segunda-feira, 4 de maio de 2015

O motor da minha moto vive fundindo

Minha moto vive na oficina desde que comprei...

Minha moto só dá problema... Minha moto vive quebrando...

Acabei de fazer o motor e fundiu de novo... 

Precisei retificar o motor aos 15 mil quilômetros... 

Motor retificado ainda na garantia...

Retifiquei o motor várias vezes...

Existem motos que vivem dando dor de cabeça, e os proprietários acabam achando que é aquele modelo / marca que não presta ou que não teve sorte, e acaba partindo para outra. Que também dará problemas...

Aqui está um caso extremo de moto que está sempre na oficina com problemas "misteriosos".


Relato postado no fórum motos custom sobre o modelo Fenix Gold
http://www.motoscustom.com.br/forum/viewtopic.php?t=1925&start=50
Esse é o relato do proprietário de uma Fenix Gold, por coincidência uma moto idêntica à minha Edith (minha outra moto é outro modelo muito mal falado, a Kansas Jezebel, que manda lembranças com seus quase 79 mil km). 

A
pesar de ter sido comprada em outubro de 2014, Edith é um modelo 2011 com numeração do chassi 0005... (Eu a comprei 0 km porque estava guardada na concessionária, moto rifada e não retirada pelo dono).

Então, como também tenho uma, posso comentar algumas coisas com certo conhecimento de causa.

Esse motor do relato travou 11 vezes porque foi abusado ao extremo, apenas isso.

Para começar, esse motor não foi amaciado com o devido cuidado. O autor relata ter dado 130 km/h logo nas primeiras viagens, acompanhando Mirages. 


Mirages têm motor de 250 cc de 30 cavalos, elas atingem 130 km/h com facilidade.

A cilindrada real da Fenequis Fenix Gold é 225 cc. A potência do motor é menor, 19 cavalos, e a faixa vermelha que indica o limite máximo de rotação do motor começa nos 120 km/h. Fui conferir lá na garagem.

Forçando o motor a 130 km/h (e o velocímetro da Fenix Gold é muito preciso), você está trabalhando 10% acima do que o fabricante recomenda, quando o motor foi projetado para trabalhar 10% abaixo dessa rotação (você = cupim de ferro)

Essa velocidade de 90% da velocidade / rotação máxima do motor é chamada de velocidade de cruzeiro. É a condição normal de funcionamento do motor em estrada, com tudo girando redondinho e nos conformes. 

A velocidade máxima só serve para ultrapassagens — enquanto uma forçada eventual dentro da faixa vermelha só existe para uma situação de vida ou morte, quando você erra o cálculo e inicia uma ultrapassagem imprudente e vê outro veículo vindo rápido na sua direção — aí é se preocupar entre salvar o motor ou a própria vida, qual você escolheria? Seja prudente e não erre o cálculo, isso pode ser fatal.

Rodando acima da velocidade de cruzeiro, o sistema de arrefecimento a ar, a ar/óleo ou a ar/água não consegue retirar o calor gerado no cabeçote / cilindro na mesma taxa em que ele é produzido, aumentando excessivamente a temperatura do motor. 


O óleo fica menos viscoso, as peças têm mais atrito, as folgas necessárias desaparecem, o líquido de arrefecimento se evapora, o desgaste das peças se torna mais intenso e, adivinhou, tudo se desgasta irreversivelmente.


As bronzinas (se existentes) e o(s) pistão(ões) são os primeiros a se desgastar e, se a condição se prolongar, serão destruídos por derretimento, furando o pistão ou travando gradualmente a(s) biela(s) no virabrequim e os anéis de pistão no(s) cilindro(s), o popular fundir o motor



Imagem: http://www.caboenrolado.com.br/forum/viewtopic.php?f=7&t=10304&start=210

E nesse processo pode ocorrer a pior situação possível, o pistão poderá travar a biela (acima) ou as válvulas de admissão e escape do cabeçote poderão flutuar. 

O que é flutuação de válvula?


A faixa vermelha é a faixa de rotações onde começa a ocorrer flutuação de válvula: o motor está girando tão rápido e as molas estão tão quentes que não conseguem retornar as válvulas do cabeçote antes que o pistão suba. 

Com a perda do sincronismo perfeito do motor, o pistão bate nas válvulas mais de cem vezes por segundo, o resultado são as válvulas empenadas, o pistão moído, biela empenada, cilindro riscado, danos ao cabeçote. 


Isso aí é um pistão que encontrou as válvulas abertas quando deveriam estar fechadas, algo muito comum em motores de quem gosta de cortar o giro:


Imagem: www.bikehps.com

Dependendo da severidade dos impactos, poderá ocorrer virabrequim empenado, quebra de carcaça, travamento instantâneo do motor e roda traseira, possível queda e atropelamento em alta velocidade com provável morte do piloto e garupa.

Na viagem que fizemos para Penedo, não dava para acompanhar a Mirage do Vinícius quando ele abria todo o acelerador. Nem todas as motos de cilindrada parecida rodam à mesma velocidade máxima. Simples assim.


E para estourar o motor a cada 2 ou 3 mil km após a retífica, o dono ignorou o procedimento de amaciamento necessário para o ajuste dos novos componentes internos em todas as vezes que retificou o motor. 


Outro fator importantíssimo: 


Essa moto sempre trabalhou com nível de óleo extremamente baixo, porque o dono sempre colocou apenas a quantidade recomendada sem ler o procedimento de medição do manual, que é muito bem detalhado.


Como todo novato, ele nunca repôs o óleo a cada viagem, ninguém se preocupa com isso porque acha erradamente que só deve cuidar do óleo nos intervalos de troca.

Nessa moto a troca ocorre a cada 3 mil km — exatamente a quilometragem que rodei com Edith desde a última troca, mas nesse meio tempo já repus mais de 1,5 litro de óleo — todo consumido praticamente durante os mais de 2 mil km de viagens. Menos de 1 ml por km, o consumo normal do motor.


Desde o primeiro dia, o motor da Fenix Gold deve ser abastecido não apenas com 1,9 litro, como está no manual. É necessário completar para chegar ao nível máximo da vareta, como em todas as motos...



Se não fizer isso, o motor não estará em condição de pegar a estrada. 

Arrefecimento:


Esse radiador explodiu tantas vezes porque o motor trabalhou sem líquido de arrefecimento, e várias vezes. A quantidade de vapor lá dentro era tamanha que a válvula de alívio da tampa do radiador não deu conta de aliviar a pressão interna e o radiador estourou.


Motor sem óleo e sem líquido de arrefecimento se superaquece e funde, é uma lei da natureza mecânica. 


Todos os sintomas descritos são aqueles esperados para um motor submetido às piores condições de trabalho, sem óleo suficiente e sem líquido de arrefecimento suficiente.


Quem lê o relato, sai pensando que a moto é realmente uma grande bomba... e isso é uma grande injustiça, porque a moto não tem culpa de cair na mão de donos que não se dão ao trabalho de ler o próprio manual do proprietário antes de saírem por aí.


Imagem: Pinguins de Madagascar. Até eles sabem que é importante ler o manual antes de sair pilotando por aí.

Culpa do proprietário, mas também do fabricante / importador: esse é o grande crime que as empresas que tentam entrar no mercado cometem. E também as marcas consagradas que estão aí.

Ao não cumprir com as próprias recomendações quanto à manutenção do motor durante a entrega e as revisões na concessionária, e ao não orientar corretamente os proprietários, elas deixam que as motos e a própria empresa ganhem má fama no mercado.


Quando retirei a Edith da concessionária, fui informado de que ela havia sido abastecida com 2 litros de óleo.  


A quantidade recomendada é de 1,9 litro, mas o primeiro abastecimento sempre exige um pouco mais.


Após ter contato com ela, e medir de acordo com o procedimento do manual do proprietário, medi o nível conforme o manual e cheguei à conclusão de que a quantidade correta para troca é de pouco menos de 2,3 litros. Algo na casa dos 2,25 litros.


O dono dessa moto aí de cima conferiu e colocou mais óleo assim que saiu da concessionária? 


Não, não colocou, como qualquer proprietário desconhecendo o macete faria. 


Ele saiu rodando com a moto na certeza de que ela havia sido entregue em perfeitas condições. Mas não foi. As motos deveriam, mas nunca são entregues em condições ideais.

A coitada da moto já começou a rodar com óleo baixo e p
ercorreu 5.300 km por mês em 17 meses, o que dá uns 180 km por dia, abrindo o acelerador acima do recomendado. Em outra postagem no fórum, ele afirma ter feito viagens de até 900 km.

Em dois dias o óleo desse motor que já estava no nível mínimo, rodando à velocidade máxima na estradajá tinha baixado mais uns 250 ml por consumo normal.

Em mais ou menos uma semana, a moto já estava rodando com quase a metade da capacidade normal de óleo; nessas condições de alta quilometragem diária, se você não repuser o óleo todos os dias, seu motor estará começando a se desgastar intensamente já a partir da segunda viagem.


Esse proprietário sabia disso? Ele carregava um litro de reserva no alforje para a reposição necessária, como eu e o Vinícius fazemos em viagens?

Certamente não, as idas à oficina o provam.


Outra coisa:


Quando retirei Edith na concessionária, disseram que eu não precisaria me preocupar tão cedo em repor o líquido de arrefecimento, porque o nível praticamente não abaixava.


Isso é verdade, se você usar a moto nas mesmas condições que o vendedor... só que ele não viajava com a moto, só percorria percursos curtos, o motor mal chegava a esquentar e já estacionava. Pegar a estrada implica manter o motor por horas em temperaturas elevadas, e nessas condições o líquido acaba evaporando.


Se eu não tivesse reposto o líquido de arrefecimento durante as viagens, meu motor também teria superaquecido e estourado o radiador e riscado o pistão e o cilindro... é isso que um motor faz quando é mal tratado desse jeito. 


Existe uma luzinha indicadora de superaquecimento no caneco do velocímetro, mas isso não é confiável, porque se ela se queimar, não tem como saber que a moto está a ponto de ferver, a menos que você fique atento ao rendimento do motor, ao vapor saindo pelo ladrão, mas aí o motor já está enfiando o pé no saco. 


O único jeito de garantir que não faltará líquido de arrefecimento é ficando atento ao nível do reservatório, que na Fenix Gold é particularmente difícil de verificar, estou preparando uma postagem detalhada sobre macetes do arrefecimento líquido.


Tudo isso junto explica porque foram 11 retíficas em 90 mil km, o motor abrindo o bico na média a cada 8 mil km.
Só para constar, Edith já está com 7 mil km.

Isso é culpa do proprietário, que não lê e não cumpre o que está escrito no manual da moto, mas também da concessionária que negligencia informações na hora da venda, e da empresa que não dá treinamento e não supervisiona o cumprimento dos procedimentos de manutenção nas revisões

Se a concessionária tivesse abastecido o motor com a quantidade suficiente para atingir o nível máximo da vareta medidora (fazer o que está escrito no manual) e passado informações corretas sobre o procedimento de medição (ler para o cliente o que está escrito no manual), esta história toda não teria ocorrido.

É a mesma coisa com as dafra Kansas e Speed (com o agravante da quantidade estar muito, muito errada), e é a mesma coisa com hondas, yamahas, suzukis, traxxes, shinerays, etc. — todas saem da concessionária com o nível de óleo baixo, e não fazem e não orientam os proprietários a fazer o procedimento correto de medição. (A kawasaki me disseram que o nível bate corretamente, mas ainda não vi com meus próprios olhos).

Se você não usa a moto em viagens, os problemas por nível de óleo baixo aparecerão somente depois de a garantia expirar.

Mas se você compra a moto para fazer viagens frequentes, seu motor irá abrir o bico muito rapidamente, e não será porque a moto não presta.

Será porque o proprietário não lê o manual, as concessionárias não prestam um serviço adequado e as montadoras não fiscalizam o trabalho das concessionárias.

Afinal, para eles não há problema. 

Todo mundo está ganhando muito dinheiro vendendo peças e serviços, sobra para você pagar a conta.

Fique esperto para não passar por isso.

Um abraço,

Jeff

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