quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mais do mesmo

Íamos Jezebel e eu para nossa caminhada matinal na avenida Beira-Mar de Florianópolis, quando no alto da ponte de entrada da ilha vemos o trânsito parando repentinamente lá na frente.

Como na Via Expressa você pode (mas raramente consegue) vir a 100 km/h, é normal e permitido cruzar a ponte a 80 km/h. Quando isso acontece, fica bastante complicado na hora que você dá de cara com o trânsito parado (e isso é muito comum).

Diante do previsível inesperado, faço minhas frenagens de advertência, o que garante um espaço maior para mim em relação ao carro que vem atrás, e vou me encaixando no congestionamento, quando uma viatura do SAMU passa todo mundo e pára lá na curva da alça de saída da ponte.

A sombra marca o local do acidente, a luminária indica o local onde o motociclista aguardava socorro. 
O desencontro das placas de concreto é visível do espaço. Bom trabalho, Google!

Eu paro também, porque vejo que a causa do engarrafamento foi um acidente com moto. Tá lá a trudinha encostada na mureta da alça de saída da ponte, e ao lado o motociclista começa a receber atendimento.

Me identifiquei muito com ele, os cabelos grisalhos indicam que estamos na mesma faixa etária (digamos que um pouco bem mais de 30 anos). Ele reclama de muita dor no braço esquerdo, e pergunto se a dor surgiu antes ou depois do acidente.

Pergunta besta, né?

Não mesmo.

Na nossa faixa etária dos contemporâneos dos Beatles, Elis e Milton, Chico e Caetano, ataques cardíacos são comuns. E na confusão de pensamentos que pode ocorrer ao acidentado, dependendo de ele ter batido a cabeça, estar numa crise hipertensiva ou diabética, informações desconexas são a regra.

Perguntas óbvias como que dia é hoje ou a data de nascimento são usadas pelos socorristas para identificar o grau de consciência da vítima, há toda uma escala de avaliação que é passada aos médicos do hospital para que possam avaliar a gravidade ou a evolução de eventuais lesões cerebrais.

Então naquele momento era importante saber se o acidente havia sido a causa ou a consequência, porque o socorrista não pode se preocupar em imobilizar um membro fraturado se a vítima estiver tendo um ataque cardíaco, isso altera toda a rotina de procedimento do atendimento.

Mas a resposta do motociclista foi “não, eu caí sozinho”.

Falando com outro motociclista que foi o primeiro a chegar e pedir socorro, tenho a informação de que ele caiu ao passar num dos desníveis da alça de saída do viaduto.

A roda se encaixou no canal formado pelo desencontro das placas de concreto, causando o tombo e o quase atropelamento pelo caminhão que vinha logo atrás.

O motociclista teve sorte de sofrer apenas lesões leves.

Final feliz?

Não.

O desencontro das placas é visível do espaço e continuará lá por muito tempo, e poderá causar outros acidentes com consequências muito mais graves. E outras alças de acesso e saída de viadutos continuarão a apresentar o mesmo problema. 

O desnível que existia no viaduto vizinho só foi consertado mais de um ano depois que eu cheguei aqui, sabe-se lá há quanto tempo ele existia.

E os motociclistas brasileiros que sobreviverem a esse tipo de acidente continuarão a achar que caíram sozinhos, que foi apenas um azar, que moto é assim mesmo.

Em um país sério, a administração pública estaria sendo processada por negligência.

Nós, os motociclistas, não somos suficientemente cobradores de nossos direitos de cidadania.

Mas a vida continua, o que se há de fazer?

Sugestão: que tal discutir esse problema em seu motoclube ou associação de motociclistas, ou associação profissional? Ou a gente briga pelo que é nosso direito, ou continuaremos caindo feito moscas.

Um abraço,


Jeff

2 comentários:

  1. Parabéns pela postagem amigo Jeff, que ela sirva de alerta para muitos amigos pelo Brasil a fora!!!

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  2. Obrigado, Grande Edi!
    Talvez semana que vem eu esteja por essas bandas, vamos ver se consigo. Se for, aviso antes.
    Um abraço,
    Jeff

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