sábado, 6 de dezembro de 2014

Ultrapassagem pela direita, a sujeira e a dura realidade

Olha só porque não dá certo misturar pilotagem esportiva com trânsito:


O cara teve sorte de não ter sido quebrado ou cortado ao meio pelo guard-rail.

É, às vezes acontece. Extremamente desagradável.


Esse cara aí só quebrou a perna, saiu barato, porque poderia ter quebrado a coluna ou o pescoço — ou seja, ia passar a pilotar cadeira de rodas ou viajar de passageiro no carrinho do IML. 

Quando você tiver que tomar uma decisão, tome uma decisão acertada — porque poderá ser a última de sua vida.


Nunca se esqueça de que a adrenalina é péssima conselheira. Um erro de avaliação como esse do vídeo, em alta velocidade, na maior parte das vezes é fatal.


Ir para o lado sujo da pista, onde tem poeira acumulada justamente porque ninguém passa por ali, é a pior decisão. 


Poeira diminui o atrito de um pneu que já está no limite da aderência para aquela curva naquela velocidade.


Você viu no vídeo sobre pneus lisos como uma mísera areiazinha derruba a moto fácil, fácil.

E o motorista não imagina que alguém irá desrespeitar a lei de trânsito fazendo uma ultrapassagem proibida e arriscada que só um doido faria — ao ouvir o ronco da moto crescendo bem perto, a reação instintiva do motorista é dar passagem, e até ele perceber que a moto estava no local proibido, já era.

Primeiro de tudo, pilote em velocidade compatível com o trânsito na rodovia — só isso já melhora enormemente sua chance de sobrevivência.


Caso seja surpreendido por um veículo mais lento em uma curva sem visão, endireite a moto e freie tudo que puder, e então se incline de novo para continuar a curva, agora em menor velocidade.


Essa é uma manobra que só dará certo se a diferença de velocidade entre você e o carro na sua frente não for muito grande.


É por isso que você nunca pode começar uma curva achando que não haverá nada lá do outro lado.


Porque se houver, você estará vendido e pendurado no bico do corvo.


Um abraço,


Jeff

Respondendo as dúvidas da Mariana

Olá meus amigos!

No programa de hoje, responderemos as dúvidas da nossa amiga Mariana, que entrou em contato através do Facebook.


Mariana tem uma Intruder 125 comprada em Abril e está com apenas 116 quilômetros rodados, e está enfrentando alguns problemas, vamos lá:


“Fui trabalhar com ela na última terça e percebi que ela está morrendo do nada quando paro a moto.”


Motocicleta nova vem com uma proteção no tanque para evitar a oxidação, proteção esta que é “lavada” com as primeiras abastecidas. 


Considerando que nessa quilometragem a moto deve ter meio tanque da primeira abastecida, que aconteceu há alguns bons meses, temos a mistura de gasolina velha com esta proteção.

A parte boa da gasolina evapora rapidamente, o que vai aumentando a porcentagem de álcool, água e gasolina deteriorada no tanque. O resultado é um combustível inferior que queima com mais dificuldade. Quando queima.

Outro item que pode influenciar em um problema como este, é a marcha lenta desregulada.


Muitos mecânicos deixam no mínimo que conseguem, porém, existe uma faixa de giro descrita no manual, que comumente é de 1500 RPM com o motor quente.


Com isso, podemos ter a junção de três itens que estão causando esse problema, mas que são simples de resolver basta você trocar essa gasolina velha e rodar com a moto, no caso da marcha lenta, peça para o mecânico verificar se está de acordo com o informado no manual de instruções.


“E desde o dia que a tirei da concessionária a primeira marcha, quando paro e ponho o neutro, às vezes teima em não entrar (o que acaba fazendo com que eu fique com a primeira engatada mesmo parada e com a embreagem puxada)”


Aqui temos algumas situações:


A primeira é que o neutro pode ter alguma dificuldade em entrar de vez em quando, e às vezes ir um pouquinho para frente ou para trás ajuda.


A sua embreagem pode estar desregulada. Se estiver muito “baixa” será mais difícil para o mecanismo do câmbio se mover, fazendo com que o neutro fique bem difícil de engatar. 


Normalmente o manual do proprietário contem instruções de como ajustar a embreagem, se tiver dúvidas, peça ao mecânico que ajuste.

E por último, o nível do óleo pode estar baixo, seria legal conferir de acordo com as instruções do manual.


“É necessário fazer a primeira revisão de seis meses com essa mínima quilometragem?”


Sim, primeiro por conta da garantia, pois normalmente a primeira revisão é feita com 1000 km ou seis meses, o que vier primeiro, se você não fizer, perderá a garantia do produto. 


Lembre-se que sempre vale o que está descrito no manual, independente do que digam no momento da venda, o que conta é o que está escrito, como num contrato.

Depois por conta do óleo, que estará velho aos seis meses, então, mesmo que não tenha rodado muito — o
 óleo perde uma parte de seus componentes por evaporação e o que fica no cárter se oxida com o ar e os gases queimados da combustão — então deverá ser feita a troca dele.

O melhor para aproveitar a vida do óleo, é justamente aproveitar a moto ;-)

Abraço!



Vinícius Melo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Dicas para quem vai pegar a estrada nas férias

Respondendo ao leitor Luiz Guilherme Marvilla:

Como saber se estou pronto para pegar a estrada?

Se você está inseguro, é porque ainda não está pronto.


Continue praticando o domínio da moto, continue adquirindo prática na cidade, tenha certeza de que sua moto está em perfeitas condições e chegará o dia em que você mesmo falará: — É hoje!

Para facilitar as coisas, aí vai um pequeno resumo de algumas situações práticas que você poderá enfrentar:


O que fazer quando um carro para de repente na estrada?

Saia do caminho.




O pessoal não enxerga um carro parado no meio da rodovia, não irão ver você e sua moto.


O cara da moto fez a coisa certa, viu a encrenca e se refugiou no 'acostamento'. 

Sempre que o trânsito parar, saia da linha de tiro e busque a lateral da pista ou o acostamento. Deixe a encrenca para os outros, é briga de cachorro grande.


Outra coisa:

Nas curvas, que são a situação mais diferente do trânsito do dia a dia que você encontrará:

Mantenha o foco no ponto que você pretende chegar ao final da curva e não tenha medo de se inclinar, que a moto fará o resto sozinha.

Não se distraia com o trânsito na outra pista, senão o resultado será este:



A moto sempre irá para onde você estiver olhando, então tenha o pensamento sempre na solução e não no problema.

Mais uma coisa:

Caso encontre uma curva muito fechada que te obrigue a corrigir a trajetória, NUNCA JAMAIS EM TEMPO ALGUM vire o guidão na mesma direção da curva!

O que funciona para um triciclo não funciona para uma moto — virar o guidão na direção da curva fará a moto guinar para a direção oposta.

Acredite, motos esterçam ao contrário, veja só:



Se ele virasse o guidão para o lado da curva, a moto abriria a trajetória e ele iria cumprimentar o público pessoalmente.

Se você precisar corrigir a trajetória, EMPURRE PARA FRENTE O GUIDÃO PARA O LADO QUE VOCÊ QUER IR.

Empurre o guidão direito para ir para a direita.

Empurre o guidão esquerdo para ir para a esquerda.

Pratique isso antes, com cuidado, porque a reação da moto é violenta e pode te surpreender. 

Você precisa conhecer as reações de sua moto ANTES de precisar praticar uma manobra de emergência, senão aquilo que seria sua manobra salvadora poderá se tornar um desastre ainda pior do que aquele que você queria evitar.

Aproveite para recapitular estas postagens essenciais para quem pensa em pegar a estrada, lá as coisas são explicadas em mais detalhes:

http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/02/virei-para-um-lado-e-moto-foi-pro-outro.html

http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/02/nunca-trave-o-olhar.html

http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2013/09/voce-compra-aquilo-que-ve.html

http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/09/novato-na-rodovia-faixas-de-aceleracao.html

http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/09/cuidado-com-os-pedagios-fora-de-sua.html

Um abraço, e boa viagem,

Jeff
PS: Tenho a impressão de já ter postado aquele primeiro vídeo, mas não encontrei a postagem em lugar nenhum. Ah, encontrei. Estava na postagem... Droga, esqueci de novo. Mas vale o lembrete, é um acidente tão comum e tão didático...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Será que o cabeçote está trincado? Como trocar vela de ignição?

Respondendo ao leitor Thiago Cabral Dos Santos:

(...) Tenho uma CB300 2011 que comprei usada e me assustei quanto ao problema do cabeçote. A minha liga normal na primeira e mantém a lenta, não vaza óleo, está com 54 mil km, tudo ok. Porém joguei wd no pé da vela e a mesma espirra igual ao sintoma de cabeçote trincado. Será que é outra coisa?

Bem, sejamos otimistas...


Sugerimos começar pelo mais simples:

A vela de ignição possui uma arruela de vedação. 

Imagem: http://www.zacarias.com.br/blog/2013/03/21/dicas-de-manutencao-velas-de-ignicao/

Ela é feita para se deformar e garantir boa vedação sem deixar escapar compressão, como está ocorrendo na sua moto.

Então antes de qualquer coisa, verifique se a vela está frouxa no cabeçote tentando apertá-la usando a chave de vela original do jogo de ferramentas, mas sem instalar o cabo de alavanca na chave. 

Uma vela bem apertada não poderá girar acionando a ferramenta apenas com os dedos. Se girar, aperte com a ferramenta sem o cabo de alavanca até a vela assentar totalmente, e então coloque o cabo de alavanca e aplique um pequeno aperto tipo 1/4 de volta, isso deverá ser suficiente para eliminar o problema.

Repita o teste com o óleo em aerossol. Se continuar vazando compressão, continue investigando a vela.

Remova essa vela de ignição e verifique se a arruela de vedação está instalada. Sabe como é, você nunca sabe o que o pessoal andou aprontando por aí.

Aproveite para ver o estado da vela e, se for o caso, já troque por uma nova com a arruela de vedação em perfeito estado.

Dificilmente você vai ter um torquímetro disponível para aplicar o torque correto, então use o seguinte critério:

Instale a vela bem centralizada na rosca, parafusando-a com os dedos até que a arruela de vedação se encoste no cabeçote, depois aplique mais um quarto ou meia volta com a chave de vela e o cabo de alavanca do jogo de ferramentas da moto. 

Não use alavancas maiores do que aquele ferrinho que veio junto com a chave de vela; ele é dimensionado para dar um aperto adequado à vela — uma alavanca maior esforçará demais o cabeçote.

Aperte apenas o suficiente para sentir que a vela ficou firme — é diferente de apertar uma porca de roda, na porca de roda você precisa fazer muito mais força.

Não exagere nesse aperto, porque o torque excessivo na hora de apertar a vela pode trincar o cabeçote.

Não trocar a vela e tentar compensar a incapacidade de vedação da arruela apertando-a em excesso é o tipo da economia que sai caro:

A arruela não dá boa vedação porque está deformada, o cara tenta compensar aplicando um aperto cavalar, a rosca do cabeçote não aguenta e acaba criando uma trinca que vai custar centenas de vezes mais caro do que instalar uma vela nova e aplicar o aperto correto.

Instalada a vela nova, repita o teste com óleo em aerossol para ver se o vazamento de compressão continua.

O mais provável é que esses procedimentos resolvam, porque se fosse realmente um trinca no cabeçote, a moto não pegaria com facilidade. 

Mas pode ser o início de uma trinca, ou então só agora ela chegou a achar um ponto de fuga.

Se o motor pega bem na partida, não está fraco, não está beberrão e a lenta está estável, é bem provável que a vela não tenha recebido o torque adequado.

Dica do leitor Rogeriopko:

Pode-se também utilizar um medidor de compressão que vai rosqueado [no lugar da] vela. Caso a compressão esteja muito baixa, o cabeçote já rachou.

Obrigado, Rogério!

Boa sorte,

Jeff e Dan

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Transportar gás também quebra o quadro da moto

Reportagem: http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/07/motos-estao-em-80-dos-acidentes-com-mortos-e-feridos-em-teresina.html

Transportar cargas superiores à capacidade da moto, como botijões de gás, também faz o quadro de sua moto se quebrar.

Uma moto é dimensionada como condução individual que pode levar uma garupa em parte do tempo.

O critério é:

Piloto de 75 kg durante 100% do tempo (óbvio, né?)

Garupa de 60 kg durante 33% do tempo (é mais ou menos o que o pessoal faz, tipo carregar a namorada só nos finais de semana).

Esse critério de dimensionamento permite uma vida útil normal da moto. Passou disso, a expectativa de vida diminuirá. 

O quanto essa vida útil diminuirá, e com que rapidez, dependerá de quanto esse limite for ultrapassado ou abusado.


É por esse motivo que uma moto projetada para transporte de carga, como a honda Cargo, prevê um báu + carga de apenas 20 kg. 


20 kg todo o tempo corresponde ao esforço aplicado por uma carga de 60 kg (o peso típico de uma garupa) durante um terço do tempo de uso da moto. 

Pois é, você está enganado quando pensa que pode colocar 60 ou 70 kg de peso sobre a moto (o equivalente a uma garupa) durante todos os dias de trabalho sem que isso prejudique sua moto.


Prejudica sim, ela se tornará menos confiável. Todas as peças se desgastarão em taxas mais aceleradas. Não dá para mudar as leis da Física.


E quando sua moto é usada para o transporte de botijões de gás, seu quadro irá se romper em pouco tempo por fadiga (falamos disso ontem)

Para saber o que acontece quando o quadro se rompe, leia a série de três postagens que começa com O jogo das diferenças

Lá eu falo da Kansas, a diferença é que a Kansas 2008-2009 não precisa transportar botijões de gás para romper o quadro, ele se parte sozinho mesmo.

E já que falamos dos perigos de transportar botijões de gás para quebrar o quadro de sua moto, vou aproveitar para falar dos perigos de se transportar botijões de gás para quebrar sua cabeça.

Em um acidente, os botijões vão sair voando — veja na foto. 

E botijões voando acabam caindo em cima de alguma coisa.

E essa coisa pode ser sua cabeça.

Então, caso ganhe a vida com a sua moto transportando gás ou outras cargas pesadas, conheça os riscos e tome muito cuidado, porque isso aumenta muito o perigo para o piloto em caso de acidente.

Cargas pesadas exigem maior espaço para frenagem, revisões mais frequentes e manutenção em dia dos componentes dos freios e suspensão.

E ainda mais cautela que o normal durante a pilotagem.

Ah, só lembrando:

A lei 12.009 de 29 de julho de 2009 estabelece que motos somente poderão transportar botijões de gás com capacidade máxima de 13 kg e galões contendo água mineral com capacidade máxima de 20 litros com o auxílio de um semirreboque ou sidecar, senão é multa.


Reportagem: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2011/08/lei-para-transporte-de-cargas-entra-em-vigor-mas-sem-fiscalizacao.html

Mas parece que essa lei não pegou.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

É assim que se quebra o quadro da moto



Pare um pouco e pense:


Se a sua moto não é uma trail, ela não foi projetada para ficar saltando lombadas em alta velocidade.


Autódromos não têm lombadas.

O engenheirinho japonês que projetou essa moto nem sequer imagina que do outro lado do mundo exista uma cidade a meio caminho de Minas onde tem mais lombadas do que asfalto nas ruas.


Em lugar nenhum do mundo se colocam lombadas com o tamanho e a voracidade como as que se vê aqui no Brasil.


Mais do que isso:


O engenheirinho inocente nem sequer imagina que possam existir proprietários tão sem amor a suas motos que sejam capazes de passar em alta velocidade com motos esportivas sobre obstáculos criados justamente para reduzir a velocidade.


O projetista é japonês — nem sequer passa pela cabeça dele que exista um país onde as pessoas se divirtam desrespeitando os limites de velocidade.


Se a sua moto não é uma trail, ela não foi projetada para esse tipo de esforço — a praia das esportivas são os autódromos e rodovias de primeiro mundo, onde não existem buracos e lombadas.

Quando você pega um projeto que não prevê as bizarrices rodoviárias brasileiras e junta com proprietários que não fazem ideia de que o quadro de sua moto poderá se quebrar ao ser submetido a esforços repetitivos acima da capacidade para a qual ele foi projetado, você descobre porque tantas motos quebram o quadro no Brasil.


Imagem: http://adrenaline.uol.com.br/forum/geral/309961-o-papo-e-moto-regras-no-primeiro-post-1549.html

Ocorre um fenômeno físico chamado fadiga do material — depois de ser submetido a esforços repetitivos por algum tempo, ele acaba por se romper com um esforço pequeno, que nem o clipe de papel virado para um lado e para outro.

Ao ser submetido seguidamente a esforços para os quais não está dimensionado, um quadro bem projetado irá demorar um pouco mais, um quadro fraco irá se quebrar ainda no período de garantia, é só uma questão de tempo.

Abusar de uma moto é uma temeridade, porque uma mudança de geometria do quadro causada por uma trinca se propagando durante uma curva em alta velocidade pode te jogar debaixo de um caminhão.

Se as pessoas conhecessem um pouquinho dos processos de fabricação de suas motos, se tivessem pequenas noções de engenharia e resistência de materiais, não dariam tanta chance para o azar.

Quem pilota dessa maneira, passando em alta velocidade sobre lombadas e valetas, está criando uma bomba relógio que um dia irá explodir nas próprias mãos ou nas mãos do próximo proprietário desavisado.

Ah, meu povo, meu povo...

Um abraço,

Jeff

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Por que minha moto só pega no tranco?

Por que minha moto só pega no tranco?

De manhã só consigo ligar a moto no tranco...


Bom, se a sua moto está com a bateria carregada, motor de partida funcionando, e você não consegue fazer a moto dar partida, provavelmente isso está acontecendo porque você não leu o manual do proprietário da sua moto...


Ser obrigado a fazer a moto funcionar no tranco não é algo normal, toda moto conta com recursos para evitar que isso aconteça. 


Um mano meu, verdadeiro irmão, sangue do meu sangue, passou meses e meses tendo que ligar a moto no tranco, até o dia em que um blogueiro amigo me(que não sou eu) o ajudou a descobrir o santo graal da partida fácil das motos.

Muito mais gente provavelmente está recorrendo ao tranco para fazer a moto funcionar pelo mesmo motivo, então vamos esclarecer algumas coisas:

1) Dificuldade de partida em dias frios — e dia frio quer dizer na casa dos 15 graus Celsius para baixo — se resolve com o uso do afogador e também do aumento de rotação da marcha lenta.


Em todas as motos carburadas existe um controle da aceleração mínima do motor (também chamado ajuste da marcha lenta) para facilitar a partida nos dias frios.


Localize este controle e gire-o no sentido horário para aumentar a rotação de marcha lenta, e acione o afogador para garantir que a moto dê partida logo na primeira tentativa. 

Depois que o motor esquentar, será necessário retornar esse controle e o afogador para suas posições normais. 

Não retornar o afogador fará a moto engasgar por excesso de gasolina, e não retornar o controle de aceleração deixará a marcha lenta muito alta, o que aumenta muito o consumo, aquece excessivamente o motor e pode ser perigoso porque sua moto continuará acelerando durante uma frenagem.

Esses controles só existem em motos carburadas; nas motos com injeção eletrônica, o ajuste é automático — se não estiver funcionando, o sensor de temperatura do ar ou algum outro está com defeito. 

Na maioria das motos de pequena cilindrada o controle da aceleração / marcha lenta é um parafuso e está instalado no lado direito do carburador, como este aqui:



Se o parafuso estiver exposto, você conseguirá girá-lo com os dedos enquanto mantém o acelerador aberto para aliviar o esforço sobre ele. 

Se for igual ao da foto e estiver dentro desse alojamento projetado por algum idiota, use uma chave de fenda de tamanho adequado para o parafuso. É recomendável manter uma chave de fenda compatível sempre no seu chaveiro para as emergências.

Em outras motos existe um botão plástico na cabeça do parafuso para facilitar o manuseio — o local de instalação varia de moto para moto.

Na foto abaixo, o botão do parafuso de controle da aceleração ou marcha lenta (indicado pela seta) se localiza próximo ao botão do afogador, ambos no lado esquerdo da moto.


Imagem: http://www.hondashadow.net/forum/53-general-bike-discussion/102738-engine-keeps-dying-03-vlx.html
Dependendo do ano da Shadow, ele poderá estar em posição diferente ali por perto.

Já na minha moto ele fica em posição vertical na lateral do carburador direito, é um ajustador único para os dois carburadores. 



Nesta outra moto o botão também fica em posição vertical, mas no lado esquerdo da moto.
Imagem: http://www.vt750dc.com/related-links/sa750-com/141-adjusting-the-mixture-screws
Ele também pode estar instalado bem longe do carburador:


Imagem: http://www.kawiforums.com/newbie-corner/17326-hello.html
Caso não localize este controle em sua moto, consulte o manual do proprietário de seu modelo e ano, ou informe-se em uma concessionária. 

2) Engraçado essa pergunta entrar justamente hoje, quando descobri mais um macete.

Pela manhã minha nova moto mais uma vez não funcionou porque emperrou a boia do carburador, me obrigando a dar algumas pancadinhas nos carburadores para conseguir dar partida.


O problema aconteceu da noite para o dia, ela não ficou parada vários dias, e mesmo assim a boia encantou novamente — então imagino que muita gente está recorrendo ao tranco para fazer a moto funcionar por este motivo, mesmo com a bateria carregada. 


E o que acontece aí é uma coincidência — a moto chacoalhando durante a corrida para o tranco acaba desemperrando a boia e o proprietário não descobre outra maneira de resolver o problema... mas há.


O emperramento da boia ocorre porque a moto fica apoiada no cavalete lateral durante muito tempo, a boia fica forçada contra o mancal do eixo e acaba colando / emperrando na posição fechada, impedindo a entrada de gasolina na cuba do carburador.


Se a boia emperrasse na posição aberta, causaria o clássico vazamento pela mangueira do ladrão do carburador. 


Então umas pancadinhas leves na lateral do(s) carburador(es) podem resolver o problema sem precisar recorrer ao tranco da moto.

O procedimento de desencantar / desemperrar as boias dos carburadores está descrito detalhadamente na postagem A moto morre depois de 100 metros.


E para solucionar de vez o problema, vou começar a apoiar o cavalete lateral durante a noite sobre uma tábua para deixar a moto menos inclinada.

Essa é uma solução que não poderá ser usada se a moto estiver sujeita a esbarrões de outros moradores na garagem, ou ventania, porque terá mais facilidade de se desequilibrar e tombar.


ALERTA: Não use este procedimento de calçar o cavalete lateral em motos de cárter seco. Você não pode dar partida em motos de cárter seco com a moto na vertical, isso pode danificar o motor — a Falcon carburada não pode ser ligada na vertical. 


Já as Falcon com injeção, as Ténéré, XT600 e outras injetadas não precisam de calço porque não têm carburador nem boia, não precisam usar este procedimento.

3) Fazer a moto funcionar no tranco é um recurso desesperado que você só precisará usar realmente quando a bateria de sua moto carburada se descarregar a ponto de não conseguir mais acionar o motor de partida, e sua moto não possuir um recurso alternativo como um pedal de partida.

As chances de sucesso ao tentar fazer uma moto com injeção eletrônica com a bateria descarregada funcionar no tranco são mínimas — para elas, a melhor solução é recarregar a bateria ou usar uma bateria auxiliar para a partida. 

Para fazer a moto pegar no tranco por causa de uma bateria descarregada, leia a postagem Como fazer a moto funcionar no tranco e a postagem Dicas para não precisar fazer sua moto pegar no tranco.

Caso sua moto tenha estado parada há vários dias, há outras coisas a serem consideradas. Leia a postagem Minha moto ficou parada vários dias e agora não liga.


Dicas enviadas pelo leitor Rogerio Kozima:

Muitas vezes a moto não pega ou pega com muita dificuldade por causa que as válvulas estão desreguladas, principalmente presas. Observe principalmente as válvulas de admissão, afinal o ar entra sob o efeito do vácuo do cilindro, então essas mudam bastante o desempenho da moto. A moto fica com o motor de partida meio que pesado e não dá marcha lenta. 

Pode-se também deixar a mistura ar-combustível mais rica. Basta abrir o parafuso da mistura no carburador em meia volta. Com mais combustível a primeira partida pode se tornar mais fácil. [Este é um recurso que pode deixar sua moto bem beberrona, porque alterará a proporção da gasolina em todos os regimes do motor. Use apenas como último recurso!]

E também deve-se abrir o afogador quando a moto estiver com muito frio, principalmente no inverno. 


A vela também pode estar gasta e o filtro de ar meio entupido. Enfim, tem que ir eliminando o que está bem e o que está ruim na sua moto.


Obrigado pelas dicas, Rogério!

Com o uso os eletrodos da vela de ignição (onde ocorre a faísca que faz a queima da gasolina) se desgasta e fica contaminada, por isso a vela precisa ser trocada a cada 20 ou 30 mil km. 

O filtro de ar se entope com a poeira que ele não deixa entrar no motor, então precisa ser limpo ou trocado mais ou menos com a mesma quilometragem. 

Se nada disso resolver, só levando a moto a um bom mecânico para ele ver e sentir o problema da moto.

Boa sorte,

Jeff