quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O mau exemplo que vem de cima

Motos despertam o adolescente escondido em cada um de nós, não tenho dúvida.

E como todo adolescente, somos levados a fazer coisas que desafiam o bom senso.


Coisas como essa:



http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2014/10/moto-de-policia-de-360-kg-salta-em-evento-em-sao-paulo-veja-video.html

Saltar em uma rampinha por cima de outros quatro adolescentes policiais com uma moto.

Esse é um resquício de um tempo muito antigo.

Mais ou menos de um século atrás, quando motos eram novidades como aviões biplanos e carroças sem cavalos (não, isso não é do meu tempo), e o pessoal aproveitava para transformar as então novidades tecnológicas em atrações circenses para populações que não tinham nem acesso ao cinema.

Motociclistas oficiais do Exército, Polícia Rodoviária, Polícia Militar e outros órgãos gostam muito de fazer exibições impressionantes de suas habilidades. 

Mas considero que em 2014 seja hora de refletir um pouco:


É ético que entidades governamentais empreguem bens e funcionários públicos (motos e soldados) para serem atração de shows em eventos de marketing de um fabricante de motos?


Exibição no 7 de Setembro é uma coisa, festa cívica, blablablá. 

São Paulo Harley Days é um evento particular com cobrança de ingressos promovido por uma empresa e destinado exclusivamente a alavancar as vendas de motos da harley. 



Anunciaram manobras do Exército, mas foi a PM paulista que deu o show no espetáculo montado com venda de ingressos.

Em outros países, essa participação pública em evento privado seria encarada como malversação de recursos públicos.

Da mesma forma que escoltas da Polícia Rodoviária para passeios promovidos pela harley, como vi acontecer no encontro harley-davidson de Florianópolis de 2012. 


As motos da PRF puxando um comboio de harleyros que não pareciam nada felizes...

Outra coisa:


Essa tradição motocircense faz sentido nos dias de hoje?

É razoável estimular outros adolescentes a repetir essas proezas?


Eles pensarão que são capazes de repetir a façanha, não tomarão os devidos cuidados, partindo direto para saltar sobre vítimas voluntárias tão desajuizadas quanto — em vez de praticar em segurança para só depois colocar em risco os amigos. Sei porque já fui adolescente.

Se é que pode haver segurança para esse tipo de proeza...
Reportagem: http://www.bayfm.com.au/news/local-news/53393-rider-injured-in-stunt-show-crash

Olha como são as coisas, esse acidente aconteceu com um profissional poucos dias antes de esta postagem ser escrita.

Quase a mesma data da exibição da PM em São Paulo.

Os tempos hoje são outros. 


Não considero que haja espaço para circos com animais chicoteados ou humanos em risco de sofrer uma lesão.


Nem para relações injustificadas entre entidades públicas e privadas.

Mas essa é só a minha opinião.


Um abraço,


Jeff

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