terça-feira, 3 de setembro de 2013

Zen destino

Nos velhos e bons anos 70 foi publicado um livro chamado “Zen e a arte da manutenção de motocicletas”. 

Era de autoria daquele autor que não ficou famoso, ouviu falar dele? Pois é, não ia adiantar falar o nome (essa vai entrar para a categoria de piores desculpas para não lembrar e ter preguiça de procurar).

Mas o essencial é que esse livro narra uma experiência que todo motociclista deveria considerar, se quiser realmente entender o que representa o espírito do motociclismo, sem aquelas doses forçadas de propaganda que os fabricantes de motos te empurram goela abaixo. 


Ainda mais aqueles que acham que a marca que eles marqueteiam representa a verdade, o caminho e a vida, tatuagens inclusas.

O livro é uma viagem de moto (não só de moto) cruzando os Iunáited Istêitis e os paradoxos da vida. 

Mas não é um Sem Destino (Easy Rider), que usa a metáfora da viagem para falar de outras coisas que estavam acontecendo na época. Mas também é muito cabeça.

A viagem de Zen está no oposto entre a visão de mundo do autor, um cara que está nessa para curtir a experiência, a aventura, a jornada com sua moto, e a de um casal de amigos que está nessa para curtir... sei lá, acho que eles não curtem nada, nem a moto deles.

O que deveria ser algo incrível e irrepetível, vivenciado como uma cerimônia do chá (que tem toda uma profundidade e significados não vivenciados e nem sequer imaginados pelos ocidentais), se transforma no conflito entre maneiras opostas de ver uma moto e, por extensão, o mundo:

O autor, sem criar expectativas, enfrenta os imprevistos da jornada conforme aparecem. 

Não representam azares, prejuízos, decepções, são apenas fatos com os quais temos que lidar, porque o mundo não é perfeito, não somos perfeitos, nossas motos não são perfeitas... são apenas máquinas possíveis que possibilitam a jornada.

Para o casal de amigos, todos os imprevistos são inadmissíveis. 

Comprar uma moto último tipo e descobrir que ela vibra, esquenta, vaza óleo, fura pneu, com peças que se desgastam, quebram e precisam ser trocadas e ajustadas numa jornada de poucos milhares de quilômetros, tudo e cada um desses eventos se torna motivo de desprazer.

Ora, rodar com uma moto naquela época não era bicho de sete cabeças. Gasolina, óleo, vela e platinado (um fóssil ancestral do cdi, e que ao contrário do cdi, podia ser consertado no meio do caminho), pneu e relação eram coisas que com um mínimo de conhecimento (e ferramentas) qualquer um podia reparar.

E essa era a diferença entre o autor e o casal, um lidava com o mundo conforme ele é, os outros tinham expectativas ideais que nunca eram atendidas.

Exemplo típico, quando as motos chegaram à região das montanhas, e começam a ratear.

Para o casal, motivo para interromper a viagem e procurar uma oficina; para o autor, motivo para pensar qual seria o motivo disso.

Matutar, analisar e arriscar uma teoria de que o ar rarefeito estaria desequilibrando a mistura de ar e gasolina, e que a solução seria fazer um pequeno ajuste, e então obter a satisfação de seguir viagem com algo a mais na bagagem.

E depois escrever um livro que marcou gerações e gerações de motociclistas que sabem que o mundo é divertido pelo que ele é, e não somente pelo que gostaríamos que fosse.

Aproveite e descubra não apenas essa jornada com sua moto. Aventure-se!

Motos como aquelas estão acabando, dias como estes estão acabando.

Um dia tudo isso será lenda... seja parte dela ou volte para o conforto do sofazão do faustão.

Um abraço,

Jeff

PS: 
Para entender melhor esse espírito, não encontrei postagem melhor do que esta aqui.

Para conhecer um pouco mais do livro: 

Um comentário:

  1. Poxa... nem sei o que dizer... ainda mais após ler também os links recomendados.... Perfeita expressão de valores e o quê são valores!!!!

    Estendo esse sentimento/sensação não só a moto, mas sim a todo tipo de VIVER. Além de ofício de meu pai, foi exatamente essa sensação que me fez e faz cada dia mais desejar a estrada. (seja moto, caminhão ou o que for)
    Estar vivo, interagir com pessoas e lugares diferentes... convivendo com suas particularidades e adversidades... Isso meu amigo... não tem preço e vale uma fortuna. Fortuna a qual ninguém rouba, ninguém vê... mas que muitos cobiçam... e espero que todos possam vivenciar, pois é sem dúvida um prazer único e maravilhoso!

    Parabéns pelo post meu amigo!!! Agradeço o dia em que fui agraciado com a amizade do amigo e de pessoas assim!!!

    Grande Abraço!

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