segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Por que pilotos experientes abusam e caem?

O RobertyR7 diz tudo no vídeo.

Assista e veja como a vida é cheia de ironia...

Demonstração prática do motivo de nunca começar de cara com uma moto potente de 500 para cima.

Motos são traiçoeiras e tombos bobos acontecem.

Se caindo a 65 km/h você torce o pé, com uma 600 você cai a 100 km/h e tem enorme chance de se matar. Ou se quebrar inteiro. E tomar um prejuízo lascado. 

Ou bate a 200 km/h e se mata. 
Reportagem: http://g1.globo.com/goias/transito/noticia/2015/08/casal-morre-apos-colisao-entre-moto-e-caminhonete-na-br-060-em-goias.html — estou preparando uma postagem específica sobre este acidente, só falta conseguir extrair um vídeo.

Por que o tombo do vídeo do RobertyR7 aconteceu?

Porque ele deitou demais a moto a ponto de a pedaleira não apenas raspar durante a curva, mas fazer um ponto de apoio, tirando a roda traseira do chão.

A moto deu uma chicotada e lançou ele longe.

Se tivessem filmado do lado de fora, o tombo seria muito parecido com este aqui — note como o som da pedaleira raspando é idêntico:

Este vídeo foi mostrado na postagem Chicotadas e curvas. Outra postagem que fala desse problema em curvas é a postagem Até onde posso inclinar minha moto.

Nos dois vídeos dá para ouvir a pedaleira raspando no chão antes de os pilotos perderem o controle — se tivessem aliviado o acelerador, poderiam ter corrigido a trajetória e talvez evitado o tombo.

Mas por que caras experientes cometem esse erro?

No caso do vídeo do RobertyR7, um dos motivos pode ser porque até outro dia ele estava acostumado com outra moto maior, uma XJ6.
Ele conta neste outro vídeo que vendeu a 600 porque cansou de tomar multa por escape esportivo, espelho pequeno e velocidade. Cidade pequena, todo mundo te conhece, inclusive a polícia...

Passou a usar uma Fazer e, preocupado em mostrar os limites da moto no vídeo, acabou inclinando demais e não conseguiu fazer a curva.

Mudar de uma moto para outra, realizar ajustes em comandos, até mesmo trocar de calçado exige reaprender as reações que a moto terá na nova condição.

Contribuiu para o acidente a preocupação em conseguir uma filmagem interessante mostrando a moto raspando a pedaleira... 

Muitos motofilmadores acabam se envolvendo em acidentes evitáveis e esse é um fator que pode estar influenciando esse tipo de acidente.

O fator adrenalina da moto também colabora.

Veja este outro vídeo:
Você vai se empolgando com a estrada e começa a pilotar cada vez mais rápido, testando os seus limites.

É aquele negócio, "vou lá buscar e mostrar como é que se faz"...

A adrenalina te estimula e você literalmente perde a noção. 

Pausa para explicar como funciona a adrenalina:

Imagine que você é um homem das cavernas ou uma mulher das cavernas ou um cidadã@ transgêner@ das cavernas (se bem que ainda não existiam cidadãos e cidadãs porque as cidades ainda não tinham sido inventadas):

Você sai pela manhã para caçar um coelho, colher umas frutas ou filosofar quanto ao sentido da vida. É 42, mas você ainda não inventou a má temática.

Quando volta para casa você encontra instalado em sua cama das cavernas um enorme, cheio de dentes e faminto urso das cavernas. E não é o ex-Zé Colmeia agora Yogi Bear.

Antes que você tenha tempo de falar UGH!, suas glândulas supra... super... ahn... — aquelas que você aprendeu na escola — descarregam uma dose intensa de adrenalina que faz você ficar ligadão e voar mais rápido que o ex-Super-Homem agora Superman das cavernas.

A adrenalina produz estamina, um combustível super energético que te fará correr uma distância maior que um maratonista das cavernas.

Depois de algum tempo esse combustível adicional acaba, as pernas começam a tremer e você só consegue dizer UGABUGAUGAUGAUGABABABUGABUGA!

Imagem: http://www.agirnow.com.br/blog/2015/07/desastres-naturais-no-cinema-e-na-literatura-o/

É para isso que serve a adrenalina.

O problema é que pilotando uma moto você não gasta a estamina, e só vai acumulando adrenalina, fazendo o coração bater cada vez mais rápido — você se acostuma com o alto nível de adrenalina, não percebe que está ligado em 440 volts e não descarrega a energia. Correndo com os pés.

O detalhe é que a sua percepção do tempo sem relógio nem celular é ditada pelos batimentos do coração.

Com o coração a mil, sua percepção do mundo se torna irreal. 

Você vira um ex-Mercúrio agora Quicksilver das cavernas pilotando uma moto com tecnologia dos séculos 20 ou 21.
Imagem: https://marvelupdates1.wordpress.com/2015/07/18/evan-peters-teases-bigger-and-better-quicksilver-scene-in-x-men-apocalypse/

Você não percebe que a moto está rápida demais para aquela curva ali na frente — você perde a noção do limite.

Se você não perceber que isso está acontecendo, vai chegar uma hora em que você encontrará o limite, e às vezes a pilotagem terá conserto e outras vezes não terá não.

Muito cuidado na hora de descobrir quais são os seus limites e os limites da moto.

Por mais que você seja experiente, um pequeno fator despercebido como a falta de adaptação suficiente a um modelo novo ou a influência sutil e crescente da adrenalina podem causar uma queda.


Tenha consciência do efeito da adrenalina durante a pilotagem esportiva para maneirar no acelerador antes de perder o controle.

Quedas de moto nem sempre acabam apenas com um pé torcido.

Um abraço,


Jeff

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