sexta-feira, 2 de maio de 2014

A Anatomia de Uma Curva

Tradução da postagem de Bob Kuhn – The Anatomy of a Corner http://positivelyparkinsons.blogspot.com.br/2011/07/anatomy-of-corner.html 
datada de 3 de julho de 2011 


A vida no seu melhor nunca é uma estrada reta. Vivida em todo seu potencial, é uma aventura cheia de curvas, algumas difíceis, algumas fechadas, algumas longas e algumas traiçoeiras e perigosas. Na minha experiência, é como pilotar uma moto; cada curva pode ser um arco-íris de experiências. Deixe-me compartilhar contigo um vídeo verbal de 30 segundos.

Imagine que em uma tarde ensolarada você está pilotando sua moto ao lado de um pequeno 
rio, mas com corredeiras, ao longo de uma rodovia de mão dupla lisa como um tapete. Você está subindo uma montanha. Não há veículos por perto. É difícil manter a velocidade no limite de 100 km/h. O poderoso motor ronrona a seus pés. Controlada pelo piloto automático, sua potranca estradeira implora impaciente que você domine seus músculos mecânicos. 


Cedendo aos seus anseios, você agarra o acelerador e o torce, enrolando o cabo. Então você vê se aproximar uma curva a 200 metros. Seu coração começa a bater mais rápido e os seus sentidos ganham vida.


Com a acuidade visual de uma águia avistando sua presa de muito longe, você vê que a estrada à frente se estreita e se desvia à direita. O rio, correndo ladeira abaixo em pânico digno de um salto mortal, de um lado parece espremer a faixa de asfalto contra a face de uma rocha vertical elevada ao céu por ombros pré-históricos. 


Instantaneamente você examina tudo de uma vez. Seu corpo torna-se um receptor de incrível capacidade, simultaneamente coletando e enviando toneladas de dados sensoriais para seu cérebro. Você tira os pés dos apoios de viagem e os apoia firmemente sobre as pedaleiras sob seus quadris para o equilíbrio máximo. Seus joelhos, agora dobrados a 90 graus, pressionam o tanque de gasolina. Uma lista de verificação mental da condição de sua moto segue sua pergunta: "Será que minha moto está pronta?"

A 100 metros, a sinalização da estrada antecipada indica: 70 km/h. Para um motociclista experiente isso significa que em boas condições será seguro fazer a curva a 100 km/h. Primeiro você faz uma verificação mental, física e emocional, e então se pergunta: "Estou pronto para encarar?" 


Em uma fração de segundo segue-se uma varredura da estrada à frente: o arco e a inclinação da curva, a ausência de guard-rails, o pavimento livre de cascalho, faixas de piche, pedras caídas, poças de óleo ou água, e nenhum veículo em qualquer lugar dentro sua visão periférica. 


Com base nessas informações, você calibra mentalmente sua velocidade para uma curva segura e presta atenção ao motor para coincidir com a velocidade desejada. Essa velocidade é sentida, e não calculada olhando-se o velocímetro.




Mentalmente você desenha uma linha em arco ao redor da curva com a precisão de um raio laser; idealmente, ela corre paralela à linha central da rodovia. Se tudo correr bem, essa trajetória fará você e sua motocicleta passarem pela curva e saírem do outro lado com segurança. 


Você se inclina levemente para frente,  segurando o acelerador com firmeza, deixando um dedo estendido por cima do manete do freio dianteiro como precaução. Agora você antecipa o elemento mais crítico para fazer a curva: a inclinação da moto. Uma motocicleta não é esterçada ao longo de uma curva, ela a ataca como se fosse um avião. 


Na verdade, você está empurrando o guidão para baixo e para a esquerda, efetivamente esterçando para fora da direção da curva à direita que você faria naturalmente. Isso é necessário para equilibrar a moto entre as forças opostas em jogo, a gravidade e a força centrífuga. Inclinar demais em direção à curva ou ir muito devagar irá resultar em ser jogado contra a rocha pela gravidade. Não se inclinar o suficiente em direção à curva ou ir rápido demais poderá jogá-lo para fora da linha traçada contra o tráfego em sentido contrário ou, pior, para dentro do rio.

No meio da curva você está no ponto sem retorno. Seja o que for que estiver à frente em seu caminho poderá muito bem ser inevitável: uma pedra do tamanho de uma bola de futebol, cascalho solto da encosta espalhado sobre a estrada, um veículo parado ou um animal insistindo em pular na frente de sua moto em alta velocidade são apenas algumas das possibilidades. Essa curva, como qualquer outra, exige hipersensibilidade e deve ocupar 100% de sua atenção focada. 


Apesar dos perigos potenciais, você acelera levemente para contornar a curva a fim de manter o equilíbrio entre as forças que se alteram. Isso tem o efeito de catapultar você para frente como na brincadeira de roda, onde a última pessoa da fila é lançada para fora, ou uma pedra sendo arremessada de um estilingue. Seu corpo se sente plenamente vivo, com calafrios de alegria, como se toda sua vida você tivesse se preparado para esses últimos 30 segundos.

Talvez nós sejamos feitos para as curvas. Em certa medida, em torno de cada curva da estrada encontra-se um mistério, uma história ainda a se desenrolar. São as curvas de sua vida que irão preencher as páginas de sua biografia. Como nós podemos antecipar e nos preparar para cada curva, lidar com as tensões de cada curva e, às vezes, apenas acompanhar as curvas da vida?

Apesar de a doença de Parkinson não ser uma "curva" que eu teria escolhido, há um sentido contraintuitivo de significância para esta mudança na rodovia da minha vida. Minha esperança é que outros enfrentando a doença de Parkinson, ou outras dificuldades, algum dia irão se unir a mim e declarar, "Deixe essas curvas continuarem vindo!"


*****

Bob foi diagnosticado com Parkinson aos 53 anos, e essa é uma doença para a qual ainda não há cura.

Ele nos dá um exemplo de superação, continuando a pilotar e a realizar seus trabalhos, participar de atividades de conscientização sobre a doença, além de manter dois blogs, um sobre Parkinson e outro sobre suas atividades profissionais.

Quando postei Tocando em Frente, o fiz movido por uma sensação de urgência, de dizer o quanto a vida é breve e não deve ser desperdiçada.

"Life is very short and there's no time for fussing and fighting, my friend..."

Temos quase a mesma idade, não tenho Parkinson (que eu saiba), mas minha artrite, artrose e outras ites sempre me lembram que a vida é um tobogã com altos e baixos, e nessa jornada os altos ficam cada vez menos altos e os baixos cada vez mais baixos... temos que aproveitar bem .

Viva intensamente sua vida, viaje, aproveite ao máximo, porque nunca sabemos o que nos espera em cada curva.  

Vamos nessa, e deixem as curvas continuarem vindo!!!

Um abraço, Bob! 

Siga tocando em frente!

Jeff

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