terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os recursos e limitações do carburador

Continuando a conversa de ontem, a triste verdade é que o carburador não compensa 100% dos fatores corrigidos pela injeção eletrônica. 

Quer dizer, ele até compensa um pouco, mas dentro dos limites que ele consegue por causa da engenhosidade do projeto (sim, eu sou fã de carburadores):

Dentro do carburador há alguns circuitos adicionais de gasolina para permitir uma mistura mais rica (proporcionalmente com mais combustível) nas situações em que isso é necessário, como durante uma aceleração intensa. 

Eles funcionam automaticamente em função da diferença de pressão (velocidade do ar) dentro do carburador em cada posição de acionamento do acelerador, normalmente marcha lenta, 1/4 de aceleração, meia aceleração e aceleração total.


Nas outras situações, ele precisa ser ajustado pelo próprio piloto. 

O afogador é um desses recursos, enquanto está acionado ele dificulta a passagem de ar através do carburador para aumentar proporcionalmente a quantidade de gasolina nos dias frios.

O parafuso de aceleração é outro recurso. Você precisa aumentar um pouco a rotação de marcha lenta nos dias frios para compensar a maior dificuldade do motor girar com as peças e o óleo frios, evitando que o motor morra com facilidade a cada arrancada.

Algumas motos precisam de uma pequena chave de fenda para fazer o ajuste, outras possuem um botão com cabeça plástica para facilitar sua manipulação pelo piloto. Esse ajustador está instalado no lado direito do carburador único ou no carburador do lado esquerdo nas motos com mais de um.

Outro desses recursos é o parafuso de mistura, é ele que controla a proporcionalidade geral da mistura de ar e gasolina ideal para o local em que você mora.

Esse é um ajuste que normalmente não deve ser mexido, a regulagem com que ele sai da concessionária já é a adequada para sua região.

Mas quando você viaja... 

Lembra aquela história de jogar na Bolívia?

É a mesma coisa, quanto mais alto o local, menor a densidade do ar, maior a dificuldade de respirar — e de queimar combustível.

Motos que rodam no litoral trabalham com ar mais denso, motos que rodam no planalto têm menos ar à disposição, o parafuso de mistura possibilita a dosagem ideal para cada condição. 

É bom saber dessa função, porque se você mora no planalto e viaja para o litoral, sua moto poderá começar a falhar ou aquecer excessivamente por rodar com mistura muito pobre.

Do mesmo jeito, se você mora no litoral e viaja para o alto da serra, sua moto poderá começar a engasopar (engasgar por excesso de combustível para aquele ar rarefeito).

Não é o fim do mundo, ela não vai parar de andar por causa disso, apenas aquecer além do normal ou ratear; sabendo administrar, nem seria necessário fazer o ajuste.

Mas sabendo como funciona o carburador, você será capaz de eliminar o problema sem precisar se descabelar nem procurar uma oficina ou concessionária.

Basta 1/4 de volta para mais ou para menos, de acordo com a situação, e está resolvido o problema. 

Nunca force esse parafuso até o fim; se a sede for danificada, sua moto se tornará uma beberrona e você só resolverá isso jogando o carburador fora. 

Se mesmo assim você não conseguir uma boa regulagem, poderá ser necessário apelar para o último dos recursos de regulagem do carburador, mas se você não tiver conhecimento, esse eu recomendo que seja feito por um mecânico:

O encaixe da agulha no pistonete do carburador.

A agulha possui várias ranhuras, e dependendo da posição em que a trava da agulha é instalada, ela ficará mais alta ou mais baixa, permitindo maior ou menor fluxo de combustível. 

Mas não se mexe em time que está ganhando, esse é o tipo de ajuste que normalmente nunca é necessário. 

Um calcanhar de aquiles dos carburadores é a facilidade com que os vários giclês (peças com furos muito estreitos que controlam a proporção de ar e combustível) podem se entupir — a solução para isso é instalar um filtrinho adicional entre o tanque e o carburador e sempre usar gasolina aditivada de boa qualidade.

E por fim, carburadores têm a tendência de a boia encantar e o combustível vazar pelo dreno (ladrão). 

Isso ocorre por dois motivos: desgaste localizado do eixo da boia nas motos que passam a noite estacionadas no cavalete lateral, ou por detritos impedindo o fechamento da válvula da boia nas motos que não possuem o filtrinho adicional.

Agora que você sabe como funciona o carburador e a injeção eletrônica, você compreende porque a injeção é tão mais eficiente.

Vantagens:

Pra começar, ela não estrangula a passagem de ar, o que aumenta o desempenho do motor;

Segundo, a quantidade de combustível é calculada de acordo com uma programação que prevê todas as situações e possibilita a resposta ideal a cada momento (no carburador, uma parcela do combustível não se mistura tão bem porque o borrifo é interrompido bruscamente)

Terceiro, a válvula de aceleração é muito mais simples do que o carburador, ela não tem dutos estreitos e fáceis de entupir.

Em compensação, um carburador entupido pode ser reparado na beira da estrada com duas ou três ferramentas. 

Já uma injeção pifada...

Um abraço,

Jeff

Nenhum comentário:

Postar um comentário