sexta-feira, 31 de outubro de 2014

As curvas da estrada de Santos — Adolescência e riscos

Se você pretende saber quem eu sou, eu posso lhe dizer: entre no meu carro e na estrada de Santos você vai me conhecer... é, vai me conhecer...

Você vai pensar até que eu não gosto nem mesmo de mim, e que, na minha idade, só a velocidade anda junto a mim...

Eu só ando sozinho, e no meu caminho o tempo é cada vez menor...

Ah, eu preciso de ajuda... por favor me acuda, eu preciso de ajuda, eu vivo muito só, eu me sinto muito só...

Mas se acaso numa curva eu me lembro do meu rumo, eu piso mais fundo, corrijo num segundo, não posso parar...

Eu prefiro as curvas, as curvas da estrada de Santos, onde eu tento esquecer um amor que eu tive e vi pelo espelho na distância se perder...

Mas se o amor que eu perdi eu novamente encontrar, as curvas se acabam e na estrada de Santos eu não vou mais passar... não, não eu não vou mais passar...


É de Roberto e Erasmo, é de 1969, foi regravada por Lulu, pelo Skank, mas você já ouviu na versão da Elis?

Tudo fica melhor com Elis.


Até o interminável percurso da estrada de Santos.


Mas o motivo desta postagem não é a estrada, nem a canção, mas essa tendência autodestrutiva tão comum entre os jovens e tão bem exemplificada aqui.


Por que esse sentimento de não se importar que a vida possa acabar, quando está apenas começando? 


De onde vem esse impulso que faz com que os jovens se sintam imunes e indiferentes ao perigo? 


De achar que a morte e os acidentes só acontecem com os outros?


Por que os jovens têm essa necessidade de testar os limites dos carros, das motos, das aventuras radicais? Testar seus próprios limites?


Por que arriscar a vida em rachas, dirigir bêbado, fazer superman com a moto?   

Tudo na vida tem explicação, e não tem nada a ver com estas figurinhas aqui...  

Particularmente a morena.

Imagem: vector.me

A tendência ao comportamento de risco na juventude é explicada pela Ciência.

Um estudo 
publicado na revista Developmental Neuroscience, "Teenage Brains: Think Different?" (em tradução livre, Cérebros Adolescentes: Pensamento Diferente?) concluiu que esse comportamento de risco está programado em nossos cérebros e dificilmente poderá ser controlado.

Imagens de ressonância magnética mostraram que cérebros imaturos adolescentes reagem emocionalmente diante de desafios de uma maneira que não se repete após a maturidade. 


Eles também não se intimidam com ameaças de punição e tendem a fazer apostas mais altas do que o razoável.

Por exemplo, ao calcular a chance de sucesso em uma ultrapassagem.

Aparentemente, segundo o estudo, uma determinada molécula (hormônio) fundamental para desenvolver o medo diante de situações perigosas é encontrada em menor quantidade no cérebro jovem do que no cérebro adulto.

É como se o mundo adolescente fosse visto com outras cores, uma realidade mais irreal. Mais próxima à realidade dos videogames, talvez.

Mas qual a utilidade evolutiva desse comportamento potencialmente autodestrutivo?

Darwin explica: 

Para garantir a sobrevivência da espécie, ousadia é fundamental.

Imagine-se vivendo no tempo das cavernas:

A tribo precisava de guerreiros suficientemente audazes para enfrentar bisões e mamutes para garantir o alimento, mas suficientemente inteligentes para evitar serem mortos por eles, e por leões e ursos.

Mas ainda assim, esses guerreiros precisavam ser ousados o suficiente para enfrentar também estes últimos, se fosse necessário defender as mulheres e crianças da tribo.

Somente os mais inteligentes, que soubessem avaliar melhor os riscos de matar ou morrer e bolar estratégias vencedoras, sobreviviam para gerar descendentes.

Esse mecanismo está gravado nas instruções de fabricação de seres humanos. 

Só que hoje nossos leões e ursos se encontram aos milhões, estão em todas as esquinas, são mais velozes e mortais. 

Vemos o resultado nas estatísticas de acidentes nas estradas e no trânsito das cidades.

Em função dessa ousadia inerente aos jovens, incapazes de avaliar corretamente o perigo, talvez o mais prudente fosse não pilotar nem dirigir antes dos 25 anos.

Alguém consegue imaginar uma sociedade assim?

Nem eu. 

Então o negócio é aprender o máximo sobre o mundo para sobreviver da melhor maneira possível às ameaças que estão lá fora da nossa caverna moderna.

Sabendo que essa condição existe, é inerente ao ser humano, é instintiva e acontece com praticamente todos os machos da espécie, você poderá se precaver contra as atitudes irracionais deles no trânsito. 


E as suas também.

Um abraço,

Jeff

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