terça-feira, 8 de julho de 2014

Tudo se repete, ó maninha, como antigamente...


Em 1971, caía a tarde feito um viaduto. 

Era o elevado Paulo de Frontin, em construção no Rio de Janeiro, uma obra do pacote de obras que o governo implantava às pressas para mostrar a eficiência do modelo imposto para acelerar a economia, e agora você entende melhor a referência à ditadura que João Bosco, Aldir Blanc e Elis Regina ousaram dizer naquela música.

Caiu sobre um ônibus e vários carros, deixando dezenas de mortos. 


Em uma época onde as notícias eram censuradas, onde epidemia de meningite não podia ser noticiada para não mostrar uma imagem do país que não interessava aos ocupantes do poder, nem a ditadura militar conseguiu impedir que a notícia corresse o Brasil e o mundo.


Jornais, revistas e TVs cobriram essa tragédia, e várias outras, dando ampla cobertura.  


Salto no tempo:


Em 2014, o viaduto Guararapes em construção em Belo Horizonte caiu sobre um ônibus e alguns carros, por poucos segundos não caiu sobre um ônibus lotado.


Era uma obra do pacote de obras que o governo implantou às pressas para mostrar a eficiência do modelo adotado e acelerar a economia.


A queda do viaduto foi menos noticiada e comentada que a contusão do Neymar. O fato de o outro viaduto vizinho do mesmo pacote ter a estrutura abalada no início do ano, necessitando reparo antes da conclusão, foi menos noticiado que a eleição do Fuleco.


Dois "milagres econômicos", dois governos de visões políticas opostas, mas a mesma sanha dos empreiteiros pelas verbas públicas e poder político, às vistas do olhar indiferente da nação.


A mesma irresponsabilidade de gente mais interessada em abocanhar o que puder e entregar apenas o suficiente para as obras se manterem de pé. Ou nem isso.


A lua, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel, e a referência da todo poderosa globo ao assunto, comparada com os tempos da ditadura onde não se podia noticiar as coisas, seria risível — se o assunto admitisse qualquer riso.

Num país onde a maior parte da propaganda em rádio e TV é paga pelos governos federal e estaduais, onde os amigos do poder negociatam às vistas e às custas de todos, não interessa ir a fundo na maneira como as coisas são feitas nos corredores dos palácios do gigante eternamente adormecido em berço esplêndido, carcomido e podre.


De qualquer forma, as pessoas na sala de jantar estão ocupadas apenas em nascer e morrer. E torcer pelo Brasil...


Não adianta esperar pelo Henfil ou pelo irmão do Henfil.

Eles morreram, vítimas da saúde pública.


A este bêbado trajando luto só restam as irreverências mil. 


Que noite, meu Brasil. Que noite...

Jeff

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