sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Uma segunda-feira típica

Segunda-feira, dia típico de falta de trabalho, terminei mais uma das minhas postagens semiparanóicas e já eram três da tarde...

O dia estava muito bonito para desperdiçar almoçando em casa, e eu não estava a fim de comer um mcbob's.

A essa hora, eu só encontraria refeição quente em algum restaurante na beira de alguma praia daqui de Floripa. Me engano que eu gosto.

Resignado, fazer o quê? chamei a Edith para um passeio e lá fomos nós rumo à Barra da Lagoa, do outro lado da Ilha.
Imagem: http://www.imobiliariabuzz.com.br/blog/praia-da-barra-da-lagoa-reune-belezas-naturais-projetos-ecologicos-e-tradicao-pesqueira/

Enquanto atacava uma porção de lulas seminuas, dezenas de biquínis à milanesa tiravam minha concentração e me impediam de finalizar o cálculo da equação diferencial da fórmula química da transformação de água de torneira em gasolina sem álcool que resolveria a crise de energia mundial e acabaria com a guerra no Oriente Médio. O mundo e meus prêmios Nobel vão ter de esperar um pouco mais.

Duas abelhas vieram para fazer companhia, e fiz uma piscina de coca-cola com a tampinha da garrafa para que elas também curtissem a praia numa boa.

Nada mais para fazer, fiquei lá contemplando as paisagens lindas até o pôr do sol, quando elas tomaram o rumo de casa acompanhadas dos respectivos namorados, noivos e maridos. Bando de desocupados, deviam era estar trabalhando. 

Hora de Edith e eu voltarmos também, subo na moto e um garotinho de uns cinco anos fica pulando, saracoteando (nussa, essa é de antanho!)bulindo praticando bullying (o pessoal nunca ouviu falar do verbo bulir)apontando para nós e gritando entusiasmado:

— Vó, vó, olha, vó!!!! Um motoqueiro selvagem!!!

Imagem achada em http://www.tatibevilacqua.com/leite-com-groselha/dia-do-rockyeah

Restava saber qual dos motoqueiros selvagens eu era...

Tinha uma dúzia de motos estacionadas, mas nenhuma era "selvagem" — são aqueles prazeres que só óculos escuros e uma custom te proporcionam.

A felicidade do menininho foi imensa quando acenei para ele — estou certo de que naquele momento nasceu mais um futuro motoqueiro selvagem. Espero que ele logo aprenda a ler e visite o blog.

Bom, pelo relato você percebeu que estresse e istepô era tudo que não havia ao meu redor, certo?

Não havia, isso até chegarmos ao centro de Floripa e pegarmos o congestionamento da saída da ilha.

Ainda que as motos pegam corredor, mas eu estou meio cansado pra isso... ajudei a inventar o corredor em 1979... quero mais é me aposentar. Ando devagar porque já tive pressa...

O jeito é seguir na velocidade que a vida me ensinou, suficiente para conseguir frear caso alguém mude de faixa, abra a porta, pedestre atravesse na frente — 40 km/h já é uma grande vantagem comparado aos 5 km/h do pessoal dos carros.

Mas aí aparece a moto buzinando atrás de você. E aí aparece outro cara buzinando atrás do outro cara. E a terceira buzininha lá atrás...

Como não tem como se encaixar e sair da frente deles, e o corredor perto da ponte é o trecho mais perigoso por causa do maior número de pedestres, tomo a melhor atitude:

Reduzo ainda mais a velocidade... hehehehe... sou mau...

E sigo sem estresse... sem estresse... sem estresse, 
играть страуса!!!!

Como pagar mico sozinho é bobagem e a lei de Mutley não falha, adivinha quem está de carro parado ali no congestionamento?

Meus amigos Daniel e sua esposa Meri.

Me viram justamente no momento em que eu travava o corredor intencionalmente... Poxa, ficaram pensando que eu piloto ainda pior do que eles já sabiam...   

Assim que possível, deixei todo mundo passar e os outros motoqueiros foram embora. Buzinando. 

Quando chegamos à Via Expressa, carinhosamente apelidada pelos locais de Via Sem Pressa, Via Ex-Pressa e Via Estressa, o trânsito ficou naquela de não sei se vou ou se fico, não sei se fico ou se vou.

Detesto essa indecisão, porque o trânsito nem forma o corredor, nem avança desimpedido, então fiquei naquela de avançar junto com os carros no limite do perigo com todo o cuidado.


E como sempre, pilotar com todo o cuidado evitou a batida naquele carro que mudou de faixa sem olhar o espelho.

Edith freia de arrastar pneu, manifesto minha indignação em russo apontando o espelho do/da motorista.
Imagem: http://www.encontrodemotos.com.br/noticia/1253/o-motociclista-o-motorista-a-mudanca-de-faixa-e-o-acidente.html

Mas decisões tomadas por impulso nunca são boas.

O que era para ser uma pequena passada de mão no espelho do carro, com a velocidade remanescente da moto se tornou um tapão respeitável.

Insuficiente para deslocar o espelho, mas suficiente para desregulá-lo.

O que era para ser uma advertência brincalhona acabou se tornando uma ofensa gratuita, daquelas de ferver sangue nuzóio. 

Detestei fazer isso, porque não era minha intenção, eu só queria transmitir a mensagem para tomar mais cuidado e usar o espelho.

Infelizmente, deu a impressão de que tentei quebrá-lo — muita gente já morreu no trânsito por conta de brigas surgidas por atitudes impensadas como essa.

Além de tudo, acabei me desequilibrando e quase caí no meio da via... e muita gente já morreu por isso.

Pelo menos agora eu sabia qual dos motoqueiros selvagens eu era.

Ao chegar em casa, fiz um balanço das ocorrências e percebi que um dia que tinha tudo para entrar na lista dos mais perfeitos quase foi arruinado porque eu me deixei contaminar pelo estresse invasivo (epa!) causado pela nóia do trânsito.

Se a gente se deixar contaminar pela neurose dos outros, Floripa acabará virando uma cidade tão estressada quanto Rio ou São Paulo, e todos nós correremos o risco de nos tornarmos motoristas e motoqueiros selvagens.


Verdadeiramente selvagens, no pior sentido.


Não repita o meu erro. 


Um pequeno ato impensado e bobo pode ter consequências muito sérias e irreversíveis.


Paz no trânsito faz bem ao coração e todos gostam.


Um abraço,


Jeff

4 comentários:

  1. Moro no Rio de Janeiro, tenho moto custom 250 a dois anos e quatro meses, com objetivo de relaxar, diversão e algumas raras vezes realizar trabalho externo. Porém o que percebo no trânsito é o seu relato, praticamente todas as vezes em que utilizou a moto. Abração. josecarlosaires@gmail.com

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  2. Moro no Rio de Janeiro, tenho moto custom 250 a dois anos e quatro meses, com objetivo de relaxar, diversão e algumas raras vezes realizar trabalho externo. Porém o que percebo no trânsito é o seu relato, praticamente todas as vezes em que utilizou a moto. Abração. josecarlosaires@gmail.com

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    1. Valeu, José Carlos!
      Ninguém leva em conta que a gente tem aquela dificuldade adicional com o guidão mais largo. Ô, povo apressado e sem paciência...
      Um abraço,
      Jeff

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  3. Ao contrário das condições de tráfego relatadas, a leitura foi agradável, além de educativo como sempre.

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