sexta-feira, 4 de julho de 2014

Walter Mitty 2 — A Missão

Estava eu novamente sem micro por 48 horas nesta segunda-feira quando pensei, por que não?

Troquei o óleo (da moto), esqueci de passar no banco e terça de madrugada (madrugada mesmo, cinco e quinze da manhã — e olha que levei mais de uma hora para vestir a roupa de frio) já tinha saído da BR-101 para pegar a BR-282.

Tudo bem, no primeiro posto da BR-282 devia ter um caixa 24 horas.

Se tinha, eu não sei, porque ao contrário dos postos de capitais, a maioria dos postos nas estradas estaduais (e algumas federais, como a BR-282) não são 24 horas. 

Eu não acordei tão cedo para ficar parado 45 minutos esperando o posto abrir (se é que ele abriria às 6...).

Com uns 35 reais no bolso mais o cartão, abasteci no primeiro posto aberto que encontrei e me mandei. Esconder dinheiro no tanque de gasolina é para os fracos, o negócio é se mandar sem grana mesmo.

A intenção era curtir a geada e possível queda de neve em São Joaquim (lembra do roteiro daquela viagem tão planejada?) 

Saí superencapotado: 

Meião, calça de lycra daquelas vergonhosas, mais meias comuns, mais um par de joelheiras nas panturrilhas, mais um moletom aveludado e por cima de tudo uma calça de jeans grosso. Esqueci alguma coisa? Ah, sim, aquela de quem não se deve falar o nome por baixo de tudo (e mesmo assim, o coitadinho quase virou picolé).

Para agasalhar o peito, camiseta regata preta por baixo da camiseta preta por baixo do agasalho de moletom preto mais a jaqueta de couro forrada, adivinha a cor?

Por via das dúvidas, levei no alforje mais uma blusa de lã grossa (just in case). E para me garantir mesmo, uma forração de material sintético para manter o peito aquecido.

Nas mãos, sanduíche de luvas de segunda pele, luvinhas de lã e luvonas térmicas — não aquelas do teste, mas bem mais quentes com cobertura de nylon, impermeáveis. 

Bom, seriam impermeáveis se tivessem aguentado 15 dias, porque se encheram de rasgos e elas terminaram de abrir o bico no caminho. Foram devidamente abandonadas em São Joaquim e substituídas pelas luvas de couro de reserva no alforje (old monkey strikes again).

Só que agora eu iria por um caminho diferente, a SC-108.


No mapa, a SC-108 serpenteia paralela à BR-101 rumo ao sul, acompanhando um rio que deve ter paisagens magníficas. Depois seria só subir a Serra do Rio do Rastro (em vermelho) até São Joaquim, pernoitar por lá e descer no dia seguinte, voltando pela BR-101.

Bom, esse era o plano.

Old monkey calejado que sou, perguntei no posto como era a SC-108. 

— Asfaltada somente até Anitápolis, depois mais 40 km de chão batido. 

Perguntei se pelo menos o chão era bem batido. Resposta: 

— Olha, o pessoal reclama que é muito ruim.

Corvo Branco de novo? Nem pensar.

Mudança de planos instantânea, a perspectiva de pegar a BR-101 e ter de atravessar os paramentos (congestionamento anda) do Morro dos Cavalos e depois da ponte de Laguna, hã hã... fui pelo mesmo caminho da outra viagem, via Urubici.

A segunda parada foi não programada. Nem tinha começado a subir a serra e o frio já estava pegando. 

Hora de tirar a blusa de lã do alforje. Maior luta para fechar a jaqueta sem enxergar o zíper, deviam inventar barrigas planas.

A terceira parada (que era para ser a segunda) foi no Paradouro Battistella em Alfredo Wagner. Estava tão contente por parar para tomar aquele café com pão de queijo que já cheguei no saguão de entrada dando o maior peixinho.


Imagem: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/esporte/2014/04/13/marcelo-pode-se-juntar-a-cronaldo-e-desfalcar-o-real-na-copa-do-rei.htm

Foi tão bonito que os autorizei a postarem no youtube, deve estar batendo recorde de  visualizações.

O restante da viagem seguiu tranquilo sem maiores surpresas.

Lembra que para chegar a Urubici você sobe a serra em segundona? 

Pois é, para sair de lá você sobe em primeirinha mesmo.

Vale a pena parar no primeiro mirante, você tem uma vista privilegiada de todo o vale e da bonita cidade de Urubici. 

Mas tome cuidado, porque ele fica numa curva bem fechada em uma descida muito íngreme, então você não tem visão para atravessar a pista na hora de entrar e sair do mirante. 

Acho que assustei um motorista de caminhão e sua carga de tomates, estavam todos pálidos.

No caminho, chamam a atenção uma cascata em miniatura e estranhos alinhamentos de pedras empilhadas formando figuras geométricas, outras correndo paralelas como se fossem pistas de um aeroporto não convencional apropriado para naves de tecnologia desconhecida.

Minha teoria foi confirmada quando passamos por uma de suas naves ultratecnológicas pousada bem ali na beira da estrada:

Imagem: http://cuscosdoasfalto.blogspot.com.br/2013_07_01_archive.html   

Blog de viajantes que fazem turismo com uma moto de pequena cilindrada, provando que você não precisa de uma superestradeira para conhecer esse mundão; vale a visita.

Até então o tempo estava bom, mas foi só chegar perto de São Joaquim (mais ou menos na altura da ponte sobre o rio Vacas Gordas) para descer um nevoeiro úmido e gelado. 

Depois de algum tempo as canelas tinham virado picolés e a única coisa que eu pensava era em chegar a São Joaquim e comprar meiões de lã...

Queria ter fotografado as placas:


ATENÇÃO GELO NA PISTA

CUIDADO GELO NA PISTA

ATENÇÃO CUIDADO GELO NA PISTA

Não se vê muitas dessas por aí...

Chega um ponto em que a estrada se bifurca, à direita o caminho para a cidade a uns 20 km, à esquerda o caminho para a Serra. 

Como comprar meiões, encher o tanque e não barbarizar a mãe natureza eram as prioridades, lá fomos nós.

Mas isso só vou contar amanhã.

Um abraço,

Jeff

2 comentários:

  1. Jeff, boa tarde!
    Sou nova no ramo, não faço a menor ideia de como vim para no seu blog... Faz um tempo que estou "devorando" as postagens... Agora que já li tudo por aqui, passo todos os dias (ou quase todos) para saber das novidades!
    Seu blog é espetacular, sua escrita é excelente! Com toda a certeza vim até aqui pra tirar alguma dúvida "boba" e agora não saio mais! Suas dicas são super válidas, ainda mais pra quem não tem prática/conhecimento sobre as duas rodas!
    Parabéns!

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    1. Obrigado, Emanuela!
      Depois de quase um ano e meio, encontrei seu comentário. Bom, como diz o Vinícius, antes tarde do que muito mais tarde, né?
      Tudo de bom,
      Jeff

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