domingo, 16 de novembro de 2014

Afinal, qual o problema das motos chinesas?

Há algum tempo eu estava pensando em uma postagem sobre motos chinesas, aí recebi uma pergunta sobre qual moto pequena seria uma boa opção. 

Ótima oportunidade para abordar o assunto.

Oh, boy.... fala sério...

Minha primeira moto foi uma nipobrasileira CG 125 1979. A segunda foi a chinesa Jezebel, minha Kansas 150 2009, e a terceira é agora a Edith, uma mvk regal raptor Fenix Gold argentina-chinesa 2011 0 km graças ao cidadão que a ganhou em uma rifa em 2012 (acho), preferiu vender e só vendeu agora em 2014.

Aí vem o principal problema, na opinião de muitos, sobre as motos chinesas:

Se você pensar em facilidade de vender sem um bom desconto, você não compra.

Já eu penso diferente.

Penso no valor do investimento e no quanto ele me satisfaz.

E em termos de custo benefício, algumas motos chinesas podem não ficar devendo nada às outras do mercado.

É o caso da minha Kansas, que me deu menos problemas que a primeira CG. 

Mas muitos dos problemas que eu tive com a CG eram devidos à minha inexperiência com motos (esse foi um dos motivos que me levaram a criar o blog...), então você pode ter uma ideia de quanto fiquei feliz com a Kansas.

Comparando as duas, o nível de qualidade da minha Kansas 2009 era equivalente ao da CG 1979 — e o nível de qualidade da Honda era bom naquele distante século passado. 

Claro que hoje a honda colocou mais plástico melhorou o padrão, então a Kansas ficou um pouco para trás; mas não muita coisa não.

Já se você fizer a mesma pergunta para um amigo meu, ele terá reclamações mil a fazer sobre a Kansas dele, e todas com razão.

A moto dele precisou trocar todos os rolamentos das rodas que simplesmente estavam podres de ferrugem, e isso ainda nos primeiros meses de uso da moto. E outras peças estavam bastante enferrujadas em curtíssimo prazo.

A conclusão a que chegamos é que o lote da moto dele passou por algum tufão / enchente lá na China, o pátio ou o contêiner foi inundado por água salgada, e a moto foi comercializada mesmo assim.

E aí está o segundo problema das motos chinesas: é muito difícil saber o que se passa na cadeia produtiva até a moto chegar ao cliente.


Como o importador no Brasil pode ter controle sobre eventos como esse?

Mesmo que tenha agentes 24 horas lá na China, que decisões ele tomará diante de uma situação dessas, bastante comum por aqueles lados?

O controle de qualidade por lá está mais preocupado com o volume de produção do que com a qualidade em si, então variações de qualidade nos lotes são bastante comuns.

Terceiro problema das motos chinesas: o importador.

Qual é a experiência e afinidade dele com motos? 

É apenas um aventureiro interessado na grana fácil? 

Porque moto chinesa é tão barata e moto brasileira é tão cara que a chinesa pode ser vendida aqui por um valor abaixo do produto “nacional” e ainda dar muito lucro.

Ou esse importador é um cara que curte motos de verdade? Que estrutura ele monta para dar apoio ao produto no Brasil?

No Brasil, você não tem a suzuki, você tem a j. toledo suzuki. Se não fosse o interesse do ex-piloto João Toledo em trazer a marca para o Brasil, os japoneses não teriam se incomodado de vir para cá.

Ah, mas a suzuki é japonesa, você dirá. Sim, mas a Intruder e a Yes vêm da fábrica da suzi na China...

A j. toledo suzuki não avançou na fatia de mercado da yamaha, apesar de toda a inércia inativa da segunda colocada no mercado... o alto custo das peças de reposição é a principal reclamação dos clientes.

Outro enorme problema das motos chinesas:

Na hora que você precisa de peças, você é obrigado a esperar no mínimo 15 dias por peças de desgaste simples, como a guia da corrente. Outras peças são vendidas por preços francamente abusivos, muito desproporcionais ao seu peso na composição do custo da moto.

Mas isso é problema só das motos chinesas? Não é não. É o quadro geral de todos os importadores / montadores no Brasil. Um mercado potencialmente enorme, mas que só é grande hoje para a honda.

Quinto problema das motos chinesas:

Lá na China são muitos fabricantes com todos os níveis de qualidade.

Algumas motos são verdadeiras bombas. Andei em uma no Paraguai que parecia uma britadeira sobre duas rodas.

Andei em outra custom 125 muito bonita e com acabamento razoável, a dayun Phantom 125, mas o motor é muito fraco para o peso da moto (ela daria uma linda 250).

Aliás, um bom critério para saber a qualidade de uma moto é ver o nível de vibração do motor:

Projetos antigos não têm balanceiros, e os motores vibram irritantemente. Projetos mais novos têm balanceiros, alguns mais eficientes do que outros. 

Fuja das motos vibratórias, porque vibração é desperdício de energia: parte do trabalho do motor não é convertido em rotação da roda, mas em vibração, e vibração é desgaste acelerado do motor.

Sexto problema das motos chinesas:

Marcas e concessionárias que surgem e desaparecem de um dia para outro.

O pessoal quer lucrar com a venda das peças, e isso é um grande erro. Deveriam se preocupar é com a consolidação da marca em um novo mercado potencialmente gigantesco.

Mas para eles investimento é no máximo um ano... não é por aí, o Brasil não funciona assim.

Aliás, nem assim, nem assado.

São necessários vários anos de boa fama no mercado para a consolidação da imagem da marca, mas eles jogam tudo a perder com a ganância desmedida com que atacam (e afugentam) os consumidores.

Agora, finalmente, a resposta solicitada:

(...) A regal raptor é uma boa moto de pequena cilindrada? Entre as customs pequenas, kasinski, dafra, regal raptor, me indicaria alguma pra cair na estrada?

Não farei a piadinha sobre moto para cair na estrada.

Pronto, já fiz.

Mas entre os modelos custom de pequena cilindrada 0 km, você encontra apenas a Intruder 125, a Mirage 150, a Kansas 150, a Horizon 250, e as mvk regal raptor 250 e 300, como a Spyder, a Ghost e a Black Jack. 

A Intruder dispensa apresentações. Vinícius e Marlene foram com uma até o Rio para um de nossos encontros (e voltaram!), a motinho anda bem, é só tomar os cuidados básicos recomendados aqui. 

A Kansas e a Mirage são motos irmãs, feitas pelo mesmo fabricante zongshen.

A zongshen veio para o Brasil e comprou a rede kasinski, e ao que parece se desentendeu com o sócio (ou não aguentou fazer tantos pagamentos por fora para ter o direito de continuar trabalhando por aqui, vide os escândalos nos jornais de todo dia) — então não sei como ficará a situação da empresa.

Aliás, das empresas... dafra e kasinski poderiam estar muito melhor situadas no mercado se não tivessem cometido tantos erros grotescos de assistência aos clientes.

O comparativo entre os dois modelos você encontra nas postagens O jogo das diferenças 1 e 2.

A Mirage 250 é um caso à parte, porque apesar de comercializada pela chinesa/brasileira kasinski, vem toda importada da Coreia do Sul. Tem um bom padrão de qualidade, um projeto amadurecido, erros eliminados em mais de 10 anos de mercado, e uma mecânica hyosung de base suzuki. 

Eu diria que Horizon, Fenix Gold e Mirage 250 estão no mesmo patamar de qualidade, fabricação e acabamento, a diferença é que a primeira é mono e as outras são bicilíndricas. A Gold já vem com uma boa gama de acessórios.

Para esses três modelos 250 (e mais as outras três da regal raptor), a compra com base na rede de concessionárias é que é desanimadora.

Se você analisar, não é uma situação diferente de marcas com modelos maiores, como triumph, bmw ou harley. Se você gostar e quiser um determinado modelo, precisa estar disposto a enfrentar as eventuais dificuldades que surgirem.

Mas em tempos de internet, você sempre pode encontrar as peças lá fora, se necessário.

Especificamente sobre a regal raptor:

Ainda está cedo para dizer alguma coisa sobre a moto.

Estou com Edith há apenas 1600 km, e até agora a satisfação é grande. Só o tempo dirá se terei a mesma longevidade e confiabilidade de motor que tive com a minha Kansas. 

Tenho um amigo que tem uma Spyder e nunca teve problemas com ela, mas desconheço a quilometragem que eles percorreram.

Uma coisa é certa:

A lubrificação deficiente é o grande matador de motos chinesas (e de qualquer outra marca), e se o proprietário não ficar atento a isso, se decepcionará muito cedo.

Pelas leituras que fiz nos fóruns de motos chinesas (e também de outras origens), a imensa maioria dos problemas é causado por aquela esperteza burra dos fabricantes, que só beneficia quem já tem o nome consolidado no mercado.

Se esses novos importadores entendessem um pouquinho de motos e não fossem tão gananciosos para vender peças de reposição, se preocupariam em garantir que as motos saíssem das concessionárias após a venda e após as revisões com a quantidade correta de óleo.

Eles também orientariam claramente os proprietários sobre a viscosidade e a quantidade ideal para o nível máximo da vareta, mencionando o total real de óleo a ser adicionado a cada troca.

Quem fizer isso, vai ganhar fama de motor durável e poderá morder as bordas do mercado com maiores dentadas.

Enquanto o pessoal for burro de deixar os clientes ralarem as motos para depois saírem falando mal e meterem processos em cima deles, honda continuará sendo honda, apesar de tudo que continua fazendo de ruim e não fazendo de bom no mercado.

PS: Ah, esqueci de comentar um ponto importante:


Os motores 100% chineses entregam menos potência e desempenho do que motores de outras procedências. 


Isso pode ser importante para quem gosta de levar vantagem em tudo. 


Para mim, que penso que aceleração e velocidade não são tudo na vida, isso não faz diferença.


Eu não vejo sentido nessa pretensão bem tupiniquim de se preocupar em se mostrar para os outros e não em viver para si mesmo.

Um abraço,

Jeff

9 comentários:

  1. Jeff muito obrigado pelo post. Me ajudou muito. Agora não vou mais correr o risco de cair na estrada (risos). Um forte abraço e parabéns
    pelo blog!

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  2. Falou bem sobre motos chinesas e sobre esta moto que a Traxx vende em parceria Dayun Phanton 150cc

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  3. Show, mas desempenho do motor tbem quer dizer economia de combustível

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    1. Não adianta nada ter potência e velocidade, e beber mais combustível do que o necessário, ou muito mais que sua concorrente ou equivalente direta.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O que eu gostaria, é poder comprar só o chassi da Black Jack da Regal Raptor, com esse chassi rabo duro, e documentação da Black Jack, eu colocaria a mecânica de uma Cg 150, bem mais econômica, confiável e com peças de reposição,ficaria linda essa customização, e bem funcional, uma vez que esteja com o motor de uma CG.

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  5. E têm outra, brother, eu vi no YouTube uma fabricante mexicana, a Margie's eles tem motos muito semelhantes com a Black Jack da Regal raptor, e tbem utiza um motor chinês, só que de 125cc, mas a vantagem é que o chassi é de alumínio resistente, as bobbers já são leves, agora com um quadro em alumínio, ficaria mais leve ainda, somando isso a um motor econômica... Putqpariu, dessas motos eu só queria o chassi e documentação.

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