segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Meu pior tombo e a importância de usar equipamentos de proteção

Bom, agora a parte que todo mundo estava esperando, o tombão.

Felizmente uma câmera no local flagrou o momento em que fui ao chão:

Na hora em que a roda desgarrou, não deu tempo de pensar em mais nada, e enquanto eu via as pedrinhas rolando na viseira do capacete, meus pensamentos foram apenas dois.

Felizmente, um gravador no local registrou meus pensamentos:

NÃO!!!! NÃO!!!!.... que legal, o capacete está funcionando!

O local do acidente foi este aqui, na Serra do Ribeira:
Essa estrada corta o parque até a cidade de Apiaí, onde começa o Rastro da Serpente.

O estrago na Jezebel foi este:

Para-lama quebrado (agora o dianteiro, o traseiro já tinha sido remendado com arame na mesma viagem), os dois espelhos, os dois piscas do lado direito ficaram pendurados e acabaram caindo pelo caminho, os alforjes rasgaram na emenda, o cabo do velocímetro se soltou na pancada com a placa... 

E falando na placa, ela foi a grande heroína do dia:
Não dá para ver direito na foto, mas depois dela tem um abismo.

Se não fosse a placa, Jezebel teria deslizado para o abismo, um tombo de uns 100 metros, pelo menos.

Com a escapada da roda, ela desviou para a direita e bateu contra a placa, enquanto eu deslizei junto, mas do lado da estrada — o maior risco que corri foi ser atropelado por uma onça, porque na estrada não passava ninguém.

Não passava ninguém e eu preso embaixo da moto, sem conseguir sair.

Quase quebrei as costelas, a primeira coisa que fiz foi avaliar se tinha quebrado ou não — a segunda foi desligar o corta-corrente com o pé livre, o outro preso embaixo da moto.

Cabeça fria nessa hora: 

Se eu me levantasse afobado, uma costela quebrada poderia se deslocar e perfurar o pulmão, e aí eu estaria no mato sem cachorro. Só onças.

Depois de apalpar e ter certeza de que as costelas não estavam quebradas, mas poderiam estar trincadas (porque a dor era muito forte), começou a luta para sair de debaixo da moto vazando combustível... tudo era urgente e eu não conseguia fazer nada com rapidez.

E por que eu não conseguia me levantar?

Porque o pé livre não conseguia fazer força... eu estava usando botinas desse tipo aí embaixo (não eram da mesma marca, mas o modelo é parecido):
Bonitinhas e baratinhas, mas com um sério problema se você for viajar em uma estrada com onças:

No tombo, a bota deslizou no pé e ficou no meio do caminho, não entrava nem saía do pé.

Deitado eu não conseguia calçar de novo porque ela entra muito justa, nem tinha como tirar de vez porque não tinha ponto de apoio e a dor nas costelas impedia de me sentar ou fazer força.

Felizmente os outros equipamentos funcionaram bem.

O capacete robocop aguentou a pancada e protegeu muito bem o meu rosto. 

Eu sempre achei que a queixeira seria arrancada no caso de um tombo — e também sempre achei que nunca iria cair — mas de moto, nunca pense em nunca acontecer um acidente, use sempre os equipamentos de proteção.
E a queixeira realmente quase foi arrancada durante a queda. 

Ela quebrou na articulação — se eu estivesse uns 10 km/h mais rápido, a outra articulação sozinha não teria aguentado, a queixeira seria arrancada e eu certamente teria me machucado.

Moral da história: 

Capacete robocop nunca mais, o conforto não compensa o risco.

Quem também se portou muito bem foi a jaqueta de couro, fez o trabalho dela com perfeição e ganhamos estes registros de batalha que nos enchem de orgulho:
E o que causou tudo isso?

Acredite se puder, aquelas pedrinhas ridículas que resolveram se soltar na nossa frente — e o uso de medicação contra dores que prejudica nossa capacidade de julgamento e reação.

Desviando de um buraco, ficamos muito perto da lateral suja da estrada, e não deu tempo de fazer mais nada, só ir pro chão colecionar mais uma história.

Aquelas pedrinhas ridículas no canto direito da foto — Jezebel está na contramão, virada em direção da subida para não cair do cavalete, a serra é íngreme e em descida nesse trecho.
Depois que consegui sair e me levantar, e com dificuldade e muita dor calçar novamente a bota, aí do nada apareceram dois carros e em seguida mais um.

O pessoal dos dois carros me ajudou a colocar a moto em pé e o pessoal do mais um se mandou.

Foram os primeiros que bateram estas fotos, menos a do tombo e a vista da serra, e me ajudaram a prender os alforjes caídos em cima da moto com os elásticos que eu sempre carrego.

Eles que perceberam que eu e a Jezebel quase tínhamos caído no abismo.

Duas semanas antes, um motociclista e sua moto caíram em outra barroca da mesma estrada e só foi resgatado porque ficou horas chacoalhando uma árvorezinha comprida e um motorista desconfiou que aquilo não era coisa de macaco.

Depois de ter certeza de que eu conseguiria subir de novo na moto e ligar o motor, e eu dizer que estava tudo bem, eles foram embora, gente boa — até endireitaram a placa para que ela continuasse avisando o pessoal sobre a curva logo à frente. E quem sabe segurar alguma outra moto...

Depois de alguns dias me enviaram as fotos porque eu havia passado meu email atual ainda não hackeado e já estava pensando na postagem que iria estrear de novo o blog...

Eu disse que estava tudo bem, mas não estava não.

A dor era muita, agora na coluna e também nas costelas. Costelas dóem pacas.

Subi na moto e percebi que não havia removido o cabo do velocímetro que estava arrastando no chão.

Descer e subir de novo com a dor que eu estava? Nã nã nã. 

Pisei no cabo e acelerei a moto, ele ficou por lá mesmo, consciência pesada de poluir a natureza, mas era questão de sobrevivência.

Agora eu iria mesmo chegar a Apiaiaiai com a noite caindo, não tinha como ir ligeiro, cada buraquinho e pedregulhozinho da estrada eram motivo de dor intensa... eu não podia escorregar nas poças de lama, eu tinha de chegar rápido até o hospital e bater uma radiografia naquelas costelas.

Mas nessas horas tudo ajuda, e do nada no meio de lugar nenhum surgiu uma onça um filho de cadela que começou a me seguir e avançar contra o pé que eu não podia dar uma bicuda por causa da dor. Espaço reservado para protestos de defensores de animais que não pilotam motocicleta.

O totó não desistia e eu não tinha como fugir dele, até que tive a ideia de acionar a embreagem e acelerar ao máximo. Jezebel não é veloz, mas sabe como fazer um barulhinho bom.

Cheguei no hospital e uma enfermeira percebeu que eu não estava visitando um parente, então me ajudou a descer da moto. 

Atendimento preferencial para idosos estropiados, radiografias tiradas, costelas inteiras, pensei que ia receber um colete de gesso ou pelo menos um enfaixamento para diminuir as dores.

Costela não pode enfaixar. Pelo menos, não no meu caso. Ia ter de conviver com a dor. Um mês inteiro de dor, acordando a toda hora por causa da dor.

E aí, medicado contra dores de novo, vem a questão: o quequeu faço?

Eu TINHA de ir até Floripa para receber meu pagamento, ou não teria como voltar para casa.

A noite de quinta-feira eu passei no hotel emendando as duas metades dos alforjes com laça-gatos, felizmente eu tinha levado uma dúzia deles. Furava o couro corvim com a chave de fenda e suturava com os laça-gatos.

O conserto ficou tão bom que eles estão lá até hoje. Emendados e remendados pela segunda vez. 

Chegou a madrugada, hora de dormir, hora dos caminhões que levam madeira para as padarias e pizzarias começarem a subir a ladeira em frente ao hotel. Noite inteira sem dormir, e com dor.

Sexta-feira pela manhã, éramos os primeiros na loja/oficina de motos de Apiaiaiai.

Peripécias para conseguir que minha filha fizesse o pagamento do conserto sem poder falar diretamente com ela, tipo email sem fio via balconista da loja.

No final da história, consertos realizados, Jezebel ganhou um para-lama amarelo que odeio até hoje e tive de comprar o único capacete que entrou muito apertado na minha cabeçona gorda.

Fomos os primeiros a entrar na oficina e só saímos quando perdi a paciência às três da tarde e fui buscar a moto lá dentro da oficina, eu precisava chegar até Floripa ainda naquela noite porque tinha o compromisso de me encontrar com minha amiga e fonte pagadora no dia seguinte.

Estavam esquentando o motor para lavar a moto. Pois é, não pergunte. Não tem explicação.

Chegamos em Curitiba já estava anoitecendo e ainda tínhamos 300 km pela frente, com dores, cansado e com problemas para digerir aquela maldita coxinha de beira de estrada.

O cansaço era tanto que diminuí o ritmo para poder ficar atrás de um caminhão cheio de luzes sem ter de decidir o que fazer, apenas não perder as luzinhas de vista.

Depois de uns 50 km o motorista desconfiou da moto que o seguia e parou no acostamento, acabei parando junto, foi uma luta conseguir sair dali.

Chegando em Palhoça, rodei a cidade inteira várias vezes procurando o hotel que eu conhecia o caminho de cor.

Mas de noite e tão cansado, eu não sabia mais para que lado estava a serra e para que lado estava o mar, e de madrugada não tinha para quem perguntar.

E ainda por cima, sob os efeitos desesperadores da coxinha de Curitiba.

Acabamos morrendo em um motel na BR-116 ops, BR-101 lá pelas 6 da manhã onde pude tomar um banho. E lavar as roupas — coxinha em Curitiba, nunca mais. 

Jezebel ficou na garagem (não passava pela porta da suíte) e o motel tinha um degrau daqueles que você não vê e fui para o chão, onde fiquei me perguntando why, God, why?

Mas no final final deu tudo certo, até recuperei o blog um ano depois, e estamos aqui para contar a história.

É como diz a camiseta que eu usei na viagem:
Continue rodando, nunca desista

"Ué, falou tanto, mas cadê a jaqueta?"

Motivos religiosos.

Minha religião não permite usar jaqueta em trajetos inferiores a 5 km. Se eu cair de casa até a padoca, eu fiz por merecer.

Aproveito para mandar um forte abraço aos meus amigos Daniel e Meri que bateram as fotos e me deram sustança enquanto estive por lá, e agradeço aos leitores pela paciência de ouvir até aqui,

Jeff & Jezebel

6 comentários:

  1. Cara, realmente pensei que você houvesse morrido após tanto tempo sem postar aqui no blog! Felizmente, não foi este o caso, rs!

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    1. Olá, Evandro!
      Eu também cheguei a pensar a mesma coisa... Obrigado pela torcida!
      Forte abraço,
      Jeff

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  2. Vi o post no Facebook e fico feliz que o blog esteja de volta.
    Mas aí, que perrengue, hein, Jeff? Melhoras pra você e pra Jezebel!

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    1. Olá, Robson!
      Post no facebook? Deve ser postagem automática criada pelo Vinícius, nem fico sabendo.
      Como diz o ditado, perrengue pouco não vale a pena...
      Obrigado e um forte abraço,
      Jeff

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  3. Jefferson, queria sua ajuda.
    Uso o óleo semi sintético 10w30 na minha Bros.
    Mas queria achar um óleo melhor para moto, de preferência 100% sintético, você poderia me indicar um óleo.

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    1. Olá, Vn32
      Não sei te dizer, não uso óleo sintético.
      Um abraço,
      Jeff

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