domingo, 19 de outubro de 2014

A primeira viagem com Edith

Edith e eu nos reencontramos pela internet.

Ela estava lá no orfanato de Americana esperando que eu fosse buscá-la desde o test drive que nós WD±40 fizemos em 3 de setembro de 2011.

Olha só o sorrisão depois de rodar numa Spyder (quase a mesma mecânica que a Fenix, mas estilo chopper)... 

Na foto, o funcionário da loja e os amigos Igor (fumando ao fundo), eu falando com Wandão e Edifrans de capacete, uma amizade surgida por conta de todos serem proprietários de Kansas.

Naquele teste, eu gostei muito da suavidade do motor de arrefecimento líquido e balanceiro eficiente, câmbio preciso e bom desempenho. 

Conforto é fundamental em viagens, e nada mais irritante (para mim) do que pés e mãos dormentes por causa de um projeto de motor que poderia ter sido aperfeiçoado. Nesse aspecto, me dei muito bem com Jezebel e Edith.

Mas o estilo chopper da Spyder testada (que eu acho lindo) não combina muito comigo. 

Sou mais o estilo clássico, elegante, discreto e nada espalhafatoso:

Reparou no tanque laranja? 


Pois é...


Mas de onde veio o nome Edith, você me pergunta?

Sucede que há umas semanas Vinícius e eu divagávamos filosoficamente sobre o nome da moto dele, Agnes.



Mas por que Agnes?, indaguei eu, e Vinícius respondeu:

Por causa da carinha de "me leva" que ela fazia na loja, disse ele.


Contra-argumentei que se uma das meninas daquele filme tinha cara de moto, essa era a Edith:


Ela não dá bandeira, e fica só esperando a hora certa de aprontar alguma contigo para zoar da tua cara. 

Como todas as motos.

Bem, não deu outra.

Edith Giovanna (é, tem nome e sobrenome) se revelou muito brincalhona e não se cansa de fazer o seu dono (eu) pagar micos.

Começou logo de cara com aquele negócio de não dar partida com o cavalete lateral abaixado. 

Já perdi a conta das tentativas que deram em nada, e ela sempre rindo da minha cara.

Logo no primeiro dia, Edith sumiu com uma das chaves. 

Recebi as duas, mas tive que vir embora de lá apenas com a chave reserva, a original se recusou a aparecer. Já fiz cópia!

Artes de Edith.

Mas ela aprontou mesmo foi na primeira manhã, ainda em Campinas.

Fui dar partida e nem sinal, não acendeu nem a luzinha verde do painel.

Lembrei e levantei o cavalete, e nada de acender a luzinha.

Dedução lógica: a moto ficou muito tempo parada na concessionária, a bateria tinha ido para o espaço, eu teria que comprar outra (pensei eu...).

Mas era domingo, nenhuma loja aberta. 

Resignado, fui tentar fazê-la pegar no tranco, mas não consegui manobrar no pátio, ela estava engatada. 



Tirei da marcha e OH!!! 

Não é que a luzinha acendeu e ela pegou de primeira?


Por favor, não conte pra ninguém... é muito humilhante.

Pegamos a estrada, e conseguimos fazer 250 km até o primeiro reabastecimento sem que ela pedisse reserva. 

O tanque é de 10 litros mais 2 de reserva, e a média de consumo inicial deve ficar perto dos 25 km/litro, então tudo dentro dos conformes.

A viagem seguia no seu normal, sempre em velocidades de 1,0 jezebel (85 km/h reais já durante o amaciamento, velocímetro muito preciso calibrado nas lombadas eletrônicas), e os acontecimentos de praxe:

O cara da esportiva que passa tirando fina só para provocar, as fechadas rotineiras, as paradas para descansar e esfriar o motor, o cara que vem fazendo ultrapassagens na contramão como se você não existisse (Dedo médio, eu escolho você!).

Tudo dentro da rotina quando de repente, não mais que de repente, após rodarmos apenas 205 km com o novo tanque, a moto cortou o motor de repente (eu falei que foi assim de repente?)


Só podia ser algo muito grave para cortar assim; a autonomia não ia mudar tanto de um tanque para outro; certamente era um problema de ignição (pensei eu...)

Se fosse pane de combustível, com dois carburadores, um cilindro ia começar a falhar antes do outro, o motor iria ratear, mas nunca iria apagar os dois de uma vez (pensei eu...).

E eu no mato sem cachorro, sem gato e sem ferramentas. Pensei em levar e não levei porque viriam novas na moto. Não vieram, esqueci de conferir antes de sair da loja(Nota mental: Lembrar de conferir as notas mentais.)

Bem, panes em viagem fazem parte da aventura.

Cabeça fria, comecei a pensar o que poderia causar uma pane que cortasse a ignição e não precisasse de ferramentas para resolver, e foi aí que lembrei da famosa má fama do mau contato do interruptor do cavalete lateral.

A mola do cavalete lateral é suave, então pensei: basta que o cavalete se afaste um pouco para o interruptor cortar a ignição!

Bati com o pé no cavalete, dei partida, e BINGO!

Motor pegou e fui embora, feliz da vida, só para a felicidade acabar depois de uns 2 quilômetros, motor apagou de novo.

Humm... vou ter de recorrer a medidas mais drásticas, pensei eu. 

Imobilizei o interruptor com fita isolante e laça-gato para garantir que não abrisse indevidamente, dei na partida confiante que o problema esta resolvido, e nada, nada, nada...

Bom, agora só me restava arranjar uma carona para levar a moto até uma oficina e... PÉRAÍ!!! 

Não tentei abrir a reserva da gasolina... será que por acaso... 

E não é que a danadinha (me) pegou de novo!!!

Pelo sim, pelo não, completei o tanque e como já era o pôr do sol, pernoitei no hotel da cidade mais próxima, Jacupiranga. 


Na manhã seguinte rodei um pouco pela cidade para ver se estava tudo bem, e era mesmo só uma pane de pegar novato pato pegadinha da Edith.


Primeira contribuição de Edith para o blog: 

Abastecer a moto apoiada no cavalete lateral rouba dois litros da capacidade total do tanque.


Lance pitoresco:

Antes de sairmos do hotel, logo após o café da manhã, jaqueta e capacete no quarto, estava eu conferindo o nível de óleo da Edith quando o motorista do caminhão de lixo passa e grita para a única pessoa nas imediações:

— QUÉ IR PRA CADEIA???


É, falou olhando pra mim!!! 

Decididamente, as pessoas não sabem apreciar meu visual descolado. (Nota mental: Reformar o guarda-roupa urgentemente.) 

A v
iagem seguiu redonda durante todo o dia, com direito a troca de óleo em Curitiba (será tema de postagem exclusiva) até chegarmos em São José/Floripa, quando a chuva e a escuridão nos esperavam na entrada da cidade. Eeeeehhhhh!!!!

E foi aí que eu lembrei que a primeira coisa que me chamou a atenção já na foto da Edith antes de ir buscá-la era que o farol estava muito baixo, até fiz uma nota mental para corrigir isso na loja antes de sair. (Nota mental: Não confiar em notas mentais.)


E então Edith aprontou a última da viagem, me levando direto para um aguaceiro que mais parecia a Lagoa dos Patos. 


Hummm... será que ela pensou conscientemente nisso, ou estava só brincando?

O fato é que essas experiências com essa nova moto estão sendo ótimas para relembrar tudo aquilo que foi dito aqui no blog.

E o divertido é constatar que podemos ficar mais velhos e experientes, mas as motos sempre acham um jeito de nos dar uma sacaneadinha.


É muito legal poder compartilhar esses micos, porque são lembretes de como pequenas coisas podem se tornar grandes complicações ou boas histórias para contar.


A reposição do óleo durante a viagem é um desses casos, um novato poderia fundir o motor com menos de 1000 km fazendo o amaciamento na estrada sem conhecer as manhas. Isso será contado na outra postagem.  

Motos têm alma, já dizia o seu Soichiro.


E adoram uma sacanagem, é o que eu digo.


Agora é só dar um jeito para que Agnes e Edith se encontrem. 

Quem sabe no mês que vem?

Um abraço,

Jeff

2 comentários:

  1. Não quero nem imaginar o motivo do cara do caminhão de lixo ter gritado...

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  2. Ô loco!
    Eu só estava montado nela... péraí, não do jeito que você pensou...
    Libidinagem somente entre quatro paredes.
    No quarto ou na garagem, vale tudo.

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