quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O perigo das peças chinesas

Não tenho preconceito contra motos chinesas, tanto é que tenho uma e, para minha surpresa, me deu menos problemas que minha primeira moto, uma das duas únicas brasileiras que existiam em 1980, fora a Amazonas.

Mas o fabricante de motos tem responsabilidade pelo produto; se alguma coisa der errado, o filme queimado é o dele. Então os fabricantes sérios testam o que recebem dos fornecedores para não colocar no mercado motos com problemas potenciais. 

No entanto, os fornecedores de peças de reposição não têm compromisso com ninguém; nas motopeças não existe um departamento de controle de qualidade para fiscalizar se o que eles estão entregando está de acordo com as normas de fabricação ou não.

E num mercado que prioriza sobretudo o baixo custo, a qualidade do material é fundamental.

Veja o caso de um câmbio chinês comprado por um amigo meu que eu não vou citar o nome, fique tranquilo, Dan.


Eixo de câmbio de moto com engrenagens de aço desgastadas
Imagem: http://www.robocore.net O pessoal que monta robôs aproveita peças de motos... quem diria.

O câmbio original chinês que veio na moto chinesa durou cerca de 70 mil km. Seu desgaste foi normal, todas as engrenagens foram se desgastando de maneira uniforme e no final um dente de tão fino se quebrou. 

Isso é o que sempre deveria acontecer com engrenagens feitas de aço.

O segundo câmbio chinês (vendido para motos Honda) vinha funcionando bem durante 20 mil km.

Por sorte dele (digamos assim), foi preciso abrir o motor aos 90 mil km por problemas de pistão. A surpresa foi ver que as engrenagens já estavam desgastadas quase a ponto de pedir troca.

Substituído o par de engrenagens mais danificadas, o novo câmbio durou apenas 700 metros. 

E não foi por erro de montagem, mas por má qualidade do material que não aguentou a instalação das engrenagens com os dentes em posição diferente da montagem anterior.

O fato é que as engrenagens explodiram porque não eram de aço, mas de ferro fundido. No dia que um dente se quebrasse, as engrenagens iam explodir e travar a roda traseira de maneira incontrolável. Tombo certo e potencialmente fatal.

Ferro fundido é um material barato, que se caracteriza pelo alto teor de carbono e pela fragilidade. 

É o contrário do aço, que aguenta muita pancada e se deforma antes de se quebrar.

O aço para engrenagens de boa qualidade é feito com médio teor de carbono e alguns elementos de liga, mais um tratamento térmico que lhe dá resistência sem torná-lo frágil.

Fazer uma engrenagem em ferro fundido é a maneira mais barata, basta fazer um molde e depois dar acabamento aos dentes e furos.


Polia de ferro fundido: aí não tem problema.
Mas isso é irresponsável: uma engrenagem de ferro fundido somente é aceitável para uma bomba de poço, nunca para componente interno de um motor.

Para comparação, a montagem final foi feita com o câmbio usado de uma moto quase contemporânea da minha primeira moto.

As engrenagens com mais de 25 anos de uso ainda tinham a aparência de novas, zero km, zero bala: nenhum sinal de desgaste visível a olho nu.

Então fica o alerta:

Não compre peças chinesas para o motor apenas porque custam barato.

Uma coisa é comprar um espelho vagabundo, outra muito diferente é ter o motor travado a 90 km/h na via expressa.

Um abraço,

Jeff

2 comentários:

  1. O Tonella certa vez comentou num vídeo sobre rolamentos Chineses, de que o dinheiro que se economiza com isso não vale a pena, pois você terá que abrir o motor em pouco tempo para trocar a peça.

    Mas não considero regra o que você disse em relação ao controle de qualidade de ambos os lados.

    Existem fornecedores com a mesma preocupação de testes nas linhas de reposição quanto na de novos veículos (ok, não estou falando de indústria chinesa).

    E existem fabricantes de veículos que não dão a mínima para o controle de qualidade.

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    1. Bem, meu comentário foi sobre o fornecimento de peças para o mercado de peças, onde não existe controle de qualidade por parte das lojas. Fabricantes de motos (ou carros) são obrigados a testar os componentes recebidos, porque a bucha estoura nas mãos deles. Se é que montadoras têm mãos.
      Um abraço,
      Jeff

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