terça-feira, 18 de junho de 2013

Atrasado para o trabalho

Atrasado para o trabalho estava eu naquela manhã chuvosa do longínquo ano de 1981, tirando da cgzinha o que ela podia e não podia para não bater o cartão fora do horário.


Imagem: internet

E lá na frente vi o congestionamento na alça de acesso ao viaduto sobre a via Anchieta, pude traçar minha estratégia: ia cortar a fila pelo lado livre e ganhar preciosos segundos.

Mas o motorista ao meu lado achou que eu não tinha o direito de ultrapassá-lo. Aumentou a velocidade assim que eu acelerei.

Não acreditei que alguém pudesse ser tão canalha. Foi nesse dia que descobri até onde vai a canalhice humana.

Acelerei novamente e ele fez o mesmo, apenas para que eu não passasse à frente dele.

Sem saída, só me restou frear sobre a pista molhada. 

Não podia dar certo, né?

No último instante tentei tirar da traseira do carro à frente, mas o guidão pegou na coluna da Brasília (um carro moderno que existia na época, acabou extinto junto com os alossauros).

No instante seguinte eu estava voando a baixa altitude. Lá do alto pude ver quando a cgzinha se vingou do cara, estourando a lateral do carro dele, e o verme se encolhendo e fugindo. 

Pelo menos não saiu sem levar uma boa lembrança.

Aterrissei e rolei, e levantei a cabeça a tempo de ver o para-choque da kombi parando bem em cima dos meus pés.

Aí desbaratinei e relaxei. Conferi se havia mais alguma coisa quebrada comigo, além do coração de ver a cgzinha naquele estado.

Entre motos e feridos, salvaram-se todos, a coitadinha mais torta que a ficha corrida de muito parlamentar de Brasília (a capital, não o dinossauro).

Mas a lição eu aprendi, nunca mais eu arriscaria minha vida em troca de malditos 5 minutos para bater um cartão.

Escrevo esta história fazendo piada, mas com o coração na mão.

A inspiração para a lembrança e a postagem foi eu ter sido ultrapassado logo de manhã por uma jovenzinha numa Biz. 

Estávamos num trecho de curvas fechadas, pista molhada, sem visão, pista estreita de mão dupla, e ela arriscando tudo para não perder a hora do trabalho.

Fiquei torcendo para que ela consiga chegar à minha idade com histórias para contar.

Mas fiquei com uma sensação amarga de que ela talvez não venha a ter a mesma sorte que eu.

Coração apertado....

Um abraço,

Jeff

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