quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo - Parte 4 de 5

Mas quais problemas sua moto terá por rodar com o mínimo do mínimo de óleo?

Todos que você possa imaginar.

O primeiro sintoma de uma moto rodando com pouco óleo é o motor barulhento. Barulho é sinônimo de desgaste, quanto mais barulhento um motor, menor sua expectativa de vida útil.

O segundo sintoma de um nível de óleo baixo é o motor trabalhando muito quente. Você passa a ter dificuldade de achar o neutro e mudar as marchas porque o óleo não está lubrificando direito o câmbio. 

Todo câmbio deve funcionar com suavidade, não seja tapeado com a desculpa de que "essa moto é assim mesmo".

Ao trabalhar com pouco óleo, o motor não é arrefecido ("refrescado") como deve. Trabalhando mais quente do que o normal, o óleo perde a viscosidade ("afina") e não lubrifica direito.

As primeiras a sentir o efeito serão as engrenagens do câmbio, porque o óleo fino não manterá uma película lubrificante entre os dentes, e o desgaste será rápido. Seu câmbio começará a roncar em um ano ou dois.

O cilindro se desgastará mais rapidamente por conta do atrito exagerado dos anéis do pistão. Sobrará para o proprietário fazer a retífica do motor a cada 50 mil km. 

Retífica que não precisaria ser feita até os 150 mil km.

O comando de válvulas também logo estará desgastado e barulhento, a moto perderá rendimento e se tornará uma beberrona. Por desgosto de viver. 

Outro que sentirá o efeito será o alternador. As bobinas de fios de cobre do estator precisam trabalhar em banho de óleo porque não podem ultrapassar uma determinada temperatura, senão o verniz isolante se queima e começa a ocorrer curto-circuito entre as espiras.

Esse problema é crônico nas yamaha XTZ 200 e os donos descobriram que colocando mais 200 ml por conta própria o problema desaparece. 

Eles nunca imaginaram que na verdade estavam apenas colocando a quantidade certa de acordo com o procedimento do manual do proprietário.

Neste momento sua dúvida provavelmente é:

"Mas eu sempre ouvi dizer que não posso colocar mais óleo do que o recomendado".

Isso será respondido na postagem de amanhã, a última desta série, prometo.

Mas atenção:


As medições de nível de óleo podem variar muito de uma troca para outra.


E essa é a desculpa que eles dão para não dizer que a quantidade correta de óleo para seu motor é simplesmente 1,x litro.


Em vez disso, eles usam a fórmula 1 litro + complete conforme necessário, o que acaba unindo o útil desgaste do motor ao agradável aumento das vendas de peças.


Essa variação de quantidade de uma troca para outra acontece porque tudo depende das condições em que as trocas são feitas.

O procedimento certo para a troca de óleo seria ligar o motor e deixar a moto se aquecer por alguns minutos antes de escoar o óleo, e aguardar algumas horas para que todo o óleo preso no cabeçote descesse e fosse escoado. 

Mas você sabe como é oficina, né?


Imagem:http://sideburnmag.blogspot.com.br/2011/02/shrine.html do filme Desafiando os Limites

Fazer uma troca rápida sem perda de tempo, tipo pit stop, irá reter óleo velho preso no cabeçote (e você não perceberá uma diminuição significativa no nível mesmo colocando apenas a quantidade recomendada).

Já uma troca feita com o motor frio, típica de concessionárias (você deixa a moto de manhã para pegar no fim da tarde, e eles fazem a troca só depois do almoço) permitirá escoar 100% do óleo dentro do motor, mas as impurezas irão assentar no cárter.

Nessa brincadeira, 200 ml de diferença (em um motor de 1 litro) entre uma troca e outra são normais.

Observe que as duas condições de troca são ruins:

- Na primeira, você fica com o nível próximo ao correto, mas continua com óleo velho e com as qualidades lubrificantes prejudicadas dentro do motor;

- Na segunda, a sujeira proveniente do desgaste dos componentes assentada no cárter não é removida de dentro do motor, voltando a circular com o motor em funcionamento e agindo como uma lixa para reduzir sua vida útil.

Ambas as condições contribuirão para que seu motor bata com as cinco, mas tem coisas que não tem jeito, temos que optar por uma ou por outra, a menos que você se disponha a fazer a troca você mesmo e deixe o óleo quente escoando na véspera para abastecer pela manhã.

Como nunca haverá certeza quanto às condições em que será feita a troca na oficina, é fundamental verificar e completar o nível de óleo do motor no dia seguinte para garantir que você não sairá no prejuízo no médio prazo.

Mas tem outro macete terrivelmente eficiente para você mesmo destruir sua moto:


Com a desculpa ecologicamente verde de defesa do meio ambiente, eles dizem que sua moto pode passar a usar óleo mais fino e por mais tempo.


Só que esqueceram que estão falando para fazer isso em motos que usam exatamente o mesmo projeto de motor há quase 40 anos.


Se não mudou o motor, então mudou o óleo ou mudaram as leis da Física?

O óleo sintético lubrifica melhor, isso é fato, mas não faz milagres.

E não pense que esse aumento de quilometragem tem a ver com óleo sintético não, essas quilometragens foram ampliadas muito antes da adoção do sintético como poção mágica da eterna juventude.


Essas sempre foram as quilometragens para troca usadas no Japão. A fábrica no Brasil é que tinha o bom senso de recomendar a troca mais frequente, porque os engenheiros capacitados de antigamente sabiam que recomendar uma troca tão espaçada seria uma encrenca capaz de prejudicar a imagem da marca.

(Engraçado, não é exatamente isso que está acontecendo hoje? Estão usando a mesma viscosidade que no Japão, onde até cai neve, com o mesmo espaçamento, e todo mundo está reclamando que a moto não dura nada. Por que será, hein?) 

Qualquer um pode ver o estado em que se encontra o óleo que sai do motor aos 1000 km; e aí o fabricante vem e diz que você pode rodar com aquela água suja por mais 2 ou 3 mil km.


Óleo sujo e sem viscosidade não lubrifica. Só serve para uma coisa: acelerar o desgaste do seu motor.


Ah, também tem outra utilidade:

Quanto mais rodada a moto, maiores as folgas internas, o óleo fino volta mais rapidamente para o cárter: fica mais difícil descobrir que o nível está abaixo do ideal...

Fale com as pessoas, você vai descobrir que os casos de motores destruídos de motos consagradíssimas estão pipocando nas concessionárias.


E as garantias são negadas, alegando mau uso da moto. 


Em alguns casos, isso até é verdade. A garotada não respeita o período de amaciamento do motor e sai exigindo tudo que ela não pode dar. Aí o motor acaba mesmo, bem feito para o cupim de ferro.


Mas você também encontrará muitos, muitos casos de proprietários que usaram as motos em condições absolutamente normais e o motor acabou no finzinho da garantia, depois de apenas 1 ano, 1 ano e 2 meses.



  • Óleo muito fino para nosso clima, 
  • Intervalos de troca excessivamente grandes, 
  • Motos sem óleo suficiente....

Nada é mais eficiente para destruir seu motor com a desculpa de preservação do meio ambiente.

O que polui mais o planeta, reciclar o óleo, ou reciclar milhões de motocicletas?


Pois é, donas montadoras (de carros também), é só pensar um pouquinho para ver que essa desculpa de preocupação com a defesa do meio ambiente não cola, é só marquetingue barato.


Barato para elas, bem caro para nós consumidores.


Defenda-se. Procure saber mais. Pesquise. Comprove.

E se quiser deixar de usar o óleo sintético e passar para o mineral, saiba os cuidados importantíssimos que essa mudança exige para não prejudicar ainda mais seu motor.

Nunca misture óleo mineral com restos de sintético!

Um abraço,


Jeff

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