E lá na frente vi o congestionamento na alça de acesso ao viaduto sobre a via Anchieta, pude traçar minha estratégia: ia cortar a fila pelo lado livre e ganhar preciosos segundos.
Mas o motorista ao meu lado achou que eu não tinha o direito de ultrapassá-lo. Aumentou a velocidade assim que eu acelerei.
Não acreditei que alguém pudesse ser tão canalha. Foi nesse dia que descobri até onde vai a canalhice humana.
Acelerei novamente e ele fez o mesmo, apenas para que eu não passasse à frente dele.
Sem saída, só me restou frear sobre a pista molhada.
Não podia dar certo, né?
No último instante tentei tirar da traseira do carro à frente, mas o guidão pegou na coluna da Brasília (um carro moderno que existia na época, acabou extinto junto com os alossauros).
No instante seguinte eu estava voando a baixa altitude. Lá do alto pude ver quando a cgzinha se vingou do cara, estourando a lateral do carro dele, e o verme se encolhendo e fugindo.
Pelo menos não saiu sem levar uma boa lembrança.
Aterrissei e rolei, e levantei a cabeça a tempo de ver o para-choque da kombi parando bem em cima dos meus pés.
Aí desbaratinei e relaxei. Conferi se havia mais alguma coisa quebrada comigo, além do coração de ver a cgzinha naquele estado.
Entre motos e feridos, salvaram-se todos, a coitadinha mais torta que a ficha corrida de muito parlamentar de Brasília (a capital, não o dinossauro).
Mas a lição eu aprendi, nunca mais eu arriscaria minha vida em troca de malditos 5 minutos para bater um cartão.
Escrevo esta história fazendo piada, mas com o coração na mão.
A inspiração para a lembrança e a postagem foi eu ter sido ultrapassado logo de manhã por uma jovenzinha numa Biz.
Estávamos num trecho de curvas fechadas, pista molhada, sem visão, pista estreita de mão dupla, e ela arriscando tudo para não perder a hora do trabalho.
Fiquei torcendo para que ela consiga chegar à minha idade com histórias para contar.
Mas fiquei com uma sensação amarga de que ela talvez não venha a ter a mesma sorte que eu.
Coração apertado....
Um abraço,
Jeff
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