Essa magrelas estão invadindo as ruas, e a pior coisa que vejo nelas é que NÃO estão sendo utilizadas por crianças em tranquilas ruas de bairro...
O ancião que pilotava essa bicicleta elétrica estava completamente equipado com capacete (de ciclista), luvas, joelheiras...
E ele estava usando a bicicleta na avenida principal aqui do bairro.
Até aí nada demais, certo? Errado!
Receio que esteja se formando uma nova categoria de ciclistas motorizados:
Do jeito que conduzia a motocleta, o velhinho provavelmente nunca tirou habilitação, nunca dirigiu um carro na vida e nunca andou de moto porque "andar de moto é perigoso".
Então ele viu a bicicleta elétrica como uma opção interessante, afinal ele (pensa que) sabe andar de bicicleta porque pedalava feito um doido nos selvagens anos 70.
Poxa, mas você está sendo preconceituoso contra os ciclistas / ciclistas motorizados eletricamente!
Não, não estou não. Isto aqui é Brasil, minha gente...
Reportagem: http://blogdonelsonvinencci.blogspot.com.br/2015/03/no-parazinho-padre-george-ate-o-tucupi.html
Digo isso porque o senhorzinho estava usando essa motoneta (se é motorizada, é motoneta) da mesma maneira irresponsável com que os ciclistas menores de idade (e muitos bem crescidinhos) usam suas bicicletas — na contramão, tentando atravessar a avenida fora da faixa de segurança, e pedalando.
Quero dizer, pedalando eletricamente. Só faltava carregar uma plaquinha "PASSE POR CIMA".
Bicicletas elétricas são bacanas? Sim, são.
Elas são até ecológicas e amiguinhas do meio ambiente, se você não pensar nos materiais tóxicos usados para fabricar as baterias.
Mas não há espaço seguro para essas motonetinhas no trânsito, como não há espaço seguro para as bicicletas. Minha filha ciclista vai me xingar...
O fato é que bicicletas e nosso trânsito urbano não combinam.
Não venha me dizer que em Londres, Berlim ou Amsterdã elas são usadas sem problemas porque são respeitadas — quem diz isso está desinformado, porque lá também elas causam / se envolvem em acidentes.
Uma ciclista morreu em Londres em um acidente com um caminhão, o quinto incidente deste tipo na capital este ano. |
Mesmo em Londres, onde o trânsito não é a barbárie tupiniquim, todo mês um ciclista morre por atropelamento.
Em Berlim é a mesma coisa, 15 mortes em 2012. Em São Paulo foram 47 mortes em 2014. É até um número baixo, se compararmos as desigualdades.
Acima de tudo, nossas cidades não podem ser comparadas às europeias em termos de respeito à legislação de trânsito... aqui o abuso é geral.
Acidentes com bicicletas no Brasil acontecem por um único motivo:
- Há uma falta de educação geral do povo. Noções de trânsito deveriam ser ensinadas nas escolas para formar pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas cidadãos; mas nem estes últimos andam conseguindo formar.
- Falta noção de perigo para muita gente — e isso vale para todo mundo, desde o ricão de motão / carrão a 300 por hora até o manezinho de bicicletinha em plena rodovia.
- Ciclistas não conseguem acompanhar a velocidade do fluxo de trânsito de vias principais.
- Não conseguem acelerar rapidamente para escapar de situações perigosas.
- São praticamente invisíveis pelos espelhos.
- Desaparecem nos pontos cegos dos veículos.
- Não dispõem de um farol alto como o das motos para chamar a atenção entre os carros.
- A cidade está repleta de obstáculos capazes de derrubar uma bicicleta.
- Bicicletas são muito mais instáveis do que motos por causa dos pneus finos.
- Ciclistas se aproveitam da condição de quase pedestres para desrespeitar semáforos e a sinalização de trânsito.
- Ciclistas pensam que a bicicleta não ocupa espaço e transitam sem respeitar uma distância mínima de segurança.
- Ciclistas se esquecem que existem cruzamentos onde quem faz a conversão não prevê encontrar um fluxo na contramão.
- Outros veículos em maior velocidade não têm a mesma capacidade de manobra para evitá-los.
- Ciclistas não gostam de perder o embalo, se aproveitando de ladeiras para ganhar velocidade.
- Os freios das bicicletas são ineficientes e os ciclistas também correm o risco de cair durante frenagens de emergência. Cair na nossa frente, nos derrubando.
- Bicicletas não podem ser multadas, então a impunidade é ainda maior do que a existente para os condutores de veículos.
- Ciclistas querem que fiquemos à distância deles, mas se acham no direito de passar por nós a uma distância de centímetros, como se motociclistas também não corressem o risco de se desequilibrar e cair.
- Os capacetes usados pelos ciclistas não são suficientes para proporcionar uma proteção adequada.
Ver essas maquininhas se proliferando e disputando espaço no trânsito é algo assustador.
Os ciclistas, motorizados ou não, também têm o direito de usar a via pública?
Sim, têm.
Mas eles também teriam a obrigação de respeitar as leis de trânsito e do bom senso.
E uma das leis de trânsito que eles não conseguem respeitar, nem que tentem, é aquela que define a velocidade mínima para o trânsito de veículos, que é sempre a metade da velocidade máxima permitida na via.
Reportagem: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/TRANSPORTE-E-TRANSITO/459037-VIACAO-APROVA-VELOCIDADE-MAXIMA-DE-25-KMH-PARA-BICICLETAS-ELETRICAS.html
Essas maquininhas andando no máximo a 25 km/h em vias de 60, 70 e 80 km/h são um desastre anunciado.
Não sei o que me assusta mais, vê-las a 25 km/h ou as outras bicicletas a mais do que isso...
O SAMU pode ir aumentando a frota e o efetivo, porque a coisa vai ficar ainda pior do que já está.
Será que estou sendo muito pessimista?
Talvez eu esteja ficando ranzinza, ando me estressando muito com o trânsito rodando por aí de moto. Andar de motocicleta está ficando muito perigoso.
Uma opção interessante são essas novas bicicletas elétricas, que nem precisa pedalar. Combinam com minha falta de pendor para o desperdício de batimentos cardíacos em práticas esportivas.
Afinal, já pedalei demais feito um doido nos saudosos anos 70. Epa, péraí...
Um abraço,
Jeff
Olá, Petrônio
ResponderExcluirSomente hoje vi seu comentário, obrigado por acompanhar o blog!
Gostaria de ser mais otimista quanto ao uso das bicicletas no trânsito, mas o que vejo todos os dias no trânsito é um quadro aterrador.
Os novos ciclistas precisariam ser formados nas escolas. As crianças precisariam ter noções de trânsito no máximo aos 12 anos para que pudessem desenvolver uma consciência das leis de trânsito e da importância do respeito às regras básicas de circulação.
Defendi esse ponto de vista em uma entidade voltada à segurança do trânsito, e fiquei desanimado porque as autoridades consideram estudos feitos no exterior que dizem que esse tipo de educação aumenta o interesse das crianças por automóveis...
Questionável isso, mas o pessoal aceita estudos externos sem levar em conta que lá fora existe outro nível de interação pessoas/veículos.
Então não me entusiasmo não.
Esses ciclistas com uma nova consciência podem ser um fenômeno urbano de alguns bairros de classe média de grandes cidades, mas a realidade do povão nos subúrbios está bem longe de qualquer consciência, infelizmente... e longe de qualquer perspectiva de educação por parte das autoridades, resta apenas a lei da selva, ou a seleção natural. E isso me deixa muito triste, porque são mortes evitáveis de pessoas muito jovens com toda a vida pela frente. Os próprios ciclistas conscientes são colocados em risco por essa meninada circulando pela contramão...
Um abraço,
Jeff