quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Você pensa que sabe a hora de trocar o óleo do motor? Parte 1

Você pensa que sabe a hora de trocar o óleo do motor? 

Tem certeza? Quer apostar?

Eu aposto que não...

Mais uma pegadinha para sua coleção:

Seu manual de proprietário de motocicleta não fala nada sobre uso severo do motor, mas os manuais de proprietário de automóveis falam.
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/blog/oficina-do-g1/post/descubra-se-voce-faz-uso-severo-do-carro-e-precisa-repor-pecas.html

Será que moto não faz uso severo do motor?

Claro que faz!

Então por que será que algo tão importante para os motores de automóveis nem sequer é mencionado pela imensa maioria dos fabricantes de motocicletas?

Veja como a coisa funciona:

Nos manuais de automóveis o fabricante recomenda uma quilometragem para a troca do óleo, e ao longo do texto ele faz uma ressalva que, se o uso do carro for severo, será necessário trocar o óleo na metade da quilometragem recomendada.

Mas o que é considerado uso severo?


Acredite se puder:


Condição de uso severo é aquela que todo mundo usa pensando que é uso normal...

Rodar trajetos curtos e rodar em baixa velocidade em congestionamentos a caminho do trabalho ou escola é uso severo, sabia? Leia a reportagem da revista 4 Rodas com as definições de uso severo neste link.

O povão leigo em Mecânica não lê o manual do carro não fica sabendo que em condições severas, que são as mais usadas por todo mundo, você precisa trocar o óleo na metade da quilometragem ou prazo recomendados.

O povão motociclista leigo em Mecânica nem sequer tem essa informação no manual do proprietário da moto...

O resultado é que todo mundo usa o óleo até depois de ele deixar de proteger adequadamente o motor.

Pessoal só descobre (quando descobre) que o prazo recomendado de 3000 km não funciona para motos resfriadas a ar na hora em que percebe a moto fraca, barulhenta, esquentando e ruim de passar marcha muito antes da hora de trocar o óleo, mas aí o estrago no motor já está feito.

E do mesmo jeito que o pessoal fica papagueando "1 litro é 1 litro", o povão sem noção fica repetindo "se o fabricante manda trocar a cada 3000 km, então é 3 mil km". 

Nos carros é pior ainda, o pessoal fala em períodos de troca de até 20 mil km... 

Por isso que o Marea ganhou a má fama injusta que tem: 

Os proprietários não seguiram as instruções do manual, ficaram iludidos com a ideia de que o óleo sintético não é consumido — apesar de o manual deixar claro que óleo sintético é consumido sim, não repunham o óleo e esperavam dar os 20 mil km para descobrir que o motor já tinha ido para o saco.  
Manual do fiat Marea explicando que o nível de óleo abaixa e precisa ser reposto, 
coisa que muito proprietário de carro e de moto acha que não precisa fazer.

Veja as definições de uso severo.

Note também que os taxistas da Itália rodam em condição muito diferente dos taxistas de Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Florianópolis, Porto Alegre... só que o pessoal traduz o manual e os engenheiros das montadoras não fazem o trabalho deles — avaliar se as condições lá e cá são as mesmas e se continuam válidas e aplicáveis sem alterações.

O fato é:

Se você roda 10 km de casa para o trabalho, deixa a moto estacionada o dia inteiro, aí de noite vai para a faculdade, roda mais 10 km, deixa ela parada por algumas horas, aí volta para casa e roda mais 15 km, isso é uso severo, você fazia ideia disso?

Isso acontece porque quando você faz trajetos pequenos, o motor mal esquenta direito e já é desligado.

Com o motor meio frio as folgas estão maiores do que a condição de projeto, o consumo de combustível é maior, o consumo de óleo é maior, a contaminação e a degradação do óleo pelo combustível é maior.


Aquecido corretamente e trabalhando sempre corretamente aquecido, o motor se dilata e funciona com as folgas mínimas corretas de projeto, o que diminui muito o consumo e a contaminação do óleo.

Outro dia falei com o dono de uma Titan que chegou a 100 mil km sem retificar o motor, sempre usando apenas 1 litro de óleo.

Como ele conseguiu essa proeza?

Primeiro porque na época ele só usava óleo 20W-50 e nunca descuidou de repor o consumo, mesmo medindo da maneira errada.

E ele só chegou a essa quilometragem porque trabalha como mototaxista / motoboy em trânsito urbano.


Essa condição de trabalho é a melhor para o motor, porque ele está sempre rodando quente, na cidade, o que implica em velocidades moderadas... por mais que os motoboys tentem, não dá para atravessar a cidade inteira a 100 km/h.

Ao longo da vida útil, esse motor trabalha 95% do tempo na temperatura correta com a moto na velocidade média diária de 50 a 60 km/h. 

A postagem ficou muito longa e vou dividir em duas partes para não arriscar a perder a postagem de novo...

Amanhã eu continuo de onde paramos.


Um abraço,


Jeff

6 comentários:

  1. Jeff o manual da minha ER-6n pede pra trocar p óleo a cada 6 mil km, mas como uso a moto na cidade geralmente troco a cada 4 mil km ou 5 mil se eu usar mais em viagens.
    Fiz uma viagem pro Chile, em que rodava em torno de 500 km por dia e acabei deixando pra trocar o óleo na volta já no Brasil, deu quase 7 mil km, mas nosso uso foi por regiões mais frias, velicidade em torno de 120 km/h que está mais um pouco acima da metade do conta giros do motor e somente em estrada, acabou que o óleo saiu com aspecto muito melhor do que quando troco com 4 mil km usando mais na cidade.
    Claro que não deixei de repor o óleo consumido durante o trajeto que tbm foi menor do que no uso urbano ou severo.

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    1. Olá, Deivissson
      Com base nessa sua experiência, podemos pensar na seguinte complementação à postagem:
      O que foi dito vale para motos de pequena cilindrada, como 125/150 e 225/250. porque na estrada o motor delas trabalha quase no limite. Já motos maiores, de 500/600 para cima, trabalham em condição menos severa, porque você roda à mesma velocidade com giros mais baixos.
      Vou tentar encaixar seu relato e essa conclusão na parte 2 que será publicada hoje, se não der vai virar postagem futura.
      PS: Ir para o Chile foi uma aventura e tanto, hein? A travessia dos Andes é uma experiência que eu gostaria de fazer um dia...
      Um abraço, e obrigado pela colaboração,
      Jeff

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    2. é por isso que a aplicação do MILITEC é extremamente recomendada! Jeff e Deivissson.

      https://www.youtube.com/watch?v=8Iud6eyGGLs

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    3. Nossa Jeff eh experiência única! Cruzei pelo passo Libertadores, peguei gelo e neve e 5 graus negativos, fui pela rota mais tranquila por Mendoza, ainda assim eh uma viagem maravilhosa. Grande abraço.

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  2. Jeff, de antemão, melhor blog que tenho acompanhado nos últimos tempos, informações realmente preciosas! Tenho uma CB-300 comprada no começo do ano, minha primeira moto! Comprei usada, em boas condições, e venho aprendendo imerso nesse universo motociclístico desde então, principalmente acompanhando seus artigos. Por favor, não pare!
    Uma pergunta: há problema em misturar óleos com especificações diferentes?, como por ex: se for trocar óleo e tiver meio litro guardado de 10W30 SJ‎ e for completar com um SL (marcas diferentes, semi-sintéticos), há problema em misturá-los? Obrigado por responder!

    PS: prox troca de óleo estarei trocando por um 20W50, com certeza!


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    1. Eu não recomendo a não ser numa emergência, eh melhor que rodar com nível baixo. Agora quanto ao óleo eu recomendo um 15w50 semissintetico inclusive do mesmo fornecedor do oleo genuino Honda, acredito ser melhor que um mineral. Tem o Mobil MX 15w50.

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