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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ora, ora... novas motos da harley-davidson agora com novo chassi 65% mais rígido... por que será, né?

A harley lançou a nova linha 2018 da série Softail e olha só a grande novidade destacada:
Imagem e press-release: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/harley-davidson-faz-barca-de-lancamentos-2018-veja-fotos.ghtml

"Novo chassi 65% mais rígido que seu antecessor" é a maneira menos feia de dizer que o chassi anterior é 40% mais fraco.

Entenda "fraco" no sentido de "menos rígido" — o chassi anterior é 40% menos rígido.

Sabe aquele papo "em time que está ganhando não se mexe"?

Pois é, parece que alguém do time lá de Wisconsin não ia muito bem das pernas e foi substituído...

Todo mundo achando que o chassi antigo das Harleys já seria satisfatório em termos de rigidez... e estava todo mundo enganado.

O chassi poderia ter sido muito melhor, e há muito tempo.

A engenharia reprojetou o chassi para obter maior rigidez, e o marketing está enfatizando essa melhoria surpreendente — 65% é um ganho de rigidez e tanto. 

Surpreendente que puderam melhorar tanto assim um projeto que supostamente já deveria estar perto da perfeição.

Esse ganho de 65% é a prova clara de que o chassi não estava nem perto da perfeição.

As motos eram vendidas como sendo o suprassumo da tecnologia da harley, mas não eram... havia margem para melhorar 65%.

Isso me faz pensar (é raro, mas de vez em quando acontece):

Parece que minha teoria na postagem anterior passou bem perto da realidade...

Lá eu levantei a hipótese de que os quadros da harley não seriam suficientemente rígidos para aguentar o enorme peso do motor em pequenos tombos... 

... se deformando a cada queda do mesmo jeito que a minha primeira moto, minha não tão saudosa honda CG 1978...

... causando o desalinhamento das rodas alertado pelo Chuck da Classic Cycles...

... e segundo ele, essa seria a causa da mania das Harleys apresentarem o famoso "balanço da morte" (death wobble).

Se você não conhece a história, a postagem é esta aqui:
Postagem completa: https://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/08/harleys-e-sua-tendencia-mortal-de-sair.html

Juro que quando escrevi a postagem da semana passada eu não sabia que a harley estava para lançar novas motos nesta semana.

E também não fazia a menor ideia de que os engenheiros lá de Milaseu Milwaukee (Заднее столкновение corretor ortográfico!!!) estavam preocupados em reforçar o quadro dessas motos...

Parece que minha suposição inicial de que os quadros das Harley poderiam ter problemas de desalinhamento originais de fábrica não se confirmou, mas a realidade é muito pior.

A própria fábrica admite que os quadros não eram tão resistentes quanto os novos da linha 2018 — portanto, os quadros anteriores são muito mais vulneráveis a problemas de desalinhamento.

E de rigidez estrutural.

Agora tudo faz sentido.

São justamente as motos equipadas com os quadros 'ainda não 65% mais rígidos' que apresentam o death wobble. 

Falta de rigidez quer dizer tendência a se deformar e a desalinhar as rodas, causando instabilidade — como aquela moto testada e reprovada pela polícia rodoviária da Califórnia:


Reforçar o chassi para eliminar esse problema é uma coisa lógica.

Isso irá evitar que o quadro atue como uma mola, desalinhando as rodas temporariamente — e entre em ressonância fazendo a moto rebolar que nem uma doida.

Pelo menos, terá a tendência de entrar em ressonância apenas em velocidades maiores, é o mesmo princípio usado para afinar as cordas do violão.

Também evitará que o chassi se deforme por qualquer tombo besta e fique com as rodas desalinhadas.

Suspeito que um 'chassi ainda não 65% mais rígido' — ou 40% mais fraco em relação ao novo chassi — seja capaz de se deformar permanentemente até sem levar um tombo besta...

Deformação elástica é aquela que o objeto deformado retorna à forma original depois que o esforço aplicado é eliminado.

Deformação plástica é aquela que permanece depois que o esforço excessivo é eliminado.

Note que a capacidade de resistir ao esforço depende somente da rigidez e resistência mecânica desse objeto.

Um objeto que se deforma elasticamente está a um passo de se deformar permanentemente, basta ultrapassar seu limite de resistência física. 

Existe um limite para a deformação elástica — passou desse limite de esforço, ela vira uma deformação plástica, permanente.

Um pequeno esforço acima desse limite faz a diferença — é a gota que transborda o copo — e o resultado é a deformação plástica permanente do chassi da motocicleta.

Tipo aquela que você coloca duas réguas e descobre que suas rodas estão desalinhadas porque seu chassi se deformou, apesar de você nunca ter caído com sua moto.

Que segundo o Chuck da Classic Cycles, pode induzir o balanço da morte death wobble.

Então "é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho"?

A moto oscila porque o quadro se deforma, ou o quadro se deforma porque a moto oscila porque ele é fraco para aguentar?

Mas é claro que, se a má fama das Harleys foi causada pela fraqueza dos quadros anteriores, a fabricante nunca irá convocar um recall de seus "antecessores".

Já imaginou o prejuízo?

Quem caiu, caiu. Quem ainda cair, azar.

Azar dos ocupantes, não da fábrica.

Para eles, death wobble não é defeito, é "feature".

A culpa é sempre do piloto, nunca das fabricantes.

Qualquer semelhança entre esse reforço dos quadros das H-D modelos 2018 e o reforço dos quadros das dafra Kansas com o lançamento do modelo 2010 — SEM CONVOCAR RECALL DAS MOTOS ANTERIORES — é só uma coincidência, claro.

Não dá para comparar a qualidade de uma com a outra.

Só dá para comparar o método, que é comum a todas as fabricantes.

Novos modelos resolvem problemas dos anteriores, e os proprietários... 

Bem, os proprietários nunca descobrem o que está por trás dos press-releases de divulgação das empresas que enfatizam apenas o lado bom da coisa, e fica tudo por isso mesmo.

Os fatos estão aí, a moto é sua, tire a conclusão que quiser.

Você que se cuide, seja qual for a sua moto, porque você sempre estará sozinho em cima dela.

No máximo, com sua garupa — e a responsabilidade pela vida dela será somente sua.

Aprenda a ver o mundo com outros olhos, batalhe por sua segurança, porque para o marketing e o mercado você é apenas um 'consumer'.

No Brasil "consumer" é traduzido como "cliente", mas ao pé da letra, "consumer" é apenas "consumidor".

Boa sorte com sua moto de qualquer marca,

Jeff

domingo, 20 de agosto de 2017

Harleys e sua tendência mortal de sair fora de controle

Vídeo incrível flagrou uma Harley saindo fora de controle com o famoso "balanço da morte" (death wobble):

Vídeo: De autoria da família Hoff reproduzido na reportagem http://www.dailymail.co.uk/news/article-4657406/Shocking-video-shows-motorcyclist-losing-control-bike.html

Do nada a moto começa a oscilar de um lado para outro e acaba sofrendo uma queda feia. O piloto quebrou a cara no asfalto, aquela mania de não usar capacete integral... ou nenhum. Capacete coquinho é a mesma coisa que nada.

A família que gravou o vídeo conta que ele já havia quase perdido o controle da moto umas 6 vezes quando atingia uma determinada velocidade.

A harley-davidson há anos alega que não é culpa do projeto dela

Como sempre, para as fabricantes, a culpa é sempre do piloto.

Você pode me dizer o que o piloto fez nesse vídeo para ser culpado pela queda?

Nem eu.

Não há acessórios instalados naquela moto para serem usados como desculpa.

A moto viajava em velocidade muito próxima à dos carros, certamente não estava muito acima dos 100 km/h.

Mas o fato é que as motos fabricadas pela harley são famosas por acidentes desse tipo.
Imagem e reportagem: http://www.wftv.com/news/local/fhp-investigates-if-death-wobble-caused-troopers-motorcycle-crash/199766013

A polícia rodoviária da Califórnia barrou a compra de motos da harley por causa disso (vídeo mais abaixo e postagem antiga).

Motos zero km, diga-se de passagem.


Já que segundo a harley-davidson não é um defeito do projeto, então o que causa essa mania das Harleys?

Encontrei este vídeo de um mecânico que tem todo o jeitão de entender muito, muito mesmo de Harleys:


Segundo ele, o desalinhamento das rodas é o motivo de as Harleys terem essa mania de sair rebolando sem motivo aparente.

Ora, um desalinhamento das rodas ou do quadro não é coisa original de fábrica, correto?

Não é bem assim.

Supostamente os gabaritos de montagem devem garantir o alinhamento perfeito entre as peças, mas erros acontecem. Que o digam as primeiras dafra montadas no Brasil, que tinham o chassi muito mal soldado em Manaus...

É famosa a história de um carro nacional que saiu de fábrica com o lado esquerdo maior que o direito por erro de fabricação dos estampos de cada lado. Pena que agora eu não me lembre qual foi, e também não encontrei o caso na internet. 

E lembrando, os testes feitos pela polícia rodoviária da Califórnia, que barrou a compra de uma frota de Harleys, foram feitos com motos zero km...
 

De qualquer forma, você pode descobrir se é um problema original de fábrica ou não por conta própria.

O teste de alinhamento feito pelo Chuck é muito simples, só depende de duas réguas bem retas.

(E neste caso "régua" é qualquer tubo, cano, cantoneira, perfilado, etc. suficientemente reto e rígido para servir de referência.)

É algo que você proprietário de Harley pode e deve fazer, basta alinhar as réguas com o pneu traseiro e ver se há diferença em relação ao pneu dianteiro.

(Obviamente, o teste só tem sentido depois de comprovar que a roda traseira está corretamente alinhada na balança, as marcas de referência de um lado coincidindo com as do outro — isso é básico.)

O mecânico experiente afirma que isso é erro de reparador desqualificado, e não um problema original de fábrica. Pode ser. 

O torque de aperto excessivo da porca da roda traseira pode causar um pequeno desalinhamento das rodas.

Em uma moto longa como uma Harley, um pequeno desalinhamento vira um grande desalinhamento.

Mas eu suspeito que outra causa possível para esse problema seja aquele que os proprietários têm vergonha de admitir e nem comentam com os amigos:

O tombo besta com a moto.


Harleys são muito pesadas. 

Ao passar por um tombo besta, até mais besta que esse aí de cima, o enorme motor faz uma força tremenda sobre o chassi.

Minha suspeita é que isso possa ser o responsável por um grande desalinhamento do quadro.

Acontece até com o peso ridículo do motor de uma CG antiga — experiência própria de um amigo meu (que não sou eu ;).

A rigidez do quadro é proporcional ao peso da moto — a rigidez do chassi de uma Harley tem de suportar o enorme peso do motor projetado pela harley.

Mas boa parte do esforço dos engenheiros vai para a maior redução possível do peso para tornar a moto econômica (não só em consumo, mas principalmente nos custos de produção).

Se for negligenciada a conferência do alinhamento depois de um tombo besta, o proprietário se arrisca a passar por essa situação do balanço da morte.

Se minha hipótese for correta, podemos dizer que não se trata de falha do projeto? 

Um chassi "fraco" que não aguenta um tombo besta sem se deformar?

Bom, nenhuma moto é feita para cair. 

Harleys até são resistentes, mas o motor é realmente algo muito pesado, e cada tombo é um tombo diferente.

Então atribuir a culpa do problema à harley vai muito da opinião pessoal de cada um. A minha os leitores do blog já conhecem, então sou suspeito para falar... hehehe.... o fato é que os tombos com minha antiga CG entortavam o quadro, e tombos tão graves quanto com minha Kansas nunca o entortaram. O quadro da Kansas peca pela resistência à fadiga, mas não pela resistência à torção. 

A grande questão é:

Será que passa pela cabeça do proprietário de uma Harley que sofreu um tombo besta — e aparentemente não teve danos — levar a moto à concessionária para verificar o alinhamento do chassi e das rodas?

Tenho certeza que não. 

E mesmo que leve a moto à concessionária, será para trocar algum componente riscado ou danificado.

Será que passa pela cabeça dos mecânicos da concessionária harley fazer a verificação do alinhamento das rodas de uma moto que chegou para trocar um componente riscado ou danificado?

Sem dispor de um dispositivo medidor a laser? Tudo fica melhor com lasers, já dizia o Cardoso.

O macete ensinado pelo Chuck é macete de quem conhece... 

Então tenho minhas dúvidas se em todas as concessionárias encontraremos gente com essa percepção e capacidade de solucionar o problema.

Assim, minha sugestão é que você mesmo faça a medição verificação conforme ensinada pelo Chuck, seja sua moto original zero km nunca caída ou não.

Quem sabe o que mais a gente descobre?

E se descobrir, não deixe de avisar a gente!

You're welcome,

Jeff

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Na dúvida, acelere

Sabe, existe um limite mínimo de velocidade para rodar com uma moto.

Quanto mais devagar, mais difícil equilibrar a moto — ainda mais se ela for muito, muito pesada.


A moto se equilibra naturalmente quando ganha velocidade.

Isso vale na hora de sair com a moto, onde a velocidade e a rotação do motor excessivamente baixas podem fazer o motor morrer (pule direto para 01:00):

Vale também quando você está em uma bela estrada cheia de curvas.

Rodando muito devagar, fica fácil de acontecer isso contigo:


E sinceramente, você não quer pagar esse tremendo micão.

Então, se você ficar em dúvida se irá cair, não tente equilibrar a moto com o pé — acelere.

Acelerar a moto poderá fazer com que ela recupere a estabilidade, e no mínimo ficará mais fácil de mantê-la vertical e recuperar o equilíbrio.

A coisa não irá ficar muito pior do que já está.

A menos, é claro, que você avance para a contramão com tráfego em alta velocidade...

Um abraço,
Jeff

segunda-feira, 13 de março de 2017

Dois capacetes fazendo muito bem o seu trabalho

Aproveitando o assunto dos capacetes da postagem anterior, segue um vídeo para mostrar capacetes bem afivelados fazendo muito bem o seu trabalho:


Como visto, acidentes podem acontecer até mesmo quando você pilota dentro dos limites de velocidade, e pelos motivos mais inesperados. E bizarros...

E nessas situações a coisa mais comum é meter a cara no asfalto — por isso que sou contra capacete aberto... 
Imagem: Vídeo acima https://www.youtube.com/watch?v=Vlq7_wwcyY8

Ou sair fazendo um voo de baixa altitude...
Imagem: Vídeo acima https://www.youtube.com/watch?v=Vlq7_wwcyY8

A primeira coisa que baterá no solo será sua cabeça, e é para isso que serve o capacete...

É mais que óbvio, mas o pessoal não dá a importância que merece.

Ainda mais com toda a publicidade com o pessoal rodando de capacete aberto como se fosse a melhor coisa do mundo. 

Não é.
Imagem: http://www.lordofmotors.com/2012/04/harley-propaganda.html

Já imaginou a cara do cara da Harley se ele estivesse usando o capacete preferido das propagandas da harley?

Como resultado dos bons capacetes bem afivelados, ambos os pilotos saíram praticamente ilesos do acidente.

O piloto da esportiva só não machucou a coluna caindo sobre a mochila nas costas porque usava um protetor de coluna.
Imagem: Pesquisa no google.

É um equipamento de segurança que já não custa tão caro — você encontra a partir de 75 reais, menos que um capacete — e pode fazer uma enorme diferença na hora de um acidente.

Afinal, uma lesão na coluna pode envolver meses e anos de fisioterapia, e algumas são irreversíveis, obrigando ao uso de cadeira de rodas.

E vou aproveitar para corrigir uma informação que fiz na outra postagem:

Eu disse que o capacete mal afivelado é a primeira coisa que voa longe, e você é a segunda.

Mas eu esqueci... e o leitor Felipe Rafael Valenzuela me lembrou:

Sapatos também saem voando, não são apropriados para andar de moto.
Imagem: Bakuon!! Episódio 4. — Não se preocupe, ela saiu ilesa. Bom, mais ou menos...

Ah, sim!

Sua garupa também sai voando, ainda mais se for uma criança. Ou uma boneca inflável como aquela da propaganda da harley.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A conclusão final a que chegamos

Nas últimas dez postagens vimos uma série de casos de recalls de motos e carros recém lançados com graves erros de projeto e execução.

Apenas separei alguns casos, para quem quiser pesquisar o assunto vai longe... 

Mas para concluir e encerrar o assunto destas duas semanas, vamos voltar à vaca fria:
Vendo tantos recalls por motivos graves e bizarros acontecendo, é o caso de perguntar:

Por que tantos problemas acontecem e são descobertos somente depois que as motos (e carros e mais um monte de produtos) estão nas mãos dos clientes — colocando a vida e o patrimônio deles em perigo?

A principal responsabilidade dos fabricantes é fornecer produtos confiáveis e seguros — não podemos abrir mão disso.

Mas parece que hoje a preocupação das fabricantes com o custo de fabricação, o preço de venda, a beleza, a propaganda, o apelo aos consumidores e a rapidez no lançamento e na obsolescência de novos produtos se sobrepõe a qualquer critério de segurança.
Imagem: http://leninja.com.br/obsolescencia-programada/ — A comparação entre windows e apple é bizarra... a microsoft não se diferencia da concorrência na hora de obrigar os consumidores a migrar para novos sistemas operacionais...
Mais sobre obsolescência programada: http://na-beirada.blogspot.com.br/2012/04/obsolescencia-programada.html

— O produto novo tem um risco mortal...

Nôu problem, se custar menos de 10 centavos a gente conserta na revisão e não fala nada — e cobra como "materiais diversos".

— Mas vai custar mais de 10 centavos...

Bom, o jeito é marcar uma reunião para discutir o assunto.

— O produto já matou alguém...

Tudo bem, o departamento jurídico cuida disso para negar a responsabilidade. Na pior das hipóteses, eles negociam a menor indenização possível.

— A imprensa está fazendo alarde... 

A gente aumenta a verba publicitária para preservar a imagem da empresa e manter as vendas lá no alto e enrola o quanto puder. 

— As autoridades estão investigando...

É, não vai ter jeito, faz um recall.

É triste, ma
s é assim que eu imagino essas decisões vitais sendo tomadas nessas empresas...
Imagem: Montagem sobre https://cityroom.blogs.nytimes.com/2010/10/18/complaint-box-recap-meetings-and-those-who-hate-them/?_r=0

Eu acuso as montadoras de descaso com seus clientes devido à urgência desmedida de lançar novos produtos no mercado sem fazer os devidos testes de confiabilidade e durabilidade.

Antigamente novos produtos eram testados no mínimo por dois anos antes de irem paras as ruas.

Hoje o projetista dá ENTER no computador e as motos já começam a ser despachadas para as concessionárias. 

Estou exagerando, mas não é muito diferente disso.

A data de lançamento é definida antes de outros parâmetros fundamentais do projeto — e os funcionários que façam mágica para cumprir as metas.

Se vai dar certo ou não, aí é outra história...

Chega uma hora em que se ultrapassa o limite do razoável e os problemas superam as vantagens.

Veja o caso da harley e da indian:

Os motores de menor cilindrada das Sportster e das Scout não excederam a barreira do viável e não dão problemas... enquanto os maiores estão decepcionando ou a caminho de decepcionar seus proprietários.

Fique esperto, porque se depender dos fabricantes, sejam quem for, você estará cada vez mais entregue à própria sorte porque as metas são cada vez mais inalcançáveis.

Como a dafra demonstra com as Indian e Kansas, nem mesmo na hora de convocar um recall que poderá salvar vidas eles enfiam a mão no bolso.


Mas para fazer propaganda na hora de vender, a estória é outra, vale até computação gráfica:


A dafra nunca se retratou por recomendar menos óleo que o mínimo necessário para as Kansas e Speed, e repetiu o escárnio com as Horizon 150.

A dafra não teve pudor de omitir e alterar informações em seus próprios manuais de proprietário, "porque assim se ganha mais dinheiro", já dizia o Cazuza.

A honda demorou uma eternidade para descobrir a causa do problema de incêndio do freio das Gold Wing, mas pelo menos teve a decência de convocar publicamente o recall até mesmo no Brasil... Antes tarde do que nunca.

Em compensação, até hoje a honda "não descobriu" o motivo dos motores começarem a pipocar depois da adoção do óleo 10W-30.

E até hoje deita e rola em cima dos proprietários que estão perdendo seus motores por confiar na empresa e usar esse óleo inadequado que até outro dia não era recomendado para o Brasil.

Suas concessionárias cometem o desplante de recomendar o famigerado óleo 10W-30 até mesmo para motos que originalmente usavam 20W-50, como a CB 300... 

O resultado é o que todos conhecem.

Graças a essa pressa de lançar novos produtos e ganhar mais dinheiro, os fabricantes não cumprem com sua obrigação de colocar à venda produtos seguros.

Quando descobrem um problema grave, nem sempre dão o destaque que a situação exige.

Se omitem quanto a seus deveres máximos — alguns são omissos até mesmo diante do que a lei determina.

O Casoy diria que tais erros e atitudes são uma vergonha.

Outros diriam que é a falta dela.

O pessoal sai de fininho e finge que nem é com eles.

Os engenheiros da polaris / indian, cujos problemas desencadearam esta série de postagens, não são vilões.

Eles certamente se empenharam em fazer o melhor projeto possível, e os quadriciclos e as motos fabricadas por eles são prova disso.

A gente vê nos detalhes que há paixão no desenvolvimento de todos os componentes das máquinas.

O lamentável é que na hora de unirem essas peças eles cometeram falhas de projeto elementares, indignas até de iniciantes — e essas falhas custaram vidas.

E assim como eles, a imensa maioria dos engenheiros das outras empresas também não quer ser vilão.

Mas eles são obrigados a trabalhar para atingir objetivos fora da realidade estabelecidos por critérios de marketing e não de bom senso.

Em nome do mercado, perdeu-se o pé da realidade, e isso está colocando vidas e patrimônios em perigo.

Está faltando alguém lá dentro dessas empresas dar um murro na mesa e afirmar em alto e bom som:
Imagem: http://www.arthur.bio.br/2013/12/31/relacionamentos/basta-ou-a-gota-que-faltava#.WJBfglMrK1s

Não dá para lançar produtos confiáveis nos prazos exigidos e nos custos de produção almejados!

Ou talvez alguém já tenha dito isso e foi substituído por outro engenheiro mais "pró-ativo e alinhado com as metas da empresa"... nunca saberemos.

Algo está profundamente errado na maneira como as empresas estão lançando produtos no mercado.


Quando a gente vê empresas como a harley-davidson lançando no mercado uma moto que precisa passar por recall porque não cumpre normas elementares — como a obrigatoriedade de instalar refletores na traseira da moto...
Imagem e reportagem: http://www.asphaltandrubber.com/recall/harley-davidson-recalls-motorcycles-lack-reflectors/

Ou uma honda da vida soltando no mercado milhões de motos perigosas porque os piscas não atendem às normas internacionais de distância mínima em relação ao farol...

E ainda por cima, retirando o modelo de fabricação de fininho, sem nunca convocar um recall...
Denúncia: http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2014/09/uma-modinha-e-milhoes-de-motos.html

Mesmo sabendo que os piscas embutidos no farol descumpriam a legislação e colocavam colocam a vida dos usuários em risco, a honda teve a cara de pau de fingir que nunca pariu a criança.

E ainda fez o marketing dos novos piscas externos da CG 2014 afirmando cinicamente que eles são "atualizados e atendem às normas internacionais de iluminação com excelente sinalização" — tudo o que os piscas das CG 2009 a 2013 não faziam e não fazem até hoje!

É ou não é o cúmulo do máximo da cara de pau?

Ver tantas empresas que se dizem sérias cometendo tantos erros que colocam as vidas dos usuários em perigo é suficiente para perder de vez a fé nas indústrias automotiva e de motocicletas.

Eu responsabilizo a ganância das empresas por levar ao abandono das práticas consagradas de Engenharia.

Culpo essa pressão absurda para vender cada vez mais e mais rápido, sem enxergar direito o que estão fazendo, sem prever as consequências dessa pressa irresponsável.

Na ânsia de despejar novos produtos no mercado, transformaram os consumidores em pilotos de prova e cobaias de teste.

Se alguma coisa der errado, fazem um recall.

Ou tiram o produto do mercado fazendo de conta que o problema nunca existiu — até têm o descaramento de usar a falha do projeto anterior como argumento de vendas para o novo produto.

Ou então enrolam o quanto podem para não assumir a responsabilidade pelos erros.

Quando não jogam a culpa pelos problemas nas costas dos clientes que nem sabem onde encontrar os argumentos mínimos para contestar esse abuso de poder.

Enquanto as verbas para o marketing forem a maior prioridade, e a segurança e confiabilidade dos produtos for sacrificada, continuaremos a ver os nomes de grandes empresas associados a escândalos revoltantes.

Revoltantes porque evitáveis.

Essa fórmula aplicada pelas empresas de "máxima qualidade no menor prazo e menor custo" está errada.
Imagem: http://uncyclopedia.wikia.com/wiki/Unobtainium

Começa errada porque nem considera a segurança final do produto.

Além disso, essa equação não fecha.

É algo impossível de se obter. 

Para atingir duas dessas metas, você é obrigado a abrir mão de uma.

E ao priorizar o menor prazo de desenvolvimento dos produtos e o menor custo de fabricação, automaticamente a qualidade e a segurança do produto vão pelo ralo.

Alguém precisa dar um basta nessa espiral decadente de obsolescência programada e muitas vezes imprevista que os carros, motocicletas e demais produtos estão cumprindo cada vez mais rápido. 

Se você souber de algum outro motivo para isso estar acontecendo além da ganância e abandono das práticas consagradas de Engenharia em prol do marketing e aumento das vendas, é só dizer nos comentários.

Obrigado por acompanhar o meu desabafo, eu precisava dizer essas coisas. 

Estavam entaladas na garganta há tempos...

Um abraço,

Jeff

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Será que a harley-davidson vai pelo caminho das Indians?

Problemas de engenharia do produto como esses das motos da indian e quadriciclos da polaris das postagens anteriores não afetam somente esses fabricantes.

Ou melhor, não afetam somente os consumidores dos produtos desses fabricantes.


Eu citei os recalls da indian, assim como poderia ter citado os recalls da harley-davidson...

Imagem e reportagem: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/07/especial_correio/canal_motor/306564-harley-davison-comunica-recall-das-motocicletas-touring-e-cvo.html

Também foram 7 modelos com problemas na fixação dos alforges laterais — eles podiam se desprender e cair com a moto em movimento.


Ou então o outro recall recente da harley-davidson pelo risco pavoroso de falha completa do freio dianteiro...

Reportagem: http://g1.globo.com/carros/motos/noticia/2014/06/harley-davidson-faz-recall-de-motos-por-problema-no-freio.html

Aliás, para a harley, eu prevejo uma coisa.


Prever não é a palavra, porque não sou bidu nem tenho bola de cristal.


Mas tenho intuição de que a harley irá passar pelos mesmos perrengues de recall de motocicletas que a indian.


E por motivos muito semelhantes.

Este é o novo motor Milwaukee-Eight 114 da h-d
lançado no meio do ano passado:
Imagem, reportagem e vídeo: http://www.motorcycledaily.com/2016/08/harley-makes-new-milwaukee-eight-engines-official-with-video/

Ele está equipando as motos da harley-davidson a partir de alguns modelos 2017 lançados em meados de 201
6.

A grande novidade é o esfriamento líquido por óleo e também água dos cabeçotes dos motores — isso é quase inédito na linha de motores grandes da harley, a única exceção era a V-Rod, um caso à parte.

O projeto do motorzão 114 é inédito em termos de Engenharia:

O motor não mantém a água com aditivo (líquido de arrefecimento) circulando o tempo todo.
Imagem e reportagem: https://ultimatemotorcycling.com/2016/08/25/2017-harley-davidson-milwaukee-eight-motors-11-fast-facts/

A decisão de usar a circulação independente de óleo, água ou ambos — dependendo da situação no momento — será tomada por gerenciamento eletrônico do motor.

Isso permite usar um radiador de água menor do que o tradicional. 

Arrefecimento líquido é uma mudança radical para uma empresa que sempre se orgulhou de manter a tradição de não usar esse recurso.

Na visão dos americanos, a Harley "clássica" é sinônimo de motocicleta.

Arrefecimento líquido é coisa das modernosas e desprezadas (pelos americanos mais xenófobos) motos japonesas de baixa cilindrada. Afinal, eles lutaram contra os japoneses na 2ª guerra.
Imagem: Bōsōzoku, um estilo de customização totalmente oriental. https://br.pinterest.com/ibuki1016/motorcycle/

Humm... ahn... bem... ai, misericórdia... deixa pra lá.


A V-Rod da harley já usava o arrefecimento líquido comum desde 2001, mas foi um motor desenvolvido em parceria com a alemã Porsche.
Imagem e histórico: https://en.wikipedia.org/wiki/Harley-Davidson_VRSC

Ela não é considerada uma "Verdadeira Harley" pelos fãs tradicionais fiéis à marca — justamente por causa da "abominação" da modernidade e do radiador. Afinal, eles lutaram contra os alemães na 2ª guerra.

Os modelos Street 500 e 750 lançados em 2013 também usam radiador, mas são motos desenvolvidas de olho no mercado mundial.

Lá nos EUA as Street 500 e 750 são consideradas "moto de menina". Adolescente.
Imagem e reportagem: http://thekneeslider.com/harley-davidson-liquid-cooled-street-750-and-street-500/

Aquele mercado enxerga Harleys puros-sangues como a Sportster 883 e a Sportster 1200 meras "motos de entrada" ou "motos para iniciantes".
  
Imagem e histórico: https://en.wikipedia.org/wiki/Harley-Davidson_Sportster

As cavalonas tradicionais de motor 1.600 e 1.800 cmque carregam a imagem da empresa passando a usar um radiador seriam rejeitadas pelo forte mercado americano — poderia haver uma migração em massa para a rival secular indian.

Por esse motivo os engenheiros da harley cortaram um doze para conseguir manter a aparência de uma moto tradicional de motor esfriado exclusivamente a ar.

Externamente o novo motor terá a aparência típica de sempre, mas os engenheiros compactaram o projeto para permitir a inclusão de todos os novos recursos e componentes.
Imagem e reportagem: http://www.forbes.com/sites/jasonfogelson/2016/08/28/harley-davidsons-new-milwaukee-eight-engine-debuts-in-2017-touring-motorcycle-lineup/#37db42b2b06e

Sim, a foto é de uma moto já com o novo motor e o radiador e todo o resto ocultos no quadro.


Praticamente fizeram mágica para esconder completamente o radiador, acessórios e mangueiras no quadro das novas motos modelo 2017.

E é bem aí que mora o perigo:


O motor tradicional da harley já mal cabia no chassi.


A troca das velas de ignição já era impossível de se fazer sem a desmontagem da moto — aquele espírito easy rider de resolver as tretas e pipocos no meio da estrada morreu faz tempo.


Para não ser passada para trás pelo motor Thunder Stroke de 111 polegadas cúbicas da indian, a harley aumentou a cilindrada do M
ilwaukee-Eight para 114 pol.3, o que dá 1.868 cm3.
Imagem e reportagem: https://ultimatemotorcycling.com/2016/08/25/2017-harley-davidson-milwaukee-eight-motors-11-fast-facts/

a harley atochou ainda mais coisas no quadro e no motor que a indian, que já teve problemas sérios por causa disso.

Com tanta coisa atulhada nessa moto, eu prevejo que essas motos terão problemas de esfrega-esfrega, roça-roça e superaquecimento de componentes.

Em poucos meses, no máximo dois anos, um recall irá estourar no colo dos proprietários. Na verdade, o que vai estourar fica um pouco mais pra baixo.

Não é zica nem praga nem vidência, é somar 2+2.

Opa, mas parece que nem vou precisar esperar tudo isso não.

Até eu me espanto com a previsibilidade da coisa...

Depois da postagem pronta, encontrei um fórum discutindo os problemas que já estão acontecendo com o novo motor Milwaulkee 8:
Fórum: http://www.hdforums.com/forum/milwaukee-eight-m8/1134021-m8-problems-5.html

Já tem proprietários falando até em motores trocados em garantia e problemas com a bomba e perda de pressão do óleo.

Olha só que coisa...

Tem gente falando que a fábrica está fazendo um "recall branco" (reparo durante as revisões que eles não divulgam nem convocam os proprietários porque supostamente não há risco à segurança) — não divulgam porque pega muito, muito mal:
Fórum: http://www.hdforums.com/forum/engine-mechanical-topics/1134285-milwaukee-8-problems-6.html

O motivo é esse que você leu, cavacos nas galerias de óleo causando perda de pressão, deficiência de lubrificação e superaquecimento.

Motor dando problema com 120 milhas rodadas, menos de 400 200 km. Bah, estou ruim de conta.

Onde foi que vi isso acontecendo?

Ah, lembrei.

Não foi o caso da Kansas não — a Kansas não tinha cavaco, era só falta de óleo mesmo. 

Foi no caso bizarro da postagem de amanhã... 

Como eu havia dito, era natural esperar que esses problemas fossem acontecer.

Quando você força para o infinito e além as coisas que já estão no limite do viável, está jogando fora margens de segurança — alguma coisa será sacrificada.


Há limites que o bom senso manda não ultrapassar.


Mas enfim... eles sabem o que fazem, né?

O tempo dirá se estou certo ou não quanto aos recalls que virão.


Quem quer apostar comigo?

Esse problema de forçar o limite da viabilidade técnica ao menor custo no menor prazo não é só da harley ou indian ou polaris — exemplos não faltam.

Mas como sempre, a postagem ficou mais longa do que o planejado.

Então vou desmembrar o texto em duas (ou três ou quatro) etapas, senão todo mundo vai desistir de ler.

E assim também aumento o suspense.

Um abraço, e até amanhã com um dos casos mais escabrosos da história automotiva,

Jeff