quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A hora certa de trocar o óleo do motor — Parte 2

Continuando a conversa de ontem:

Então toda moto de motoboy dura bastante?

Depende de quem é o motoboy e de onde ele mora...

Olha como a coisa é traiçoeira:

Táxis (carros ou motos) de grandes cidades (= grande movimento) são eram conhecidos pela durabilidade de seus motores no tempo em que não havia tantos engarrafamentos — como eles são bastante solicitados, então estão sempre com o motor aquecido e antigamente rodavam em velocidades normais.


Já táxis (carros ou motos) de cidades pequenas não têm esse benefício, porque as corridas são comparativamente poucas e curtas — então eles se enquadram na condição de uso severo, porque as corridas são sempre feitas com o motor frio.
  
E os viajantes?

Aí vai depender da moto.

Todo o raciocínio que foi feito ontem vale para motos de pequena cilindrada, como 125/150 e 225/250, porque na estrada o motor delas trabalha quase no limite. 


O motor de quem tem moto pequena e é viajante tem uso severo porque é mais exigido, apesar de o motor trabalhar na maior parte do tempo corretamente aquecido.

Rodar quase sempre em quinta marcha permite o menor consumo de combustível porque a cada rotação do motor a roda traseira percorre uma distância maior e você não tem que ficar variando muito a rotação do motor. 

Em compensação, o motor passa o tempo todo fazendo o máximo de força para vencer a resistência do ar, e por causa da alta rotação o motor realiza mais ciclos a cada minuto.

As explosões são mais intensas (você está jogando mais gasolina dentro do motor), o que aumenta a temperatura média do motor.

Tudo isso maximiza o consumo de óleo — apesar de ser proporcionalmente menor do que com o motor frio, ele é constante durante todas as várias horas de duração da viagem.

Já motos maiores, de 500/600 para cima, trabalham em condição menos severa, porque você roda à mesma velocidade, mas o motor trabalha com giros mais baixos — você tem motor sobrando.

O leitor Deivisson Nobre relata sua experiência (adaptei o texto, a mensagem original está nos comentários da postagem de ontem):

manual da kawasaki ER-6n pede para trocar o óleo a cada 6 mil km, mas como ele usa a moto na cidade, geralmente faz a troca a cada 4 ou 5 mil km, quando a moto é usada mais em viagens.

Na viagem que fez para o Chile, ele rodou em torno de 500 km por dia e deixou para trocar o óleo na volta ao Brasil, após quase 7 mil km.

O uso foi por regiões mais frias, somente em estrada, e com velocidade em torno de 120 km/h, o que corresponde a um pouco mais da metade do conta-giros do motor.

Acabou que o óleo saiu com aspecto muito melhor do que quando ele faz a troca com 4 mil km usando mais em trajeto urbano na cidade.

Ele não deixou de repor o óleo consumido durante o trajeto, e o consumo também foi menor do que no uso urbano ou severo.

Moto esportiva de verdade, carenada acima de 250/300 com potência sobrando no motor, é o mesmo caso das estradeiras com a diferença de que elas são mais felizes em autódromos, onde podem ser levadas ao limite com menos riscos para o piloto e sem riscos para o trânsito.

Então para as motos pequenas o verdadeiro uso severo do motor ocorre nas duas condições extremas: os pequenos trajetos com paradas longas, e as longas viagens com paradas curtas.

Rodar o dia inteiro em tráfego urbano é o uso mais comum para o qual as milhões de motos de pequena cilindrada foram projetadas.  

Então eu te pergunto, qual a porcentagem de usuários dessas milhões de motos de pequena cilindrada que é motoboy e qual a porcentagem de usuários que usa a moto na primeira condição, a de ir apenas para o trabalho ou escola, e passeios curtos nos fins de semana?


Pois é...


Estes últimos são justamente a imensa maioria dos proprietários, e que acabam sendo prejudicados por desconhecer esse critério porque tudo de ruim que pode acontecer com seu motor acontecerá.


1) Iludidos de que fazem uso normal leve, na verdade fazem uso severo e não reduzem os prazos de troca de óleo e filtro e demais manutenções.

2) O proprietário já coloca menos óleo do que deveria, induzido pelo número mágico da quantidade recomendada pelo fabricante; ele não lê a frasezinha que manda verificar e completar, e acaba pagando o pato...

3) Rodando com óleo baixo, o consumo é aumentado, coisa que ele não percebe quando a moto é nova — mas depois de pouco tempo, as folgas do motor aumentam e o óleo começa a desaparecer do cárter muito mais rapidamente do que ele estava acostumado.

4) Iludido de que nunca precisa conferir o nível de óleo no período entre trocas, porque ele sempre durou os tais 1000 km sem precisar de reposição (é o que ele pensa, na verdade não durou, o dono é que nunca descobriu) (olha quanta gente que fala que na hora de escoar o óleo saiu bem menos de 1 litro... e não percebe o quanto isso é danoso).

5) E tudo isso estourando a quilometragem que o óleo aguentaria nessas condições de alta contaminação e desgaste acelerado do motor...

O resultado é que esse motor caminha a passos largos roda aceleradamente rumo à retifica.
Cabeçote de motor de carro com borra por falta de troca de óleo.
Essa gosma aí um dia já foi óleo.
Motor de moto não é muito diferente.
Imagem e reportagem: http://www.carrosinfoco.com.br/carros/2012/07/carbonizacao-sem-misterio-e-sem-polemica/

Essas informações sobre uso severo não são ditas no manual, e os fabricantes de motocicletas deixam para o proprietário leigo e desinformado descobrir por conta própria que o uso que ele faz é severo.

Mas como esse conceito é contra-intuitivo, ninguém que roda apenas de casa para o trabalho e do trabalho para casa considera que seu uso seja severo — ninguém descobre e só fica dando grana para a oficina.

Como não fez curso técnico de mecânica ou motores, o usuário dança.

Essa omissão de informações dos fabricantes acaba fazendo com que muitos proprietários tenham maiores gastos com a manutenção da moto em muito menos tempo.

Se o fabricante dissesse "troque o óleo a cada 1000 km em condição de trajetos curtos diários e viagens prolongadas, ou a cada 2000 km em condição de uso profissional intenso, repondo diariamente o óleo consumido", ninguém estragaria o motor...


Curiosamente, ao adotar o critério de indicar o período mais longo... bom, você entendeu a ideia.


Um abraço,

Jeff

8 comentários:

  1. Pois é... Uso minha moto diariamente para ir ao trabalho, 73 Km, desses cerca de 60 Km são em estrada. Na estrada rodo a cerca de 6.500/7.000 RPM. Este regime de uso pode ser considerado severo? Sempre considerei que o regime de uso da minha moto era normal. A moto é uma Fazer 250, uso óleo mineral (20W-50), e realizo as trocas conforme indicação do manual, a cada 5.000 Km, sempre verificando o nível do óleo da maneira correta, e repondo conforme o caso. Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quem vai verificar isso é vc mesmo Luiz. Eu considero uso severo em estrada quando a velocidade que vc anda na estrada faz a moto trabalhar praticamente no limite de giros do motor ou quando se nota que realmente se está forçando o motor que passa a consumir mais e vibrar demasiamente, motor consumindo mais óleo do que o normal.

      Excluir
    2. Olá, Luiz e Deivisson
      Eu ia responder quase o mesmo que o Deivisson falou, acrescentando que eu considero severo sim. Digamos que está no limite entre severo e intenso. Não existem limites exatos, sua própria avaliação é fundamental. Considere o que prolongará a vida do motor de sua moto, trocar na quilometragem recomendada ou reduzir o período de trocas como margem de segurança? Você também não precisa ser drástico e reduzir o intervalo de trocas exatamente à metade; nada impede que você troque o óleo a cada 4 mil km, 3 mil km... O importante é analisar a condição do óleo: ele está menos viscoso do que quando novo? Está muito contaminado (preto)? Você notou que o motor não está mais tão feliz? Fez a última troca e notou que o rendimento da moto melhorou? Esse último é sintoma claro de que o óleo ultrapassou sua vida útil e já não estava mais lubrificando adequadamente o motor.
      Um abraço,
      Jeff

      Excluir
    3. Só lembrando, a Fazer depende do óleo também para resfriar o motor, o que sacrifica o óleo mais rapidamente; motores que usam radiador de óleo trabalham com o óleo mais quente do que motos que usam radiador com água/líquido de arrefecimento.
      Um abraço,
      Jeff

      Excluir
  2. Bom dia.
    Como não encontrei um email de contato, deixo aqui o link de noticia sobre a "quebra" de uma Dafra aqui no RS.
    http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/geral-policia/noticia/2015/10/moto-quebra-no-meio-em-plena-rua-e-motociclista-fica-ferido-em-santa-maria-4861179.html

    Um forte abraço do leitor diário,
    Eduardo Bernardon - Porto Alegre

    ResponderExcluir
  3. Ok, mais uma vez parabéns pelo blog, e muito obrigado por me esclarecer o assunto. Irei reduzir o intervalo da troca do óleo para preservar o motor... Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. eu estava fazendo completamente errado. o trajeto ida e volta para o meu trabalho é de 14km, ou seja, 7 km pra ir e 7 pra voltar você me recomenda ligar a moto por uns 2 minutos antes de sair com ela?sobre o tao falado 20w50 recomenda uma marca(cg fan 150 2012 mix)? eu uso óleo semissintético pra eu passar para o mineral devo realizar a lavagem do cárter com 50km e depois recolocar um óleo(mineral) novo? preciso limpar mais alguma coisa? finalizando você me salvou vim parar aqui com uma pesquisa sobre "consertar motor de arranque em curto" rs aprendi tantas coisas inclusive que estava andando em condições severas, também sobre os sintomas e malefícios de se utilizar um óleo que já passou da hora de trocar pena que não descobri mais cedo porque já tive que mexer na embreagem com apenas 20 mil km.. abraços parabéns e sempre estarei em seu blog.

    ResponderExcluir