sábado, 27 de junho de 2015

O que é fadiga do freio?

Fadiga é cansaço, mas como isso se aplica aos freios da moto?

Fadiga só acontece com freios velhos e desgastados?

Negativo. 

A expressão fadiga do freio pode levar a esse mal entendido, mas não tem nada a ver com a idade das pastilhas do freio — se bem que pastilhas velhas podem trincar e se desintegrar por uso repetitivo, e essa seria uma aplicação correta da expressão, a de fadiga por envelhecimento. 

A expressão fadiga do freio é usada para o fenômeno da perda de eficiência do freio devido ao uso excessivo do freio, provocando o aquecimento intenso das pastilhas, pinças e discos de freio.
Motos de competição atuais usam discos de fibra de carbono, que avermelham em temperaturas mais baixas do que os discos de aço, mas em compensação propagam menos calor para as pinças. Mas os discos de aço também conseguem ficar vermelhos, dependendo de quem estiver pilotando. Bons tempos aqueles, né, Daniel?
Imagem: http://pnwriders.com/threads/really-hot-rotors.178846/

Se esse aquecimento superar a temperatura do ponto de ebulição (fervura) do fluido de freio, ele formará bolhas dentro da pinça ou cilindro de freio.

Essa perda de eficiência ocorre diretamente pelo aquecimento das pastilhas e lonas, porque o metal aquecido se torna pastoso e diminui o coeficiente de atrito, mas também e principalmente pelo aquecimento excessivo do fluido de freio.

É como se o freio ficasse cansado de tanto uso, mas ele só está superaquecido.

O que distingue um gás ou vapor (bolha) de um líquido (fluido de freio) é que um fluido não se deixa comprimir. Pode pressionar à vontade que ele já atingiu o volume mínimo que poderia.


Já as bolhas de vapor ou gás sob pressão podem ser comprimidas, elas diminuem de tamanho quanto maior for a pressão aplicada no manete do freio.

Ora, quando você aciona o freio, você não quer comprimir bolhas, você quer que toda sua força seja transformada em pressão atuando sobre as pastilhas contra o disco de freio (ou lonas contra o tambor nos freios hidráulicos) a fim de parar a moto.


Por isso é importante sempre usar o fluido de freio com classificação DOT correta. Cada categoria atende a uma temperatura de trabalho.

Usar fluido de freio DOT 3 em uma moto que exija DOT 4 ou DOT 5, ou misturar esses tipos, causará uma reação química que apodrecerá as borrachas internas do freio, e também causará o aparecimento de bolhas muito mais cedo. É um descuido que pode ser fatal. Saiba mais nesta postagem do blog do Motociclista Curitibano.

Nas motos com freio a tambor de  acionamento mecânico por vareta, a diminuição do atrito pelo aquecimento das lonas e tambor também reduz a capacidade de frear.

Nos freios hidráulicos, quanto mais pressão sobre o freio, mais atrito ineficaz (porque parte da força é usada para comprimir as bolhas), mais calor é gerado e pior fica a frenagem.

Fadiga do freio também não é algo que ocorre somente em pistas de competição — ela acontece muito mais frequentemente em rodovias durante uma descida de serra. 

Pilotando em condições normais em trechos planos, ou mesmo em condições esportivas moderadas, o freio não chega a se aquecer a ponto de causar problemas.

Mas ao pilotar com agressividade a coisa muda de figura, e muita gente já descobriu a falta que o freio faz no momento em que você mais precisa, e poucos puderam contar.

Outra situação que causa fadiga do freio é descer uma serra mesmo em velocidade normal, mas usando apenas os freios para controlar a velocidade da moto — esse é um grande erro potencialmente muito perigoso.

Descer uma serra contando apenas com os freios, sem usar o freio motor, faz o calor gerado nos discos e pinças não ser removido pelo vento naquela velocidade relativamente baixa. A temperatura vai aumentando e pode chegar ao ponto de fervura do fluido bem naquela curva fechada na beira do abismo.

A fadiga dos freios acontece direto com caminhões descendo a serra. 



E pode acontecer com carros e motos também, se você não usar o freio motor para impedir que a moto ganhe velocidade na descida. 

A regra é usar a mesma marcha para descer que você usaria para subir a serra — isso reduz a necessidade de aplicação dos freios e evita o seu superaquecimento.

Este caminhoneiro ilustra o caso para os caminhões, e quase tudo que ele diz é aplicável também para motos:


Para poupar os freios, um trecho que você subiria a 30 km/h deve ser descido em segunda ou terceira marcha, no máximo; mais do que isso, você precisará usar muito dos freios e poderá entrar na zona de risco.

Mas tome cuidado com quem vem atrás de você.

O pessoal acha divertido descer a serra em alta velocidade e não imagina que os freios podem te deixar na mão, e é por isso que você vê tanta gente embicando em barrancos nos trechos de serra.

Um abraço, e boa viagem,

Jeff e Daniel
Dica: Para quem sai de São Paulo rumo ao sul, vale a pena evitar o pior trecho da serra do Cafezal desviando pelo litoral via Peruíbe ou então por Piedade até Juquiá (melhor passeio). Todo dia alguém perde o freio lá na serra e a estrada fica paralisada por horas até a retirada do caminhão, e de moto você não consegue avançar por causa dos obstáculos colocados sobre a faixa divisória de pistas.

Um comentário:

  1. Respondendo ao Daniel: Calma que a postagem do freio frio já está pronta e sai no começo de julho.

    Respondendo ao Otavio Torres: Dá uma lida nas postagens:

    http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/07/velocidade-de-cruzeiro-motor-rajando-e.html

    http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/08/jezebel-e-o-militec-na-ultima-viagem.html

    Um abraço,

    Jef



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