Hoje aconteceu um acidente de moto fatal durante a filmagem de Deadpool 2.
A reportagem do g1 não entra em detalhes, mas o jornal local da cidade onde a filmagem está ocorrendo fornece informações importantes:
Imagem e reportagem: http://vancouversun.com/news/local-news/deadpool-2-stunt-person-injured-after-motorcycle-crashes-into-shaw-towerUma testemunha relata que estava vendo ensaios da dublê para a cena:
"Ela pilotava a motocicleta descendo uma escadaria do centro de convenções e parava quando chegava à rua".
"Quando o acidente aconteceu, a pilota pareceu acelerar, atravessou a rua e desviou para evitar pedestres antes de desaparecer de vista."
"Ela perdeu o controle realmente rápido. Aconteceu em uma fração de segundo. Ela estava em aceleração total e há um prédio ali [em frente]".
O acidente das filmagens de Deadpool 2 pode acontecer na sua moto?
Sim, pode.
Aparentemente, ou ela perdeu o acesso aos controles ou o acelerador travou totalmente aberto.
Mas a testemunha narra que ela desviou dos pedestres, então estava com as mãos no guidão — o suspeito passa a ser uma falha mecânica.
O acelerador tradicional é uma válvula borboleta que controla a passagem de ar para o motor, e essa válvula é acionada por um ou dois cabos presos à manopla do guidão (ilustração à esquerda).
Imagem: http://www.ebay.co.uk/gds/Why-should-i-use-throttle-controller-/10000000204507767/g.html — Não encontrei uma imagem para moto, mas faça de conta que o acelerador do carro é a manopla do guidão e o pé é sua mão, ok?
Em motos de alta tecnologia, a válvula é controlada eletronicamente por um motor de passos controlado pelo módulo eletrônico (ECM) (ilustração à direita).
O ECM interpreta os impulsos elétricos de um potenciômetro ou leitor digital na manopla do guidão.
Se alguma coisa impedir o retorno da válvula, ou se houver um erro de leitura das informações da manopla, a válvula ficará travada na posição totalmente aberta com aceleração máxima — a moto ficará muito difícil de controlar instantaneamente.
Um cabo de acelerador comum desfiado pode emperrar dentro da capa do cabo, impedindo o retorno da válvula mesmo que a manopla do acelerador esteja em posição de marcha lenta.
Um emperramento da válvula dentro do carburador ou da válvula de aceleração (injeção eletrônica) por rebarba de fabricação também pode ocorrer.
A possibilidade de travamento aumenta em motos multicilindros com vários carburadores ou válvulas de aceleração, que possuem uma articulação mecânica com vários pontos que podem travar por falta de limpeza, lubrificação ou desgaste mecânico.
Imagem: https://www.motosblog.com.br/4549/comportamento-dos-motores-parte-8-alimentacao/ roubada do ótimo Motos Blog do leitor Daniel Soares
Evitar o emperramento do cabo é mais um bom motivo para fazer a lubrificação periódica e a troca preventiva do cabo do acelerador.
Motos modernas com injeção eletrônica possuem lógica de programação para lidar com situações como essa de emperramento do cabo ou travamento da válvula.
Em caso de emperramento do cabo ou da válvula de aceleração, a lógica limita a rotação do motor em um valor determinado.
No entanto, essa programação visa apenas a impedir que o motor estoure por excesso de rotação.
A lógica eletrônica é incapaz de impedir um acidente como o da filmagem porque a moto não tem como saber se a aceleração que você estabeleceu é intencional, e se é adequada ou não para a situação em que você se encontra.
A única coisa que poderia ter impedido ou minimizado as consequências do acidente seria a reação rápida da pilota acionando a embreagem.
Ao notar o acelerador travado, acione imediatamente a embreagem e desligue o motor no corta-corrente ou chave de ignição para retomar o controle da moto.
Tentar parar a moto usando os freios contra a potência total do motor é impossível — os freios não têm força suficiente para vencer a força do motor se você não acionar a embreagem.
Será que a moça que morreu não sabia dessa técnica tão básica? Afinal, ela não era uma novata...
Bom, aí é que está.
Será que a embreagem atuou quando ela acionou (se é que ela acionou)?
As motos ducati atuais (e não só as ducati) incorporam uma série de automações de acelerador, embreagem, troca de marchas e controle da transmissão de potência à roda traseira.
Teria a automação de funções cometido um erro de interpretação que se mostrou fatal em uma fração de segundos?
Teria a ECU desobedecido o comando de atuação da embreagem, ou a embreagem teria falhado de alguma forma, se é que foi acionada?
Receio que nunca descobriremos o que ocorreu de verdade neste acidente, essa informação jamais se tornará pública.
Mas tenho para mim que motos já são suficientemente traiçoeiras mesmo não contando com automações de funções que podem falhar quando mais se precisa delas.
Um abraço,
Jeff
Fala Jeff, eu sempre desconfio dessa parafernália eletrônica.. trabalho com tecnologia e sei o quanto um software poderá ser falho em se tratando de situações não previstas por mais bem testado que seja, afinal, ele está acoplado a um componente de hardware (no caso os sensores e atuadores) que também falham na hora H. Toda a eletrônica ajuda muito mas sei lá, tem situações que o bom e velho cabo ajudaria não? Veja só as aeronaves da Airbus, os A320 são todos fly by wire, o que caiu no meio do atlântico da Air France tbm era um A330. Me lembro bem daquele piloto da Varig que deu um loop sobre Brasília para evitar uma tragédia com um sequestrador. Se fosse nos aviões de hoje jamais ele teria conseguido tal feito heheheh.
ResponderExcluirÉ verdade, Osmar!
ExcluirA lógica eletrônica impede manobras que os engenheiros não achem razoáveis, mas só quem está no comando pode decidir o que é razoável ou não naquele momento crítico.
Acho muito suspeito esse acidente acontecer logo com uma moto último tipo, lançamento em primeira mão no filme.
Motos de primeira série sempre estão sujeitas a problemas imprevistos, vide o primeiro Airbus que recusou o comando de arremeter e preferiu pousar no bosque depois da cabeceira da pista...
Quanto mais componentes, maior a chance de algo dar errado, é minha opinião.
Um abraço,
Jeff