Nos velhos e bons anos 70 foi publicado um livro chamado
“Zen e a arte da manutenção de motocicletas”.
Era de autoria daquele autor que não
ficou famoso, ouviu falar dele? Pois é, não ia adiantar falar o nome (essa vai entrar para a categoria de piores desculpas para não lembrar e ter preguiça de procurar).
Mas o essencial é que esse livro narra uma experiência que
todo motociclista deveria considerar, se quiser realmente entender o que
representa o espírito do motociclismo, sem aquelas doses forçadas de propaganda
que os fabricantes de motos te empurram goela abaixo.
Ainda mais aqueles que
acham que a marca que eles marqueteiam representa a verdade, o caminho e a vida, tatuagens inclusas.
O livro é uma viagem de moto (não só de moto) cruzando os Iunáited
Istêitis e os paradoxos da vida.
Mas não é um Sem Destino (Easy Rider), que usa a metáfora da viagem
para falar de outras coisas que estavam acontecendo na época. Mas também é muito cabeça.
A viagem de Zen está no oposto entre a visão de mundo do autor, um cara que
está nessa para curtir a experiência, a aventura, a jornada com sua moto, e a de um
casal de amigos que está nessa para curtir... sei lá, acho que eles não curtem
nada, nem a moto deles.
O que deveria ser algo incrível e irrepetível, vivenciado como uma cerimônia do chá (que tem toda uma profundidade e significados não vivenciados e nem sequer imaginados pelos ocidentais), se transforma
no conflito entre maneiras opostas de ver uma moto e, por extensão, o mundo:
O autor, sem criar expectativas, enfrenta os imprevistos da
jornada conforme aparecem.
Não representam azares, prejuízos, decepções, são
apenas fatos com os quais temos que lidar, porque o mundo não é perfeito, não
somos perfeitos, nossas motos não são perfeitas... são apenas máquinas
possíveis que possibilitam a jornada.
Para o casal de amigos, todos os imprevistos são
inadmissíveis.
Comprar uma moto último tipo e descobrir que ela vibra, esquenta, vaza
óleo, fura pneu, com peças que se desgastam, quebram e precisam ser trocadas e ajustadas
numa jornada de poucos milhares de quilômetros, tudo e cada um desses eventos
se torna motivo de desprazer.
Ora, rodar com uma moto naquela época não era bicho de sete
cabeças. Gasolina, óleo, vela e platinado (um fóssil ancestral do cdi, e que ao contrário do cdi, podia ser consertado no meio do caminho), pneu e relação eram coisas que com
um mínimo de conhecimento (e ferramentas) qualquer um podia reparar.
E essa era a diferença entre o autor e o casal, um lidava
com o mundo conforme ele é, os outros tinham expectativas ideais que nunca
eram atendidas.
Exemplo típico, quando as motos chegaram à região das montanhas, e começam a
ratear.
Para o casal, motivo para interromper a viagem e procurar
uma oficina; para o autor, motivo para pensar qual seria o motivo disso.
Matutar, analisar e arriscar uma teoria de que o ar rarefeito estaria desequilibrando a mistura de
ar e gasolina, e que a solução seria fazer um pequeno ajuste, e então obter a satisfação de seguir viagem com algo a mais na bagagem.
E depois escrever um livro que marcou gerações e gerações de
motociclistas que sabem que o mundo é divertido pelo que ele é, e não somente
pelo que gostaríamos que fosse.
Aproveite e descubra não apenas essa jornada com sua moto. Aventure-se!
Motos como aquelas estão acabando, dias como estes estão
acabando.
Um dia tudo isso será lenda... seja parte dela ou volte para
o conforto do sofazão do faustão.
Um abraço,
Jeff
PS:
Para entender melhor esse espírito, não encontrei postagem melhor do que esta aqui.
Para conhecer um pouco mais do livro:
Poxa... nem sei o que dizer... ainda mais após ler também os links recomendados.... Perfeita expressão de valores e o quê são valores!!!!
ResponderExcluirEstendo esse sentimento/sensação não só a moto, mas sim a todo tipo de VIVER. Além de ofício de meu pai, foi exatamente essa sensação que me fez e faz cada dia mais desejar a estrada. (seja moto, caminhão ou o que for)
Estar vivo, interagir com pessoas e lugares diferentes... convivendo com suas particularidades e adversidades... Isso meu amigo... não tem preço e vale uma fortuna. Fortuna a qual ninguém rouba, ninguém vê... mas que muitos cobiçam... e espero que todos possam vivenciar, pois é sem dúvida um prazer único e maravilhoso!
Parabéns pelo post meu amigo!!! Agradeço o dia em que fui agraciado com a amizade do amigo e de pessoas assim!!!
Grande Abraço!