quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Brough Superior SS 100, Lawrence da Arábia, Peter O'Toole e você

Esta postagem começou para falar do relançamento da marca inglesa Brough Superior, um fabricante pioneiro dos tempos heróicos.


O desenho parece estranho, mas a "Rolls-Royce das motos" ditou o rumo de todas as motos desenvolvidas nos anos 1930. 

E a Brough volta com um modelo totalmente novo, mas inspirado nas máquinas clássicas dos anos 1920, como a SS100 Alpine Grand Sport, e também fazendo réplicas:


Mas não adiantaria falar da Brough Superior sem falar do cara mais famoso que pilotou essa máquina clássica, T. E. Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia.


Lawrence era um sujeito e tanto, viveu aventuras como poucos. No começo do século passado, era um arqueólogo que adorava motocicletas. Indiana Jones deve muito a ele.

Sua grande alegria era sair pilotando uma de suas Brough Superior SS80 e SS100 (teve sete delas e já tinha encomendado a oitava), voando baixo por centenas de quilômetros a cada fim de semana pelas pacatas estradas inglesas.

Esta postagem nasceu para falar sobre a Brough, o Lawrence e o motivo que só falarei lá no final, mas eu não podia deixar de fora minha homenagem ao Peter O’Toole, que morreu esta semana. 

A vida de T. E. Lawrence foi contada neste filme aqui, interpretada por Peter O'Toole:


Filme Lawrence da Arábia, de David Lean

Mas como Lawrence foi parar na Arábia, e o que ele tem a ver com um blog sobre motos, além de ter colecionado Broughs?

Lawrence ficou famoso porque durante a Primeira Guerra Mundial ele atuou como agente secreto do governo inglês no Oriente Médio.

Naquela época, Inglaterra e França estavam em guerra com a Alemanha, Império Austro-húngaro e Império Turco, que dominava aquela região.

Apesar da mesma cultura islâmica, turcos não são árabes, e por ordem do governo britânico, Lawrence batalhou para que diversos povos árabes se unissem numa rebelião contra a dominação turca, com a promessa do governo britânico de que conquistariam a liberdade com as bênçãos dos países bons mocinhos vencedores da guerra.

Se hoje existem Arábia Saudita, Síria, Iraque e outros menos votados como estados autônomos, foi consequência direta das ações desse arqueólogo motociclista.

Mas sucede que acabou a guerra e, apesar das promessas solenes, Inglaterra, França e EUA deram foi uma bela de uma banana para os árabes, porque o que eles queriam mesmo era só o petróleo barato. 

Deu no que deu, e hoje em dia a coisa está cada vez mais feia por lá, e nós vemos todas as noites na TV como até hoje Inglaterra, França e EUA continuam garantindo a liberdade dos povos árabes com fuzileiros, Hummers Humvees, helicópteros e drones, muitos drones.

Lawrence ficou tão decepcionado por ter sido usado para essas jogadas políticas que jogou fora a carreira; ele era coronel (quase general) do exército britânico, pediu baixa e se alistou como recruta na RAF, a Real Força Aérea.

Ele recusou todas as promoções e terminou a vida como cabo, se dedicando unicamente à sua maior alegria, pilotar sua moto incansavelmente todos os finais de semana.

Até aquele dia em 1935 em que encontrou dois garotos de bicicleta no meio da rodovia e, para não matá-los, se jogou com a moto para fora da estrada.

A moto sobreviveu quase intacta, mas o pobre Lawrence morreu depois de seis dias por causa dos ferimentos na cabeça; ele provavelmente teria sobrevivido se estivesse usando um capacete, algo que naquela época ninguém fazia.

E foi porque esse herói nacional (deles) morreu que o médico neurologista que acompanhou seus momentos finais tomou a iniciativa de apresentar um projeto de lei tornando obrigatório o uso de capacete para motociclistas; e hoje todos nós somos beneficiários desse equipamento de segurança. 

É incrível como as coisas se encadeiam e fatos não relacionados têm influência sobre nós.

Não usaríamos capacete se não fosse pelo Lawrence, e talvez este blog não existisse e nós não estaríamos nos comunicando se eu não tivesse assistido o filme sobre a vida dele, que começa pelo fim, pelo acidente.

A sequência da abertura do filme em que Peter O'Toole pilota uma Brough Superior como Lawrence da Arábia contribuiu para que este ex-adolescente se tornasse motociclista.

Que não abre mão do capacete. 

Neste pequeno mundo em que vivemos, estamos todos relacionados por maneiras que nem imaginamos.

O Natal está aí, comemoremos estas relações misteriosas que dão graça ao Universo!

Um abraço, 

Jeff

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