utm_campaign=telefonia+3562560http://www.kalunga.com.br/prod/smartphone-galaxy-s7-edge-single-chip-processador-octa-core-camera-frontal-de-5mp-android-60-memoria-interna-de-32gb-camera-de-12mp-tela-de-51-dourado-samsung/679185 — Tem até nas Casas Bahia: http://www.casasbahia.com.br/TelefoneseCelulares/Smartphones/Android/Smartphone-Samsung-Galaxy-S7-edge-Prata-com-32GB-Tela-5-5-Android-6-0-4G-Camera-12MP-e-Processador-Octa-Core-7504914.html

Não é curioso?

Está todo mundo vendendo o aparelho que não serviu para o resto do mundo, mas por aqui está servindo...

Alguém precisa explicar direitinho essa história...

Felizmente alguém explicou:

O leitor Wesker End me corrigiu (OBRIGADO!!!):

O celular problemático é o Galaxy NOTE 7. 

O Galaxy S7 não apresentou problema e é seguro, pode comprar tranquilo, sugiro pesquisar bem os preços... (Pior que eu tinha notado a semelhança dos nomes quando fiz a postagem, e esqueci e atualizei errado...)

E bem hoje no dia da postagem ir ao ar, me aparece uma novidade da apple — aquela apple, lembra?

Lançaram um monitor em parceria com a lg concorrente da samsung que não pode funcionar perto de roteadores... a interferência derruba o bicho.
Imagem e reportagem: http://meiobit.com/360020/monitor-5k-lg-aprovado-pela-apple-fica-maluco-perto-de-um-roteador-simplesmente-nao-funciona/

Como não é raro o pessoal ter um roteador instalado na área de trabalho dos micros... está feita a burrada.

Não sei se vai ter recall, por enquanto a lg está falando para o pessoal afastar os roteadores... se possível...

Mais um produto de última geração recém lançado sem os devidos cuidados de projeto, exemplo fresquinho colhido na horta hoje. 

Aliás, a empresa da maçã está se especializando em colher na horta — lembra da antena do iphone que a culpa era dos usuários que não sabiam segurar o aparelho?

O que esta postagem falando de drones, celulares, monitores e artefatos de ostentação tem a ver com um blog sobre motos?

Nada não.

Forçando um pouco a barra, até dá para dizer que foi feita intencionalmente para vir depois da postagem sobre o recall das Indian (que virou três onze postagens).

Mas esta foi escrita antes daquela(s).

Coincidentemente, ela também entra na categoria "a ganância das empresas e o abandono das práticas consagradas de Engenharia"...

Empresas lançando produtos sem os devidos testes e colocando nossas vidas em perigo e/ou dando prejuízo sensível aos nossos bolsos.

Ah, esses engenheiros da nova escola... tsc, tsc...

Você também pode considerar a parte que fala de celulares como um lembrete para não se distrair com ligações durante a pilotagem.

E a parte que fala sobre drones como um lembrete para nunca esquecer de usar o seu capacete.

Afinal, nunca se sabe quando um orgulho nacional pesando 100 kg poderá despencar dos nossos céus de anil.



Espero que os aviões montados aqui do lado em São Bernardo do Campo se saiam melhor que esse drone aeromodelo.

Por via das dúvidas, vou comprar um macacão antichama.

Não estranhe a maluquice desta postagem não...

Depois do trabalho que deu escrever a série sobre recalls, eu tive uma recaída da minha feriasite. Ou seria feriatite? Feriacite? Feriadose?


Acho que ainda não estou 100% pronto para recomeçar o ano.

O ano novo ainda não está circulando plenamente nas minhas véias.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A conclusão final a que chegamos

Nas últimas dez postagens vimos uma série de casos de recalls de motos e carros recém lançados com graves erros de projeto e execução.

Apenas separei alguns casos, para quem quiser pesquisar o assunto vai longe... 

Mas para concluir e encerrar o assunto destas duas semanas, vamos voltar à vaca fria:
Vendo tantos recalls por motivos graves e bizarros acontecendo, é o caso de perguntar:

Por que tantos problemas acontecem e são descobertos somente depois que as motos (e carros e mais um monte de produtos) estão nas mãos dos clientes — colocando a vida e o patrimônio deles em perigo?

A principal responsabilidade dos fabricantes é fornecer produtos confiáveis e seguros — não podemos abrir mão disso.

Mas parece que hoje a preocupação das fabricantes com o custo de fabricação, o preço de venda, a beleza, a propaganda, o apelo aos consumidores e a rapidez no lançamento e na obsolescência de novos produtos se sobrepõe a qualquer critério de segurança.
Imagem: http://leninja.com.br/obsolescencia-programada/ — A comparação entre windows e apple é bizarra... a microsoft não se diferencia da concorrência na hora de obrigar os consumidores a migrar para novos sistemas operacionais...
Mais sobre obsolescência programada: http://na-beirada.blogspot.com.br/2012/04/obsolescencia-programada.html

— O produto novo tem um risco mortal...

Nôu problem, se custar menos de 10 centavos a gente conserta na revisão e não fala nada — e cobra como "materiais diversos".

— Mas vai custar mais de 10 centavos...

Bom, o jeito é marcar uma reunião para discutir o assunto.

— O produto já matou alguém...

Tudo bem, o departamento jurídico cuida disso para negar a responsabilidade. Na pior das hipóteses, eles negociam a menor indenização possível.

— A imprensa está fazendo alarde... 

A gente aumenta a verba publicitária para preservar a imagem da empresa e manter as vendas lá no alto e enrola o quanto puder. 

— As autoridades estão investigando...

É, não vai ter jeito, faz um recall.

É triste, ma
s é assim que eu imagino essas decisões vitais sendo tomadas nessas empresas...
Imagem: Montagem sobre https://cityroom.blogs.nytimes.com/2010/10/18/complaint-box-recap-meetings-and-those-who-hate-them/?_r=0

Eu acuso as montadoras de descaso com seus clientes devido à urgência desmedida de lançar novos produtos no mercado sem fazer os devidos testes de confiabilidade e durabilidade.

Antigamente novos produtos eram testados no mínimo por dois anos antes de irem paras as ruas.

Hoje o projetista dá ENTER no computador e as motos já começam a ser despachadas para as concessionárias. 

Estou exagerando, mas não é muito diferente disso.

A data de lançamento é definida antes de outros parâmetros fundamentais do projeto — e os funcionários que façam mágica para cumprir as metas.

Se vai dar certo ou não, aí é outra história...

Chega uma hora em que se ultrapassa o limite do razoável e os problemas superam as vantagens.

Veja o caso da harley e da indian:

Os motores de menor cilindrada das Sportster e das Scout não excederam a barreira do viável e não dão problemas... enquanto os maiores estão decepcionando ou a caminho de decepcionar seus proprietários.

Fique esperto, porque se depender dos fabricantes, sejam quem for, você estará cada vez mais entregue à própria sorte porque as metas são cada vez mais inalcançáveis.

Como a dafra demonstra com as Indian e Kansas, nem mesmo na hora de convocar um recall que poderá salvar vidas eles enfiam a mão no bolso.


Mas para fazer propaganda na hora de vender, a estória é outra, vale até computação gráfica:


A dafra nunca se retratou por recomendar menos óleo que o mínimo necessário para as Kansas e Speed, e repetiu o escárnio com as Horizon 150.

A dafra não teve pudor de omitir e alterar informações em seus próprios manuais de proprietário, "porque assim se ganha mais dinheiro", já dizia o Cazuza.

A honda demorou uma eternidade para descobrir a causa do problema de incêndio do freio das Gold Wing, mas pelo menos teve a decência de convocar publicamente o recall até mesmo no Brasil... Antes tarde do que nunca.

Em compensação, até hoje a honda "não descobriu" o motivo dos motores começarem a pipocar depois da adoção do óleo 10W-30.

E até hoje deita e rola em cima dos proprietários que estão perdendo seus motores por confiar na empresa e usar esse óleo inadequado que até outro dia não era recomendado para o Brasil.

Suas concessionárias cometem o desplante de recomendar o famigerado óleo 10W-30 até mesmo para motos que originalmente usavam 20W-50, como a CB 300... 

O resultado é o que todos conhecem.

Graças a essa pressa de lançar novos produtos e ganhar mais dinheiro, os fabricantes não cumprem com sua obrigação de colocar à venda produtos seguros.

Quando descobrem um problema grave, nem sempre dão o destaque que a situação exige.

Se omitem quanto a seus deveres máximos — alguns são omissos até mesmo diante do que a lei determina.

O Casoy diria que tais erros e atitudes são uma vergonha.

Outros diriam que é a falta dela.

O pessoal sai de fininho e finge que nem é com eles.

Os engenheiros da polaris / indian, cujos problemas desencadearam esta série de postagens, não são vilões.

Eles certamente se empenharam em fazer o melhor projeto possível, e os quadriciclos e as motos fabricadas por eles são prova disso.

A gente vê nos detalhes que há paixão no desenvolvimento de todos os componentes das máquinas.

O lamentável é que na hora de unirem essas peças eles cometeram falhas de projeto elementares, indignas até de iniciantes — e essas falhas custaram vidas.

E assim como eles, a imensa maioria dos engenheiros das outras empresas também não quer ser vilão.

Mas eles são obrigados a trabalhar para atingir objetivos fora da realidade estabelecidos por critérios de marketing e não de bom senso.

Em nome do mercado, perdeu-se o pé da realidade, e isso está colocando vidas e patrimônios em perigo.

Está faltando alguém lá dentro dessas empresas dar um murro na mesa e afirmar em alto e bom som:
Imagem: http://www.arthur.bio.br/2013/12/31/relacionamentos/basta-ou-a-gota-que-faltava#.WJBfglMrK1s

Não dá para lançar produtos confiáveis nos prazos exigidos e nos custos de produção almejados!

Ou talvez alguém já tenha dito isso e foi substituído por outro engenheiro mais "pró-ativo e alinhado com as metas da empresa"... nunca saberemos.

Algo está profundamente errado na maneira como as empresas estão lançando produtos no mercado.


Quando a gente vê empresas como a harley-davidson lançando no mercado uma moto que precisa passar por recall porque não cumpre normas elementares — como a obrigatoriedade de instalar refletores na traseira da moto...
Imagem e reportagem: http://www.asphaltandrubber.com/recall/harley-davidson-recalls-motorcycles-lack-reflectors/

Ou uma honda da vida soltando no mercado milhões de motos perigosas porque os piscas não atendem às normas internacionais de distância mínima em relação ao farol...

E ainda por cima, retirando o modelo de fabricação de fininho, sem nunca convocar um recall...
Denúncia: http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/09/uma-modinha-e-milhoes-de-motos.html

Mesmo sabendo que os piscas embutidos no farol descumpriam a legislação e colocavam colocam a vida dos usuários em risco, a honda teve a cara de pau de fingir que nunca pariu a criança.

E ainda fez o marketing dos novos piscas externos da CG 2014 afirmando cinicamente que eles são "atualizados e atendem às normas internacionais de iluminação com excelente sinalização" — tudo o que os piscas das CG 2009 a 2013 não faziam e não fazem até hoje!

É ou não é o cúmulo do máximo da cara de pau?

Ver tantas empresas que se dizem sérias cometendo tantos erros que colocam as vidas dos usuários em perigo é suficiente para perder de vez a fé nas indústrias automotiva e de motocicletas.

Eu responsabilizo a ganância das empresas por levar ao abandono das práticas consagradas de Engenharia.

Culpo essa pressão absurda para vender cada vez mais e mais rápido, sem enxergar direito o que estão fazendo, sem prever as consequências dessa pressa irresponsável.

Na ânsia de despejar novos produtos no mercado, transformaram os consumidores em pilotos de prova e cobaias de teste.

Se alguma coisa der errado, fazem um recall.

Ou tiram o produto do mercado fazendo de conta que o problema nunca existiu — até têm o descaramento de usar a falha do projeto anterior como argumento de vendas para o novo produto.

Ou então enrolam o quanto podem para não assumir a responsabilidade pelos erros.

Quando não jogam a culpa pelos problemas nas costas dos clientes que nem sabem onde encontrar os argumentos mínimos para contestar esse abuso de poder.

Enquanto as verbas para o marketing forem a maior prioridade, e a segurança e confiabilidade dos produtos for sacrificada, continuaremos a ver os nomes de grandes empresas associados a escândalos revoltantes.

Revoltantes porque evitáveis.

Essa fórmula aplicada pelas empresas de "máxima qualidade no menor prazo e menor custo" está errada.
Imagem: http://uncyclopedia.wikia.com/wiki/Unobtainium

Começa errada porque nem considera a segurança final do produto.

Além disso, essa equação não fecha.

É algo impossível de se obter. 

Para atingir duas dessas metas, você é obrigado a abrir mão de uma.

E ao priorizar o menor prazo de desenvolvimento dos produtos e o menor custo de fabricação, automaticamente a qualidade e a segurança do produto vão pelo ralo.

Alguém precisa dar um basta nessa espiral decadente de obsolescência programada e muitas vezes imprevista que os carros, motocicletas e demais produtos estão cumprindo cada vez mais rápido. 

Se você souber de algum outro motivo para isso estar acontecendo além da ganância e abandono das práticas consagradas de Engenharia em prol do marketing e aumento das vendas, é só dizer nos comentários.

Obrigado por acompanhar o meu desabafo, eu precisava dizer essas coisas. 

Estavam entaladas na garganta há tempos...

Um abraço,

Jeff

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Os três recalls seguidos da honda Gold Wing 1800 pelo mesmo problema: pegar fogo por falha no projeto do freio

Continuando a conversa sobre o mistério daquela moto pegando fogo na estrada:

Será que aquela Gold Wing que pegou fogo mostrada na postagem da outra terça-feira e na foto abaixo se incendiou por causa daquele problema no relé de partida / chicote elétrico da postagem de ontem?

Como vimos, ela não estava na lista de 33 modelos da honda com suspeita de falha no relé de partida capaz de incendiar o chicote elétrico e a moto.

Seria culpa de algum acessório instalado pós-venda?

Não acredito ser o caso... 

Quem instalaria um acessório em uma moto que já vem de fábrica com todos os acessórios possíveis e imagináveis?

Dê uma boa olhada na foto:
Imagem: delawareonline.com
Com um pouco de análise podemos chegar a algumas conclusões bem interessantes.

Primeira coisa, essa moto está em pé no cavalete, portanto ela não bateu nem caiu. 

Não consigo imaginar alguém conseguir levantar uma moto pesada como essa pegando fogo devido a um tombo.

Nem um tombo sem colisão conseguir botar fogo em uma moto sem causar um grande dano ao chassi e deixar o piloto sem condição de erguer a moto.

Como se entende da notícia de onde foi obtida a foto, o fogo começou espontaneamente.

CLRD é abreviatura para CLEARED, que pode ser interpretada de duas maneiras: DESIMPEDIDA ou SEM CULPA. 

Pode ser uma atualização da notícia para informar que a via já havia sido liberada desde o horário da publicação inicial, ou simplesmente está dizendo que o fogo foi espontâneo e não houve causa aparente para o incêndio, como uma colisão ou ato intencional — pelo menos até haver uma investigação.

Desconheço a intenção dos autores, acredito mais na primeira possibilidade, então fica a ressalva. Vamos ao corpo da notícia: 

Tradução:

Incêndio em motocicleta bloqueia faixas na [rodovia] I-95 sentido norte

As duas faixas da esquerda da [rodovia] I-95 sentido norte na altura da [rodovia estadual?] Del. 141 foram bloqueadas devido a um incêndio em uma motocicleta. Relatório do departamento de trânsito do Estado de Delaware [EUA].

Independente do sentido adotado para CLEARED, a moto aparentemente foi o único veículo envolvido pois não há relatos de colisão, queda ou atendimento a feridos.

Além da foto, essa é toda a informação disponível — mas com base no que sabemos, podemos traçar algumas hipóteses.

Existe esse recall de uma pá de motos da honda devido ao risco de incêndio por problemas no relé de partida que pode incendiar o chicote elétrico. 

Mas esse incêndio dessa Gold Wing ter começado no chicote é uma possibilidade remota porque o fogo está muito alastrado na roda dianteira.

Como todo mundo com um mínimo de vivência e infância sabe, a tendência do fogo é subir, e não descer...

Então fica muito difícil explicar tanto fogo na roda e mangueira do freio dianteiro se a origem do incêndio não estiver justamente ali.

Mas rodas e mangueiras de freio podem pegar fogo?

Podem sim — e não é um caso inédito para as honda Gold Wing!

Desde o começo da década choveram reclamações de que as Gold Wing prendiam as pastilhas contra o disco de freio, causando aquecimento excessivo e, em alguns casos, incêndio.

O fluido de freio pega fogo com relativa facilidade porque é um composto à base de etilenoglicol, um tipo de álcool — ele não pode ser oleoso para evitar que um pequeno vazamento roube totalmente a eficácia do freio.

Já no início de 2012 houve um PRIMEIRO recall por problemas no freio traseiro chamando TODOS os modelos da Gold Wing 1800 fabricados desde 2001. Até o modelo 2000 ela era "apenas" uma 1500.
Recall: https://www-odi.nhtsa.dot.gov/acms/cs/jaxrs/download/doc/UCM367567/RCONL-11V567-0123.pdf

No final de 2014 houve o SEGUNDO recall pelo mesmo problema do freio traseiro preso — agora de 126.000 motos somente nos EUA chamando todas as Gold Wing fabricadas a partir de maio de 2001 (linha vermelha).
Divulgação: http://www.motorcycle-usa.com/2014/09/article/honda-issues-recall-on-126000-gold-wings/

Em 2015 o problema ainda não havia sido resolvido e a honda convocou o TERCEIRO recall para tentar consertar a mesma coisa...

Dessa vez foram 145.219 motos Gold Wing por risco de incêndio devido ao problema recorrente do bloqueio do freio traseiro.
Imagem e reportagem: http://blog.motorcycle.com/2015/11/04/manufacturers/honda/honda-rear-brake-recall-affects-145219-gold-wings/

E no início de 2016 ainda chamaram mais de 2.000 motos também nos EUA — e que não estavam na lista acima. Alguém lá achou que outras versões dos modelos usando os mesmos componentes poderiam estar livres do problema...

Imagem e divulgação: http://shifting-gears.com/2016/01/14/honda-goldwing-recalled-over-potentially-faulty-brakes/

No Brasil foram "apenas" 667 unidades da moto menos vendida da honda no país:
Divulgação: http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/servicos,honda-faz-recall-do-freio-da-gold-wing,26310,0.htm
Imagem: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2015/10/honda-faz-recall-de-667-unidades-da-moto-gl-gold-wing-no-brasil.html

Curioso não encontrar dados sobre o restante do mundo... quantas Gold Wing existem só na Europa? Austrália? Japão?

Mas afinal, qual era o problema tão difícil de resolver?

Sem motivo aparente, o fluido da pinça do freio não retornava para o cilindro mestre traseiro, impedindo a reabertura suficiente da pinça depois que o pedal de freio era liberado.

Rodando com as pastilhas em atrito constante com o disco de freio sem o pedal estar pressionado, o motorzão potente (1,8 litro) não deixava o piloto perceber o problema.

Isso até a hora em que o disco e a pinça se superaqueciam e a mangueira do freio explodia em chamas — e aí era um Deus nos sacuda.

No início a honda quis jogar a responsabilidade pelo problema sobre os proprietários alegando negligência na manutenção. Tá vendo? Não é só no Brasil que a honda bota a culpa no mau uso feito pelos clientes...
Reportagem: http://www.motorcycle-usa.com/2014/09/article/honda-issues-recall-on-126000-gold-wings/

A honda passou anos e anos culpando uma suposta contaminação pela qual a empresa não teria culpa.

Mas em julho de 2014, depois que as motos de proprietários que nunca afastaram as motos das concessionárias tiveram o problema mesmo depois de cumprir o recall, a honda ficou sem argumentos.

E finalmente uma análise mostrou que não havia contaminantes no fluido de freio por culpa dos proprietários — e a honda teve que admitir que o problema era dela sim.

O motivo da epidemia de entupimentos constantes e recorrentes da linha do freio traseiro era uma falha absurda de projeto.

Somente no final de 2015, mais de cinco anos depois do início dos problemas, a honda deu o braço a torcer e fez esse novo recall porque descobriu que o problema ocorria devido ao ataque químico do próprio fluido de freio aprovado e utilizado por ela.
Imagem e reportagem: http://blog.motorcycle.com/2015/10/21/manufacturers/honda/honda-finally-has-a-fix-for-gold-wing-rear-brake-drag-issue/

Conforme a reportagem do Motorcycle.com, a reação química do fluido com os componentes do sistema de freio corroía o metal e soltava pó de zinco — as partículas bloqueavam o retorno do fluido no cilindro mestre do freio traseiro.

Ou seja, o fluido de freio era corrosivo e inadequado para o sistema.

O sistema de freio projetado por ela não aguentava o fluido destinado a ele — o sistema de freio não aguentava as condições normais de trabalho previstas no projeto.

Algum euspírito de porco poderia se atrever a suspeitar que os componentes e / ou o fluido de freio utilizados na produção e revisões nas concessionárias eram vagabundos de qualidade incompatível com os rigorosos padrões de qualidade da fabricante. Mas magina, honda é honda, não ia fazer uma coisa dessas.

O mais correto é concluir que a honda simplesmente não testou os produtos o suficiente antes de colocar as motos no mercado... o que também é muito feio para um fabricante do gabarito da honda.

Para justificar o recall, a honda alegou que somente o cilindro mestre do freio traseiro apresentava o problema, mas fico seriamente em dúvida ao ver essa Gold Wing flambada.
Imagem: Rio. Rio muito. Afinal, a asinha dourada flambada não é minha. Mas tenho dó dos proprietários.

Agora raciocine comigo:

Se o problema era a reação do fluido de freio com os demais componentes, não há motivo para o problema não acontecer também no sistema de freio dianteiro, concorda?

Os componentes tanto do cilindro mestre quanto do cilindro da pinça do freio são os mesmos, basicamente cilindros de liga leve contendo zinco.

Todos com pistões, guarnições de borracha e orifícios pequenos para a passagem de fluido idênticos aos usados no freio traseiro.

E as especificações dos cilindros mestres, pinças e mangueiras tanto do freio dianteiro quanto do traseiro nasceram da mesma equipe de projetistas lá na honda.

Muito provavelmente, todas as mangueiras e componentes foram fornecidos pelos mesmos fabricantes.
Imagem: http://wm1.com.br/motos/honda-gold-wing-seda-de-luxo-sobre-duas-rodas

Em princípio não haveria motivo para a mangueira, o cilindro mestre ou as pinças do freio lá na frente se deteriorarem menos que no freio lá atrás.

O problema pode não ser tão recorrente quanto no caso do freio traseiro devido às diferenças construtivas — já que não haveria acúmulo no cilindro mestre dianteiro que fica em posição elevada enquanto o traseiro fica quase na mesma altura que a pinça.

Mas a posição da mangueira do freio dianteiro é até mais favorável para a descida e acúmulo do pó de zinco lá na pinça do freio...

O problema poderia ocorrer com menor frequência na pinça dianteira e não no cilindro mestre, mas acabaria ocorrendo do mesmo jeito, é só dar tempo ao tempo.
Imagem: delawareonline.com — detalhe ampliado

Vendo essa Gold Wing pegando fogo aparentemente com início na roda e mangueira do freio dianteiro, eu me convenço de que o problema não estava apenas no freio traseiro, como alegado pela fabricante, mas também no sistema do freio dianteiro.

Mas por que a fabricante não teria feito um recall citando também o freio dianteiro?

Bom, tenho uma teoria...

Você viu como pega mal fazer o recall de um modelo com mais de um problema grave que nem ocorreu com yamaha MT-03?

Pega 50% menos mal para a honda se o motivo do recall de uma moto topo de linha como a Gold Wing for apenas por um e não por dois problemas extremamente graves simultâneos, né?

Para quê falar em público de dois problemas se um único recall vai levar as motos para um reparo na concessionária e ela poderá cuidar dos dois problemas ao mesmo tempo e sem fazer publicidade negativa?

Ninguém ficaria sabendo, a menos que aparecesse uma foto de uma moto com a roda dianteira e sua mangueira do freio pegando fogo...

E alguém achasse essa foto, percebesse que uma coisa leva a outra e publicasse em um blog na internet... 

Ops...


Faz sentido, não faz?

Mas neste mundo acontecem mesmo coisas difíceis de entender. Por exemplo, usar óleo 10W-30 no Brasil.

EXTRA! EXTRA! — Notícia de última hora:

Olha só como são as coisas — veja o que eu encontrei depois da postagem pronta, na última revisão na madrugada desta segunda...

Eu estava pesquisando sobre a quantidade de Gold Wings submetidas a recall no restante do mundo — não encontrei a informação — mas encontrei isto:
Fórum: http://goldwingdocs.com/forum/viewtopic.php?t=32952

Simplesmente o relato de um proprietário que teve TODAS as três pinças de freio — duas dianteiras e uma traseira — prendendo e superaquecendo de azular os discos logo depois de atender o recall na concessionária para resolver o problema no freio traseiro...

E o autor diz que a concessionária honda fez uma lavagem interna (flush) também do sistema de freio dianteiro, apesar de não previsto no recall... como imaginei.

E mesmo assim em 2016 a moto desse proprietário teve o problema de arrasto dos freios e os técnicos não sabiam a causa, a golduchinha precisou ficar lá na concessionária para análise... honda sendo honda montadora sendo montadora.

Sabe, até eu que sou meio burro mas não dormia nas aulas de Química saquei que nada impedia o problema de acontecer no freio dianteiro...

Desconfiar das coisas e encontrar evidências de estar certo fazem um bem danado ao coração... e ajuda a evitar grandes encrencas ao comprar uma moto...

Estes últimos dias têm sido muito instrutivos e divertidos (para mim). 

Mas tudo que é bom dura pouco — os proprietários destes carros e motos que perderam o entusiasmo com o veículo novo por conta dos recalls que o digam...

Então está na hora de finalizar esta série comemorativa de postagens — mas só direi o motivo da comemoração quando ela acabar.

Amanhã eu faço um fecho para este assunto e prometo não falar mais disso.

Pelo menos até o próximo recall por motivo escabroso. Ou seja, logo estarei de volta — e também não esqueci a promessa sobre as montadoras de automóveis lá do outro lado do mundo.

Um abraço,

Jeff