quarta-feira, 8 de julho de 2015

É difícil pilotar na chuva?

Eu não diria que é difícil, apenas que envolve muito cuidado.

O grande erro do pessoal é pensar que pode andar na chuva com a mesma velocidade com a qual está acostumado.


Em velocidade normal, mesmo com a pista seca os freios da moto mal e mal dão conta de parar a moto.

Com chuva, a facilidade com que as rodas travarão aumenta muito, e qualquer roda travada pode te jogar no chão — se a roda dianteira travar, certamente fará isso.


Ao seguir em frente como se a pista não tivesse se tornado escorregadia, qualquer imprevisto que te obrigue a acionar os freios com intensidade poderá causar um acidente grave, e sua avaliação e seu bom senso são suas únicas ferramentas para evitar que isso aconteça.

Você precisa rodar em uma velocidade mais baixa do que em pista seca, porque na hora em que precisar frear você terá de fazer isso de maneira progressiva e cuidadosa para evitar o travamento e a derrapagem.

Sob chuva, evite uma pilotagem agressiva para não passar sustos como este:



A sorte dele é que essa moto não tem tendência de rabear quando as rodas travam, mas ele conta no youtube que virou passageiro e foi deslizando em direção à lateral da pista na hora em que quase bateu no carro.

Debaixo de chuva ou com a pista molhada, pilotar com suavidade e boa distância do veículo à frente é fundamental.

A proporção da intensidade de uso do freio dianteiro (70% em pista seca) precisará ser ligeiramente reduzida e compensada por um pouco mais de intensidade no freio traseiro... 

Você troca intensidade da frenagem por tempo de frenagem — se em pista seca você consegue parar em 10 metros, vai precisar de no mínimo 15 a 20 metros para frear mais fraco, mas por mais tempo. 


Essas noções de tempo, distância, intensidade e proporcionalidade são adquiridas com a vivência, então muito cuidado nas primeiras chuvas da sua carreira de motociclista.

Outra coisa:


Motos potentes exigem tato na hora de acelerar porque o pneu traseiro irá derrapar com muito mais facilidade no asfalto molhado:


Se você virar uma esquina ou entrar em uma curva com a mesma velocidade com que está acostumado, seu pneu dianteiro poderá derrapar, tombo certo. 

Manter distância maior do carro à frente é essencial: 

Com pista molhada e provavelmente ABS, um carro consegue parar muito mais rápido que uma moto com o chão molhado. 

Aí ele estanca na sua frente, você trava os freios porque não terá tempo de frenar progressivamente — então sua moto ou rabeia e te derruba, ou trava a roda dianteira e te derruba, ou trava as duas rodas e você vira passageiro... e ela derruba o passageiro.

A chuva traz perigo para todo mundo, e você precisa estar atento a alguém que perca o controle do veículo em suas proximidades:


Uma coisa muito chata que acontece é a viseira embaçar. Se você usa óculos, as lentes e a viseira ficarão embaçados, o que pode ser muito perigoso porque as tentativas de limpar distrairão sua atenção do trânsito.

Dependendo da chuva e do seu grau de miopia, pode ser mais prudente pilotar sem os óculos, uma coisa a menos para embaçar.


Imagem: https://www.youtube.com/watch?v=btOSCY1hp0U

Manter uma fresta aberta na viseira ajuda a evitar o embaçamento, mas lembre-se de que água suja entrará por ela, portanto boca fechada.

A situação fica ruim mesmo é ao anoitecer, quando os faróis dos carros começam a provocar reflexos nas gotas de água. 

Esses problemas ficam bem menores quando as viseiras são novas ou estão bem limpas e sem riscos.

Existe também um problema com o piso molhado: algumas superfícies molhadas ficam mais escorregadias que outras.

Evite ao máximo passar sobre chapas de aço colocadas sobre reparos inacabados, bem como grades metálicas e sinalização pintada no chão, faixas de pedestre e divisórias de faixa e pista ficam muito escorregadias quando molhadas.

Paralelepípedos (macacos, macadame) molhados escorregam que nem quiabo. 


Imagem e reportagem: http://jornal.grupoopiniao.com.br/mulher-perde-o-controle-e-sofre-queda-de-motocicleta-no-centro-de-araras/

em ruas de pouco movimento esse tipo de pavimento tem o inconveniente de permitir o crescimento de um matinho safado nos rejuntes. 

Esse mato molhado lubrifica o sabão, é traiçoeiro. 

Mês passado eu caí com Edith, mas foi um semitombo porque nem chegou a riscar ou estragar nada, foi na grama úmida do acostamento com a moto praticamente parada, só sujou a roupa. Nem sei se merece estar na coleção.

Em compensação, com minha primeira moto eu caí 12 vezes em 2,5 anos, quase 5 tombos por ano, e a maioria deles foi com tempo seco — embora o mais grave tenha sido com pista molhada.

Nos últimos quase 5 anos depois que voltei a pilotar foram apenas 2 tombos com Jezebel, que somados ao tombo com Edith, dá uma média de 0,6 tombo por ano, ou 1 tombo a cada 2 anos, e todos por causa de solo molhado.

Essa estatística mostra duas coisas:

1) Os freios da minha primeira moto não valiam nada.

2) A experiência no trânsito e o juízo que vem com a idade diminuem bastante os acidentes.

3) Chuva realmente aumenta os riscos.

4) Continuo péssimo em estimativas de quantidade.

Deixando os acidentes de lado, e tomando cuidado com quem estiver por perto e pilotando sem agressividade nem pressa, a pilotagem na chuva poderá te dar grandes prazeres, como as duchas de água morna das chuvas de verão...

Imagem: http://www.thehindu.com/news/cities/Coimbatore/welcome-showers/article4649985

Bem, essa duchas são sempre melhores na estrada.

Um abraço,

Jeff

Um comentário:

  1. ´´esse mato molhado lubrifica o sabão `` cara, que delicia de texto. Parabems pelo conteúdo, você. Deveria ser colunista de muita revista motociclista, ou jornalv abs

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