domingo, 20 de agosto de 2017

Harleys e sua tendência mortal de sair fora de controle

Vídeo incrível flagrou uma Harley saindo fora de controle com o famoso "balanço da morte" (death wobble):

Vídeo: De autoria da família Hoff reproduzido na reportagem http://www.dailymail.co.uk/news/article-4657406/Shocking-video-shows-motorcyclist-losing-control-bike.html

Do nada a moto começa a oscilar de um lado para outro e acaba sofrendo uma queda feia. O piloto quebrou a cara no asfalto, aquela mania de não usar capacete integral... ou nenhum. Capacete coquinho é a mesma coisa que nada.

A família que gravou o vídeo conta que ele já havia quase perdido o controle da moto umas 6 vezes quando atingia uma determinada velocidade.

A harley-davidson há anos alega que não é culpa do projeto dela

Como sempre, para as fabricantes, a culpa é sempre do piloto.

Você pode me dizer o que o piloto fez nesse vídeo para ser culpado pela queda?

Nem eu.

Não há acessórios instalados naquela moto para serem usados como desculpa.

A moto viajava em velocidade muito próxima à dos carros, certamente não estava muito acima dos 100 km/h.

Mas o fato é que as motos fabricadas pela harley são famosas por acidentes desse tipo.
Imagem e reportagem: http://www.wftv.com/news/local/fhp-investigates-if-death-wobble-caused-troopers-motorcycle-crash/199766013

A polícia rodoviária da Califórnia barrou a compra de motos da harley por causa disso (vídeo mais abaixo e postagem antiga).

Motos zero km, diga-se de passagem.


Já que segundo a harley-davidson não é um defeito do projeto, então o que causa essa mania das Harleys?

Encontrei este vídeo de um mecânico que tem todo o jeitão de entender muito, muito mesmo de Harleys:


Segundo ele, o desalinhamento das rodas é o motivo de as Harleys terem essa mania de sair rebolando sem motivo aparente.

Ora, um desalinhamento das rodas ou do quadro não é coisa original de fábrica, correto?

Não é bem assim.

Supostamente os gabaritos de montagem devem garantir o alinhamento perfeito entre as peças, mas erros acontecem. Que o digam as primeiras dafra montadas no Brasil, que tinham o chassi muito mal soldado em Manaus...

É famosa a história de um carro nacional que saiu de fábrica com o lado esquerdo maior que o direito por erro de fabricação dos estampos de cada lado. Pena que agora eu não me lembre qual foi, e também não encontrei o caso na internet. 

E lembrando, os testes feitos pela polícia rodoviária da Califórnia, que barrou a compra de uma frota de Harleys, foram feitos com motos zero km...
 

De qualquer forma, você pode descobrir se é um problema original de fábrica ou não por conta própria.

O teste de alinhamento feito pelo Chuck é muito simples, só depende de duas réguas bem retas.

(E neste caso "régua" é qualquer tubo, cano, cantoneira, perfilado, etc. suficientemente reto e rígido para servir de referência.)

É algo que você proprietário de Harley pode e deve fazer, basta alinhar as réguas com o pneu traseiro e ver se há diferença em relação ao pneu dianteiro.

(Obviamente, o teste só tem sentido depois de comprovar que a roda traseira está corretamente alinhada na balança, as marcas de referência de um lado coincidindo com as do outro — isso é básico.)

O mecânico experiente afirma que isso é erro de reparador desqualificado, e não um problema original de fábrica. Pode ser. 

O torque de aperto excessivo da porca da roda traseira pode causar um pequeno desalinhamento das rodas.

Em uma moto longa como uma Harley, um pequeno desalinhamento vira um grande desalinhamento.

Mas eu suspeito que outra causa possível para esse problema seja aquele que os proprietários têm vergonha de admitir e nem comentam com os amigos:

O tombo besta com a moto.


Harleys são muito pesadas. 

Ao passar por um tombo besta, até mais besta que esse aí de cima, o enorme motor faz uma força tremenda sobre o chassi.

Minha suspeita é que isso possa ser o responsável por um grande desalinhamento do quadro.

Acontece até com o peso ridículo do motor de uma CG antiga — experiência própria de um amigo meu (que não sou eu ;).

A rigidez do quadro é proporcional ao peso da moto — a rigidez do chassi de uma Harley tem de suportar o enorme peso do motor projetado pela harley.

Mas boa parte do esforço dos engenheiros vai para a maior redução possível do peso para tornar a moto econômica (não só em consumo, mas principalmente nos custos de produção).

Se for negligenciada a conferência do alinhamento depois de um tombo besta, o proprietário se arrisca a passar por essa situação do balanço da morte.

Se minha hipótese for correta, podemos dizer que não se trata de falha do projeto? 

Um chassi "fraco" que não aguenta um tombo besta sem se deformar?

Bom, nenhuma moto é feita para cair. 

Harleys até são resistentes, mas o motor é realmente algo muito pesado, e cada tombo é um tombo diferente.

Então atribuir a culpa do problema à harley vai muito da opinião pessoal de cada um. A minha os leitores do blog já conhecem, então sou suspeito para falar... hehehe.... o fato é que os tombos com minha antiga CG entortavam o quadro, e tombos tão graves quanto com minha Kansas nunca o entortaram. O quadro da Kansas peca pela resistência à fadiga, mas não pela resistência à torção. 

A grande questão é:

Será que passa pela cabeça do proprietário de uma Harley que sofreu um tombo besta — e aparentemente não teve danos — levar a moto à concessionária para verificar o alinhamento do chassi e das rodas?

Tenho certeza que não. 

E mesmo que leve a moto à concessionária, será para trocar algum componente riscado ou danificado.

Será que passa pela cabeça dos mecânicos da concessionária harley fazer a verificação do alinhamento das rodas de uma moto que chegou para trocar um componente riscado ou danificado?

Sem dispor de um dispositivo medidor a laser? Tudo fica melhor com lasers, já dizia o Cardoso.

O macete ensinado pelo Chuck é macete de quem conhece... 

Então tenho minhas dúvidas se em todas as concessionárias encontraremos gente com essa percepção e capacidade de solucionar o problema.

Assim, minha sugestão é que você mesmo faça a medição verificação conforme ensinada pelo Chuck, seja sua moto original zero km nunca caída ou não.

Quem sabe o que mais a gente descobre?

E se descobrir, não deixe de avisar a gente!

You're welcome,

Jeff

15 comentários:

  1. Estava pesando em comprar uma Harley, acho que vou continuar com a CG hehehe.
    Ah, alguém pode dar algumas dicas de como pilotar durante a noite em estradas mal iluminadas e com alto fluxo de carros vindo na direção contrária?
    Obrigado e parabéns pelo blog!

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    1. Olá, leitor! Obrigado por acompanhar o blog!
      Não desista do seu sonho!
      Eu acredito que a solução proposta pelo mecânico de Harleys resolva o problema.
      E como o meu amigo Daniel falou no comentário abaixo, também tem a opção de instalar um amortecedor de direção (só que isso pode sair muito caro em motos que são vendidas como o top do top aqui no Brasil).

      Sobre viajar à noite nessas condições, o melhor conselho é: Não viaje à noite.

      Tive oportunidade de passar por esse perrengue algumas vezes, e sinceramente não compensa o risco, a menos que você esteja em modo kamikaze e precise chegar ao destino de qualquer jeito.

      O fluxo de carros em sentido contrário sempre implica em alguém tentando fazer uma ultrapassagem sem ver a moto. Então você precisa ficar o mais à direita possível para fugir para o acostamento em caso de necessidade, e nem sempre existe um acostamento disponível.
      Além disso, motoristas percebendo a burrada costumam fugir para o acostamento, e aí não tem como evitar.

      Uma maneira de evitar ser ofuscado pelos carros em sentido oposto é manter a atenção na faixa sinalizadora à sua direita.

      Mas essa é outra coisa que não costuma estar disponível, ainda mais em tempos de vacas magras no governo, é a primeira coisa que eles cortam nos investimentos. A BR-282 já não tinha sinalização em 2015, imagine agora.

      Manter a atenção na faixa serve de referência para não sair da estrada enquanto você evita olhar o fluxo de faróis no sentido contrário.

      Eles têm a desvantagem de ofuscar, mas pelo menos te dão uma pista se o trecho à frente é reto ou em curva. Mas vai chegar uma hora em que não haverá ninguém na pista, e sem sinalização com o farol apontado para o mato nas curvas não te dá sensação de distância para você calcular a distância da curva, é uma situação tensa.

      Seguir atrás do veículo de alguém que conheça a região ajuda muito, mas tem o problema de que esses motoristas costumam ir em altas velocidades que chegam a ser imprudentes para quem não conhece a estrada.

      Além disso, ao serem seguidos por uma moto, os motoristas pensam que serão assaltados e costumam fugir em velocidade mais alta ainda...

      Sem falar que prestando atenção no veículo à frente, você pode não perceber uma bifurcação importante no caminho e ir parar em outra cidade...

      http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2015/08/o-retorno-da-carcaca-do-zumbi-2-final.html

      Outro grande perigo, essas estradas costumam ter muitos animais domésticos e selvagens cruzando a estrada, leia as postagens:

      http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2013/01/a-hora-em-que-vaca-vai-para-o-brejo.html

      http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2013/04/a-hora-em-que-vaca-vai-para-o-brejo-2.html

      Nem vou falar das cobras no Rastro da Serpente...

      Um abraço,
      Jeff

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    2. Bah, obrigado pela aula Jeff!
      Como seria a trabalho essas viagens, o jeito é ir de ônibus mesmo, hehe. Vou ler agora mesmo os posts.

      Grande abraço!
      Paulo Vitor

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    3. Olá, Paulo!
      É sempre um prazer responder uma pergunta com potencial para virar uma postagem... já está programada, só falta pesquisar uma imagem.
      Um abraço,
      Jeff

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  2. Mas essa oscilação não é exclusividade das Harleys, de forma geral motos (e outro veículos como o Jeep Willys) sofrem com isso, até tem um termo para isso "shimming". Motos que atingem alta velocidade e motos longas e pesadas estão mais propensas a isso. Devido a isso algumas motos saem de fábrica com amortecedores de direção.

    Um Abraço!

    Dan

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    1. Olá, Dan!
      Concordo contigo que o shimming é comum a todas as motos, principalmente as capazes de atingir altas velocidades, mas geralmente acontece em condições de aceleração intensa e ao passar acelerando forte sobre desníveis do asfalto.
      Mas o assustador nesse vídeo é que nenhuma das condições está presentes, a moto não está em velocidade acima da permitida, tanto é que a família que filmou viajava no mesmo ritmo e já havia percebido o problema em situações anteriores, tanto é que estavam filmando o motociclista justamente por causa de ela estar apresentando o problema repetidamente.
      A moto simplesmente começa a rebolar do nada, e essa é a queixa de todo mundo que relatou o death wobble, inclusive os policiais que se acidentaram e testaram a moto para os CHiPs, por isso acredito no que o mecânico do vídeo falou (e demonstrou) no vídeo.
      Mais uma coisa:
      Se um simples amortecedor de direção resolveria o problema (como também acredito), é mais um ponto negativo para o karma da fabricante que economiza nesse item sabendo que sua moto tem essa tendência.
      Um abraço, e continuo programando uma passada por aí,
      Jeff

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  3. Eu diria que estas grandes motos que rebolam, são na verdade moças muito sensuais atraindo os olhares dos rapazes incautos e deslumbrados por tanto charme.
    Um pouco de humor só faz bem ao espírito... Afinal é moto (macho) ou motocicleta (fêmea)?
    Abraços.

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    1. Olá, José Carlos!
      Para mim e para a nação portuguesa toda a moto é fêmea, tanto que em Portugal é chamada de mota. Mas tem gente que pensa diferente. O importante é que todos sejam felizes com seuas respectiv@s.
      Um abraço,
      Jeff

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  4. Estou planejando uma viagem o mês que vemcom a minha cg 150, eu e mais 2 amigos, um percurso de 800 km (ida e volta).
    Você que é acostumado a cortar trecho com a Jezebel, me daria algumas dicas para evitar contra tempos?
    Sobre o óleo, tou usando Havoline, nunca usei um óleo tão bom quanto esse, acho que ele aguenta o "rojão " da viagem sem problemas...
    Qual a velocidade de cruzeiro que nao force muito o motor você recomenda pra minha cg? dar pra ir à 90 a 100 km? (Velocidade que marca no velocímetro).
    Você recomenda eu levar um pouco de óleo caso seja necessário a adição? Já vou sair com o nível no maximo. Rodando aqui na minha região, ela não baixa praticamente nada durante os 1500 km, (que é a quilometragem que eu troco o óleo).
    Estou muito ancioso, uma das coisas que tenho mais prazer na vida é pilotar uma moto. Rsrs...

    Abraço!

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    1. Olá, Maicon!

      Ótima notícia! Viajar de moto é uma das melhores coisas da vida!

      A primeira coisa é sair de casa com pneus calibrados, freios bem regulados, tanque cheio, óleo no máximo, filtro de ar limpo, vela em bom estado e gasolina aditivada. E pneus vacinados contra furos!

      A velocidade de cruzeiro é na casa dos 80 a 90% da velocidade máxima, no seu caso deve ficar mesmo entre os 90 a 100 km/h.

      De CG dá para manter 90 km tranquilo. As contas dizem que 800 km dá para fazer em menos de 10 horas, mas a média horária fica bem abaixo disso por conta do trânsito ocasional.

      A velocidade real na estrada nunca é constante, diminui muito nas serras e arredores das cidades.

      Além disso, a gente esquece do tempo perdido nas paradas.

      Uma fórmula que uso para calcular a hora de chegada incluindo as paradas para abastecimento, almoço, etc. é calcular uma média real na casa dos 45 km/h.

      800 km é tranquilo, um pouco mais que a distância daqui de Santo André até Floripa, mas não aconselho fazer em uma pernada só, é extremamente cansativo com uma moto de baixa cilindrada e te obrigará a viajar à noite.

      Em grupo a viagem tende a ser mais demorada por causa das paradas mais frequentes e mais longas, fomos de SP ao Rio e fizemos 400 km em 10 horas.

      Costumo parar por volta dos 500 km, o que dá um percurso mais ou menos das 8 da manhã até o começo da noite. Nunca consigo sair muito cedo de casa...

      Fomos de Campinas a Maringá, 640 km, em um ritmo bem puxado e levamos 14 horas, média de 45 km/h. Os últimos 150 km foram uma tortura pelo cansaço, por isso é melhor parar aos 500 ou até antes se o cansaço apertar.

      Pilotar cansado é perigoso, e você estará no auge do cansaço à noite enfrentando trânsito urbano de uma cidade desconhecida, é tenso.

      Além disso, 500 km é um bom momento para pernoitar e conferir o óleo da moto pela manhã, muito provavelmente precisará repor.

      Planeje a viagem prevendo locais de reabastecimento a cada 200 km, porque você sempre estará com uma boa capacidade no tanque se de repente aparecer um trecho sem postos de gasolina.

      Divisas de estados não costumam ter postos por longas distâncias, então sempre se garanta na última cidade.

      Outra coisa que a gente não costuma pensar: postos de cidades pequenas não são 24 horas. O pessoal fecha lá pelas 8 da noite e só abre de novo quando o galo canta.

      Recomendo uma almofada de gel para o banco, ajuda muito.

      E leve um litro de óleo de reserva sim, já aconteceu de eu estranhar o comportamento da moto na estrada e constatar que o consumo de óleo foi maior que o estimado por conta de um trecho de serra, tive que repor 300 ml quando a faixa de segurança da vareta é de 200 ml.

      Ah, lembrando:

      Vá no seu ritmo e não embarque na canoa furada de algum amigo.

      Viajando em grupo a gente se preocupa em acompanhar o ritmo do líder, o que pode levar a decisões erradas na hora de uma ultrapassagem.

      Quem vai na frente precisa ter bom senso e pensar em todo mundo, não adianta ele forçar ultrapassagens que não poderão ser acompanhadas pelos outros.

      Se o líder ultrapassar uma carreta antes de uma curva, os outros integrantes do grupo não conseguirão e poderão ser induzidos a tentar uma ultrapassagem perigosa, não caia nessa armadilha.

      Nas cidades, é comum acontecer de um sinal fechar e separar o grupo, então todo mundo precisa ficar atento para não deixar ninguém para trás.

      Acho que o essencial está aí. Se eu lembrar de mais alguma coisa, posto aqui.

      Boa viagem para você e seus amigos!

      Um abraço,
      Jeff

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    2. A média horária foi estimada com base em um grupo de Kansas, nossa velocidade de cruzeiro é um pouco mais baixa que a da CG.

      Enquanto a CG vai a 110 km/h, a Kansas vai no máximo a 103,00087 km/h, é o meu recorde medido no GPS do Vinícius.
      Eu de novo,
      Agora fui

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  5. Complementado:
    Este Shimmy de traseira da Harley era comum até 2006 principalmente acima de 140km/h, depois disso a Harley modificou o chassi elimimando ano ano esta caracteristica.
    O desalinhamento de rodas não era a causa, mas o torque frente ao chassi. Varias soluções foram tentadas e a de mais sucesso era uma barra ligando o motor cambio a bandeja traseira.
    Esta solução é problematica a longo prazo, visto que as Harley touring tem o motor oscilante e travar ele na balança vai aumentar o desconforto degaste e vibração.
    Ando de Touring desde 2006, trocando em média a cada 2 anos e não identifico atualmente este comportamento.
    Hermann H Alves

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    1. Olá, Hermann!

      Muito obrigado pelas informações, é importante que novos motociclistas conheçam esses macetes antes de adquirir sua primeira moto custom de alta cilindrada.

      Ou seja, o death wobble era um problema de falta de rigidez do chassi, que foi solucionado pelos proprietários com esse travamento e o reforço do quadro.

      Mas parece que a própria harley não estava satisfeita, tanto que lançou a linha 2018 divulgando o ganho de 65% na rigidez do chassi em relação ao ano anterior, como relatado na postagem:

      https://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/08/ora-ora-novas-motos-da-harley-davidson.html

      Parece que agora essas motos chegaram em um ponto otimizado do projeto, resta saber agora sobre a confiabilidade a longo prazo do motor 48.

      Um abraço,
      Jeff

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