Fadiga é cansaço, mas como isso se aplica aos freios da moto?
Fadiga só acontece com freios velhos e desgastados?
Negativo.
A expressão fadiga do freio pode levar a esse mal entendido, mas não tem nada a ver com a idade das pastilhas do freio — se bem que pastilhas velhas podem trincar e se desintegrar por uso repetitivo, e essa seria uma aplicação correta da expressão, a de fadiga por envelhecimento.
A expressão fadiga do freio é usada para o fenômeno da perda de eficiência do freio devido ao uso excessivo do freio, provocando o aquecimento intenso das pastilhas, pinças e discos de freio.
Imagem: http://pnwriders.com/threads/really-hot-rotors.178846/
Se esse aquecimento superar a temperatura do ponto de ebulição (fervura) do fluido de freio, ele formará bolhas dentro da pinça ou cilindro de freio.
Essa perda de eficiência ocorre diretamente pelo aquecimento das pastilhas e lonas, porque o metal aquecido se torna pastoso e diminui o coeficiente de atrito, mas também e principalmente pelo aquecimento excessivo do fluido de freio.
É como se o freio ficasse cansado de tanto uso, mas ele só está superaquecido.
O que distingue um gás ou vapor (bolha) de um líquido (fluido de freio) é que um fluido não se deixa comprimir. Pode pressionar à vontade que ele já atingiu o volume mínimo que poderia.
Já as bolhas de vapor ou gás sob pressão podem ser comprimidas, elas diminuem de tamanho quanto maior for a pressão aplicada no manete do freio.
Ora, quando você aciona o freio, você não quer comprimir bolhas, você quer que toda sua força seja transformada em pressão atuando sobre as pastilhas contra o disco de freio (ou lonas contra o tambor nos freios hidráulicos) a fim de parar a moto.
Por isso é importante sempre usar o fluido de freio com classificação DOT correta. Cada categoria atende a uma temperatura de trabalho.
Usar fluido de freio DOT 3 em uma moto que exija DOT 4 ou DOT 5, ou misturar esses tipos, causará uma reação química que apodrecerá as borrachas internas do freio, e também causará o aparecimento de bolhas muito mais cedo. É um descuido que pode ser fatal. Saiba mais nesta postagem do blog do Motociclista Curitibano.
Nas motos com freio a tambor de acionamento mecânico por vareta, a diminuição do atrito pelo aquecimento das lonas e tambor também reduz a capacidade de frear.
Nos freios hidráulicos, quanto mais pressão sobre o freio, mais atrito ineficaz (porque parte da força é usada para comprimir as bolhas), mais calor é gerado e pior fica a frenagem.
Fadiga do freio também não é algo que ocorre somente em pistas de competição — ela acontece muito mais frequentemente em rodovias durante uma descida de serra.
Pilotando em condições normais em trechos planos, ou mesmo em condições esportivas moderadas, o freio não chega a se aquecer a ponto de causar problemas.
Mas ao pilotar com agressividade a coisa muda de figura, e muita gente já descobriu a falta que o freio faz no momento em que você mais precisa, e poucos puderam contar.
Outra situação que causa fadiga do freio é descer uma serra mesmo em velocidade normal, mas usando apenas os freios para controlar a velocidade da moto — esse é um grande erro potencialmente muito perigoso.
Descer uma serra contando apenas com os freios, sem usar o freio motor, faz o calor gerado nos discos e pinças não ser removido pelo vento naquela velocidade relativamente baixa. A temperatura vai aumentando e pode chegar ao ponto de fervura do fluido bem naquela curva fechada na beira do abismo.
A fadiga dos freios acontece direto com caminhões descendo a serra.
E pode acontecer com carros e motos também, se você não usar o freio motor para impedir que a moto ganhe velocidade na descida.
A regra é usar a mesma marcha para descer que você usaria para subir a serra — isso reduz a necessidade de aplicação dos freios e evita o seu superaquecimento.
Este caminhoneiro ilustra o caso para os caminhões, e quase tudo que ele diz é aplicável também para motos:
Para poupar os freios, um trecho que você subiria a 30 km/h deve ser descido em segunda ou terceira marcha, no máximo; mais do que isso, você precisará usar muito dos freios e poderá entrar na zona de risco.
Mas tome cuidado com quem vem atrás de você.
O pessoal acha divertido descer a serra em alta velocidade e não imagina que os freios podem te deixar na mão, e é por isso que você vê tanta gente embicando em barrancos nos trechos de serra.
Um abraço, e boa viagem,
Jeff e Daniel
Dica: Para quem sai de São Paulo rumo ao sul, vale a pena evitar o pior trecho da serra do Cafezal desviando pelo litoral via Peruíbe ou então por Piedade até Juquiá (melhor passeio). Todo dia alguém perde o freio lá na serra e a estrada fica paralisada por horas até a retirada do caminhão, e de moto você não consegue avançar por causa dos obstáculos colocados sobre a faixa divisória de pistas.
Respondendo ao Daniel: Calma que a postagem do freio frio já está pronta e sai no começo de julho.
ResponderExcluirRespondendo ao Otavio Torres: Dá uma lida nas postagens:
http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/07/velocidade-de-cruzeiro-motor-rajando-e.html
http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/08/jezebel-e-o-militec-na-ultima-viagem.html
Um abraço,
Jef