domingo, 6 de julho de 2014

Walter Mitty 2 — A Missão — Parte última, prometo

Bom, depois de fazer as curvas mais sensacionais que podem existir nesse mundo, sem grana e cansado eu desisti de subir para pernoitar em São Joaquim e resolvi voltar direto pela BR-101. 

A perspectiva de ter de tirar toda aquela roupa e ter de vestir no dia seguinte foi mais desanimadora do que a chance de nevar naquela noite.

Além disso, ficar sem trocados para pagar alguém sem máquina de cartão, tipo um mecânico ou borracheiro numa emergência, me deixava cabreiro.

Então o caminho final ficou assim:



Exatamente o percurso planejado desde o início...

Desci a Serra e fiz paradas, a melhor delas na simpática São Ludgero, onde comi um bolinho bolão de carne da hora.

No paramento da ponte de Laguna, resolvi que não ia pegar o corredor. É muita tensão passar entre os caminhões e ônibus com os espelhos e o guidão largo da Kansas. 

Acabei me encaixando entre dois caminhões e ali fiquei, comprei uma garrafa de água de um ambulante e consegui beber sem tirar o capacete (é robocop, mas o mecanismo basculante da minha queixeira emperrou faz tempo).  

O motorista do caminhão atrás de mim não conteve a curiosidade, desceu da cabine, avisou que a coisa ia demorar muito e me perguntou se eu não ia pegar o corredor.

Aí eu tirei o capacete e expliquei que estava sem pressa, cansado, e era perigoso atropelar alguém circulando pela pista.

Dito isso ele foi até o acostamento fazer não sei o quê (nem quero imaginar), voltou e se ele não fosse rápido em pular pra trás, era atropelado por um motoqueiro à toda no corredor. 

Pois é... se eu pego o corredor e vou em uma velocidade compatível com o corredor mais traiçoeiro, felizbões como esse ficariam atrás me pressionando (epa!).

Mas o fato é que a coisa não andava mesmo, então me arrisquei a ter outra surpresa desagradável no final do ano e avancei o quanto pude, até me encaixar de novo entre dois caminhões.

À minha frente, aquele maravilhoso exemplar de filosofia caminhoneira:

ELOGIOS NÃO ME ELEVÃO

CRÍTICAS NÃO ME REBAICHÃO

Enquanto filosofava a respeito da profundeza da profunda profundidade daquele pensamento, engatei a primeira para sair dali e CLAC VRUM! O.o?

Lembra que na outra viagem a haste do câmbio estava pulando fora e eu resolvi com uma gambiarra provisória solução técnica emergencial com fita isolante? 


Pois então, o macete ficou tão bom que durou até chegarmos na BR ontem
, agora a haste do câmbio escapou (pensei eu).

Fui conferir... e desta vez não estava só desencaixada: a ponta continuava no lugar, e o resto da haste do câmbio penduradona.... 

Conferindo rapidamente no meio do trânsito, deduzi que estava quebrada antes da articulação traseira. 

Oh puck, puck!


Ela já havia sido soldada na dianteira, no meio e agora tinha chegado a hora do último reforço... bem no meio da BR-101 e bem na hora de atravessar a longa ponte de Laguna.

A cidade e qualquer esperança de socorro ficavam do outro lado da ponte, tínhamos que conseguir chegar até lá para procurar algum reparo. Mas eram 17:20, eu já estava considerando a possibilidade de pernoitar por lá e procurar alguma oficina no dia seguinte.

Ou macgyverzar um câmbio suicida, sei lá...

Felizmente a segunda marcha da Kansas é uma cavala, você consegue sair com ela até em ladeirinhas. E até 40 km/h ela vai, então coloquei em segunda com a mão, acionando diretamente o eixo do câmbio, e me mandei.

Passei pelas viaturas e agentes da PRF com a maior cara de pôquer e amarrei o trânsito — sorte que no trecho da ponte e depois da pista em obras a máxima estava limitada a 60 km/h — e segui até conseguir sair da pista e parar numa pequena oficina por sorte a 100 metros da rodovia. 

Obviamente ele não tinha uma peça de reposição (meu comando é avançado, a haste não é padrão comercial) nem máquina de solda, mas o serralheiro do outro lado da avenida tinha.

Lá fomos nós, expliquei a situação e foi então que paguei o maior mico da minha vida até o momento. Por favor, não conte pra ninguém. Se algum amigo Daniel ficar sabendo, serei zoado pelo resto da vida...

O que parecia quebrado estava só desparafusado... foi só parafusar e apertar a contraporca e o câmbio estava novamente 100% funcional. 

Fiquei tão contente por ter poupado uma noite em hotel e mais um reparo demorado com trabalho me esperando no dia seguinte, que catei todo o dindin que havia sobrado e fiz questão de pagar pelo serviço. Eu não tinha uma chave tão pequena no jogo de ferramentas mesmo...

Problema nenhum em rodar completamente sem grana, não teria outros gastos, o único pedágio na divisa de Palhoça estava desativado e a passagem estava livre....

Retorno para casa sem incidentes, parada no Graal de Imbituba para dar risada do preço da refeição a 44,90 o kg (fala sério, aqui no sul você come 1 kg só de carne assada por 20 mangos...), me arrepender de comer um péssimo folhado de carne e soja vendido com o nome de filé com cheddar, e pagar no cartão.

Foi chegando no pedágio que eu lembrei, o pessoal tinha reativado o pedágio na semana passada, oh, puck, puck, puck, mil vezes puck!

Confiro todos os bolsos e nada, nadica de nada.

Resolvo ir em frente e tentar um c.cola, na pior das hipóteses ia ter de voltar para a cidade mais próxima e torcer para achar um banco 24 horas, talvez pernoitar (onde foi que vi essa cena antes?)

Por sorte, na última conferência desesperada, havia algumas moedinhas esquecidas num dos bolsos da pochete, deviam estar lá desde a guerra do Golfo. Salvos!


Quase chegando na cidade, vejo um cara no acostamento, empurrando uma moto morro acima. 


De noite e morro acima, se eu não parasse ia me sentir culpado pelo resto da vida...

Adivinha o que era?


— Não sei, o motor apagou de repente!


— Ela tem gasolina?


— Acho que tem, ela não pediu reserva!

— Abre e balança o tanque para a gente ver.

Dou uma espiada e o tanque estava pior que os meus bolsos.


— A alavanca estava para cima ou para baixo?

— Pra cima...

Pois é, atire a primeira pedra quem nunca pagou esse mico.

Jezebel doou um pouco de gasolina para a companheira (sempre carregamos uma garrafinha vazia) e resolveu o problema.

Falei para ele seguir, se parasse de novo eu o alcançava, ele agradeceu e foi embora. Nem deu tempo de eu botar as luvas, encostou a viatura de resgate da Autopista. Fiquei impressionado, não tínhamos ficado nem 10 minutos ali.

Para finalizar, a placa que eu queria ter fotografado:


Aí foi só aterrissar em casa lá pelas oito da noite.

Esqueci alguma coisa?

Ah, lembrei. Mas serão temas de postagens exclusivas.

Um abraço,

Jeff
PS: Quando contei quase todos os detalhes da viagem para o amigo Daniel, ele me disse que a vista mais bonita da serra do Rio do Rastro é subindo.... 

Olha só que coisa, vou ter que voltar para lá, fazer o quê, né? ;)

Nenhum comentário:

Postar um comentário