quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

As notícias que chegam até nós — o maior erro da imprensa mundial até amanhã

É um assunto totalmente fora daqueles abordados pelo blog, mas eu tenho que escrever sobre isso:

Reportagem: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/02/aviao-cai-em-rio-com-mais-de-50-pessoas-bordo-em-taiwan.html

Essa é a notícia postada pela globo, "Piloto alertou sobre incêndio em motor antes de queda em Taiwan" com  a "tradução" do último contato do piloto: "'Socorro, socorro, motor em chamas', disse o condutor antes da queda."

"Uma gravação da conversa entre o piloto (...)"

Pra começo de conversa:

Conversa é o bate-papo que a gente joga fora na mesa do bar — o que está ali é a transcrição do diálogo entre o piloto e o controlador de voo. 


Diálogo é coisa séria, conversa não é. E nada mais sério do que um avião caindo.

Condutor de avião? Quem é que chama piloto de avião de "condutor"?


Condutor é motorista. Pode ser usado também para se referir a um motociclista. Condutor de ônibus. Condutor de charrete. 

Mas condutor de avião? Nem em Português de Portugal.


Mas isso não é nada, vamos ao mais grave de tudo: 


"Uma gravação da conversa entre o piloto do avião da companhia aérea TransAsia e a torre de controle do aeroporto Zhongshan de Taiwan mostra que ele alertou sobre um incêndio em um dos motores, o que poderia ter sido a causa do acidente."

Quem viu o vídeo do acidente observou que nenhum motor estava pegando fogo:


Imagem: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/02/aviao-cai-em-rio-com-mais-de-50-pessoas-bordo-em-taiwan.html

E quem teve acesso à gravação original descobriu que o piloto disse na verdade "Mayday, mayday, engine flameout".


Reportagem da CBS com o áudio: https://www.youtube.com/watch?v=6w9HAWybH08

Em jargão aeronáutico, "engine flameout" quer dizer literalmente "motor apagado". O popular "motor morreu". Em uma tradução mais correta, mas nem um pouco prática, "falha total de combustão do motor".

O responsável pela notícia da globo viu a palavra "flame" que ele aprendeu quando passou na frente da janela do cursinho de inglês que significava "chama, fogo", o "out" significava "fora", então "engine flameout" = "motor chama fora" = "motor saindo fogo" = incêndio no motor" e o resultado foi mais essa tremenda e absurda barriga publicada pelo g1.


"Pô, dá um desconto, o cara é só um repórter, não sabe pipoquinhas de Inglês..." 


Mas o acidente foi filmado. Não havia fogo... Será que não existe mais desconfiômetro nessas redações?


Até quando a globo, o terra e o uol vão continuar pagando micos mundiais por falta de profissionais capacitados a falar o mínimo de Inglês para traduzir as notícias que vêm de fora? E a raciocinar sobre o que estão escrevendo? E usar as palavras corretas para descrever o assunto?

Provavelmente para sempre, porque a regra do jogo é fazer tudo "mais rápido, ao menor custo". 


Qualidade ficou fora da fórmula porque qualidade tem custo.

Brasil.

Um abraço,

Jeff
PS: Descobri que fui um pouco injusto com a globo. 

Eles não se basearam no Inglês... a notícia veio pela agência espanhola de notícias EFE, uma das mais respeitadas da imprensa mundial — todo mundo que embarcou na onda da EFE comeu bola. 

Praticamente todos os países que falam Espanhol caíram nessa, mais os sites brasileiros de notícias que não têm jornalistas que falem Inglês...


Imagens: 
http://www.efe.com/efe/noticias/brasil/3
http://www.lne.es/internacional/2015/02/05/motor-incendiado-posible-causa-accidente/1708953.html

Faltó desconfiómetro a la EFE, que cometió uno de los más grandes errores de la prensa mundial de todos los tiempos.

Otro abrazo,

Jeff

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