sábado, 10 de janeiro de 2015

Os passeios das férias

Pois é, passei as férias de fim de ano trabalhando...

Mas consegui dar umas escapadinhas, que sempre começam assim:

Acordo tarde para ir tomar café na padoca (não adianta, café em casa não tem a menor graça), aí saio e vejo que o dia está muito bonito para sair apenas para um café.

Não custa dar uma esticadinha na BR-101 até o primeiro segundo terceiro retorno em Palhoça... 

Mas já que estou tão perto, por que não pegar um trechinho da BR-282, subindo a serra catarinense cheia de curvas até Rancho Queimado? Afinal, Edith ainda não conhece...

Imagem: Silverio Luiz Soligo — http://www.panoramio.com/photo/21062080 — Belas fotos de Santa Catarina

E já que estou por ali mesmo, posso almoçar naquele restaurante da hora que tem em Alfredo Wagner...

E termina que para quem está por lá, não custa nada esticar um pouco mais e aproveitar para descer e subir a serra do Rio do Rastro... 

Para matar a curiosidade da Edith, claro.

Imagem: Google mapas

Crédito da imagem
Então fomos neste rolé, rodando contra o vento, sem lenço com documento, maior sem destino, quando depois de Urubici apareceu aquela rolha de chuva no horizonte. 

Não era essa aí do lado, que apareceu no litoral em Barra Velha, mas também veio da Argentina, entonces era una hermanita.

Como ela ainda estava para os lados de Urupema e São Joaquim, calculei que conseguiria chegar até à bifurcação, descer a serra e escapar dela.

Calculei mal.

Nuvens como essa podem trazer tornados, que até pouco tempo atrás não se sabia que aconteciam no Brasil porque os doutos doutores das capitais não acreditavam quando o pessoal do interior contava, achando que era exagero.

Agora, como todo mundo tem câmera (menos eu), os tornados estão por aí sendo registrados a torto e a direito, calando o bico emplumado dos pseudossábios catedráticos litorâneos que sobrevivem somente em ambientes com ar condicionado.

Além do risco eventual de tornados, que eu não vi nenhum, elas sempre trazem granizo, como pude constatar com aquela chuva intensa e gélida de gelo supergelado picado. 

Minha sorte é que o granizo era miúdo. Em outubro caiu uma tempestade em Lages, não muito longe dali, com granizo do tamanho de ovos de galinha.



Vai daí que depois de ser picado por um inseto antes de Urubici (picadura de inseto é f@da) e ser esmerilhado por gelo picado depois de Urubici, não há Dennis Hopper que aguente tanta picadura (Xô, sai pra lá!) e o negócio foi retornar e parar na cidade mais próxima — Urubici — e comprar duas toalhas de banho. 

Uma só não foi suficiente. 

Dica: Toalhas dobradas no peito durante chuvas de gelo picado mantêm o peito aquecido mesmo depois de molhadas.

Parada em Alfredo Wagner para reabastecimento e café da tarde quentinho em uma simpática padoca, com direito a alagamento do banheiro do posto de gasolina (torcendo as toalhas, pensou o quê?)

Na ida já tínhamos parado nesse mesmo posto, e fiquei muito contente de salvar uma vida: o frentista tinha planos de aprender a pilotar de cara comprando uma 1000 de um amigo...

O segundo passeio foi uma voltinha com Edith pelo último trecho da Ilha que eu ainda não tinha percorrido na totalidade com Jezebel, a SC-406. 



Descobrimos que no trecho ainda desconhecido ela não é totalmente asfaltada, um bom pedaço é revestido de lajotas... não tem as melhores paisagens, o trânsito da virada do ano foi infernal e ainda atropelaram um gato na nossa frente... meh. 

Ainda assim, o trecho da Barra da Lagoa compensa:


Imagem: Google street view

Imagem: Google street view

O terceiro passeio foi em 04/01 e começou do mesmo jeito que o primeiro, mas a chuva na volta foi menor e mais quentinha. 

Antes de chegar na BR-282 nós pegamos a BR-281 rumo a Angelina, a apenas 50 km daqui de casa. 

BR-281 que consta em todas as placas da sinalização viária por lá é a SC-407 de acordo com a nova nomenclatura oficial e o mapa do google, e também é chamada de SC-281 pela imprensa — e agora você entende porque o ministério dos transportes é tão disputado pelos partidos populíticos, e como as verbas governamentais desaparecem sem deixar vestígio: é só ir mudando os nomes das estradas que não há auditoria que descubra o caminho das verbas — mais uma denúncia que você só vê por aqui... 

A intenção era chegar até a estrada asfaltada que ligaria Rancho Queimado a Biguaçu, aquela que você não vê no mapa:



Imagem: Google mapas

Pois é, você não vê porque não existe, essa estrada só tem na cabeça daquele velho maluco que deu a dica na primeira viagem, mas você só descobre que o velho é doido indo até lá ou olhando o mapa.

Mas quando você sai para tomar café sem planejar viajar, não lembra desses detalhes... 

A BR-281 ou SC-407 só tem asfalto nos primeiros 22 km. Os restantes 26 km até Angelina são de estrada de terra, até que boa, mas com direito a morder barranco. O caminho de volta fizemos por Rancho Queimado e BR-282, só asfalto.

A gente penou um pouco, mas em compensação, olha só as vistas (sem falar do belo casarão dos anos 20 e da cascata ainda na estrada de terra):

Esta é a praça da cidade de Angelina:



Imagem e história da gruta que tem lá:
http://www.portaldorancho.com.br/portal/gruta-de-angelina-a-virgem-maria-que-em-tres-sonhos-indicou-o-local

Sério, a cidade toda fica encravada num vale, é só essa pracinha e o quarteirão em volta, acabou. Mas é uma simpatia, vale a visita. 

Atrás da igreja tem uma gruta, mas tinha que subir o morro. Edith não podia ir junto, então não fomos. Sou muito solidário.


Almocei comidinha caseira livre com tempero da vovó por 20 reais na Congregação das Irmãs Franciscanas de São José (não entendi...). Quase que as freirinhas ficam no prejuízo, tadinhas.



Imagem: http://floripa-onibus.blogspot.com.br/2013/12/angelina-sc.html

Blumengarten Haus, esse é o nome do local, e também é hospedaria, fica a dica.

E na estrada a caminho de Rancho Queimado paramos para ver esta bela cascata com mirante na beira da estrada:


Imagem: Paulo Roberto Ananias — Belas fotos de Santa Catarina: http://www.panoramio.com/user/1777525?with_photo_id=111365055

Aí você leu tudo isso, mas tá querendo saber mesmo é da história da mordida no barranco, né não?

Pra quem não sabe o que é morder barranco, vou explicar:

Morder: Arrancar pedaços a dentadas.

Barranco: Elevação de terra geralmente coberta por arbustos localizada à beira da estrada.

Morder barranco: Arrancar pedaços a dentadas de uma elevação de terra geralmente coberta por arbustos localizada à beira da estrada.


O que é só uma forma de expressão, porque usando capacete integral você não consegue propriamente morder o barranco...

Vamos lá:


Toda estrada de terra tem uma ou outra curvinha em ângulo bem safado que vai te levando cada vez mais para a lateral. 

E nessa curva sempre tem aquela areiinha mardita. 

Levados pela inclinação da pista, cada tentativa de frear travava a roda, e o macaco velho controlava o freio para não cair. Três vezes freei na curvinha, três vezes travou a roda, três vezes não caímos, três vezes o barranco cresceu na nossa frente. 

Mais uma freada e a gente parava, mas aí Edith viu o fiozinho de água que fica justamente no único trecho em 48 km que tem uma nascente na beira da estrada, correndo ali do lado do barranco...

E quis me presentear com um bolo de lama.



Edith adora bolos de lama...

Acabou que não trombamos, mas fomos parar encostados no barranco. E no lamaçal. Junto a um pé de sensitivas, aquelas plantinhas que se encolhem com o susto — muito legal!

Prejuízo nenhum, só as calças e a moto para lavar. 

Para tirar o barro. 

Barro só da barra da calça, nenhum outro, que nada mais me assusta, fora pedestres na faixa de segurança.

Então esses três foram os últimos passeios por enquanto. Até agora, acho.

Um abraço,


Jeff

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